BCE Boletim Mensal Outubro 2005
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- Carlos Eduardo Paixão Casqueira
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1 EDITORIAL Na reunião de 6 de Outubro de 2005, o Conselho do decidiu deixar inalterada, em 2.0%, a taxa mínima de proposta aplicável às operações principais de refinanciamento do Eurosistema. As taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito foram igualmente mantidas em 3.0% e 1.0%, respectivamente. Com base nas suas análises económica e monetária regulares, e apesar de nova pressão ascendente sobre os preços decorrente sobretudo da evolução do mercado petrolífero, o Conselho do concluiu que a orientação da política monetária ainda continua a ser apropriada. Simultaneamente, é necessária uma forte vigilância no que diz respeito a riscos ascendentes para a estabilidade de preços. É essencial que a subida da taxa de inflação actual não se traduza em pressões inflacionistas subjacentes mais elevadas na área do euro. A forte vigilância impõe-se também considerando a ampla liquidez existente na área do euro. Em todo o espectro de maturidades, as taxas de juro na área do euro permanecem muito baixas, tanto em termos nominais como reais, continuando assim a apoiar a actividade económica. Para que esse apoio persista, é fundamental que as expectativas de inflação se mantenham firmemente ancoradas em níveis compatíveis com a estabilidade de preços. Começando pela análise económica subjacente à avaliação do Conselho do, o crescimento real do PIB em termos trimestrais em cadeia registou taxas de 0.4% e 0.3% no primeiro e no segundo trimestre de 2005, amortecido particularmente por preços do petróleo mais elevados. Em consonância com as projecções de Setembro elaboradas pelos especialistas do, os indicadores de inquéritos recentes corroboram, em geral, a perspectiva de que o crescimento económico poderá observar uma recuperação gradual a partir do segundo semestre do corrente ano. A nível externo, a continuação do crescimento da procura mundial deverá apoiar as exportações da área do euro. A nível interno, o investimento deverá beneficiar tanto das condições de financiamento continuamente favoráveis, como do crescimento robusto dos lucros empresariais. O consumo deverá recuperar de forma gradual, acompanhando no geral a evolução esperada do rendimento disponível real. 1
2 Estas perspectivas para a actividade económica continuam sujeitas a riscos descendentes, relacionados principalmente com os preços do petróleo, com preocupações acerca dos desequilíbrios a nível mundial e com a fraca confiança dos consumidores. Temporariamente, observou-se uma incerteza acrescida em relação aos efeitos económicos dos recentes furacões nos Estados Unidos, tendo esses efeitos sido, entretanto, avaliados como sendo, no geral, limitados e de curto prazo. Quanto à evolução dos preços, os aumentos recentes, sobretudo nos preços do petróleo, fizeram subir as taxas de inflação global para níveis significativamente superiores a 2%. De acordo com a estimativa provisória do Eurostat, a inflação homóloga medida pelo IHPC foi de 2.5% em Setembro, em comparação com 2.2% nos dois meses anteriores, e é provável que a inflação medida pelo IHPC permaneça elevada no curto prazo. Na interpretação deste salto da taxa de inflação homóloga, é crucial estabelecer uma distinção clara entre, por um lado, factores de curto prazo temporários e, por outro, factores de carácter mais duradouro. Embora não esteja ainda disponível informação pormenorizada sobre a evolução das componentes do IHPC em Setembro, os aumentos dos preços do petróleo terão, aparentemente, desempenhado de novo um papel importante, o qual terá, desta vez, sido exacerbado por uma subida muito mais forte dos preços da gasolina devido às restrições excepcionais da capacidade produtiva das refinarias em consequência dos dois furacões nos Estados Unidos. Caso se confirme uma normalização gradual deste segmento do mercado, poderá observar-se uma reversão dos aumentos acentuados dos diferenciais entre os preços do petróleo e dos produtos petrolíferos refinados. Por conseguinte, estes aumentos poderão ser apenas temporários. Todavia, não existe presentemente qualquer indicação de que os preços do petróleo irão registar uma moderação significativa num futuro próximo. Pelo contrário, as expectativas dos mercados são de que os preços permaneçam em níveis elevados, devido sobretudo ao dinamismo da procura mundial e, em certa medida, a fragilidades no lado da oferta. Assim, este cenário está subjacente à avaliação prospectiva da evolução dos preços, realizada pelo Conselho do. 2 Fundamentalmente, o que importa é a forma como esta evolução afecta as perspectivas para a estabilidade de preços no médio prazo. De momento, continua a não haver
3 evidência clara de que pressões inflacionistas internas se estejam a acumular na área do euro. Em particular, os aumentos salariais têm permanecido contidos nos últimos trimestres e, com a fraqueza dos mercados de trabalho, tal deverá persistir, por enquanto. O cenário principal continua, por conseguinte, a consistir em taxas de inflação elevadas no curto prazo, as quais deverão depois registar um decréscimo gradual. No entanto, os riscos ascendentes para este cenário aumentaram. Esses riscos estão relacionados com a continuação das incertezas em torno da evolução do mercado petrolífero, com repercussões potencialmente mais fortes do que as até agora observadas, em virtude de os preços do petróleo mais elevados serem transmitidos aos consumidores através da cadeia de produção interna, e com os potenciais efeitos de segunda ordem no comportamento de fixação de salários e de preços. Todos estes factores desempenham um papel importante na avaliação do Conselho do da estabilidade de preços a médio prazo. Além disso, é preciso ter em conta possíveis novos aumentos dos preços administrados e dos impostos indirectos. Consequentemente, impõe-se uma forte vigilância para assegurar que as expectativas quanto à inflação a mais longo prazo na área do euro permaneçam bem ancoradas. A análise monetária fornece mais informações relativamente às perspectivas para a inflação a médio e a mais longo prazo. A moeda e o crédito continuaram a crescer de modo robusto na área do euro nos últimos meses, sendo agora a taxa de crescimento anual do M3 superior a 8%. A força do crescimento monetário tem, cada vez mais, vindo a ser principalmente alimentada pelo prevalecente nível baixo das taxas de juro. Nos últimos meses, a dinâmica de curto prazo do M3 ganhou novo dinamismo e o crescimento do crédito, sobretudo dos empréstimos hipotecários, permanece muito forte. Neste contexto, a dinâmica dos preços em vários mercados de habitação precisa de ser acompanhada de perto. O forte crescimento monetário e do crédito, no contexto de uma situação onde já se observa ampla liquidez na área do euro, aponta para riscos para a estabilidade de preços a médio e a mais longo prazo. Resumindo, a análise económica indica que, em particular, os aumentos dos preços do petróleo e da gasolina implicam revisões em alta das perspectivas para a evolução dos preços no curto prazo. As pressões inflacionistas internas a médio prazo ainda se mantêm contidas na área do euro, mas é preciso ter em consideração significativos riscos 3
4 ascendentes. Além disso, a análise monetária identifica riscos ascendentes para a estabilidade de preços a médio e a mais longo prazo. No geral, o cruzamento da informação fornecida pelos dois pilares confirma a necessidade de forte vigilância, para manter as expectativas de inflação em linha com a estabilidade de preços. Ao manter as expectativas de inflação a médio prazo firmemente ancoradas em níveis compatíveis com a estabilidade de preços, a política monetária continua a contribuir de forma significativa para uma recuperação do crescimento económico. No que respeita às políticas orçamentais na área do euro, as informações mais recentes fornecem um quadro muito variado. Alguns países ainda apresentam desequilíbrios significativos, ao passo que outros mantêm situações orçamentais sólidas. A preparação dos orçamentos para 2006 encontra-se na fase final na maioria dos países da área do euro. É essencial que a orientação desses orçamentos seja no sentido de uma consolidação orçamental que avance ao ritmo apropriado e que tenha por base uma estratégia de reforma abrangente e bem definida. Tal ajudaria a fomentar a confiança dentro da área do euro ao reforçar as expectativas de finanças públicas favoráveis ao crescimento e sustentáveis e ao melhorar a credibilidade do Pacto de Estabilidade e Crescimento, na sua nova versão. Relativamente ao impacto de preços do petróleo elevados nas finanças públicas, é imperativo continuar com a consolidação orçamental. Além disso, como expresso na declaração mais recente do G7, subsídios e limites máximos artificiais de preços que limitem o preço do petróleo e dos produtos petrolíferos têm um efeito negativo no mercado mundial e devem ser evitados. A mais longo prazo, tais medidas também não beneficiam as economias em questão, já que, em última instância, todas as economias terão de se ajustar ao nível mais elevado do preço do petróleo. A evolução dos custos unitários do trabalho na área do euro desempenha um papel importante na determinação da inflação e dos padrões de competitividade nos vários países da área do euro. Desde a introdução do euro, diversos países da área do euro têm observado aumentos acumulados dos seus custos unitários do trabalho significativamente maiores do que a média da área do euro. Simultaneamente, em alguns países a evolução acumulada dos custos unitários do trabalho tem sido significativamente inferior à média da área do euro. 4
5 É necessário compreender que algumas diferenças nas taxas de crescimento dos custos unitários do trabalho são uma característica natural de uma união monetária que funciona devidamente, visto poderem ser um reflexo de processos de convergência ou de necessários ajustamentos a choques observados anteriormente. Neste sentido, é muito possível que a flexibilidade na área do euro tenha sido subestimada nas fases iniciais. Simultaneamente, não há margem para complacências. Em alguns países da área do euro, a evolução salarial tem ultrapassado substancialmente, e de forma persistente, o crescimento da produtividade do trabalho, dando origem a uma evolução relativamente forte dos custos unitários do trabalho ao longo de um período prolongado, a pressões inflacionistas mais elevadas e a perdas de competitividade. Tal poderá dever-se, pelo menos parcialmente, à rigidez dos salários, decorrente, por exemplo, da indexação explícita ou de facto dos salários nominais aos preços ou de salários de reserva elevados determinados pelo nível dos subsídios de desemprego, a um baixo crescimento da produtividade do trabalho e à ausência de concorrência em alguns sectores. No contexto de choques externos, tais como aumentos acentuados dos preços do petróleo, existe uma necessidade ainda maior em aumentar a capacidade de resistência das economias da área do euro acelerando as reformas estruturais. Juntamente com a realização do mercado interno da União Europeia, essas reformas apoiariam uma evolução dos custos unitários do trabalho conducente à estabilidade dos preços e contribuiriam para uma melhoria do funcionamento dos mecanismos de ajustamento na área do euro, reforçando desse modo as bases para um crescimento sustentado do produto e do emprego. O presente número do do inclui dois artigos. O primeiro avalia o impacto da incerteza económica e financeira na procura de moeda na área do euro, sublinhando em particular a influência dessa incerteza nas decisões de carteira. O segundo aborda o desempenho dos sistemas financeiros nos países industrializados, recorrendo a um enquadramento conceptual abrangente e apresentando uma selecção ilustrativa de indicadores relevantes. 5
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