Relatório TRANSFORMADOS PLÁSTICOS. Acompanhamento Setorial VOLUME IV. Maio de 2009
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- Júlio Vasques Ferrão
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1 Relatório de Acompanhamento Setorial TRANSFORMADOS PLÁSTICOS VOLUME IV Maio de 2009
2 RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO SETORIAL TRANSFORMADOS PLÁSTICOS Volume IV Equipe: Adriana Marques da Cunha Cristiane Vianna Rauen Pesquisadores e bolsistas do NEIT/IE/UNICAMP Rogério Dias de Araújo (ABDI) Carlos Henrique Mello (ABDI) Júnia Casadei (ABDI) Maio de 2009 Esta publicação é um trabalho em parceria desenvolvido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial ABDI e o Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas Unicamp
3 SUMÁRIO 1. Introdução Desempenho recente da indústria brasileira de transformados plásticos Produção Emprego Comércio exterior Considerações finais... 8 Referências bibliográficas... 10
4 1 1. Introdução A indústria brasileira de transformados plásticos caracteriza-se por uma estrutura pulverizada e bastante heterogênea que lhe impõe uma série de desafios competitivos pautados por sua relação com os demais elos da cadeia produtiva, tanto setores fornecedores (basicamente os dois primeiros elos da cadeia petroquímica, compostos por grandes empresas integradas verticalmente) quanto clientes (como os setores automotivo e de construção civil, também relativamente mais concentrados). Estes desafios competitivos já foram amplamente detalhados nos relatórios de acompanhamento setorial anteriores e podem ser agregados em: (1) capacidade de inovação e de diferenciação de produtos; (2) capacitação na gestão de processos; (3) acesso a financiamentos e capacidade de realização de investimentos e de atualização tecnológica; (4) capacidade de articulação com os demais níveis da cadeia produtiva; (5) oferta e qualificação da mão-de-obra; (6) desenvolvimento da logística e da distribuição. A capacidade de inovação e de diferenciação de produtos ainda não se encontra plenamente desenvolvida na indústria brasileira de transformados plásticos. Apenas as grandes empresas (a maioria estrangeiras) conseguem atuar em segmentos de maior valor agregado e as pequenas e médias empresas (que constituem a maior parte dessa indústria) acabam se restringindo a uma competição via preços, com produtos de baixa qualidade e utilizando máquinas tecnologicamente obsoletas, refletindo sua baixa capacidade inovativa (Hiratuka e Cunha, 2007). As inovações realizadas pela indústria brasileira de transformados plásticos tendem a se concentrar nas etapas anteriores da cadeia petroquímica, como no segmento de resinas (com o desenvolvimento dos plásticos biodegradáveis os bioplásticos) e de máquinas e moldes, cabendo às empresas transformadoras a inovação em design. No entanto, a inovação realizada pelas empresas transformadoras brasileiras esbarra no fato de que o mercado consumidor ainda é restrito em termos de consumo de material transformado plástico quando comparado aos padrões internacionais cerca de 100 kg per capita nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, em 2005, e 26,9 kg per capita no Brasil, em 2007 (Cunha e Rauen, 2008). Os esforços inovativos deveriam, portanto, estar amparados em políticas públicas voltadas a estímulos de cooperação entre as empresas brasileiras transformadoras de plásticos (especialmente as de pequeno e médio porte e aquelas que já se encontram espacialmente concentradas) para que sejam estimulados movimentos de diferenciação produtiva, superando-se os usuais processos de concorrência via preços resultantes da intensa rivalidade entre elas. O aprimoramento em gestão de processos é um componente indispensável para o alcance de geração de maior valor agregado, estando relacionado ao incremento da produtividade, à redução de custos e preços e ao aprimoramento da qualidade do produto final. No que tange ao financiamento ao investimento e à atualização tecnológica, apenas as grandes empresas da indústria de transformados plásticos conseguem realizá-los plenamente, principalmente na aquisição de modernas máquinas e moldes, que as tornam tecnologicamente atualizadas. Por sua vez, as pequenas e médias empresas não conseguem acesso a crédito suficiente para modernizarem suas plantas produtivas, o que se configura na incapacidade de elevar suas escalas de produção, de desenvolver a qualidade de seus produtos, de atender a prazos de entrega e, como consequência, de manter preços competitivos.
5 2 A capacidade de articulação com os demais elos da cadeia produtiva diz respeito à mencionada relação com os fornecedores (de matérias-primas, máquinas e moldes) e clientes das empresas transformadoras de plásticos. Em ambos os tipos de relacionamento, as empresas transformadoras têm baixa capacidade de negociação, especialmente as de pequeno e médio porte com reduzido poder de mercado. Na relação com os fornecedores, há baixa capacidade de negociação com os fabricantes de resinas, que se encontram em um setor relativamente mais concentrado, além de fornecerem matéria-prima essencial para a produção de transformados plásticos (cujos preços apresentaram tendência altista nos últimos anos Cunha e Rauen, 2008). Além disso, existe limitada capacidade de negociação também com os fornecedores de máquinas e moldes, seja por seu elevado peso no custo total dos transformados plásticos, seja pela dificuldade de encontrar fornecedores capazes de desenvolver moldes com a necessária qualidade. Na relação com os clientes também se observa uma baixa capacidade de negociação, principalmente com as grandes montadoras, importantes demandantes de peças e componentes plásticos, e com o grande varejo. Essa capacidade de negociação com os clientes se torna ainda mais prejudicada com a crescente concorrência externa, tanto de produtos de menor valor unitário advindos da região asiática, como os chineses, quanto a de produtos de maior valor agregado, como os italianos. Por fim, o sexto e último desafio competitivo identificado pelos relatórios passados desenvolvimento da infra-estrutura de transporte, logística e distribuição, é imperativo para boa parte das empresas que não conseguem se beneficiar da proximidade com os grandes centros consumidores, além de contribuir para a redução de uma significativa parcela dos custos com o frete de produtos plásticos e das barreiras de acesso a novos mercados. Portanto, os relatórios anteriores demonstraram a presença de fatores críticos de competitividade na indústria brasileira de transformados plásticos, que restringem as possibilidades de aumento da competitividade em âmbito tanto nacional quanto internacional. Fatores que exacerbam a vulnerabilidade dessa indústria diante do cenário de crise financeira de escala internacional. A crise financeira internacional, a partir do terceiro trimestre de 2008, representa um momento de inflexão do padrão de crescimento das empresas pertencentes à cadeia petroquímica brasileira, afetando fortemente seu elo mais fraco a indústria de transformados plásticos, uma vez que seus setores fornecedores de matérias-primas têm maior capacidade de fazer frente às dificuldades colocadas pela crise na medida em que possuem uma estrutura menos heterogênea e pulverizada. Além de afetar os elos da cadeia petroquímica, a crise afetou os diversos setores consumidores de transformados plásticos, dentre os quais se destacam o automotivo e o de construção civil, revertendo o processo de expansão observado durante os três primeiros trimestres do ano passado. Este quarto relatório de acompanhamento setorial apresenta a análise do comportamento da produção, do emprego e do comércio externo de transformados plásticos em período recente (até o primeiro trimestre de 2009), buscando enfatizar, mais especificamente, os efeitos da crise mundial sobre a indústria brasileira de transformação de plásticos. Comparando-se os períodos pré e pós-crise, espera-se verificar de que forma a indústria analisada foi afetada e quais são suas perspectivas de recuperação.
6 3 2. Desempenho recente da indústria brasileira de transformados plásticos A crise financeira internacional afetou intensamente a dinâmica da economia brasileira. Diversos setores industriais tiveram seus níveis de atividade bastante reduzidos, inclusive aqueles mais dependentes da evolução da demanda interna, como o setor de transformados plásticos. Este item procura analisar os efeitos da crise internacional sobre a produção, o emprego formal e o comércio externo brasileiro de transformados plásticos Produção A produção da indústria brasileira de transformados plásticos foi bastante afetada pela crise internacional. Dados da Pesquisa Industrial Mensal Produção Física (PIM-PF/IBGE), sistematizados por subsetores industriais para os trimestres de IV/2007 a I/2009, mostram claramente a queda da produção física, tanto do total da indústria de transformação brasileira quanto dos produtos plásticos selecionados, a partir do terceiro trimestre de 2008 (início da crise financeira internacional). O segmento de artefatos diversos de material plástico, que corresponde a quase 50% dos produtos plásticos considerados pela pesquisa, havia fechado o ano de 2007 com uma vigorosa taxa de crescimento acumulado (9,6%), bastante superior a da indústria de transformação no mesmo período (6,0%). O segmento continuou apresentando crescimento superior à média da indústria em todo o ano passado, atingindo o pico de 14,6% no acumulado dos 12 meses terminados em setembro de 2008 (Gráfico 1). No entanto, observou-se desaceleração do crescimento da produção física tanto dos artefatos diversos (para 6,3%) quanto de embalagens de material plástico (para 0,7%) no acumulado do ano de 2008, enquanto o segmento de laminados apresentou redução de sua produção no mesmo período (-2,4%). Este último segmento, após um período de recuperação da produção durante os três primeiros trimestres do ano passado, sofreu redução da produção no primeiro trimestre de 2009 (-8,6%), resultado bastante inferior aos apresentados pelos demais segmentos de produtos plásticos (queda de -1,6%, no caso de embalagens, e de -0,4%, no caso de artefatos diversos) e ao da indústria de transformação (-1,9%). Cabe destacar que os segmentos de artefatos diversos e de embalagens de material plástico, apesar de terem fechado o ano passado com uma variação ainda positiva da produção física, não resistiram aos efeitos negativos da crise, encerrando com um movimento declinante da produção o acumulado do primeiro trimestre de 2009.
7 4 Gráfico 1 - Indústria de Transformação e Produtos Plásticos Selecionados: variação da produção física (taxa acumulada nos últimos quatro trimestres IV/2007 a I/2009) 20% 15% 10% 5% 0% -5% -10% -15% IV/2007 I/2008 II/2008 III/2008 IV/2008 I/2009 Laminados de matl. plástico Artefs. diversos de matl. plástico Embalagens de matl. plástico Indústria de transformação Fonte: Elaboração NEIT/IE/UNICAMP com base em dados da PIM-PF/IBGE. Quando se comparam os períodos anteriores e posteriores à crise, tornam-se mais claros seus impactos sobre o nível de produção física da indústria de transformação e da indústria de transformados plásticos. Comparando o período de janeiro a setembro de 2008 com o mesmo período do ano anterior, observou-se que a produção de artefatos diversos de material plástico atingiu um crescimento maior do que o apresentado pela indústria de transformação (14,4% e 6,4%, respectivamente), enquanto a produção de laminados e a de embalagens de material plástico aumentou de forma mais tímida (4,8% e 3,0%, respectivamente) (Tabela 1). Essas variações positivas nos níveis de produção obtidos nos três primeiros trimestres de 2008 tiveram relação direta com o aumento da demanda interna nesse período. Contudo, a situação se inverte nos trimestres que se seguiram ao início da crise. Comparando o período de outubro de 2008 a março de 2009 com o período de outubro de 2007 a março de 2008, destacaram-se significativas quedas de 21,6% na produção de laminados de material plástico, de 17,5% na produção de artefatos diversos de material plástico e de 6,0% na produção de embalagens de material plástico, acompanhando o movimento de redução da produção física observada na indústria de transformação brasileira no mesmo período (-10,3%) (Tabela 1). Tabela 1 Indústria de Transformação e Produtos Plásticos Selecionados: comparação da variação da produção física Jan. a Set (a) Jan. a Set (b) Var. (%) (b)/(a) Out a Mar (c) Índice Médio (2002:100) Out a Var. (%) Mar (d)/(c) (d) Indústria de Transformação 118,9 126,5 6,4 122,5 109,9 (10,3) Produtos plásticos selecionados Artefatos diversos de material plástico 119,3 136,5 14,4 125,8 103,7 (17,5) Laminados de material plástico 91,7 96,1 4,8 95,6 75,0 (21,6) Embalagens de material plástico 90,3 93,0 3,0 93,1 87,5 (6,0) Nota: Dados sem ajuste sazonal, fornecidos por subsetores industriais pelo IBGE. Fonte: Elaboração NEIT/IE/UNICAMP com base em dados da PIM-PF/IBGE.
8 5 Portanto, a crise causou certamente um impacto negativo relevante sobre a produção da indústria brasileira de transformados plásticos, cujo desaquecimento afetou sobremaneira sua capacidade de geração de emprego formal, acompanhando a tendência declinante presente na indústria de transformação Emprego No que se refere ao emprego formal, dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED/MTE) mostram um aumento contínuo da criação de vagas tanto na indústria brasileira quanto na indústria de transformados plásticos nos três primeiros trimestres de 2008 (Gráfico 2). Este movimento ascendente foi abruptamente interrompido no último trimestre do ano passado, em período imediatamente posterior à eclosão da crise mundial. O saldo ainda foi positivo no acumulado de 2008, correspondendo à criação de cerca de 166 mil vagas no total da indústria e de 3,6 mil vagas na indústria de transformados plásticos (Tabela 2). 15,000 Gráfico 2 Indústria Brasileira de Transformados Plásticos: evolução da criação de emprego formal (IV/2007 I/2009) 10,000 5, ,000-10, ,000-20, IV/2007 I/2008 II/2008 III/2008 IV/2008 I/2009 Fonte: Elaboração NEIT/IE/Unicamp a partir de dados do CAGED/MTE. Na comparação do último trimestre de 2008 com o último trimestre de 2007, observa-se que, enquanto o número de admitidos diminuiu ligeiramente (queda de 6,8% na indústria geral e de 5,6% na indústria de transformados plásticos), o número de desligados aumentou significativamente na indústria geral (30%), sendo ainda maior na indústria de transformados plásticos (50,2%), o que comprova a profundidade dos efeitos diretos da crise sobre a destruição de emprego formal em setores industriais brasileiros. O saldo negativo observado no quarto trimestre de 2008 persistiu no primeiro trimestre de 2009, tanto para o total da indústria brasileira quanto para a indústria de transformados plásticos, ainda que a queda tenha sido menos acentuada no início do ano corrente. Para a indústria geral, o saldo negativo passou de cerca de -348 mil vagas no quarto trimestre de 2008 para -146,7 mil vagas no primeiro trimestre de Na indústria de transformados plásticos, o saldo negativo passou de -13,8 mil vagas no quarto trimestre de 2008 para -7,5 mil vagas no primeiro trimestre de 2009 (Tabela 2). A desaceleração da perda de vagas em transformados plásticos foi conseqüência de uma queda de apenas 8,5% no número de admitidos em relação a uma queda superior no número de desligados (cerca de 20), o que corresponde a uma tendência de manutenção de postos de trabalho no setor. O primeiro trimestre de 2009 foi marcado por uma queda
9 6 de aproximadamente 2,4% do estoque de empregados existente em dezembro de 2008 (cerca de 315 mil) na indústria de transformados plásticos, segundo dados do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS/MTE). Esta queda foi similar à observada na indústria em geral no mesmo período: perda de 2% do estoque total de empregados industriais existentes em dezembro do ano passado (RAIS/MTE). Tabela 2 Indústria Brasileira e Indústria de Transformados Plásticos: evolução da criação de emprego formal (IV/2007-I/2009) IV/2007 I/2008 II/2008 III/2008 IV/2008 I/2009 Total da Indústria Admitidos Desligados Criação de Vagas (86.531) ( ) ( ) Transformados plásticos Admitidos Desligados Criação de Vagas (13.845) (7.574) Fonte: Elaboração NEIT/IE/Unicamp a partir de dados do CAGED/MTE. Dessa forma, verificou-se o impacto negativo da crise na geração de emprego formal na indústria brasileira e na indústria de transformação de plásticos, especialmente relacionado à contração da demanda e à escassez e ao encarecimento do crédito, que afetaram tanto a produção quanto o emprego a partir do terceiro trimestre do ano passado. Contudo, uma avaliação conclusiva sobre o desempenho conjuntural da atividade de transformação de plásticos não seria ainda apropriada, considerando a existência de alguns sinais divergentes: aceleração da redução da produção física e suavização da queda na criação de vagas no primeiro trimestre de Comércio externo A participação brasileira no comércio internacional de transformados plásticos manteve-se reduzida e praticamente inalterada durante os últimos anos o Brasil ocupou a 31ª posição na lista dos maiores exportadores e importadores mundiais em De acordo com os relatórios anteriores, a tímida participação brasileira pode ser relacionada a algumas características do transporte dos produtos plásticos (elevados custos relativos, principalmente de produtos de grande volume e de reduzido valor) e da interação com os clientes (em que a proximidade se estabelece como fator crítico, especialmente quando os produtos plásticos constituem partes de outros produtos, como peças e embalagens). De fato, as exportações e importações de produtos plásticos se concentram em um número relativamente pequeno de países, sendo os 10 maiores participantes responsáveis por cerca de 70% dos valores exportados e de 60% dos valores importados em 2007 (Cunha e Rauen, 2008). Dentre os principais participantes do comércio internacional de produtos plásticos encontram-se: Estados Unidos, China e Alemanha (com destaque para a China, que conseguiu ampliar de forma expressiva seu saldo comercial positivo nos últimos anos). A análise do comportamento do comércio externo brasileiro de transformados plásticos (Hiratuka e Cunha, 2007 e 2008 e Cunha e Rauen, 2008), com base em dados da SECEX, tem mostrado déficits comerciais persistentes, relacionados ao fato de que as importações têm se mantido em patamares relativamente mais elevados do que as exportações. Em 2008, as exportações brasileiras atingiram cerca de US$ 981,6 milhões
10 7 e as importações alcançaram US$ 1,8 bilhão, o que se transformou em expressivo déficit comercial de aproximadamente US$ 838 milhões. Dentre os principais componentes da cesta de produtos plásticos comercializados com outros países, encontram-se tubos, chapas, artigos de transporte ou embalagens plásticas, que têm respondido por mais de 60% das exportações e importações brasileiras. Houve, nos três primeiros trimestres de 2008, tendência de crescimento das exportações (24,1%) e das importações (30,6%), bem como de ampliação do déficit comercial externo de transformados plásticos. Esta tendência é interrompida pela eclosão da crise internacional e pela contração da atividade interna. No quarto trimestre de 2008, rompe-se o ciclo virtuoso de aumento do nível de atividade doméstica que havia predominado até então. No período de outubro de 2008 a março de 2009, houve queda das exportações (-13,4%) e das importações (-21,7%), que, todavia, ainda continuaram superando as exportações. Isto levou à manutenção de saldos comerciais negativos no último trimestre do ano passado e no primeiro trimestre do ano corrente, que, contudo, apresentaram uma ligeira desaceleração (Gráfico 3). Gráfico 3 Indústria Brasileira de Transformados Plásticos: evolução do comércio externo (I/2008-I/2009) US$ milhões I/2008 II/2008 III/2008 IV/2008 I/2009 Exportações Importações Saldo Fonte: Elaboração NEIT/IE/Unicamp com base em dados da SECEX. As exportações e importações brasileiras de transformados plásticos se concentraram em determinados países de destino e origem em 2008 (Tabela 3). A Argentina continuou sendo o principal país de destino das exportações brasileiras de transformados plásticos (1/4 do total exportado por essa indústria), seguida pelos Estados Unidos, tradicionais parceiros comerciais (12,2%), e pelos Países Baixos e pelo Chile (empatados com 7%). Os principais países de origem das importações brasileiras de transformados plásticos foram os Estados Unidos (20%), China (12,4%) e Argentina (10,4%). A China tem ganhado cada vez mais participação no grupo de países fornecedores de transformados plásticos para o Brasil, considerando que sua participação era de apenas 1,5% no grupo de principais países de origem das importações brasileiras em 2000 (Hiratuka e Cunha, 2007).
11 8 Tabela 3 Indústria Brasileira de Transformados Plásticos: principais países de destino das exportações e de origem das importações (2008) Principais Destinos das Exportações Principais Origens das Importações Países (US$ mil) (%) Acumulado (%) (US$ mil) (%) Acumulado (%) 1. Argentina ,0 25,0 1. Estados Unidos ,1 20,1 2. Estados Unidos ,2 37,2 2. China ,4 32,5 3. Países Baixos ,0 44,2 3. Argentina ,4 42,9 4. Chile ,0 51,2 4. Alemanha ,0 53,0 5. Paraguai ,4 55,6 5. Uruguai ,6 59,5 6. Venezuela ,1 59,7 6. Itália ,2 64,8 7. Colômbia ,1 63,8 7. França ,3 69,0 8. Angola ,5 67,3 8. Japão ,0 73,1 9. Uruguai ,4 70,7 9. Reino Unido ,6 75,6 10. Espanha ,5 73,2 10. Coréia do Sul ,1 77,8 Total (Exportação) ,0 - Total (Importação) ,0 - Fonte: Elaboração NEIT/IE/Unicamp com base em dados da SECEX. Com base nos dados apresentados, observa-se que, durante os primeiros trimestres de 2008, os saldos negativos do comércio externo da indústria brasileira de plásticos mostraram uma tendência de aumento relacionado ao crescimento das importações, que foram estimuladas pelo crescimento da demanda interna, pela valorização do real e pelos custos mais competitivos de produtos estrangeiros, como os chineses (Cunha e Rauen, 2008). No entanto, a crise financeira internacional e a queda do nível de atividade econômica nas principais nações do mundo e no Brasil interrompem o padrão de comportamento do comércio externo brasileiro de transformados plásticos. Tanto as exportações quanto as importações apresentam redução, mas o patamar ainda superior das importações mantém o saldo comercial brasileiro em níveis negativos. 3. Considerações Finais A crise financeira internacional interrompeu a trajetória ascendente da produção, do emprego formal, das exportações e das importações da indústria brasileira de transformados plásticos. Diversos fatores foram responsáveis pelos impactos negativos da crise sobre a indústria analisada, dentre os quais destacam-se: diminuição do crédito e das fontes de financiamento externo, redução brusca do nível de atividade com redução da demanda interna, e aumento da concorrência por parte de países menos afetados diretamente pela crise, como a China, que recrudesce a estratégia de competição via preços. Essa crise expôs ainda mais as debilidades competitivas da indústria brasileira de transformados plásticos, uma vez que a torna ainda mais suscetível às pressões exercidas por seus fornecedores (1ª e 2ª gerações da cadeia petroquímica) e clientes (principalmente indústria automobilística, construção civil e grande varejo), que são mais concentrados e possuem, portanto, maior poder de barganha. Além disso, há a ameaça de concorrência no âmbito internacional, em que os produtores concorrem tanto com produtos de maior valor agregado (a exemplo da Itália) quanto em preço e quantidade (China). Em contrapartida, a crise internacional também se refletiu, conforme apontado em relatório de acompanhamento setorial anterior (Cunha e Rauen, 2008), na queda dos
12 9 preços do petróleo, que atingiu, consequentemente, os preços da nafta e das resinas, aliviando a pressão de custos sobre a 3ª geração da cadeia petroquímica a partir do segundo semestre de Da mesma forma, setores consumidores de materiais transformados plásticos, que também haviam se beneficiado de um período de crescimento no início do ano passado, passaram a sentir fortemente os efeitos da desaceleração da atividade econômica no nível mundial e nacional. Diante das fragilidades da indústria de transformação de plásticos, as metas de fortalecimento da competitividade para a cadeia produtiva do plástico, propostas pela Política de Desenvolvimento Produtivo (MDIC, 2008), tornam-se indispensáveis no panorama da crise. A PDP ressalta como principais desafios: o desenvolvimento de uma cultura exportadora e o aumento das exportações; o desenvolvimento de competências no elo de transformação da cadeia de plásticos (empresas da 3 a geração); a ampliação de investimentos em P, D & I; a consolidação do produto brasileiro como solução ambiental sustentável e o aumento da integração da cadeia. Dessa forma, é importante que especial atenção seja dada: (a) à persistência da pulverização da estrutura da indústria e à predominância quantitativa de pequenas e médias empresas (PMEs), que dificultam o incremento de sua competitividade e de sua inserção comercial externa; (b) à necessidade de fortalecer a capacidade de inovação, de diferenciação e de agregação de valor aos produtos brasileiros, em especial das PMEs, quantitativamente predominantes; (c) ao desenvolvimento das atividades de promoção, comercialização e distribuição dos produtos plásticos no exterior, objetivando o fortalecimento da marca e da imagem dos produtos brasileiros no mercado externo; e (d) à diversificação de fontes de matérias- primas, com destaque para as renováveis, que abre oportunidades para os fabricantes brasileiros de transformados plásticos desenvolverem produtos ambientalmente sustentáveis.
13 10 Referências Bibliográficas Cunha, A. e Rauen, C. (coord.) (2008). Relatório de Acompanhamento Setorial (Volume III): Transformados Plásticos. Projeto: Boletim de Conjuntura Industrial, Acompanhamento Setorial e Panorama da Indústria. Convênio: ABDI e NEIT/IE/UNICAMP. Campinas/SP: Dezembro de Hiratuka, C. e Cunha, A. (coord.) (2007). Relatório de Acompanhamento Setorial (Volume I): Transformados Plásticos. Projeto: Boletim de Conjuntura Industrial, Acompanhamento Setorial e Panorama da Indústria. Convênio: ABDI e NEIT/IE/UNICAMP. Campinas/SP: Dezembro de Hiratuka, C. e Cunha, A. (coord.) (2008). Relatório de Acompanhamento Setorial (Volume II): Transformados Plásticos. Projeto: Boletim de Conjuntura Industrial, Acompanhamento Setorial e Panorama da Indústria. Convênio: ABDI e NEIT/IE/UNICAMP. Campinas/SP: Junho de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Industrial Mensal Produção Física (PIM-PF). Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Política de Desenvolvimento Produtivo: inovar e investir para sustentar o crescimento. Maio de Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). Estatísticas de Comércio Exterior. Vários anos. Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE). Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE). Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS).
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