: MIN. DIAS TOFFOLI MUNICIPAL DE AMERICANA/SP

Transcrição

1 RECLAMAÇÃO SÃO PAULO RELATOR RECLTE.(S) ADV.(A/S) RECLDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. DIAS TOFFOLI :PARTIDO SOCIAL CRISTÃO (PSC) - DIRETÓRIO MUNICIPAL DE AMERICANA/SP :CHRISTIANE ARAÚJO DE OLIVEIRA :TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO :SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS DECISÃO: Vistos. Cuida-se de reclamação constitucional, com pedido de liminar, ajuizada pelo PARTIDO SOCIAL CRISTÃO (PSC) DIRETÓRIO MUNICIPAL DE AMERICANA/SP em face do TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO (TRE/SP), cuja Resolução nº 323/2014 estaria afrontando a autoridade do Supremo Tribunal Federal e a eficácia do que decidido nas ADIs nºs 687/PA e 3.549/GO. Narra que, em 20/10/14, em razão da execução de julgado mediante o qual foram cassados os diplomas de Diego de Nadai e de Seme Calil Canfour, ficaram vagos os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito do Município de Americana, respectivamente. Muito embora o art. 56 da Lei Orgânica do referido município discipline a realização de novas eleições no prazo de 90 (noventa) dias, o TRE/SP editou a Resolução nº 323/2014, na qual as eleições majoritárias para preenchimento dos cargos de Prefeito e Vice-Prefeito do Município de Americana estão marcadas para ocorrer no dia 7/12/14, apenas 48 (quarenta e oito dias) após a vacância. Defende que o TRE/SP, ao mitigar o prazo de noventa dias para nova eleição de Prefeito e Vice-Prefeito de Americana, teria afrontado a eficácia das decisões paradigmas dessa Suprema Corte, uma vez que [o] efeito vinculante das ADIs 687 e (...) asseguram a supremacia do art. 56 da Lei Orgânica de Americana para dispor sobre a sucessão do Prefeito e Vice-Prefeito. O reclamante discorre também sobre razões para ser respeitado o prazo de 90 (noventa) dias previstos no art. 56 da Lei Orgânica do

2 Município de Americana, em especial a garantia do devido processo eleitoral para o pleno exercício dos direitos políticos, os quais são titularizados não apenas pelos cidadãos que votam (eleitores) ou os cidadãos que podem ser votados (candidatos), mas também pelos partidos políticos, conforme assentado pelo Ministro Gilmar Mendes no voto proferido na ADI nº 3.685/DF. Afirma que o papel dos partidos políticos como instrumentos de ação democrática, destinados a assegurar a autenticidade do sistema representativo (ADI MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22/09/1995) teria sido prejudicado pela antecipação da eleições, as quais deveriam ocorrer em 18/1/15, respeitado o prazo de 90 (noventa) dias. Requer que seja deferido o pedido de liminar para suspender a eficácia da Resolução TRE/SP nº 323/2014, bem como a de todos os atos que dela dependam, até o final julgamento do processo, presente o periculum in mora ante os prejuízos experimentados por eleitores, candidatos, partidos políticos e o próprio Município de Americana com a exiguidade do processo eleitoral regulamentado pela referida resolução. No mérito, postula que seja julgada procedente esta reclamatória para anular o ato reclamado e aqueles que dele decorram, determinando ao TRE/SP que respeite o prazo de 90 (noventa) dias previsto na Lei Orgânica do Município de Americana para realização de novas eleições locais. É o relatório. Apontam-se como paradigmas de confronto na presente reclamação as decisões nas ADIs nºs 687/PA e 3.549/GO. Acerca desses julgados, o reclamante destaca o entendimento do STF acerca da autonomia do ente municipal para legislar sobre [a] vocação sucessória dos cargos de prefeito e vice-prefeito. Com esse fundamento, foram declarados inconstitucionais o 1º do art. 78 da Constituição do Estado do Pará (ADI nº 687/PA) e o 2º do art. 75 da Constituição do Estado de Goiás (ADI nº 3.549/GO), com a seguinte redação, respectivamente: Art. 78. ( ) 2

3 1. Em caso de ausência ou impedimento do prefeito e do Vice-Prefeito, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Prefeitura os membros da Mesa Diretora da Câmara Municipal, obedecida a respectiva ordem, e o Juiz de Direito da Comarca, lavrando-se o ato de transmissão em livro próprio. Art. ( ) 2º. Ocorrendo a vacância no último ano do período do governo, serão sucessivamente chamados para exercer o cargo de Prefeito, o Presidente e o Vice-Presidente da Câmara. No caso dos autos, no entanto, não está em discussão ato praticado com fundamento em norma editada pelo legislador estadual regulamentando a vocação sucessória para o cargo de chefe do Poder Executivo municipal, mesmo porque a matéria, no caso do Município de Americana, está disciplinada no art. 55 de sua Lei Orgânica, in verbis: Art. 55. Em caso de impedimento do Prefeito e do Vice- Prefeito, ou vacância dos respectivos cargos, será chamado ao exercício do cargo o Presidente da Câmara Municipal. Nesta reclamatória, o PSC suscita o desrespeito pelo TRE/SP da norma municipal que prescreve o prazo de 90 (noventa) dias para realização de novas eleições no caso de dupla vacância, na primeira metade do mandato, dos cargos de prefeito e vice-prefeito no Município de Americana à semelhança do disposto no art. 81, caput, da CF/88 para esfera federal. A solução da presente reclamatória, portanto, demanda que o STF manifeste-se, originariamente, sobre a natureza e o alcance do prazo de 90 (noventa) dias disciplinado no art. 56 da Lei Orgânica do Município de Americana. O reclamante pretende fazer prevalecer o entendimento de que o dispositivo prescreve tempo mínimo de acesso aos mecanismos inerentes à participação política pelos sujeitos do processo eleitoral como garantia 3

4 de desenvolvimento legítimo das novas eleições, matéria que não foi objeto de análise, quanto menos o STF firmou uma posição, nas ADIs nºs 687/PA e 3.549/GO. Tendo em vista a atribuição constitucional da reclamação - preservar a competência do STF e garantir a autoridade das suas decisões (art. 102, inciso I, alínea l, CF/88), bem como para resguardar a correta aplicação das súmulas vinculantes (art. 103-A, 3º, CF/88) -, a jurisprudência desta Corte desenvolveu parâmetros para a utilização dessa figura jurídica, dentre os quais se destaca a aderência estrita do objeto do ato reclamado ao conteúdo das decisões paradigmáticas do STF. Nesse sentido: Os atos questionados em qualquer reclamação - nos casos em que se sustenta desrespeito à autoridade de decisão do Supremo Tribunal Federal - hão de se ajustar, com exatidão e pertinência, aos julgamentos desta Suprema Corte invocados como paradigmas de confronto, em ordem a permitir, pela análise comparativa, a verificação da conformidade, ou não, da deliberação estatal impugnada em relação ao parâmetro de controle emanado deste Tribunal (Rcl nº 6.534/MG-AgR, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe de 17/10/08). Ausente a identidade de tema entre o ato reclamado e as decisões paradigmas do STF indicadas pelo autor, não há que se falar em instauração da competência originária desta Suprema Corte em sede de reclamação constitucional. No caso, ademais, chama a atenção que a matéria sequer foi judicializada, uma vez que, embora emane de órgão do Poder Judiciário, o ato reclamado foi praticado por Tribunal Regional Eleitoral no exercício da competência prevista no art. 30, inc. IV, do Código Eleitoral, in verbis: Art. 30. Compete, ainda, privativamente, aos Tribunais Regionais: (...) IV - fixar a data das eleições de Governador e Vice- 4

5 Governador, deputados estaduais, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e juizes de paz, quando não determinada por disposição constitucional ou legal; Tem-se, assim, que o reclamante pretende instaurar debate judicial sobre a legalidade da Resolução TRE/SP nº 323/2014, tendo em vista o disposto no art. 56 da Lei Orgânica do Município de Americana, fim a que não se presta a ação reclamatória, sendo firme a jurisprudência desta Suprema Corte quanto ao caráter estrito da competência do STF no conhecimento das reclamações. Nesse sentido: A competência originária do Supremo Tribunal Federal não comporta a possibilidade de ser estendida a situações que extravasem os limites fixados pelo rol exaustivo inscrito no art. 102, I, da Constituição. Precedentes (Rcl nº 5.411/GO-AgR, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe- 152 de 15/8/08). O debate acerca da legalidade da realização de novas eleições majoritárias no Município de Americana em prazo inferior a 90 (noventa) dias deve ser proposto perante a autoridade judiciária competente para conhecer e julgar originariamente atos do TRE/SP, não podendo o jurisdicionado valer-se da reclamação para trazer a análise da matéria diretamente ao STF, ainda que com argumentos extraídos do texto constitucional. Do contrário, estaríamos atraindo para esta Corte Suprema a competência originária dada aos juízes e tribunais do país para o julgamento dos litígios interpessoais e intersubjetivos. Seria uma usurpação de competência às avessas. Que fique claro que não se recusa ao reclamante remédio processual, sequer se recusa o acesso ao STF. O que entendo é que a via da reclamação não é cabível diante do caso concreto em discussão. Ante o exposto, nego seguimento à reclamação, nos termos do artigo 21, 1º, do RISTF, prejudicada a análise do pedido liminar. 5

6 Publique-se. Int.. Brasília, 5 de dezembro de Ministro DIAS TOFFOLI Relator Documento assinado digitalmente 6