PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO - 34ª CÂMARA

Transcrição

1 Julgamento (sem segredo de justiça): , v.u. APELAÇÃO COM REVISÃO N º /0 - Osasco Apelantes: Massayuki Hirata, Nilson Roberto do Carmo, Nilton Donizetti do Carmo e Rosangela do Porto do Carmo Apeladas: As partes DIREITO DE VIZINHANÇA. REPARAÇÃO DE DANOS. QUEDA DE MURO DE ARRIMO. A prova produzida revelou que ambas as partes colaboraram para a ocorrência do fato. O imóvel do Requerido não possui sistema de drenagem. Houve foi uma forte precipitação, escoando a água pelos buracos da parede do galpão do Requerido e, devido a falhas, no muro de arrimo dos Requerentes, que ruiu (muro) ao receber as águas. CULPA CONCORRENTE. No caso não se pode afastar por completo a ocorrência de culpa concorrente dos Requerentes porque, além de terem refeito o muro prejudicando a vistoria, não restou demonstrado que ele (muro) era seguro, devendo, por isso, ser repartida a responsabilidade entre as partes. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. Ambas as partes deram causa ao processo e aos próprios perdimentos. Afigura-se justa a repartição. É a regra insculpida no caput, do artigo 21 do Código de Processo Civil. Voto n º Visto, NILSON ROBERTO DO CARMO, REGINA APARECIDA PINTO DO CARMO, NILMA CRISTINA DO CARMO, NILTON DONIZETTI DO CARMO e ROSANGELA DO PORTO DO CARMO ingressaram com AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS, POR ATO ILÍCITO (folha 2) contra MASSAYUKI HIRATA, partes qualificadas nos autos, alegando que: "... são proprietários do imóvel sito a Rua Américo Vespúcio, n º 90, Jardim Platina, Osasco, SP...".... o suplicado é possuidor e proprietário do imóvel vizinho, com divisa nos fundos do imóvel dos autores... (folha 2).... no imóvel pertencente ao suplicado foi construído um galpão comercial O suplicado não procedeu a devida canalização das águas pluviais em seu imóvel e por ocasião das fortes chuvas de fevereiro de 1999, a parede do galpão represou as águas pluviais no seu terreno, que está em nível acima do terreno dos autores. Devido a quantidade de águas que estava sendo represada em seu imóvel, e querendo escoá-las para que o - 1 -

2 seu imóvel não viesse abaixo, o suplicado simplesmente mandou efetuar buracos no seu muro, ocasionando uma enxurrada de água em direção ao terreno dos suplicantes, que devido a sua força ocasionou a quebra e a queda do muro de arrimo... (folha 3). Pretendem:... ser o suplicado condenado ao pagamento do principal, no valor de R$ 5.230,40 (...) acrescidos de juros e correção monetária... (folha 4). Formalizada a angularidade, o Requerido fez encarte de contestação, que foi impugnada. Determinada a realização de prova pericial e feita a entrega do laudo, o Requerido apresentou impugnação, seguindo-se os esclarecimentos periciais, apresentação de memoriais e a entrega da prestação jurisdicional:... julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido dos autores, condenando o réu ao pagamento da quantia de R$ 2.500,00 (...) atualizada desde fevereiro de 2001 (...) e com incidência de juros de mora legais a contar da citação. Considerando a sucumbência recíproca, deixo de condenar as partes ao pagamento dos honorários advocatícios. As despesas do processo serão divididas, respeitados os benefícios da justiça gratuita concedidos aos autores. Arbitro os honorários periciais em R$ 2.000,00 (...) para fevereiro de Deposite o réu a metade, com correção monetária... (folha 111 destaques do original). MASAYUKI HIRATA interpôs recurso. Persegue a reforma da decisão aduzindo que:... A ÚNICA PROVA PRODUZIDA NÃO PODE APRECIAR O MURO QUE DESMORONOU E NEM O VERDADEIRO MOTIVO DE SUA QUEDA, SENDO QUE A CONCLUSÃO DO LAUDO NÃO PASSA DE MERA SUPOSIÇÃO SEM AFIRMAR CATEGORICAMENTE OS FATOS OCORRIDOS, PERDENDO SUA FUNÇÃO JUDICIAL, RAZÃO PELA QUAL NÃO TEM O CONDÃO DE CONDENAR O REQUERIDO NO PAGAMENTO DA DESEJADA INDENIZAÇÃO... (folha 120 destaques do original).... O PRIMEIRO MURO FOI MAL EDIFICADO E POR TAL MOTIVO DESMORONOU, INEXISTINDO QUALQUER - 2 -

3 RESPONSABILIDADE DO REQUERIDO... (folha 121 destaques do original). NILSON ROBERTO DO CARMO, REGINA APARECIDA PINTO DO CARMO, NILMA CRISTINA DO CARMO, NILTON DONIZETTI DO CARMO e ROSANGELA DO PORTO DO CARMO apresentaram recurso adesivo, pretendendo:... ser o recorrido condenado ao pagamento da totalidade dos prejuízos que causou e não só a metade, além de ser condenado ao pagamento das custas, dos honorários de perito e também de advogado... (folha 127). As partes apresentaram contra-razões defendendo cada qual a sua posição (folhas 129/131 e 133/136). É o relatório, mantido no mais o da r. sentença. NILSON ROBERTO DO CARMO, REGINA APARECIDA PINTO DO CARMO, NILMA CRISTINA DO CARMO, NILTON DONIZETTI DO CARMO e ROSANGELA DO PORTO DO CARMO ingressaram com Ação de Reparação de Danos contra MASSAYUKI HIRATA, objetivando o recebimento de R$ 5.230,40 decorrente de prejuízos sofridos pela quebra do muro de arrimo dos suplicantes (...) por culpa exclusiva do suplicado... (folha 3). MASSAYUKI HIRATA sustentou que:... nunca houve o represamento de águas pluviais no imóvel do réu, construído há mais de 10 (dez) anos, sendo que nesse período ocorreram diversas chuvas torrenciais sem quaisquer conseqüências danosas aos prédios vizinhos o muro de arrimo para contenção de terras desmoronou pelo simples fato de ter sido mal erigido... (folha 36 negrito do original). A perícia concluiu:... Quando de nossa vistoria, verificamos que o muro já estava refeito, e inclusive com nova construção abaixo do mesmo, prejudicando a vistoria O muro não foi acompanhado por profissional da área (ENGENHEIRO), e nem foi apresentado memorial de cálculo, para que possamos averiguar, se foi baseado em sondagem, cálculo estrutural, cortes desenhos e outros, sem isto não podemos afirmar que o mesmo era seguro

4 ... O galpão do requerido é antigo e não deveria receber água, pois além de ser fechado, é um ponto mais alto, e deve ter um escoamento de água natural Também não verificamos sistema de drenagem neste galpão, tal como grelhas e calhas coletoras, que levem a água até um sistema de drenagem municipal, nem que para tanto, o vizinho recebesse esta canalização, o que não ocorre Verificamos vários buracos na parede do galpão que dá para o imóvel do autor, sendo certo, que caso ocorresse um alagamento do galpão, a água escoaria por algum destes buracos, os mais baixos... (folha 62).... Não existe sistema de drenagem até hoje, no imóvel do requerido, apenas alguns buracos que podem ter servido para escoar a água de chuva para o terreno dos autores, que fica abaixo do terreno do requerido não foi projetado por profissional habilitado, pois existe apenas um braço (sapata) apenas um cano que serve de drenagem, não aparece sistema de drenagem, com escoamento inferior, uma concretagem com diversos pontos falhos, nas vigas e travamentos, e com a falta do projeto, que provavelmente analisaria o tipo de solo, não podemos afirmar quais outros problemas existentes No ponto de vista deste perito, o que ocorreu, lembrando que hoje a situação é muito diferente e não há projeto nos autos para uma análise mais profunda, o que houve foi uma forte precipitação, onde escoou a água pelos buracos da parede do galpão do requerido, que está acima do terreno dos autores, devido a falta de drenagem neste galpão, e devido a falhas no muro de arrimo dos autores, ao receber esta água, o muro veio a ruir... (folha 81). A prova produzida revelou que ambas as partes colaboraram para a ocorrência do fato. O imóvel do Requerido não possui sistema de drenagem, apenas alguns buracos que podem ter servido para escoar a água de chuva para o terreno dos autores, que fica abaixo do terreno do requerido (folha 81). Segundo o Perito Judicial o que houve foi uma forte precipitação, onde escoou a água pelos buracos da parede do - 4 -

5 galpão do requerido e devido a falhas no muro de arrimo dos autores, ao receber esta água, o muro veio a ruir (folha 81). Culpa concorrente é o mesmo que compensação de culpas. A jurisprudência e a doutrina orientam no sentido de que não é possível admitir que, pelo fato ocorrido, responda apenas o agente, quando o próprio ofendido concorreu de forma culposa para que ele se desse, descuidando-se de seus interesses. No caso não se pode afastar por completo a ocorrência de culpa concorrente dos Requerentes porque, além de terem refeito o muro, prejudicando a vistoria, não restou demonstrado que ele (muro) era seguro, não foi acompanhado por profissional da área (ENGENHEIRO) e nem foi apresentado memorial de cálculo para que possamos averiguar se foi baseado em sondagem, cálculo estrutural, cortes desenhos e outros (folha 98), devendo, por isso, haver repartição da responsabilidade entre as partes, como bem definido pelo r. Juízo. Na condenação em honorários advocatícios sobrelevam dois princípios: o (princípio) da sucumbência, pelo qual a atuação da lei não deve representar uma diminuição patrimonial para a parte em cujo favor se efetiva; o (princípio) da causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à propositura ou à instauração de ação judicial ou incidente processual deve responder pelas despesas daí decorrentes. O certo é que ambas as partes deram causa ao processo e aos próprios perdimentos. Afigura-se justa a repartição. É a regra insculpida no caput, do artigo 21 do Código de Processo Civil. "Havendo sucumbência recíproca, é devido o rateio entre as partes das despesas do processo. 1 "Sucumbência recíproca. Rateio dos encargos processuais entre os litigantes, os quais devem arcar com os honorários de seus advogados. Admissibilidade. Aplicação do artigo 21, do Código de Processo Civil. 2 "De inteira aplicação o disposto no artigo 21 do Código de Processo Civil, que cuida da sucumbência recíproca de modo a justificar o rateio entre as partes das custas processuais, arcando cada parte com os honorários de seus 1-2º TACivSP - Ap. c/ Rev ª Câm. - Rel. Juíza ISABELA GAMA DE MAGALHÃES - J TJ/SP - Apelação Cível n.º Santos - 9ª Câmara de Direito Privado - Relator: Silva Rico

6 respectivos patronos. 3 Em face ao exposto, nega-se provimento aos recursos. IRINEU PEDROTTI Desembargador Relator. 3-2º TACivSP - Ap. c/ Rev /6-9ª Câm. - Rel. Juiz CLARET DE ALMEIDA - J