CAPÍTULO 3 A PRODUÇÃO E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO
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- Matheus Henrique Lage Palma
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1 CAPÍTULO 3 A PRODUÇÃO E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO Canal oficial da SBI para divulgação de informações científicas, o The Brazilian Journal of Infectious Diseases (BJID) ganha espaço, credibilidade e prestígio ao publicar, a partir de 1996, informações valiosas sobre Infectologia no mundo.
2 Na história da Infectologia, em especial a partir do século 20, a informação sempre foi um dos recursos mais eficientes para o avanço da especialidade em seus diferentes desafios ou circunstâncias que envolve, sejam elas médicas, científicas ou mesmo de caráter econômico-social. Canal valioso produzido no Brasil e com repercussão mundial, The Brazilian Journal Of Infectious Diseases (BJID) foi lançado oficialmente no IX Congresso Brasileiro de Infectologia, em agosto de 1996, com o número Special Edition. Trazia a composição da revista, sua estrutura, editorial board, editor-chefe e co-editores, advertising board, um editorial informando a importância da criação de uma revista científica; um editorial assinado pelo Dr. Thomas C. Jones (que foi co-editor da revista até 2001), trazendo a importância do alcance internacional para uma revista científica, como critérios e periodicidade; um editorial de Dr. André Lomar, como ex-presidente da Sociedade à época e um exemplo de um artigo (caso clínico), além das normas de publicação e Statement of Editorial Policy da revista. Concretizava-se assim, pelas mãos do professor Roberto Badaró, criador e editor do BJID por oito anos consecutivos, o desejo de ter, no mesmo nível qualitativo, uma publicação feita nos moldes do Journal Of Infectious Diseases (JID), tanto no que se refere às questões editoriais, quanto a sua gerência administrativa. 25 ANOS DA SBI l 45
3 46 l 25 ANOS DA SBI À época, o BJID contatou o setor administrativo do JID com a intenção de buscar, em uma publicação científica de alto impacto internacional, um modelo a ser seguido para a implementação da revista brasileira. E foi por meio deste modelo que o BJID surgiu, como uma revista que não dependesse de recursos oriundos apenas de sócios e assinantes, nem tampouco dependesse, com exclusividade, administrativa e financeiramente, de uma associação, sociedade, fundação, ou qualquer órgão governamental de auxílio a publicações científicas. O objetivo era que ela pudesse sobreviver com recursos e gerência próprios. Portanto, seguindo os mesmos padrões de revistas científicas internacionais é que o BJID estabeleceu seu regimento interno, sempre com o vínculo obrigacional direto e subordinado à SBI, conforme estatuto aprovado em Assembléia. Os recursos financeiros do BJID sempre partiram do Advertising Board da revista, inicialmente com onze empresas participantes e, em 2005, com apenas três, sendo elas a Abbott Laboratórios, a Bristol Myers Squibb Brasil e a Produtos Roche. Esse modelo é de suma importância para a gerência do BJID, sem que haja nenhuma participação das empresas patrocinadoras no processo editorial da revista. Desde o surgimento da Aids em 1980, o volume de informações específicas na área de Infectologia cresceu de forma substancial. Associado a esta nova doença, o domínio das informações referentes à emergência de novos patógenos, o crescente problema da infecção hospitalar, a resistência aos antibióticos e o crescente avanço na área de antimicrobianos, praticamente criaram subespecialidades na área das doenças infecciosas e parasitárias. Atualmente, os periódicos de Medicina interna e revistas médicas de âmbito global já não comportam publicações especializadas. Portanto, fez-se clara a necessidade de uma revista especializada na área de doenças infecciosas com uma abordagem mais clínica e microbiológica. Mais de 70 % dos periódicos de alto índice de impacto e citações internacionais são editados em língua inglesa. Periódicos científicos editados em língua portuguesa acabam tendo baixo índice de impacto e são pouco lidos pela comunidade científica. Assim, decidiu-se publicar uma revista brasileira editada em língua inglesa a exemplo de outras nacionais que assim o fazem. Após consulta a Biblioteca Nacional dos Estados Unidos (Index
4 Medicus/Medline), o maior índice científico mundial, verificouse que pouquíssimas revistas da América Latina eram indexadas, devido a diversos fatores, entre eles a regularidade do periódico, a obediência às regras internacionais de citações, os critérios de seleção e revisão dos artigos publicados, o interesse da comunidade científica internacional e a própria independência do corpo editorial dos mecanismos de financiamento do periódico. Para garantir a qualidade científica da língua inglesa, foram contratados profissionais especializados no exterior em edições médicas para o assessoramento na edição e revisão da revista. O BJID também faz parte do mundo virtual ( possibilitando uma maior abrangência de público, trazendo a possibilidade de conferência dos autores sobre o status de seu artigo, sem que para isto precise entrar em contato direto com os editores da revista. Além disso, o visitante virtual pode ter acesso a números anteriores da revista, disponibilizados na íntegra. O BJID sempre teve como propósito divulgar os trabalhos médicos originais na área de Infectologia, com uma periodicidade bimestral, atendida ao longo de todos esses anos, além de suplementos e separatas. Do ponto de vista médico-científico, os temas da Infectologia mais importantes e abrangentes foram os seguintes: O HIV, desde os aspectos históricos do surgimento da Aids aos mais novos tratamentos utilizados, bem como as pesquisas epidemiológicas e as realizadas pelos centros de referência nacionais e internacionais. O BJID também tratou com muita cautela e precisão os artigos referentes aos tratamentos adotados, principalmente no Brasil. A Virologia: HPV, HCV, HBV, suas tipagens, estudos de vacinas e estudos genéticos. As doenças tropicais também são temas freqüentes, principalmente em relato de casos, por meio de artigos originados a partir de pesquisas e estudos de coorte retrospectivos. Nestas estão incluídas, principalmente: leishmaniose, estrongiloidíase, malária, doença de Chagas e dengue. E, o que é mais importante, o BJID oferece um espaço para que a divulgação, especialmente de pesquisas de âmbito nacional, possa chegar e integrar-se àquelas do exterior, tendo em vista o grande número de indexadores nos quais a publicação encontra-se incluída. Atualmente, são distribuídos cerca de 4,8 mil exemplares da revista. 25 ANOS DA SBI l 47
5 Em 2003, uma pesquisa feita a partir de um questionário enviado ao mailing list do BJDI traçou um perfil do público leitor. No resultado, constatou-se que boa parte dos leitores e dos que submetem artigos para a revista são dirigentes de pesquisas ligadas à área de Infectologia e, o que é mais importante, normalmente são centros de pesquisa de reconhecimento nacional e internacional. Foi questionada, também, a razão pela qual o BJID era o escolhido para que um artigo fosse publicado e as respostas foram: qualidade e rigor de conteúdo (42,3%), indexação (47,5%) e circulação (10,2%). 48 l 25 ANOS DA SBI HISTÓRIA DE UMA OBRA Editor e co-autor de Tratado de Infectologia, livro-referência no Brasil, o professor Roberto Focaccia revela a evolução de um clássico na literatura médica nacional A história do Tratado de Infectologia começa em 1960, quando o professor Ricardo Veronesi conseguiu publicá-lo em primeira edição, patrocinado na época pelo Fundo Procienx. Tinha como título Doenças Infecciosas e Parasitárias. Foi um sucesso de vendas, com a primeira impressão esgotada em seis meses. Trazia nomes de grande expressão, além de uma diversidade de assuntos e a profundidade de um conteúdo inédito até então. O que era para ser um livro apenas didático veio a ocupar um enorme espaço editorial alcançando o interesse de profissionais de todas as áreas da Infectologia. A cada patologia apresentada, um convidado, especialista no assunto, fazia suas observações. Logo a editora Guanabara-Koogan se interessou comercialmente pelo livro e assim seguiram-se oito edições e reimpressões. O nome foi mantido e o conteúdo ampliado sucessivamente. O professor Veronesi costumava dizer que um livro só fica bom após sete edições, pois estava já maduro. Não foi à toa, portanto, que a Organização Panamericana de Saúde adotou oficialmente o livro. As últimas edições foram vendidas aos estudantes subsidiados pela OPAS. Fui convidado pelo professor Veronesi a co-editar o livro a partir de 1976, já na 7ª. edição. Ao final da 8ª. edição, o livro ficou um tempo guardado em razão de outros projetos do professor. Foi quando a Editora Atheneu nos procurou para propor uma edição totalmente atualizada, temas novos, abordagem mais ampla e modernização do projeto editorial.
6 Havia melhores condições para a realização da publicação. Impossibilitado então de dar seqüência à obra, Veronesi me consultou se estava interessado no projeto e que ele emprestaria o nome à publicação, confiando a mim toda a edição científica. O livro já era sucesso na maioria das faculdades da área de saúde do Brasil, da América Latina e Portugal. Aceitei o desafio. Reformulei todo o corpo de colaboradores, agora criando sub-capítulos e convidando especialistas para cada aspecto específico da doença estudada. Procurei ampliar o sumário com a introdução de síndromes clínicas até então existentes no livro e que se constituem excelentes modelos para o ensino. Ao longo de dois anos, trabalhando quase full time na edição, pudemos alcançar seu lançamento. Todo um trabalho com notável suporte da Editora Atheneu, sempre priorizando a publicação. Já não era um livro apenas didático, caminhava para um verdadeiro Tratado, a exemplo dos antigos tratados franceses,. Mudamos, ou adequamos o nome: Tratado de Infectologia. Uma publicação de consulta e estudo, abrangente, moderna, a contemplar toda a área da saúde, do estudante ao gestor de saúde. Seguiram-se mais uma edição e várias reimpressões. Em 1997, a recompensa e estímulo renovado ao ganharmos o Prêmio Jabuti da Academia Brasileira do Livro. Agora já amadurecido na profissão editorial, sem a presença física do professor Veronesi, parti para o desafio maior de reformular, atualizar e buscar o limite do conhecimento em cada área da Infectologia. Da etiologia à profilaxia, com ênfase especial à clínica. De novo, a grata satisfação de verificar que o infectologista brasileiro acompanhou o progresso científico global e já se poderia substituir vários expoentes estrangeiros por especialistas nacionais. Da mesma forma, constatei que poderia contar com a excelência de centros de referência em áreas até então inexistentes em nosso meio, como a de imunopatologia, biologia molecular, imunogenética, abordagem da epidemiologia clínica, experimentação laboratorial e clínica, entre outras, dimensionando o progresso de nossa Medicina de elite. Com a 3ª. edição, lançada no final de 2005, renova-se a alegria de manter esse ensino continuado a centenas de anônimos alunos. Certamente essa é a melhor edição de todas que pude participar, porque foi um projeto planejado minuciosamente no campo científico e na programação editorial. 25 ANOS DA SBI l 49
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