INCLUSÃO DE DISCENTES SURDOS NO ENSINO SUPERIOR: desafios, possibilidades e perspectivas na UESB de Vitória da Conquista- BA

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1 INCLUSÃO DE DISCENTES SURDOS NO ENSINO SUPERIOR: desafios, possibilidades e perspectivas na UESB de Vitória da Conquista- BA Introdução Rozilda Almeida Neves Magalhães Mestranda: PPGCEL/UESB Lucas Santos Campos Professor: PPGCEL/UESB A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB vem modificando metodologia de trabalho para atender com responsabilidade e compromisso aos discentes com deficiência e/ou surdez que ingressam em seus cursos. Neste recorte, já integram as classes desta instituição, aproximadamente setenta e cinco (75) pessoas com alguma deficiência acrescido de seis (06) discentes com surdez. Na busca de compreensão do que é considerado deficiência, percebe-se que conceituar este termo, não tem sido fácil. Visto ser, um conceito em evolução, em construção. Contudo, o decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, trás a distinção entre deficiência auditiva e surdez: Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (db) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. Em se tratando de práticas significativas no sustentáculo da educação de pessoas surdas no ensino superior, é possível afirmar que o acesso, permanência e sucesso destes cidadãos na UESB vem requerendo, a derrubada de paradigmas conservadores, falsas verdades, metodologias ultrapassadas, entre outras condições adversas à inclusão. Ademais, o ensino superior no Brasil tem se mostrado lugar de conflitos e embates no apoio à política da inclusão, mas também local social de possibilidades, uma vez, que as universidades brasileiras são formadoras de opinião, além de produtora de profissionais capacitados para atuarem nos diferentes níveis da educação, onde se encontram, inclusive, alunos com deficiência e/ou surdez. As licenciaturas, por exemplo, atuam como campo sua

2 edificador das discussões sobre as políticas de inclusão. Neste ínterim, é função do ensino superior, rever suas metodologias para valorizar as diferenças, compreender e executar as políticas públicas e, principalmente, atentar para as necessidades dos alunos surdos do século XXI, quando sinalizam o desejo de frequentar um ensino público de qualidade e pautado pelo bilinguismo, ou seja, pela existência da LIBRAS e da Língua Portuguesa em diálogos constantes em sala de aula. Espaço em que, para os alunos surdos, a língua de sinais deva ser a língua maior em expressividade frente às interlocuções, conforme preconiza a Lei nº /2015, também conhecida pelo nome de lei inclusão: IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas; Particularmente, na garantia da permanência e sucesso dos alunos surdos nos espaços acadêmicos, a UESB promove ações que torna visível à valorização do capital cultural e, a identidade linguística destes educandos. Em suas ações, a UESB se coloca, neste momento, como Escola Inclusiva. Quanto à atenção especializada observa-se que, enquanto a educação básica vem acrescentando às Salas de Recursos Multifuncionais para seus atendimentos, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia os realizam no Núcleo de Acessibilidade implantado no ano de 2009, conforme preconizou o Aviso Circular n 277 MEC/GM. Hoje, este serviço é realizado em conformidade com o decreto 7611/11. Nesta perspectiva, as ações propostas pela UESB sempre buscam rever e levar em consideração, a história de educação dos sujeitos surdos, a escuta dos seus anseios, a legislação em vigor, as políticas públicas adotadas para a área, bem como, a análise das provocações emanadas do vozear sinalizado em LIBRAS, as problematizações nas tomadas de decisão em questões pertinentes à educação que querem, e, aquela que é possível executar no espaço universitário. Interpretar as políticas públicas propostas, para ressignificar o cenário por onde perpassa e passa o ensino-aprendizagem dos sujeitos que utilizam uma língua visual-motora, para tecer comunicação e, assim, compreender o mundo à sua volta, é sem dúvida o grande diferencial na UESB.

3 OBJETIVOS GERAL - Identificar e socializar as práticas de ensino-aprendizagem no ensino superior para discentes surdos,, a partir da proposta da inclusão enquanto política pública e ação afirmativa em execução na UESB de Vitória da Conquista. ESPECÍFICOS - Compreender a dinâmica pedagógica/metodológica/funcional estabelecida pela UESB, desde o lançamento do edital do vestibular até a conclusão do curso pelo discente surdo, que nela ingressa. - Entender os educandos surdos enquanto sujeitos de vozes e provocadores de debates no espaço universitário. - Entender o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão para Pessoas com Deficiência NAIPD, como espaço necessário à valorização do acervo cultural originalmente produzido pela identidade surda, tendo os discentes usuários da LIBRAS, como cidadãos atores e construtores da sua própria história. Métodos A metodologia utilizada para sustentar esta investigação foi do tipo qualitativa. A pesquisa aconteceu na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB, tendo o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão para Pessoas com Deficiência como aporte para busca de dados. Um questionário com dez perguntas, que versaram sobre acessibilidade, permanência e ensino-aprendizagem de pessoas surdas no ensino superior, serviu de instrumento para a coleta dos dados. Resultados Atualmente as salas de aula da UESB são frequentadas por seis (06) discentes surdos, assim distribuídos : Pedagogia (01), Ciências Contábeis (02), Geografia (01) e Administração (02). Cada discente é acompanhado por um profissional tradutor/ intérprete de LIBRAS e Língua Portuguesa durante às aulas. Diante do trabalho realizado, observou-se que no ano de 2012 dois candidatos com surdez foram aprovados no vestibular da UESB, um no curso de Ciências Contábeis ( terceira

4 chamada), o outro na licenciatura de pedagogia (quarta chamada). Ambos concorreram à vaga usufruindo o direito de participar do vestibular através das vagas reservadas às cotas, ou seja, na materialização das políticas afirmativas, materializadas na reserva destas vagas. É importante ressaltar que para este certame, foram inscritos dez candidatos surdos, usuários da Língua Brasileira de Sinais. Estes alunos não participaram de cursinho pré-vestibular ou qualquer outra modalidade de ensino com preparação para a realização do exame. Ambos eram egressos de escola pública estadual, com vida escolar inicial edificada dentro da única escola de educação especial do LIONS, extinta no ano de 2015 mesmo com a relutância dos alunos surdos, da família e da sociedade. Com isso, observa-se que a dinâmica da organização dos espaços, para dar vida a inclusão, alguns organismos são extintos, enquanto outros são criados. Na UESB de Vitória da Conquista no ano de 2009, foi implantado o Núcleo de Acessibilidade NAIPD. O núcleo foi gestado a partir das demandas sinalizadas, inicialmente, por alunos com cegueira, aprovados no concurso vestibular no ano de 2004, período em que ainda não havia a política de cotas. Atualmente, o NAIPD se configura em um espaço político - pedagógico, que se espelha, entre outros documentos legais que sustenta o ensino superior inclusivo, no decreto 7611/11 para mediar ações que buscam remover as barreiras acadêmicas (metodológicas, comunicação, atitudinais, arquitetônicas, entre outras). Na tentativa de derrubar as imposições que evidenciam a exclusão na educação da pessoa surda, a UESB vem disponibilizando anualmente de algumas adaptações em suas atitudes acadêmicas: - Edital acessível em LIBRAS/Língua Portuguesa escrita na sua home page; - Presença do profissional intérprete nos dias do vestibular; - Tempo adicional para realização das provas; - Orientação para correção da prova de redação com valorização do aspecto semântico Apoio do NAIPD em questões que envolvem a derrubada da barreira da comunicação, Jornal acessível em LIBRAS, através da TV UESB; - Apoio ao discente surdo na compreensão da Língua Portuguesa escrita; - Produção de glossário bilíngue com termos acadêmicos, específicos de algumas disciplinas ; - Garantia de intérprete no turno da aula e no outro turno para estudos; - Oferta do estudo da LIBRAS para atender á comunidade interna e externa á universidade; - Oferta da disciplina LIBRAS para os graduandos das licenciaturas; Professores de LIBRAS. No ano de 2010 é foi realizado o primeiro concurso para contratação do primeiro professor de LIBRAS da universidade. Atualmente o quadro do magistério conta com três professores para esta disciplina, entre eles uma docente surda.

5 Evidencia-se, que a UESB desenvolve, ainda, um estudo sobre a escrita da LIBRAS Projeto SEL (Sistema de Escrita em LIBRAS) realizado por uma docente da instituição. Acontece ainda na universidade, o projeto Sign Along que pertence ao Laboratório de Línguas. Este é um projeto de extensão, que busca o desenvolvimento e aperfeiçoamento de algumas línguas, incluindo a LIBRAS, por meio da música. Dentre as demonstrações de compromisso e responsabilidade frente a demanda Surda, há, a valorização da construção social, histórica, política, linguística e cultural, portanto, identitária deste povo. As muitas dissertações, que são produzidas por estudantes da universidade, ao final das suas pesquisas e, que versam sobre a história e vida da pessoa surda em todo o Brasil, validam a preocupação da UESB em investir e ressignificar a educação dos cidadãos surdos. Discussão Diante ao exposto, percebe-se que a inclusão da pessoa surda no ensino superior, já se faz visível e, mesmo acontecendo como fenômeno tímido, já se mostra significativo. Ver-se ainda, que muitos são os ajustes a serem feitos, para que o ensino bilíngue atenda de fato a necessidade linguística do discente surdo, isto porque, a mera garantia do tradutor intérprete de LIBRAS/Língua Portuguesa em sala de aula, não se caracteriza na totalidade da inclusão. Acredita-se, que a pequena adesão do sujeito surdo, habitante do século XXI no ensino superior, ainda demanda reflexões e provocações. Questionar a escola que temos neste século e, que ainda não deixou os ranços didáticos excludentes do século passado, também se faz pertinente. O desejo de colonizar o sujeito surdo é uma realidade impregnada no âmago da sociedade ouvinte, também da atualidade. O povo surdo, ainda, é visto no espaço educacional como linguisticamente estranho. Condição aflorada, nos momentos em que o intérprete da LIBRAS/Língua Portuguesa não se faz presente nas tentativas de interlocuções entre os sujeitos surdos/ouvintes e vice-versa o que se configura com o silenciamento das vozes. Por outro lado, a escola bilíngue se mostra, quase inexistente. A sala de aula, nos modelos que temos, não investe na LIBRAS como língua primeira para atender ao sujeito surdo. O Português que por ali transita é pensado, totalmente, no sujeito ouvinte. Neste aspecto, se faz necessário propormos um ponto de simetria linguística no espaço educacional, para o ensino/aprendizagem bilíngue na perspectiva da pessoa surda.

6 Conclusão O grande boom na educação da pessoa surda se deu a partir da Lei nº /2002, regulamentada pelo Decreto nº 5.626/05 ao acesso garantir o acesso destes a escola comum. Ademais o decreto dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e a organização da educação bilíngue no ensino regular. Mesmo com a garantia da matrícula na educação básica, prática da política de cotas nas universidades, proposição de legislação específica, mudanças de postura da escola, investimento na formação de educadores, a pessoa surda do século XXI parece não ter como alcançar, linguisticamente (ensino bilíngue) a política da inclusão. Na classe de estudo, dentro da escola comum, ainda clamam por um ensino bilíngue, (LIBRAS (L1) e Língua Portuguesa (L2), interagindo a seu favor. No ensino superior, falta prática da LIBRAS, isto é, não há par linguístico em sala de aula. A política de cotas, só permite, matrícula para um candidato com deficiência e/ou surdo por curso. Contudo, não se pode negar os avanços, as mudanças e as transformações que a UESB vem propondo nos últimos anos.o grande desfio, imposto neste momento, é o de buscar compreender a educação da pessoa surda, a partir do ponto de vista de quem a vive, ou seja, dos discentes surdos. Nesta perspectiva, a UESB tem se desdobrado para levar estes cidadãos aos debates nos colegiados de cursos, nos departamentos, nos seminários, congressos, espaços políticos educacionais, enfim para os eventos e acontecimentos que visam construir pontes no percurso entre os extremos do ensino-aprendizagem bilíngue no ensino superior. Afinal, dar voz e escutar o discente surdo é, talvez, o caminho que leva ao encontro da verdadeira inclusão, proposta à escola, que se almeja construir no século XXI. Escola esta, pautada pela necessidade da construção de saberes diversos, infinitos, futuristas, tendo o outro como referencial. Referências BRASIL. Ministério da Educação/SECADI. Legislação e inclusão. Página do MEC,2016. QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de Sinais Brasileira: Estudos Linguísticos. 2º. edição. Ed. ARTMED, São Paulo, STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008.