CRISE NORTE-AMERICANA: UM MODELO EXPLICATIVO DE SUA CAUSA
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- Eduardo Paranhos Fernandes
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1 170 CRISE NORTE-AMERICANA: UM MODELO EXPLICATIVO DE SUA CAUSA GALLE, Juliano M. 1 CAVALI, Roberto 2 SANTOS, Elaine de O. 3 Resumo: A crise financeira que surgiu nos EUA tem afetado o mercado financeiro de todo o mundo. O presente trabalho apresenta um modelo que busca explicar como se desencadeou a crise na economia dos EUA considerando o mercado imobiliário e a credibilidade dos títulos atrelados às hipotecas residenciais dos EUA. A conclusão é que a elevação das taxas de juros e o aumento do índice de inadimplência impactaram negativamente sobre a garantia dos títulos atrelados a hipotecas. Esses títulos acabaram por impactar negativamente os balanços das empresas que os possuíam. Palavras - chave: crise financeira inovação financeira hipotecas. Abstract: The financial crisis that emerged in the U.S. has affected the financial market around the world. This paper presents a model that seeks to explain how the crisis was triggered in the U.S. economy considering the real estate market and the credibility of the securities linked to U.S. residential mortgages. The conclusion is that the raising of interest rates and rising rate of default negative impact on the security of the securities linked to mortgages. These bonds ultimately negatively impact the balance sheets of companies that had. Key-words: financial crisis financial innovation mortgages. INTRODUÇÃO Há algum tempo, o mundo vem passando por turbulenta crise financeira. A origem da crise (inicialmente nos Estados Unidos) está no subprime (modalidade de empréstimo de segunda linha, que apresenta maior risco de inadimplência por se tratar de pessoas de baixa renda, muitas vezes com histórico de pagamento não muito bom). Os subprime tiveram brecha na economia quando depois da crise das empresas pontocom nos EUA, as taxas de juros foram reduzidas para acelerar a economia. O mercado imobiliário aproveitou-se do bom momento do crédito (os juros chegaram a 1% ao ano), era viável e acessível para a maioria das pessoas realizar a compra da casa
2 171 própria. Isso fez muitas pessoas comprarem casas financiadas e quem já tinha a sua, hipotecá-la, usando o dinheiro para quitar dívidas ou gastar mais. Comprar imóveis se transformou em investimento, acreditava-se na valorização. A princípio a economia parecia estar melhor que nunca, mas logo esse quadro mudou. Os subprime foram transformados em papéis e vendidos a outras instituições. Essas outras instituições emprestavam uma nova quantia antes mesmo de receber pelos papéis comprados. Isso tudo se tornou um ciclo de dívidas. Com a elevação das taxas de juros, o crédito encareceu, o mercado imobiliário desaqueceu, houve desvalorização do preço dos imóveis, pois já não era mais interessante comprar imóveis com juros altos, consequentemente, quem comprou casas não conseguiu vende-las. Resultado: a pior crise desde 1929 (quando a bolsa de Nova York quebrou), que está abalando o mundo de forma geral. Aqui no Brasil os efeitos da crise são sentidos principalmente nos prazos dos financiamentos, que estão mais curtos. O Ibovespa despencou e teve duas paradas em seis de outubro e a alta variação na cotação do dólar. Apontar um único culpado por essa crise é difícil, pois se trata de um conjunto de erros, mas as empresas de avaliação de crédito têm grande parcela de culpa, os títulos vendidos (subprimes transformados em papéis) recebiam nota máxima (baixíssimo risco de inadimplência), elas demoraram a enxergar que na verdade os títulos eram de alto risco de inadimplência. O presente artigo é composto por mais duas sessões além da conclusão. A próxima sessão apresenta basicamente os conceitos de Securitização e Hipoteca. Posteriormente, é apresentado o modelo de análise elaborado. Finalmente, é apresentada a conclusão do trabalho. O CONCEITO DE SECURITIZAÇÃO E HIPOTECAS Com o acirramento da concorrência entre as instituições financeiras, há a necessidade de criação de instrumentos que contribuam para suas manutenções no mercado. Esses instrumentos são denominados inovações financeiras. Para o presente trabalho, duas dessas inovações são fundamentais: as hipotecas e a securitização.
3 172 A primeira, segundo Sandroni (2001, p. 282), é um tipo de empréstimo em que há uma garantia de pagamento sob a forma de um bem imóvel. Mesmo que o devedor tenha a posse do bem vinculado à hipoteca, ele só adquire sua propriedade depois de quitado o empréstimo. Caso a dívida não seja paga, o credor pode executar a hipoteca e assumir a propriedade do bem. A segunda inovação financeira é conhecida como securitização. A partir da securitização, a instituição financeira pode transformar ativos ilíquidos em ativos líquidos que se transformam em valores mobiliários negociados nos mercados de capitais. As instituições financeiras acham que podem agrupar de forma barata um portfólio de empréstimos (como hipotecas) [...], receber os juros e os pagamentos do principal referentes às hipotecas ao mesmo tempo e então passa-los adiante (pagá-los) a terceiros. Dividindo-se o portfólio de empréstimos em quantias padronizadas, a instituição financeira pode então vender as solicitações de pagamentos desses juros e do principal a terceiros sob a forma de títulos. As quantias padronizadas desses empréstimos securitizados os tornam títulos líquidos, e o fato de serem compostos de um grupo de empréstimos ajuda a diversificar o risco, tornando-os mais desejáveis (MISHKIN, 2000, p. 172). Portanto, tornando os ativos ilíquidos e ativos líquidos, garantidos por hipotecas, as instituições financeiras são capazes de captarem novos recursos para poderem então conceder novos empréstimos. Basicamente, serão utilizados esses dois conceitos para o desenvolvimento do modelo que tenta explicar a causa da crise financeira que se originou nos EUA. O MODELO O modelo aqui construído é composto por quatro equações gerais. A primeira procura explicar a demanda por residências (DR) a partir dos preços dos imóveis (P) e das taxas de juros (r). Na sua forma matemática geral, ela pode ser escrita como: DR DR = f ( P, r) < 0 P DR < 0 r
4 173 A segunda equação expõe a inadimplência (I) como uma função das taxas de juros (r). Uma elevação das taxas de juros aumenta os índices de inadimplência. di I = f (r) dr A terceira busca explicar oferta de residências (OR) como função dos preços dos imóveis (P) e da inadimplência (I). Quanto maior o preço dos imóveis e quanto maior a inadimplência, maior a oferta de imóveis. OR OR = f ( P, I) P OR I A quarta equação explica a credibilidade dos títulos (CR) atrelados a hipotecas emitidos pelas instituições financeiras como função das garantias das hipotecas. Nesse caso, é assumido como hipótese que a garantia das hipotecas residenciais (G) é igual ao preço das residências. Portanto, temos: G = P dcr CR = f (G) dg Esse modelo aponta, portanto, que uma elevação das taxas de juros reduz a demanda por imóveis. Reduzindo a demanda por imóveis, há uma redução dos seus preços, que é causada no mercado de imóveis. Acrescenta-se a isso que a elevação das taxas de juros tende a causar um aumento dos índices de inadimplência. O aumento da inadimplência causa um aumento da execução de hipotecas e um aumento no número de casas a venda, elevando a oferta de casas. Esse aumento na oferta de casas tende a causar uma redução maior no preço dos imóveis.
5 174 Como há uma redução dos preços dos imóveis, há uma redução da garantia dos títulos atrelados às hipotecas. Essa redução da garantia dos títulos atrelados a hipotecas implica numa redução do valor de face desses títulos. As empresas que possuem tais ativos têm, portanto, uma piora em seus balanços patrimoniais. Como o volume de títulos atrelados a hipotecas é muito significativo no mercado financeiro do mundo todo, várias empresas que possuem tais títulos se vêem numa situação pior. Basicamente, foi esse o processo que explica o início da crise financeira iniciada nos EUA. Graficamente, podemos expor este processo como se segue. P a OR1 OR2 G CR b DR2 DR1 Q CR Graficamente, no mercado de residências, há uma movimentação do ponto a para o ponto b. Isso implica numa menor credibilidade dos títulos emitidos lastreados em hipotecas. Houve uma redução na oferta e demanda por residências nos EUA. No gráfico isso é representado pelo deslocamento para a esquerda das curvas OR1 e DR1 para OR2 e DR2, respectivamente. A conseqüência é uma redução na garantia dos títulos atrelados às hipotecas (G) e, consequentemente da credibilidade desses títulos (CR). CONCLUSÃO
6 175 A crise pela qual vem passando o sistema financeiro norte americano atualmente pode ser explicada pelo crescimento das operações de securitização atreladas à hipotecas residenciais. O aumento das taxas de juros nos EUA elevou os índices de inadimplência e reduziram a demanda por residências. A elevação dos índices de inadimplência elevou à execução de hipotecas e acabou por aumentar a oferta de residências. A redução da demanda por residência acompanhada pelo aumento na oferta de residências acabou por reduzir a garantia dos títulos emitidos pelas instituições financeiras através do processo de securitização. Como existia uma grande quantidade desses títulos na economia, vários agentes tiveram seus balanços patrimoniais afetados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MISHKIN, F. S., Moedas, Bancos e Mercados Financeiros. 5 ed. Rio de Janeiro: LCT Editora, SANDRONI, P., Novíssimo Dicionário de Economia. 6 ed. São Paulo: Editora Best Seller, Mestre em Economia pela UEM. Docente do Curso de Administração da Faculdade de Presidente Venceslau (UNIESP). 2 Mestre em Matemática Aplicada pela UNESP. Docente do Curso de Administração da Faculdade de Presidente Venceslau (UNIESP). 3 Discente do Curso de Administração da Faculdade de Presidente Venceslau (UNIESP). Artigo Recebido em 19 de dezembro de Aprovado em 17 de abril de 2009.
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