Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul
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- Felícia Bergmann Paiva
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1 PARECER CJ N 108/2008 CONSULENTE: Dr. José Antônio Crespo Cavalheiro CONSULTOR: Dra. Carla Bello Fialho Cirne Lima PROTOCOLO: de 14 de julho de 2008 Médicos especialistas em mastologia. Portarias 154 e 247 da SAS - Ministério da Saúde. Limitação de pagamento por quimioterapia e hormonioterapia a médicos especialistas em oncologia. Incompetência do Ministério da Saúde para determinar área de atuação de médicos especialistas. Competência do CFM e da AMB. Médico com registro no Conselho Regional de Medicina habilitação para todos os atos médicos aos quais se sentir qualificado. Multidisciplinariedade do mastologista fomentada pelo Ministério da Saúde. O Dr. José Antônio Crespo Cavalheiro encaminhou consulta a este Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul, questionando as Portarias 154 e 247, editadas em 2008 pela Secretaria de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde, que restringiriam a atuação de médicos mastologistas, somente permitindo o pagamento pelos tratamentos de quimioterapia e hormonioterapia a médicos oncologistas clínicos e cancerologistas. Primeiramente, cabe analisar a competência do Ministério da Saúde de legislar sobre área de atuação/especialidade médica. A Lei 3.268/57, que criou os Conselhos de Medicina assim dispõe: Artigo 2º - O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Medicina são os órgãos supervisores da ética profissional em toda a República e ao mesmo tempo julgadores e disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes zelar e trabalhar, por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito desempenho ético da medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exerçam legalmente. A Resolução CFM nº 1.845/2008, que rege as especialidades médicas, assim dispõe em suas considerações iniciais: 1
2 O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuições conferidas pela Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, alterada pela Lei nº , de 15 de dezembro de 2004, regulamentada pelo Decreto nº , de 19 de julho de 1958, e CONSIDERANDO o convênio celebrado em 11 de abril de 2002 entre o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), visando estabelecer critérios para o reconhecimento e denominação de especialidades e áreas de atuação na Medicina, bem como a forma de concessão e registros de títulos de especialista; (grifei) Verifica-se que a definição de critérios exigíveis para o reconhecimento e denominação de especialidades e áreas de atuação na Medicina cabe ao Conselho Federal de Medicina, em conjunto com a Associação Médica Brasileira e a Comissão Nacional de Residência Médica. Foge às atribuições da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde determinar qual especialidade médica é exigida para determinados atos médicos. De outra sorte, o médico regularmente registrado no Conselho Regional de Medicina da unidade federativa em que atua está legalmente habilitado a praticar qualquer ato médico para o qual se sinta tecnicamente preparado, responsabilizando-se por seus atos. A Constituição Federal de 1988 garante o livre exercício da profissão: Art. 5º XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. (Constituição Federal de 1988) determina : A Lei 3.268/57 que regulamenta tal dispositivo constitucional na área médica Artigo 17 - Os médicos só poderão exercer legalmente a medicina, em qualquer de seus ramos ou especialidades, após o prévio registro de seus títulos, diplomas, certificados ou cartas no Ministério da Educação e Cultura e de sua inscrição no Conselho Regional de Medicina, sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade. (grifei) 2
3 Artigo 18 Aos profissionais registrados de acordo com esta lei será entregue uma carteira profissional que os habilitará ao exercício da medicina em todos o país. (grifei) Dessa forma rege o Código de Ética Médica Resolução CFM nº 1246/88: É direito do médico: Art Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas reconhecidamente aceitas e respeitando as normas legais vigentes no País. O Princípio da Universalidade da Atuação Médica consagrou-se, ainda, e desde então, no Decreto /32: Art. 2º - Só é permitido o exercício das profissões enumeradas no art. 1, em qualquer ponto do território nacional, a quem se achar habilitado nelas de acordo com as leis federais e tiver titulo registrado na forma do art. 5º deste decreto. Nesse sentido, transcrevo parcialmente o Parecer CJ nº 106/97: A legitimidade do exercício da Medicina foi regulamentada pelo Decreto nº , assegurando ao médico, devidamente registrado, o direito de manter consultórios e clinicas, bem como de estabelecer diagnósticos e condutas terapêuticas em todas as opções de atividade preventiva, curativa e reabilitativa da Medicina. Com base em toda a legislação vigente, qual seja, a Constituição Federal, o citado Decreto /32 e Lei 3.268/57, o exercício da Medicina é amplo e ilimitado na prática de todos os atos concernentes à promoção, preservação e recuperação da saúde, devendo o profissional, na prestação da assistência médica, atender aos dispositivos do Código de Ética Médica e Resoluções do Conselho Federal de Medicina. O que a legislação especificamente veda é que o médico anuncie título ou especialidade que não possua, conforme se verifica do CEM: Art Anunciar títulos científicos que não possa comprovar ou especialidade para a qual não esteja qualificado. 3
4 No tocante à especialidade de Mastologia, esta foi reconhecida como tal através da Resolução CFM nº 1327/89. A Resolução CFM nº 1845/2008, que renova o convênio entre CFM, AMB e CNRM reitera o título: A Comissão Mista de Especialidades (CME), no uso das atribuições que lhe confere o convênio celebrado em 11 de abril de 2002 entre o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), visando estabelecer critérios para o reconhecimento e denominação de especialidades e áreas de atuação na Medicina, bem como a forma de concessão e registros de títulos de especialista, aprova o novo relatório que modifica o Anexo II da Resolução nº 1.785/06 do qual fazem parte os seguintes itens: 1) Normas orientadoras e reguladoras; 2) Relação das especialidades reconhecidas; 3) Relação das áreas de atuação reconhecidas; 4) Titulações e certificações de especialidades médicas e 5) Certificados de áreas de atuação. 4) TITULAÇÕES E CERTIFICAÇÕES DE ESPECIALIDADES MÉDICAS TÍTULO DE ESPECIALISTA EM CANCEROLOGIA/CANCEROLOGIA CLÍNICA CNRM: Programa de Residência Médica em Cancerologia/Clínica AMB: Concurso da Sociedade Brasileira de Cancerologia TÍTULO DE ESPECIALISTA EM CANCEROLOGIA/CANCEROLOGIA CIRÚRGICA CNRM: Programa de Residência Médica em Cancerologia/Cirúrgica AMB: Concurso da Sociedade Brasileira de Cancerologia TÍTULO DE ESPECIALISTA EM CANCEROLOGIA/CANCEROLOGIA PEDIÁTRICA CNRM: Programa de Residência Médica em Cancerologia/Pediátrica AMB: Concurso da Sociedade Brasileira de Cancerologia TÍTULO DE ESPECIALISTA EM MASTOLOGIA CNRM: Programa de Residência Médica em Mastologia AMB: Concurso da Sociedade Brasileira de Mastologia 4
5 Extrai-se, ainda, da Resolução acima transcrita, que a especialidade de oncologia formalmente reconhecida é a de cancerologia, clínica, cirúrgica ou pediátrica. A especialidade de mastologia foi criada no intuito de melhor atender o público-alvo, envolvendo os diversos atos médicos relacionados à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento de problemas nas mamas, sendo corolário lógico, a inclusão de tratamentos quimio e hormonioterapêuticos. A análise sistemática da legislação constitucional e infraconstitucional que rege a Medicina (no que amplia a habilitação dos médicos devidamente registrados nos Conselhos Regionais de Medicina a praticar quaisquer atos médicos a que se sintam preparados), da competência conjunta do CFM, da AMB e da CNRM (para determinar os critérios de reconhecimento de especialidades/áreas de atuação médicas) e a prática reiterada por parte dos mastologistas de atos médicos de indicação e promoção de tratamentos contra o câncer de mama, leva à conclusão de abusividade em relação às portarias editadas pelo Ministério da Saúde, tendo em vista que, ao determinar o pagamento de procedimentos de quimioterapia e hormonioterapia somente a cancerologistas, na prática, impõe limitação ilegal e inconstitucional à atuação dos especialistas em mastologia. De outra sorte, o Ministério da Saúde, através do Instituto Nacional de Câncer INCA, fomenta o trabalho do mastologista na área de tratamentos quimioterápicos. No site do INCA, nos sub-itens Ensino>> Médico>> Aperfeiçoamento>> Mastologia Oncológica (docs. anexos), é oferecido curso de aperfeiçoamento em Mastologia em Oncologia, com a expressa referência: Caracterização do curso Abordagem teórico-prática em Mastologia, para a realização do diagnóstico, estadiamento e tratamento das neoplasias malignas da mama. Ementa Tumores malignos da mama. Procedimentos de diagnóstico, estadiamento e seguimento. Tratamentos: cirurgia, quimioterapia, radioterapia e sintomáticos. Manuseio no pré, per e pós operatório. Reabilitação integrada. Analgesia. (grifei) 5
6 Dessarte, tem-se que o próprio Ministério da Saúde fomenta o atendimento multidisciplinar do mastologista, sendo absolutamente contraditórias as portarias objeto do presente parecer com a prática médica na área da saúde da mama. Diante do exposto, opino pela ilegalidade e inconstitucionalidade das portarias 154 e 247 da SAS - Ministério da Saúde no que restringe o pagamento de tratamentos de quimioterapia e hormonioterapia somente a especialistas em cancerologia. Opino, ainda, seja oficiado o CFM para que este tome ciência da ilegalidade, que acarreta a violação da competência do CFM por parte do Ministério da Saúde, ao restringir a atuação dos mastologistas. É o parecer. Porto Alegre, 31 de julho de 2008 Dra. Carla Bello Fialho Cirne Lima Consultora Jurídica APROVADO Pelo Vice-Presidente / 2008 Pelo Primeiro-Secretário / 2008 Pela Reunião de Diretoria / 2008 Pelo Plenário / 2008 slo
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