A nascente do Alviela no Sinclinal de Monsanto
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1 A nascente do Alviela no Sinclinal de Monsanto José António Crispim Departamento e Centro de Geologia da Universidade de Lisboa Enquadramento geológico A nascente do Alviela situa-se na transição entre o Maciço Calcário Estremenho e a Bacia Terciária do Baixo Tejo. O Maciço Calcário Estremenho é um grande bloco de calcários jurássicos com cerca de 800 km 2, situado entre Rio Maior, Tomar e Leiria e constitui a bacia de alimentação da nascente. A Bacia Terciária do Baixo Tejo estende-se, a norte, desde Tomar a Vila Franca de Xira e, a sul, desde Abrantes e Ponte de Sôr a Vendas Novas e Lisboa. Há uma diferença de cerca de 140 milhões de anos entre as rochas do Maciço Calcário Estremenho e as da Bacia Terciária do Baixo Tejo: as do Maciço têm cerca de 160 milhões de anos (calcários do Jurássico) e estão em contacto com as formações da Bacia Terciária do Tejo, com apenas 20 milhões de anos (formações de uma época que se designa por Miocénico). Em anexo, encontram-se extractos da carta geológica 1/ e 1/ desta região. Esta situação é o resultado de várias fases da orogenia alpina, a mesma que formou os Alpes e os Pirinéus. Há muitos milhões de anos, as terras situadas a oeste duma linha entre Aveiro, Coimbra, Tomar e Setúbal, constituíam a Bacia Lusitânica e estavam imersas, depositando-se nessa altura grande parte das formações marinhas que hoje as constituem. A este período inicial, seguiram-se episódios compressivos na sequência da aproximação entre a Placa Africana e a Placa Euroasiática, resultando, num primeiro momento, a Bacia Terciária do Baixo Tejo. Posteriormente ocorreu um período de compressão que originou o cavalgamento das rochas mais antigas do Maciço Calcário Estremenho sobre as rochas, mais modernas, da Bacia do Tejo. E é assim que hoje encontramos as formações rochosas mais antigas por cima das mais recentes. Alviela
2 A nascente dos Olhos de Água do Alviela Os maciços calcários formam aquíferos importantes, onde a água se infiltra rapidamente e circula em galerias subterrâneas formadas pela dissolução da rocha. Ao contrário das regiões situadas à superfície destes maciços, caracterizadas pela ausência de rios, na sua periferia as águas surgem em nascentes caudalosas. Grande parte das regiões da Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo e Algarve, e ainda extensas áreas do Alentejo são abastecidas pelas águas subterrâneas de maciços calcários. A nascente dos Olhos de Água do Alviela, que tem uma bacia de alimentação estimada em 180 km 2, constituiu uma das principais origens de abastecimento de água à cidade de Lisboa. Em 1880 foi construído um aqueduto com cerca de 120 km de extensão que permitiu, após posterior beneficiação, o transporte diário máximo de m 3 desde esta nascente até à capital, aos quais se juntavam m 3 da Ota e m 3 de Alenquer. Nascente dos Olhos de água do Alviela As medições de caudal nos Olhos de Água do Alviela têm fornecido valores entre os m 3 /dia e os 1,5 milhões de m 3 /dia (isto é, entre 0,3 m 3 /s e 17 m 3 /s). A série hidrológica de 1949/79 mostra variação dos caudais entre 44 milhões de m 3 /ano e 187 milhões de m 3 /ano, com um valor médio de 120 milhões de m 3 /ano. Para estudar a circulação subterrânea da água têm sido feitas experiências em que uma substância traçadora, neste caso a fluoresceína ou a rodamina, é deitada na água, seguindose depois o seu rasto nas águas que afloram na região (esquema em anexo). Estas experiências demonstraram a existência de ligação entre o sector sudoeste da região de Minde e a nascente dos Olhos de Água, enquanto que o sector sudeste conduz as suas águas para a nascente do Almonda. A velocidade máxima de circulação destas águas subterrâneas, medida por este processo, é de cerca de 240 m/h. A nascente foi mergulhada por espeleólogos portugueses durante a década de 70 e mais tarde por mergulhadores belgas, franceses e de novo portugueses, tendo sido atingida a profundidade de 100 metros após um percurso superior a 600 metros.
3 A Perda da Ribeira dos Amiais O bloco calcário onde surge a nascente dos Olhos de Água do Alviela é atravessado pela Ribeira dos Amiais. Esta ribeira, depois de receber as águas das nascentes temporárias situadas na base das escarpas do cavalgamento do Maciço Calcário Estremenho sobre a Bacia do Tejo, atravessa a região de Monsanto aumentando o seu caudal com águas superficiais e com águas dos aquíferos das formações mais recentes. Uma centena e meia de metros depois de atingir o bloco de rochas calcárias, a Ribeira dos Amiais some-se numa galeria subterrânea (o que se designa por Perda da Ribeira dos Amiais) com duzentos metros de extensão. Dois aspectos da perda da Ribeira dos Amiais
4 Canhão de ressurgência das águas da Ribeira dos Amiais A ressurgência das águas situa-se no início de um vale que forma um estreito canhão, em frente de uma saída de extravasamento da nascente principal (o Poço Escuro), que se encontra uma centena de metros a jusante, na outra extremidade do vale. A meio caminho da galeria da subterrânea da Ribeira dos Amiais há um abatimento importante onde desembocam várias galerias. A mais importante tem 130 metros de comprimento e constitui a perda de outra ribeira menos importante, situada a sul da primeira.
5 Extracto da Carta Geológica 1/ (sem escala)
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