PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO 3ª Turma EMPREGADO COMISSIONISTA PURO. HORAS EXTRAS SÚMULA 340 DO C. TST. O empregado remunerado, exclusivamente, à base de comissão tem o direito ao adicional de 50% pelo trabalho em horas extras, calculado sobre o valor-hora das comissões recebidas no mês, considerandose como divisor o número de horas efetivamente trabalhadas. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que são partes CASA BAHIA COMERCIAL LTDA., como recorrente, e CARLOS AUGUSTO ROCHA MONTEIRO, como recorrido. Embargos de declaração do réu às fls. 335/340, alegando omissão na sentença embargada no que diz respeito ao divisor para apuração das horas extras do empregado comissionista, conforme Súmula 340 do C. TST, assim como quanto à retenção da contribuição previdenciária e ao imposto de renda do empregado. Providos, parcialmente, para fixar o divisor 220, afastando a aplicação da Súmula 340 do C. TST. Inconformado com a r. sentença de fls. 328/334, complementada à fl. 349, proferida pela MMª juíza Fernanda Stipp, da 4ª Vara do Trabalho de Niterói, que julgou procedente, em parte, o pedido, recorre o réu. Pelas razões de fls. 352/366, o réu pretende ver reformada a sentença recorrida acerca da condenação no pagamento do intervalo intrajornada, do divisor aplicado ao comissionista puro e quanto à indenização por danos morais e seu valor. O autor não apresentou contrarrazões, apesar de intimado (fl. 377). Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho, conforme art. 85, II, do Regimento Interno deste Regional. É o relatório. V O T O FUNDAMENTAÇÃO CONHECIMENTO

2 O recorrente está regularmente representado (fl. 373/374). Custas e depósito recursal recolhidos (fls. 368/369). O recurso é tempestivo (fl. 350). Conheço do recurso por terem sido observados os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade. MÉRITO HORAS EXTRAS - INTERVALO INTRAJORNADA SÚMULA DIVISOR O autor alega na inicial que, na função de vendedor, laborava das 9h30min às 21h30min, de segunda-feira a sábado, 03 (três) domingos por mês (no mesmo horário), dispondo de 30 minutos de intervalo intrajornada. Pede a condenação da ré no pagamento de horas extras, inclusive do intervalo de 01 (uma) hora destinado ao descanso e refeição, com adicional de 50%, aplicando-se a Orientação Jurisprudencial 307 do C. TST. A ré defende-se alegando que o autor foi contratado como vendedor para receber somente à base de comissão de 0,5% (meio por cento) e RSR, durante o contrato de experiência, que foi prorrogado por prazo indeterminado, passando a vender outros produtos e recebendo comissão variável, sendo garantido o mínimo de 0,5% (meio por cento) e o piso da região. Nega a redução do intervalo intrajornada, afirmando que esse período era de, no mínimo, 1 (uma) hora. Argumenta que os vendedores suprimem o intervalo com objetivo de auferir vantagem, em razão do aumento da demanda no horário do repouso alimentar, já que são remunerados à base de comissão; que a redução do intervalo não importa no pagamento da hora cheia e o eventual trabalho realizado no horário em questão não pode ser remunerado como hora extra, sendo o adicional mera indenização, sem que haja reflexos nas demais parcelas. Defende que, na hipótese de condenação, só é devido o adicional de horas suplementares nos termos da Súmula 340 do C. TST aplicada ao comissionista puro, considerando-se o divisor 220. A sentença recorrida (fl. 330), ao apreciar o pedido de recebimento de horas extras além da jornada legal, reconheceu que o autor era comissionista puro de modo que as horas extras já estavam remuneradas pela comissão, sendo devido, apenas, o adicional respectivo. Definiu que os controles de ponto continham o verdadeiro horário trabalhado, mas condenou a reclamada nas horas extras pela irregularidade na aplicação do banco de horas. Além disso, reconheceu que, até meados de 2007, o autor não gozava de uma hora de intervalo, o que constatou a partir do depoimento do autor e da análise dos controles de ponto. Desse modo, também condenou a ré a pagar ao autor os minutos suprimidos do intervalo no

3 período em questão, atribuindo-lhe natureza indenizatória, portanto, sem deferir as integrações e reflexos em verbas de natureza salarial. Na decisão dos embargos declaratórios da ré, a D. Juíza sentenciante declarou que o autor não era comissionista puro, pelo que o divisor a ser aplicado não é o da quantidade de horas trabalhadas, mas o da quantidade de horas limitadas, qual seja, a jornada legal, afastando a aplicação da Súmula 340 do C. TST e fixando o divisor 220. (grifei) Recorre a ré alegando que a sentença laborou em contradição, razão pela qual insiste em que ao caso presente deve ser observada a jurisprudência do C. TST acima citada, de modo que seria devido ao autor tão somente o adicional de horas extras, cujo divisor será o número de horas efetivamente laboradas. Requer, outrossim, seja afastada da condenação a obrigação de pagar minutos de intervalo não usufruídos. Com parcial razão. É incontroverso nestes autos que o autor era remunerado, exclusivamente, à base de comissão - o que, aliás, está demonstrado nos recibos salariais juntados com a defesa (a partir da fl.163) - razão de se aplicar a jurisprudência sumulada do C. TST de nº 340. Desse modo, o recorrido tem direito apenas ao adicional de 50% pelo trabalho em horas extras, calculado sobre o valorhora das comissões recebidas no mês, considerando-se como divisor o número de horas efetivamente trabalhadas. Quanto ao intervalo parcialmente usufruído pelo laborista até 2007, não assiste razão à recorrente, pois da análise dos relatórios de ponto é possível constatar que tal situação se verificou em algumas datas, citando-se como exemplo o dia 16/08/2005 (fl.112). Dou provimento parcial ao recurso da ré para fixar que o cálculo das horas extras, inclusive decorrente dos intervalos suprimidos/parcialmente usufruídos, no período fixado na sentença, observe tão somente o adicional de 50% sobre o valor-hora das comissões auferidas, obtendo-se o divisor pelo número de horas efetivamente trabalhadas. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS O autor afirma que todos os vendedores da ré participavam de

4 reuniões mensais para avaliação do faturamento, vendas dos produtos, super garantias e das metas a serem atingidas. Nessas reuniões, o gerente Mauro Sardinha agredia-o verbalmente, com xingamentos (burro, idiota e incompetente), reclamando as metas não atingidas, principalmente pelo seguro de vida que deveria ser inserido nas prestações do carnê, humilhando-o na frente dos colegas. Além disso, os vendedores que não vendiam tinham que usar um broche vermelho, identificando a inexistência de venda de seguro, havendo outras cores diferentes. Defende que essa situação feriu sua honra e violou sua dignidade, pelo que pede a condenação do réu no pagamento de uma indenização por danos morais equivalente a 100 (cem) salários mínimos. A ré nega os fatos narrados na inicial, insistindo que o tratamento narrado pelo autor não existiu. A sentença recorrida, com base na prova oral, reconheceu como verdadeiros os fatos alegados pelo autor e condenou a ré a pagar-lhe uma indenização de R$15.000,00 (já atualizados). A ré insurge-se contra a condenação argumentando que no comércio existem metas a serem atingidas e os ganhos do vendedor dependem das vendas realizadas, de modo que há exagero do recorrido no que diz respeito à pressão psicológica e ameaças sofridas. Aduz que não há prova da lesão à honra do demandante. Entende que o valor da indenização arbitrado pelo Juízo é excessivo e, sendo mantida a condenação, pretende a sua redução. Sem razão. A ré é confessa quanto à falta de decoro do gerente Mauro Sardinha em reuniões, assim como em relação à pressão sobre os vendedores para atingimento de metas, haja vista a negativa geral da peça de bloqueio (fl. 90), e sua própria testemunha confirmou (fl. 325) que o referido gerente falava palavrões nas reuniões cobrando metas, que chegou a usar broche, que era colorido, começando pelo amarelo e as cores eram alteradas conforme as vendas do dia. Há, ainda, o depoimento do preposto, revelando desconhecimento sobre tais fatos, ao afirmar (fl. 327):...que não sabe dizer se o sr. Mauro Sardinha usava palavras de baixo calão em reuniões ou com o autor; que não sabe se o mesmo cobrava metas.... Assim sendo, em que pese a testemunha do autor não ter participado das malsinadas reuniões com o gerente, o depoimento da testemunha da ré é suficiente para revelar que o tratamento dispensado aos vendedores, no intuito de elevar as vendas da empresa, incluía xingamentos e palavras de baixo calão, o qual

5 não pode ser aceito como técnica de estímulo aos empregados, sendo a ré responsável por introduzir essa prática esdrúxula, heterodoxa e antijurídica na empresa. Contudo, considero que o valor de R$15.000,00 arbitrado na sentença não é razoável, pelo que reduzo-o para R$8.000,00 para os efeitos de desestímulo ao empregador na adoção de métodos corporativos que atentam contra a urbanidade no tratamento com os empregados, alheios ao contrato de trabalho e que ferem a alta-estima dos mesmos. PELO EXPOSTO, conheço do recurso e, no mérito, dou-lhe parcial provimento para fixar o cálculo do pagamento das horas extras, inclusive as do intervalo reduzido, apenas pelo adicional de 50% sobre o valor-hora das comissões auferidas, obtendo-se o divisor pelo número de horas efetivamente trabalhadas, bem como para reduzir o valor da indenização por danos morais ao valor de R$8.000,00, conforme fundamentação. ACORDAM os Desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, dar-lhe parcial provimento para fixar o cálculo do pagamento das horas extras, inclusive as de intervalo reduzido, apenas pelo adicional de 50% sobre o valor-hora das comissões auferidas, obtendo-se o divisor pelo número de horas efetivamente trabalhadas, bem como reduzir a indenização por dano moral ao valor de R$ 8.000,00, conforme fundamentação do voto da Exmª. Relatora. Rio de Janeiro, 17 de dezembro de lvn Juíza do Trabalho Convocada Patrícia Pellegrini Baptista da Silva Relatora