REASSENTAMENTO COMO A FERRAMENTA PARA A PREVENÇÃO DOS DESASTRES
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- Victor de Sá de Andrade
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1 II Foro Técnico Regional sobre Reasentamiento de Población Banco Mundial Banco Interamericano de Desarrollo Bogotá DC, Colombia - Mayo 25-27, 2005 REASSENTAMENTO COMO A FERRAMENTA PARA A PREVENÇÃO DOS DESASTRES LOCAL: MUNICÍPIO DE IPATINGA- MINAS GERAIS-BRASIL DATA: MARÇO DE 1997 POPULAÇÃO REMOVIDA :1200 FAMÍLIAS ELABORAÇÃO DO TEXTO: JACQUELINE ROSAS - ARQUITETA jrosas@pbh.gov.br CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE REMOÇÃO O Município de Ipatinga completa em 2005, 40 anos de existência. A cidade se estabeleceu em função da implantação de uma siderúrgica, na década de 60 a USIMINAS, esta por sua vez, elaborou um plano de ocupação na cidade, prevendo a construção de bairros para os seus funcionários, hospital, clubes, escolas, traçado viário entre os bairros e a empresa. No entanto, o Centro da cidade se promoveu através da iniciativa de pioneiros da época, lá foram instalados pequenos comércios, bórdeis e habitação para a população de baixa renda, que se encontrava fora dos planos da empresa. Os bordéis e as moradias precárias instalaram-se ás margens do Ribeirão Ipanema, sobre uma cota inundável, onde o único destino dos esgotos foi, por muitos anos, o próprio Ribeirão. Esta área desde então, foi castigada por diversas enchentes onde a população perdeu bens materiais e até a própria vida. Assim sendo, essa ocupação que apresentava 83% da população sofrendo risco de enchentes e 15% sofrendo risco de desabamentos, tornou-se alvo de remoção. A área de remoção equivale a m2, e é de origem fundiária pública. DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO AFETADA A população caracterizou-se como de baixa renda, ou seja com renda mensal de 0 a 5 salários mínimos,que corresponde a US$ 595,23 (1), sendo: 74,65% com renda familiar entre 0 a 1 sm e expressa de forma inequívoca no baixo padrão de suas moradias. Na escolaridade, 67% de analfabetos e no perfil ocupacional apresentando na sua maioria trabalhadores do mercado informal e na mão de obra desqualificada. (1) cotação do dólar em abril/05 US$ 1,00= R$ 2,52 USO E CONTROLE DAS ÁREAS QUE FORAM QUALIFICADAS COMO RISCO A solução para o problema foi a remoção de toda a população instalada na conta inundável para uma área segura, e ainda promover um novo uso para a área inundável e controle para evitar novas invasões. Para atingir este desafio, a Prefeitura Municipal de Ipatinga desenhou um projeto de reestruturação e qualificação urbana para a área inundável, adquiriu terrenos para promover o
2 reassentamento e procurou financiamento de US$ 30 milhões para a execução do projeto NOVO CENTRO. PROJETO DE REESTRUTURAÇÃO E QUALIFICAÇÃO URBANA NA ÁREA DE REMOÇÃO A área de remoção, às margens do Ribeirão Ipanema, encontra-se totalmente sobre uma cota inundável, assim, nesta área, foi previsto um aterro para elevar cota, sendo que a terra utilizada no aterro, foi retirada de uma área intitulada Morro do Sossêgo, existente na própria bacia. Nesta área, estavam instaladas 40 famílias de baixa renda, também sofriam de risco de desabamento. Sobre o aterro foi executado lotes de vocação comercial e um parque linear na área mais próxima das margens do rio. Foram instaladas, infra-estrutura para implantação dos lotes, estrutura de lazer no parque, o rio foi retificado, dessassoriado e suas margens protegidas com mata ciliar. Estas obras além de qualificar o espaço, modificando a vocação do mesmo, evitando assim, futuros usos deturpados, contribuíram com a recuperação ambiental do Ribeirão e com o processo de desenvolvimento urbano e regional do Centro da Cidade, que hoje se consolidou como cidade pólo da Região Metropolitana do Vale do Aço. (fotos antes e depois) DESCRIÇÃO DA ÁREA DE REASSENTAMENTO A área de reassentamento está localizada a um quilômetro da distância do Centro. Esta área faz parte de um loteamento aprovado pela Prefeitura chamado de Planalto II. Este loteamento está inserido no bairro Veneza II, o qual possui infra-estrutura de bairro, com a existência de comércio local, Unidades de Saúde, escolas municipais, praças, no entanto, o acesso entre o bairro e o centro encontrava-se estrangulado através de uma velha e estreita ponte sobre o Ribeirão. No desenho do Projeto foi prevista a execução de uma nova ponte de quatro pistas e de uma avenida sanitária entre a ponte e a área de reassentamento Planalto II. Para a execução das unidades habitacionais para o reassentamento foi necessário construir também uma escola de 1º grau para atender a nova demanda de crianças entre 06 e 14 anos, uma Unidade de Saúde, com área de abrangência de pessoas, uma Unidade de Educação Infantil, para atendimento de crianças de 0 a 5 anos de idade, um centro comercial e diversas áreas de praça e lazer para atender as 565 novas moradias que foram construídas em função do reassentamento. A construção das novas unidades habitacionais foram construídas da seguinte maneira: 289 unidades, através do sistema convencional, ou seja, através de contratação de empreiteira e 276 unidades através de MUTIRÃO E AUTOGESTÃO. Este sistema envolveu uma organização não governamental do município para gerenciar os R$ 2,7 milhões necessários para a construção das Unidades Habitacionais.
3 UNIDADE HABITACIONAL PARA O REASSENTAMENTO Optou-se por uma unidade habitacional de 61 m2, esta área adotada foi acima da área média de moradia de 40 m2, encontrada na área de remoção. Os lotes foram definidos em 150 m2, que corresponde ao tamanho mínimo permitido por lei federal. Foram construídas também unidades de 70 m2 e de 30 m2, visando atender as diferentes composições familiares. SENSIBILIZAÇÃO DA POPULAÇÃO Com o objetivo de comunicar e diminuir ou ainda eliminar resistências ao Projeto, pela população alvo e do município, foi elaborado e executado um Plano de Comunicação Social que considerou a oralidade e o contato interpessoal como elementos principais, sendo que o material escrito, foi elaborado com o objetivo de apoiar o processo de negociação. O Plano contou com: 1. realização de assembléias setoriais na área de remoção; 2. visitas programadas e monitoradas nas casas modelo ; 3. visitas individuais às famílias; 4. promoção de assembléias com grupos de vizinhança; 5. realização de assembléias no mutirão; 6. reuniões informativas aos grupos organizados do município; 7. elaboração de jornais informativos; 8. elaboração de cartilhas; 9. elaboração de vídeos, A principal resistência encontrada na população foi o medo da perda na troca com a Prefeitura, por isto, o Plano de Comunicação foi muito importante para clarear a todos que não haveria perdas materiais no projeto de reassentamento, e sim uma valorização do patrimônio de cada um. MARCOS LEGAIS O instrumento legal utilizado para congelar a área de remoção foi o de aprovar um Decreto de Utilidade Pública para fins de Desapropriação e de Interditação em Função do Risco. Para titulação dos posseiros, foi utilizada a previsão legal Dação em Pagamento, art 356 a 359 do Código Civil, para permitir a transação legal das trocas dos imóveis removidos com os novos construídos para o reassentamento. Desta maneira, foi possível titular, através da emissão de escrituras registradas em cartório, de forma ágil, todos os imóveis do reassentamento. ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO PRA OS TIPOS DIFERENTES DE POSSE No universo da população a ser removida encontramos: 1. posseiros de uso residencial; 2. posseiros de uso comercial;
4 3. posseiros de uso institucional; 4. proprietários; 5. inquilinos. Para o atendimento deste universo foi adotada uma Política de Compensação sem diferenciação entre posseiros e proprietários, desta forma se previu subsídio, que se constitui na provisão de um lote urbanizado e de uma unidade habitacional, independente da qualidade da moradia de origem e do padrão socioeconômico. Sendo assim, estabelecida a correlação positiva entre qualidade da moradia e padrão socioeconômico, este subsídio beneficiou os estratos de menor renda. Foram estabelecidos os seguintes critérios de reassentamento e compensação: 1. Para os posseiros e proprietários uso residencial: foi prevista indenização em moeda corrente de seus bens passivos ou uma unidade habitacional com a devida infraestrutura, construída através de uma empreiteira. 2. Para os inquilinos: foi promovido um Mutirão em Autogestão com a Associação Habitacional de Ipatinga para incluir os inquilinos no processo de construção das moradias e poderem acessar a moradia; 3. Para os posseiros uso comercial: foi construído um centro comercial para relocar as instalações comerciais existentes; 4. Para os posseiros uso institucional: foi prevista a reserva de área adequada no conjunto para a reconstrução do equipamento e indenização das benfeitorias; 5. Para os não cadastrados: foi prevista uma ajuda social, ou seja, uma pequena indenização para as famílias que não estavam cadastradas no momento zero do projeto; ORGANIZAÇÃO/ENTIDADE ENVOLVIDA NO PROCESSO Para atendimento de 265 inquilinos encontrados no público alvo de remoção, a Prefeitura promoveu um Mutirão em Autogestão para incluir este público com objetivo de acessar uma moradia. Para efetivar tal desafio foi necessário envolver uma organização que possuísse experiência de organização popular e em processos de gestão de recursos públicos. Para tal foi envolvida a AHI - Associação Habitacional de Ipatinga, reconhecida como de utilidade pública, que organiza os sem casa do município, que participa a níveis nacionais e internacionais do movimento de direito pela moradia. SUCESSOS E ERROS SUCESSOS O não atendimento à população inquilina, que representava 16,66%, ou seja 265 famílias, teria sido um grande erro e ponto de conflito do projeto com a comunidade, assim, o
5 envolvimento da Associação Habitacional com o Mutirão, foi um acerto muito grande porque facilitou, através da experiência da entidade, trabalhar a construção das moradias com a participação dos futuros moradores e trabalhar a preparação das pessoas para uma mudança de vida e comportamento a partir do reassentamento. No geral, a possibilidade de ter equipado, em termos de recursos humanos a equipe de reassentamento, também foi um fator de sucesso, pois a realidade das Prefeituras é que sempre faltam recursos humanos e as equipes ficam desfalcadas, no entanto, a responsabilidade é muito grande, no que tange a alcançar metas, logo a equipe ideal tornase fundamental. ERROS Os comerciantes não foram atendidos de forma eficiente, a Política de Compensação previu a reconstrução da instalação comercial em um Centro Comercial no bairro novo, no entanto, teria sido necessário uma assessoria técnica para reabrir os negócios e ainda crédito. A localização das lojas em um Centro Comercial também foi um erro, pois os comerciantes, na forma original, trabalhavam com seu comércio integrado à sua moradia, na proposta do Centro Comercial não funcionou, gerando problemas de segurança nos novos estabelecimentos. RECOMENDAÇÕES As recomendações que o Projeto de Ipatinga pode deixar, através da sua vivênia, são: 1. implementar um arranjo institucional/modelo de gestão que tenha poder de decisão e que apóie a unidade de reassentamento; 2. a presença do Banco Mundial, pelo menos uma vez por ano, para dar apoio à unidade de reassentamento; 3. Montar uma equipe completa para efetivar os trabalhos de remoção e reassentamento que inclua a vigilância da área e os responsáveis pela demolição e transferência das famílias; 4. incentivar a participação da comunidade de forma geral no projeto e na escolha dos grupos de vizinhança e vizinhos; 5. implementar um Plano de Comunicação que apóie a divulgação do projeto e as negociações; 6. implementar uma Política de Compensação que atenda o posseiro nas mesmas condições que os proprietários e que ofereça diversas formas de compensação para atender a complexidade das situações encontradas; 7. titular imediatamente os novos imóveis para não depreciar o valor dos mesmos.
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