PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL UBALDO CAVALCANTE

Transcrição

1 PROCESSO: APELAÇÃO CÍVEL Nº /AL ( ) APTE : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE APDO : MIGUEL LUIZ DA SILVA E OUTROS ORIGEM: VARA ÚNICA DA COMARCA DE CANAPI RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL UBALDO ATAÍDE CAVALCANTE - Primeira Turma RELATÓRIO O Des. Federal UBALDO ATAÍDE CAVALCANTE (Relator): Trata-se de apelação de sentença que julgou procedente o pedido inicial, condenando o INSS a restabelecer o benefício assistencial de prestação continuada em favor dos requerentes, declarando nulo o ato administrativo que suspendeu o pagamento dos benefícios previdenciários, confirmando a decisão que deferiu a tutela antecipada. Condenou, ainda, o INSS a pagar as parcelas atrasadas e não pagas, desde o ilegal ato administrativo que suspendeu os presentes benefícios previdenciários, atualizado monetariamente, bem como honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação e juros de mora se 1% a0 mês. Nas razões de seu apelo, a autarquia previdenciária aduz que não faz jus o demandante à percepção do benefício pretendido por não preencher os requisitos previstos em lei para sua concessão. Contra-razões apresentadas. É o relatório. (ACMF) AC AL 1

2 PROCESSO: APELAÇÃO CÍVEL Nº /AL ( ) APTE : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE APDO : MIGUEL LUIZ DA SILVA E OUTROS ORIGEM: VARA ÚNICA DA COMARCA DE CANAPI RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL UBALDO ATAÍDE CAVALCANTE - Primeira Turma VOTO PREVIDENCIÁRIO PROCESSUAL CIVIL - SEGURADA ESPECIAL BENEFÍCIO ASSISTENCIAL SUSPENSÃO SEM A OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS - DEVIDO PROCESSO LEGAL, CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA (SÚMULA Nº 160 TFR) IMPOSSIBILIDADE RESTABELECIMENTO DO BENEFÍCIO. 1. A Administração Pública pode, a qualquer tempo, rever os seus atos para cancelar ou suspender benefício previdenciário que foi concedido irregularmente, mas necessitará da comprovação inequívoca da existência da irregularidade cometida no processo concessório, que dependerá de apuração em procedimento administrativo, regulado em Lei, com observância dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. 2. Constatado que a suspensão dos benefícios dos demandantes não foram precedidos do regular procedimento administrativo, conforme se depreende dos autos, não tendo sido anexada cópia do procedimento administrativo que culminou no cancelamento dos benefícios, demonstrando, de forma inequívoca, que foi assegurado aos suplicantes o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, tendo, inclusive, sido intimada a Autarquia para apresentar provas, oportunidade em que não apresentou qualquer comprovação das irregularidades alegadas, inclusive fraude no processo concessório, ficando apenas no campo das alegações sem comprovação o que não admitido em juízo, devem ser restabelecidos os benefícios dos postulantes, desde a data dos cancelamentos indevidos. 3. Em se tratando de débitos relativos a benefícios previdenciários são incidentes juros moratórios no percentual de 0,5% (meio por cento) ao mês, a partir da citação válida, aplicando-se, no caso, o art. 1º-F, da Lei 9.494/ Honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação, nos termos da Súmula 111, do STJ. 5. Apelação parcialmente provida apenas para fixar os juros de mora em 0,5% e honorários advocatícios em 10% sobre o valor da condenação incidente sobre as parcelas vencidas (Súmula 111/STJ). O Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal UBALDO ATAÍDE CAVALCANTE (Relator): Consoante salientado no relatório, trata-se de apelação interposta contra sentença que julgou procedente o pedido formulado na (ACMF) AC AL 2

3 exordial, onde as partes postulantes buscam provimento judicial a fim de verem reconhecidos os direitos aos restabelecimentos de suas aposentadorias concedidas pelo INSS e posteriormente canceladas, sob a alegação de irregularidade no processo de concessão do benefício. Encontra-se sedimentado na doutrina e pacificado na jurisprudência (Súmula nº 160 TFR), o entendimento de que o ato que cancela a concessão de beneficio previdenciário deve observar o devido processo legal. Não pode ocorrer de forma abrupta, devendo a Administração, através de procedimento administrativo com ampla oportunidade de defesa e possibilidade de recurso, expor os motivos ensejadores das eventuais irregularidades, e só após o exaurimento das Instâncias Administrativas com decisão definitiva, é que poderá ser cancelado ou suspenso o benefício, em respeito às disposições constitucionais e legais que tratam da matéria. De outro modo é impossível se admitir. Ora, se a própria Administração, no passado, participou do processo que concedeu o benefício previdenciário, há que se ter sérios fundamentos para rever o ato anterior, sob pena de abalar, infundadamente, a presunção de legalidade e legitimidade de que goza o ato administrativo, como também a segurança do beneficiário que contava com sua situação jurídica já consolidada pelo tempo. Tais princípios (devido processo legal, contraditório e ampla defesa) não podem ser entendidos como mera formalidade. Ou seja, há que se seguir um rito processual previsto em lei com o objetivo de, concretamente, fornecer ao segurado a oportunidade de se manifestar quanto aos fatos que estão sendo apurados. Quanto à Administração, há que expor os motivos de seus atos, com base não apenas nas conclusões a que chegou através das diligências realizadas por seus representantes, mas também nas alegações e documentos apresentados pelo beneficiário. Não foi desta forma que ocorreu a suspensão dos benefícios dos demandantes. Não foi anexada aos autos, cópia do procedimento administrativo que culminou no cancelamento do benefício, demonstrando, de forma inequívoca, que foi assegurado à suplicante o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, conforme se depreende dos autos, tendo, inclusive, sido intimada a Autarquia para apresentar provas, oportunidade em que não apresentou qualquer comprovação das irregularidades alegadas, inclusive fraude no processo concessório, ficando apenas no campo das alegações sem comprovação o que não admitido em juízo. É também ponto pacificado na jurisprudência de nossos tribunais o entendimento de que o ônus da prova de irregularidades na concessão do benefício previdenciário de prestação continuada é do INSS. Logo, cabe a ele comprovar a irregularidade e, somente após o devido processo legal, é que o benefício poderá ser suspenso ou cancelado. (ACMF) AC AL 3

4 Sobre o thema decidendum, vejam-se os seguintes julgados de nossas Cortes pátrias: PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO AGRAVO DE INSTRUMENTO SUSPENSÃO DE BENEFÍCIO DEVIDO PROCESSO LEGAL RESTABELECIMENTO ANTECIPAÇÃO DE TUTELA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA POSSIBILIDADE 1. (...). 3. Segundo entendimento desta Turma, a suspensão unilateral ou cancelamento do pagamento de benefício previdenciário, sem o devido processo legal, afronta os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa e, ainda que sob suspeita de fraude na sua concessão, dependerá de apuração em procedimento administrativo, com decisão definitiva (Súmula 160/TFR). 4. (...). 5. Agravo improvido. (TRF 1ª R. AG GO 1ª T. Rel. Juiz Conv. Velasco Nascimento DJU p. 55) CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO APOSENTADORIA SUSPENSÃO DE SEU PAGAMENTO OBSERVÂNCIA AO DUEPROCESS OF LAW POSSIBILIDADE 1. "A suspeita de fraude na concessão de benefício previdenciário não enseja, de plano, a suspensão ou cancelamento, mas depende de apuração em processo administrativo. " (Súmula nº 160 TFR). 2. Hipótese em que o pagamento do benefício foi suspenso com garantia à ampla defesa do segurado, não violando o princípio do devido processo legal. 3. Apelação improvida. (TRF 5ª R. AC ( ) CE 4ª T. Rel. Des. Fed. Luiz Alberto Gurgel de Faria DOU p. 584) PROCESSUAL PREVIDENCIÁRIO AGRAVO REGIMENTAL SUSPENSÃO DE BENEFÍCIO SUSPEITA DE FRAUDE NECESSIDADE DE PRÉVIO PROCESSO ADMINISTRATIVO REEXAME DE PROVA SÚMULA 07/STJ I Constatada a inexistência de correto procedimento administrativo, com base no conjunto fático-probatório, apto a ocasionar suspensão do benefício, não se conhece do Recurso Especial por implicar em reexame de prova. II Agravo regimental desprovido. (STJ AGA RJ 5ª T. Rel. Min. Gilson Dipp DJU ) PREVIDENCIÁRIO RURÍCOLA SUSPENSÃO DO BENEFÍCIO SUPOSTA FRAUDE A suspensão do benefício previdenciário por suposta fraude em sua obtenção, não enseja, de plano, a sua suspensão ou cancelamento, dependendo de apuração em processo administrativo regular, assegurados o princípio do contraditório e da ampla defesa. Recurso conhecido e desprovido. (STJ REsp SP 5ª T. Rel. Min. Jorge Scartezzini DJU p ) PROCESSUAL CIVIL ADMINISTRATIVO PREVIDENCIÁRIO AMPARO ASSISTENCIAL (LEI Nº 8.742/93) PRELIMINARES DE DECADÊNCIA E INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA REJEITADAS SUSPENSÃO DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO SEM O DEVIDO PROCESSO LEGAL IMPOSSIBILIDADE APELAÇÃO E REMESSA OFICIAL NÃO PROVIDAS (...). 3. O ônus da prova da irregularidade da concessão do benefício é do INSS, de tal modo que somente após o processo administrativo, onde assegurada a ampla defesa, é que o benefício poderá, se o caso, ser suspenso ou cancelado. 4. Apelação e remessa oficial, tida por interposta, não providas. (TRF 1ª R. AMS BA 1ª T. Rel. Des. Fed. Antonio Savio de Oliveira Chaves DJU p. 122) (grifos nossos) (ACMF) AC AL 4

5 PREVIDENCIÁRIO SUSPENSÃO DE BENEFÍCIO SUSPEITA DE FRAUDE PROVA EM SENTIDO CONTRÁRIO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PRÉVIO GARANTIA DO CONTRADITÓRIO, DA AMPLA DEFESA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL o benefício previdenciário goza de presunção de legalidade e legitimidade. Presunção iuris tantum. a prova em sentido contrário é ônus do INSS. deve ser produzida em sede administrativa ou judicial, garantidos o contraditório e a ampla defesa. Suspensão de benefício por suspeita de fraude sem PROCEDIMENTO administrativo prévio, que se adapte à moldura constitucional, deve ser repelido pelo Poder Judiciário. Apelação provida. Sentença reformada. (TRF 2ª R. AMS RJ 3ª T. Rel. Des. Fed. Francisco Pizzolante DJU ) (grifos nossos) Perfilho o entendimento de que em se tratando de débitos relativos a benefícios previdenciários, são incidentes juros moratórios no percentual de 0,5% (meio por cento) ao mês, a partir da citação válida (Súmula 204 do STJ), aplicandose, no caso, o art. 1º-F, da Lei 9.494/97: Diante do exposto, reportando-me aos fundamentos do precedentes retro transcritos, dou parcial provimento à apelação para determinar o pronto restabelecimento do benefício desde o cancelamento indevido, com pagamento das parcelas vencidas, acrescidas da correção monetária legal e juros de mora à razão de 0,5% (meio por cento) ao mês, a contar da citação, mais honorários advocatícios fixados em 10% (dez) por cento sobre o montante das parcelas vencidas, nos termos da Súmula 111/STJ. É como voto. (ACMF) AC AL 5

6 PROCESSO: APELAÇÃO CÍVEL Nº /AL ( ) APTE : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE APDO : MIGUEL LUIZ DA SILVA E OUTROS ORIGEM: VARA ÚNICA DA COMARCA DE CANAPI RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL UBALDO ATAÍDE CAVALCANTE - Primeira Turma EMENTA PREVIDENCIÁRIO PROCESSUAL CIVIL - SEGURADA ESPECIAL BENEFÍCIO ASSISTENCIAL SUSPENSÃO SEM A OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS - DEVIDO PROCESSO LEGAL, CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA (SÚMULA Nº 160 TFR) IMPOSSIBILIDADE RESTABELECIMENTO DO BENEFÍCIO. 1. A Administração Pública pode, a qualquer tempo, rever os seus atos para cancelar ou suspender benefício previdenciário que foi concedido irregularmente, mas necessitará da comprovação inequívoca da existência da irregularidade cometida no processo concessório, que dependerá de apuração em procedimento administrativo, regulado em Lei, com observância dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. 2. Constatado que a suspensão dos benefícios dos demandantes não foram precedidos do regular procedimento administrativo, conforme se depreende dos autos, não tendo sido anexada cópia do procedimento administrativo que culminou no cancelamento dos benefícios, demonstrando, de forma inequívoca, que foi assegurado aos suplicantes o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, tendo, inclusive, sido intimada a Autarquia para apresentar provas, oportunidade em que não apresentou qualquer comprovação das irregularidades alegadas, inclusive fraude no processo concessório, ficando apenas no campo das alegações sem comprovação o que não admitido em juízo, devem ser restabelecidos os benefícios dos postulantes, desde a data dos cancelamentos indevidos. 3. Em se tratando de débitos relativos a benefícios previdenciários são incidentes juros moratórios no percentual de 0,5% (meio por cento) ao mês, a partir da citação válida, aplicando-se, no caso, o art. 1º-F, da Lei 9.494/ Honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação, nos termos da Súmula 111, do STJ. 5. Apelação parcialmente provida apenas para fixar os juros de mora em 0,5% e honorários advocatícios em 10% sobre o valor da condenação incidente sobre as parcelas vencidas (Súmula 111/STJ). (ACMF) AC AL 6

7 A C Ó R D Ã O Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5a. Região, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação do INSS, na forma do relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Recife, 14/08/ :00 (data do julgamento) Des. Federal UBALDO ATAÍDE CAVALCANTE Relator (ACMF) AC AL 7