UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL
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- Luísa Schmidt Bonilha
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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS GRADUAÇÃO LATU SENSU EM EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL Por Valéria Reis Lopes Correia Professor orientador: Mary Sue RIO DE JANEIRO Janeiro/2005
2 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS GRADUAÇÃO LATU SENSU EM EDUCAÇÃO INFANTIL UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para conclusão do curso de especialização latu-sensu em Educação Infantil por Valéria Reis Lopes Correia. Professor Orientador: Mary Sue RIO DE JANEIRO Janeiro/2005
3 3 Agradeço acima de tudo a Deus pela minha existência e pela minha oportunidade de evolução. Ao meu marido e filhas que compreenderam e apoiaram minha ausência e meu empenho para a realização desse trabalho. A minha orientadora Mary Sue que com seu exemplo de mestra e com sua sensibilidade me deu força para a concretizar e finalizar esse trabalho.
4 4 Dedico este trabalho de pesquisa a todos os educadores que como eu amam verdadeiramente seu ofício e objetivam um mundo melhor para todos.
5 5 SUMÁRIO Introdução CAPÍTULO I 1 - O Caminhar Pedagógico da Educação Infantil CAPÍTULO II 2 Educação Infantil, que Período é Esse? Quem é essa criança? CAPÍTULO III 3 A Quebra do Paradigma: quem cuida e quem educa? CAPÍTULO IV 4 Identidade do Profissional da educação Infantil Formação continuada e a pratica reflexiva sobra a ação pedagógica CAPÍTULO V 5 A Busca de uma Educação de Qualidade Conclusão Bibliografia... 46
6 6 RESUMO Este trabalho visa, por meio de uma contribuição de autores acerca do que traduz educação infantil, mostrar o quanto é importante e necessário o conhecimento sobre o desenvolvimento das crianças de zero a seis anos, assim como, enfatizar a importância dessa etapa da vida escolar e suas contribuições no que tange o desenvolvimento humano e evidenciar a real necessidade em relação a capacitação dos profissionais que atuam com essa faixa etária. Portanto, no primeiro capítulo será discorrida uma retrospectiva jornada que envolve trajetória histórica da educação infantil, em que será possível perceber que as mudanças sócios culturais deixam seus reflexos no caminhar histórico da educação infantil. Cabendo ao segundo capítulo, o enfoque dado a educação na primeira infância como assunto prioritário dentro do panorama educacional, mostrando que etapa escolar é essa, como esta respaldada legalmente e quais são as reais necessidades da crianças que nela se integram. O terceiro capítulo reservou-se ressignificação do verdadeiro ofício e a desmistificação no que se trata ao cuidar e educar, pontuando que essas ações não acontecem bipartidas,pois se caracterizam indissociavelmente, quebrando o paradigma que gira em torno dessa questão. O quarto capítulo demonstrará a verdadeira identidade do profissional que atua com a educação de crianças de zero a seis anos, suas competências e habilidades, trazendo a luz a importância da educação continuada e da prática crítico reflexiva que move a ação do professor. Deixando para o quinto capítulo, a abordagem de uma educação de qualidade onde coloca-se a educação infantil no patamar de merecimento e reconhecimento da fase mais importante do desenvolvimento escolar, mostrando que não está inserida no contexto educacional apenas como um período preparatório, mas sim com suas características definidas e explicitadas, o que leva a comprovação de que os saberes e fazeres pedagógicos devem estar pautados no conhecimento do desenvolvimento humano, bem como, nas teorias pedagógicas quer norteiam esse caminhar educativo. Capacitando aos envolvidos uma interação salutar no que diz
7 7 respeito ao desenvolvimento global e consciente dos alunos, construindo, dessa forma, condições que oportunizarão o desenvolvimento do senso critico, ético e moral, facilitando, dessa forma o exercício pleno da cidadania.
8 8 INTRODUÇÃO Este trabalho é fruto de um levantamento singular e simultâneo de leituras bibliográficas, sobre as quais procurava-se investigar mais sobre as temáticas e pesquisas, subsistentes na área de educação infantil. Este despertar talvez tivesse acontecido devido ao contato direto com profissionais da educação que debatem e discutem em torno do cenário da educação infantil. Partindo deste despertar, realizaram-se pesquisas bibliográficas, sobre as quais reflexões infindas foram projetadas em dialética com a práxis realizadas nas escolas em que desenvolvem-se um cotidiano profissional preocupado com a dicotomia entre teoria e prática que ainda se faz presente no panorama da realidade atual da educação infantil. Foram encontrados diversos livros, seminários, artigos e outros escritos acerca da temática da educação infantil, que puderam nortear, contribuir e trazer a luz ao que tange os saberes e fazeres da educação infantil. É claro que nesse trabalho não foram esgotadas todas as questões, pois mesmo apresentando reflexões, discussões e alternativas de superação de dificuldades, investigações iniciam-se a todo instante o que leva cada vez mais a apreensão da importância e da complexidade que este tema apresenta. O presente instrumento tem por objetivo a busca de respostas e soluções que poderão contribuir para a prática do professor no que tange o complexo paradoxo entre os reais saberes e fazeres, cuidar e educar no processo educativo da educação infantil, levando até os profissionais e afins uma reflexão sobre a importância do trabalho da educação infantil, sua conseqüência no contexto social e no desenvolvimento infantil, bem como a percepção e o reconhecimento da capacitação dos profissionais que atuam com essa faixa etária. A reflexão do educador infantil sobre a escola, os alunos e a sua prática é fundamental para o aperfeiçoamento e, principalmente, a conscientização a respeito da importância de seu trabalho, daí a participação
9 9 em debates e na troca do dia-a-dia faz com que esses educadores reflitam sobre a prática do exercício de mediador no processo educativo de crianças de zero a seis anos, repensando linhas e práticas pedagógicas que norteiam o caminhar evolutivo da educação infantil, comparando o ontem e o hoje e vislumbrando um amanhã consciente e reflexivo embasado em teorias e práticas sólidas que contribuíram, desta forma, para alicerçarem o trabalho edificante que é o de acompanhar o florescer de uma criança. Embora a educação infantil, ainda, apresente-se historicamente como uma área de atuação profissional distanciada no panorama educacional brasileiro, seus educadores percebem a necessidade de conhecer melhor essa criança, suas necessidades, seus desejos e anseios, buscando através do conhecimento teórico pautar e estruturar conscientemente uma diretriz que tenha como base prioritária auxiliar verdadeiramente o desenvolvimento global da criança da educação infantil, bem como, considerar a ação reflexiva na sua prática como movimento transformador do seu exercício profissional, levando-os, desta forma, a alçar e alcançar os níveis de conhecimento e prática satisfatórios, fundamentando a práxis, pois buscar aprimoramento, conhecer o que realmente é a educação infantil, o que a legislação vigente denota em relação ao paradoxo cuidar e educar, além de agir de forma reflexiva orientando-se através do desenvolvimento infantil é sem dúvida equipar de bagagem salutar o profissional da área, aí sim, esses educadores alcançarão um nível de reconhecimento compatíveis com a enormidade que é a importância que tem o seu papel na trajetória da criança, fazendo com que cada vez mais a Educação Infantil seja vista como a fase mais importante da vida escolar. Portanto, o primeiro capítulo retroagirá a educação infantil para séculos passados, a fim de nortear e esclarecer o que está acontecendo no momento atual. O segundo capítulo abordará o enfoque da educação como período crucial do desenvolvimento infantil. O terceiro capítulo, descurtinará o verdadeiro saber sobre o cuidar e educar, ressignificando a prática pedagógica. O quarto capítulo enfocará a identidade do professor da educação infantil, deixando para o quinto e último capítulo a abordagem dos requisitos de base para que se alcance uma educação infantil de qualidade
10 10 refletindo na formação da criança e na interação dela com o mundo capacitando-a para o exercício pleno da cidadania.
11 11 CAPÍTULO I O CAMINHAR PEDAGÓGICO DA EDUCAÇAO INFANTIL É de suma importância termos conhecimento da trajetória da Educação Infantil para que melhor compreendamos a realidade atual. Ao se realizar uma pesquisa histórico pedagógica com a finalidade de extrair fundamentações teóricas sólidas, que nos possibilitem uma reflexão crítica das tendências pedagógicas que tem norteado a prática da educação de crianças de zero a seis anos, poderemos, desta forma, alicerçar nossas opções e posicionar nossa trajetória. Embora reconheçamos o valor das teorias e investigações sobre a educação da criança pequena, no Brasil, vemos uma maioria de professores que tiveram acesso a algumas teorias sobre a educação infantil de forma bastante vaga, através de cursos rápidos, que não lhes oportunizaram uma maior reflexão sobre sua realidade e, nem mesmo, a possibilidade concreta de construírem teorias adequadas à sua prática, reafirmando que o suporte teórico-metodológico do professor, no caso específico, do professor da educação infantil, explicita-se no seu discurso e na sua prática diária. Daí a importância de se conhecer sempre mais o caminhar histórico pedagógico da Educação Infantil. Fazendo uma retrospectiva na história da educação, nos deparamos com os fundamentos sociais, morais, econômicos, culturais e políticos da sociedade antiga que foram sendo superados desde a instauração da sociedade moderna no século XVI. A constituição de modos de vidas passou a ser exigência do novo contexto social. A burguesia, classe em franca expansão passou a reivindicar formas mais concretas de vida, não mais lhes bastava uma educação dogmática, era preciso recorrer a uma educação que lhes dessem condições de dominar a natureza. Foi no início do século XVII que surgiram as primeiras preocupações com a educação das crianças pequenas. Essas preocupações foram resultantes do reconhecimento e valorização que elas passaram a ter no meio em que viviam.
12 12 Vários teóricos desenvolveram seus ideais sobre educação, incluindo aí a educação para a infância. Neste período pode ser destacado: João Amós Comênio ( ) é considerado como o maior educador e pedagogo do século XVII e um dos maiores da história. Comênio ousou quando teorizou a escoal que ensina tudo a todos, já nessa época englobando crianças especiais e do sexo feminino. Sua obra trouxe um novo despertar no olhar para a criança, que passa de um olhar de fraca e incapaz para seres humanos dotados de inteligência, aptidões, sentimentos e limites. Um despertar também na família, na qual aos pais passam a tarefa de educar a criança pequena, que na época constitui um grande avanço, pelo fato dos pais, até então, não terem essa responsabilidade. Pontua-se mesmo nesse aspecto a preocupação que Comênio teve em relação as crianças pequenas. Não se pode deixar de ressaltar que o plano da escola materna, oportunizou aspectos necessários ao desenvolvimento no que tange as propostas educativas. A procura por uma sistematização do saber incentivou o homem dessa época a realizar novas tendências e é neste contexto que podemos destacar: Jean Jaques Rosseau ( ) que delineava a educação da criança pequena considerando sua existência, não como um homem pequeno, mas que tinha seu mundo próprio, cabendo ao adulto percebê-la e compreendê-la, pois apresentava peculiaridades que necessitavam ser conhecidas, estudadas e sobre tudo respeitadas. Neste aspecto revelou a influência da sociedade sobre o homem, enfatizando que a educação se processa de dentro para fora e o respeito à natureza da criança se faz fundamental para essa compreensão, reafirmando, dessa forma, que a criança tem idéias e comportamentos diferentes dos adultos. Suas concepções sobre educação podem ser percebidas em grande parte na sua bibliografia, na qual dividiu a educação em cinco partes. Os dois primeiros livros foram dedicados a infância, no qual destacou a
13 13 importância e a valorização do desenvolvimento e das especificidades dessa fase. Naquela época, essa faixa etária apresentava sérios riscos, no que podemos dizer, sobrevivência, por isso a educação deveria estar ligada à própria vida da criança e deveria também, em cada fase de seu desenvolvimento propiciar-lhe condições de vive-la o mais intensamente possível. Ainda no século XVIII podemos destacar: Johan Heinrich Pestalozzi ( ) considerado o educador da humanidade, que influenciado por Rousseau via a família como importante, porém insuficiente para educar o homem. A visão de educação humana baseada na natureza espiritual e física, unindo o homem a sua realidade histórica, também foi destacada na trajetória de Pestalozzi, assim podemos afirmar que a universalização da escola com bases para a educação pública moderna, visando uma educação para a sociedade, bem como a necessidade do ensino a partir da intuição e do contato direto com as experiências da criança, partindo gradativamente da intuição de pequenas coisas para a denominação, passando para a descrição e finalmente para a formação de conceitos, ou seja, definições; foi o patamar evidenciado na sua pedagogia. O sistema pedagógico de Pestalozzi tinha como pressuposto básico, propiciar à infância a aquisição dos primeiros elementos do saber, de maneira intuitiva e natural, pois para ele todo homem é bom e deve ser assistido no seu desenvolvimento de modo a liberar todas as capacidades morais e intelectuais, digamos que a educação tende a desenvolver-se harmonicamente. Outro aspecto relevante é a relação que ele faz sobre a complexa formação do homem quando sustentada por um tripé: espiritual, intelectual e moral....da formação espiritual do homem como unidade de coração, mente e mão (ou arte), que deve ser desenvolvida por meio da educação moral, intelectual e profissional, estreitamente ligadas
14 14 entre si; a formação do homem é um processo complexo que se efetua em torno da Anschauung, entendida como observação intuitiva da natureza, que promove o desenvolvimento intelectual, o qual por sua vez promove um desenvolvimento moral, de modo a produzir no sujeito um sentimento de harmonia tanto com o mundo exterior quanto com o interior... todo homem deve ser eticamente aperfeiçoado para agir como cidadão e tal aperfeiçoamento é obra, sobretudo da educação e não apenas da natureza. ( CAMPI,F., 1999;418 ) A magnitude de Pestalozzi localiza-se, talvez, na cumplicidade com a luta sobre os problemas da pedagogia contemporânea e alimentada pelos princípios da cultura romântica. Iluminada por uma transparência na concepção da formação humana a luz sócio - política e espiritual. Apesar de destacar Pestalozzi no século XVIII é necessário ressaltar que suas contribuições foram de grande importância para a estruturação direcionada ao processo educativo do século XIX, no qual destacaremos: Friedrick Fröebel ( ) que trabalhou com Pestalozzi e teve seus ideais apoiados numa profunda fé, inspirada pelo amor a criança e a natureza. Defendia o desenvolvimento genético com a idéia da evolução natural da criança, bem como enfatizava a importância do simbolismo infantil. Para ele a educação se processa a partir de uma auto consciência crescente do indivíduo em relação à natureza e a sociedade. Foi notadamente conhecido pela criação dos jardins de infância, organização bem diferente das que havia na época. Eram espaços aparelhados para o jogo, para o trabalho infantil e para atividades coletivas. Esses espaços eram organizados por uma professora especializada, sem que esta assumisse uma forma orgânica e programática. A intuição das coisas formam o centro da atividade, sendo o jogo a predominância da ação. Nos jardins existem canteiros e grandes áreas verdes, de modo a facilitar as mais variadas atividades, pois Föebel parte do pressuposto
15 15 religioso que Deus está presente na natureza, porém transcendendo a ela, tendo-a como sua unidade e seu centro motor. Ele vê a natureza como boa e mais nítida ainda quando se subtrai as manifestações da sociedade, assim, torna-se mais genuína e espontânea como a criança. Seu olhar para a infância denota o depósito da voz de Deus, com isso, na educação deve-se apenas deixar a criança desenvolver-se reconhecendo o divino, o espiritual e o eterno por intermédio de uma relação profunda com a natureza e uma harmonia do eu com o mundo, bastando, para tal, desabrochar na criança a sua habilidade inventiva, a sua vontade de mergulhar no mundo da natureza, reconhecendo, interagindo com a sua condição criativa do sentimento, da arte com as cores, formas, ritmos, figuras, sons e tendo o jogo como atividade especifica para capacitar a criança na interação com o mundo, pois nesta fase, a criança encontra-se no momento crucial da educação, no qual sementes são plantadas para a formação da personalidade do homem devendo ser alicerçado, então, em bases teóricas sólidas e de forte sensibilidade formativa. Föebel é ao mesmo tempo o teórico do jogo e seu realizador prático, que compreende o aspecto criativo do brinquedo e das atividades lúdicas enfatizando como um papel ativo na etapa de desenvolvimento na infância e como o mais viável para a determinação de um processo educacional. Os jardins de infância e os jogos na teoria de Froebel têm papel importante na organização escolar. Os jogos eram organizados com diferentes materiais, começando pelo uso das formas esféricas e das bolas, eles se subdividem: formas da vida, da beleza e do conhecimento. Os recursos pedagógicos foram organizados e divididos em prendas e ocupações. As prendas são materiais que não mudam de forma: cubos, cilindros, bastões lápides, que, usados nas brincadeiras, oportunizavam à criança formar um sentido da realidade e um respeito à natureza. Já as ocupações consistiam em materiais que se modificavam com o uso: argila, areia e papel que são usados em atividades de recorte, dobradura, alinhavo, etc. As canções acompanhariam as tarefas, complementando desta forma, as sugestões de materiais e atividades.
16 16 Frobel apresentou-se claramente, com sua pedagogia contra os métodos mecânicos e padronizados de aprendizagem e até hoje é possível encontrar em instituições de educação infantil sua teoria. Transformações educativas ocorreram no século XX, que foi marcado por grandes conflitos vividos dramaticamente gerando inovações radicais nos aspectos econômicos, políticos, comportamental e cultural. E foi no decorrer desse século que houve um grande movimento de renovação pedagógica, com mudanças significativas no campo educacional. Essa mudança foi percebida como resultado de toda uma modificação social que conseqüentemente exigia um novo sistema de instrução. A escola neste contexto sofre uma profunda e radical transformação, nutre-se de ideologia, amplia seu acesso e impõe-se como instituição chave da sociedade, colocando no centro do seu processo, a criança, as suas capacidades e as necessidades que auxiliarão o seu perceber e conhecer global no caminhar de um amadurecer interior. Esse olhar rompia radicalmente com o passado, com uma instituição formalista, disciplinar e verbalista. No alicerce dessa consciência educativa inovadora encontrava-se não só as descobertas da psicologia como também o intercambio com a massa popular, que de certa forma, modificou o papel da escola e o seu perfil educativo. Todavia as escolas novas se apresentaram como experimentos isolados e manifestaram, de certo modo, desejos que proporcionaram pesquisas no campo da instrução, objetivando uma transformação profunda nos aspectos, não só, de organização institucional como nos seus ideais formativos e culturais. A característica comum e dominante dessas escolas novas deve ser identificada no recurso à atividade da criança. A infância, segundo esses educadores, deve ser vista como uma idade pré-intelectual e pré-moral, na qual os processos cognitivos se entrelaçam estreitamente com a ação e o dinamismo, não só motor, como psíquico, da criança. A criança é espontaneamente ativa e necessita, portanto, ser libertada dos vínculos da educação
17 17 familiar e escolar, permitindo-lhe uma livre manifestação de suas inclinações primárias. ( CAMPI,F., 1999;514 ) Nesse contexto destacamos: Ovide Decroly ( ) que, primeiramente expandiu suas ocupações educativas junto a crianças anormais. Sua proposta de trabalho estava pautada em atividades individual, coletiva e amparadas em princípios da psicologia da criança. Inicialmente, suas atividades foram realizadas em sua própria casa, onde pode observar, diretamente, o desenvolvimento infantil. A posteriori, resolveu desenvolver sua proposta educativa junto às crianças normais, criando uma escola em Bruxelas. Esse trabalho rendeu pelas autoridades a oficialização nas escolas públicas. Ovide Decroly tinha como preocupação, expor sua proposta, a fim de, substituir o ensino formalista, baseado no estudo dos tradicionais livros de textos, por uma educação voltada para os interesses e necessidades das crianças. Considerando a finalidade da sua proposta pedagógica, ficou explícito que ele organizou a mesma a fim de superar as deficiências do sistema educativo que vigorava na época, inovando e criando novas possibilidades educativas. Ao propor o seu programa, Decroly definiu suas características e quais domínios de conhecimento deveria atingir, dando-nos, desta forma, a dimensão e a referência do movimento do ato de ensinar e do de aprender. Em conseqüência, concluiu que o que mais interessa ser percebido e reconhecido pela criança é, em primeiro lugar, ela mesma, para depois conhecer, ao seu redor, o meio em que vive. Para conseguir tais resultados a nível pedagógico, seria necessário globalizar e ao ser ver, essa globalização, só seria possível, se houvesse uma mudança na dinâmica do trabalho escolar e, para isso, criou os chamados Centros de interesse, pois partir do interesse da criança significa respeitar o seu desenvolvimento e suas necessidades, desenvolvendo, assim, uma proposta educativa que considere realmente as suas exigências reais respeitando seus desejos.
18 18 Destacaremos a seguir: John Dewey ( ) denominado como o máximo teórico da escola ativa e progressista, que foi considerado um dos mais importantes teóricos da educação americana e, por que não dizer, da educação contemporânea. Em sua abordagem sobre educação considerava que o método científico deveria subsidiar o trabalho em sala de aula, de tal maneira que o conhecimento fosse trabalhado de forma experimental, socialmente desde a infância, com o intuito de torná-la um bem comum. Pautava-se no princípio de que o caminho mais viável para o aprender é o fazer, superarando aquela visão de que cabia ao professor a responsabilidade integral pelo conhecimento a ser adquirido pelo aluno. Um dos pontos marcantes das noções de Dewey pode ser hoje encontrado em um grande número de escolas infantis, trata-se do método de projetos, no qual se desejava uma mudança nos procedimentos didáticos para elaborar uma nova teoria experimental, através da qual melhor se definisse o papel dos impulsos de ação. Partia-se do princípio de que, o que se deve desejar nos educandos é o inteligente desempenho de atividades com intenções definidas ou integradas por propósitos pessoais, com isso é que se forma e se eleva, grau a grau, a experiência humana em conjuntos de maior sentido e significação e, assim, mais eficientes na direção das atividades. Bom ensino só se dará quando os alunos, sob conveniente direção, possam mover-se por intenções que liguem seus desejos e ações a resoluções definidas, ideais e valores. Na realidade, o que foi desenvolvido nesse novo modelo didático, nada mais é que o sistema de projetos. Nesse universo puramente masculino, surge destacando-se: Maria Montessori ( ). Até então, foram os homens que começaram a se preocupar com a educação infantil, uma tarefa atribuída, quase que exclusivamente, à mulher. Maria Montessori, é considerada, uma das mais importantes representantes dessa mudança radical que se dá na escola com relação a concepção de ensino e aprendizagem. Seu
19 19 envolvimento com a educação da criança pequena apresenta-se desde quando fundou em Roma a primeira Casa dei Bambini, para abrigar, aproximadamente, cinqüenta crianças normais carentes, filhas de desempregados. Lá Montessori realizou várias experiências que alicerçaram seu método, fundamentado numa concepção biológica de crescimento e desenvolvimento. Por ser médica preocupou-se com o biológico, contudo, não abandonou, o aspecto psicológico bem como o social. Enfatizando a formação integral e para a vida, pois a educação é uma conquista do ser humano desde criança quando já nascemos com a capacidade de ensinar e aprender, bastando oferecer condições necessárias para que tal processo seja realizado. Para ela o caminho do intelecto passa pelas mãos, pois experenciando através de toques e movimentos decodifica-se e explora-se o mundo, partindo do concreto rumo ao abstrato, através de materiais atraentes projetados para desenvolver, estimular e provocar o raciocínio levando a interiorização e a interação com o mundo abastecendo-se de experiências que geram aprendizados. À primeira vista poderíamos afirmar que Celestin Freinet ( ) nada tem a ver com a educação infantil, que sua preocupação maior estava voltada para a renovação do ensino primário público. Entretanto, aos poucos constata-se que suas preocupações podem ser direcionadas à educação das crianças pequenas. Freinet foi considerado um educador revolucionário, o cultivo na educação do aspecto social foi um dos grandes feitos desse educador francês. Suas técnicas (texto impresso, a correspondência escolar, texto livre, a livre expressão, o aula-passeio, o livro da vida) faziam sentido num contexto de atividades significativas, que oportunizavam às crianças sentirem-se sujeitos do processo pessoal de aquisição de conhecimentos. Ele entendia que o dinamismo e a ação é que estimulavam as crianças a buscar esse conhecimento, multiplicando seus esforços em busca de uma satisfação interior, o trabalho e a cooperação apresentariam-se como primordial na educação, pois o objetivo visto para educação era o de formar cidadãos para o trabalho livre e criativo, a fim de agir, reagir e interagir com o meio sendo capazes de transformá-lo.
20 20 As propostas pedagógicas abordadas, apesar de nortearem diferentemente, denotam uma visão romântica da educação infantil, pois nos processos educacionais a criança apresenta-se percebida como um ser que tem potencialidades inatas que desenvolve-se como sementes de um jardim regadas com cuidados e estímulos naturais envoltos em aspectos relacionais e culturais dentro de seu contexto histórico-sócial. Ao professor creditava-se a responsabilidade da organização e da coordenação dos interesses das crianças, estimulando e aguçando o desvendar do novo. Além de incentivador de curiosidades, Freinet propunha ao professor anotações diárias e diagnosticas com relatos de todas as atividades e todos os progressos de seus alunos, estabelecendo faces a essas anotações o roteiro de caminhos para sua aprendizagem. Antecipando o que mais tarde seria chamado de educação centrada no aluno ( ANTUNES,C.,2004; 96 ) Surge então uma nova tendência pedagógica que vem acarear a visão romântica da educação infantil. Aparece como investigador do aspecto construção do conhecimento, afetivo, social cognitivo e biofisiológico. Jean Piaget ( ) que desenvolveu longos estudos e pesquisas nos mais diversos campos do saber. Por certo, poderíamos destacar, nas obras de Piaget, vários aspectos relevantes para a educação infantil, dentre eles a construção do real, a construção das noções de tempo e espaço, a gênese das operações lógicas. Criador, como sabemos, de uma epistemologia, a epistemologia genética, sempre esteve preocupado em investigar como se dava a construção do conhecimento em diversas áreas, mais especificamente, qual é a sua gênese, seus instrumentos de apropriação e, em como se constituem.
21 21 Quanto à aplicabilidade de sua teoria no campo pedagógico, é fundamental reafirmar que esse não foi seu objetivo, seu interesse voltavase para o campo epistemológico, com o intuito de construir um método capaz de oferecer os controles e, sobretudo, de retornar às fontes, portanto à gênese mesmo dos conhecimentos. O que se propõe à epistemologia genética é pois, por a descoberto as raízes das diversas variedades de conhecimento, desde as suas formas mais elementares e seguir sua evolução até os níveis seguintes, até, inclusive, o pensamento científico. Tratou-se, pois, de constatar, experimentalmente, como se processa a aquisição do conhecimento, evidenciando que esses conhecimentos são mutáveis ao longo de todas as fases da vida humana. De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo é um processo de sucessivas mudanças qualitativas e quantitativas das estruturas cognitivas derivando cada estrutura de estruturas precedentes. Ou seja, o indivíduo constrói e reconstrói continuamente as estruturas que o tornam cada vez mais apto ao equilíbrio. Essas construções seguem um padrão denominado por Piaget de estágios (sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatórioformal) que seguem idades mais ou menos determinadas. Todavia, o importante é a ordem dos estágios e não a idade de aparição destes. A construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam em assimilação ou, acomodação e assimilação dessas ações e, assim em construção de esquemas ou conhecimento. Em outras palavras, uma vez que a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta fazer uma acomodação e após, uma assimilação e o equilíbrio é, então, alcançado. Aí se deu o aprendizado. Na trajetória histórica da educação infantil encontramos princípios básicos de Piaget que norteiam a práxis pedagógica até hoje, porém diversas críticas foram dirigidas a essa tendência pedagógica que prioriza o pensamento lógico, deixando adormecido aspectos sócio-culturais tão importantes no desenvolvimento infantil.
No final desse período, o discurso por uma sociedade moderna leva a elite a simpatizar com os movimentos da escola nova.
12. As concepções de educação infantil Conforme OLIVEIRA, a educação infantil no Brasil, historicamente, foi semelhante a outros países. No Séc. XIX tiveram iniciativas isoladas de proteção à infância
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