TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº Apelante: André da Silva Fagundes Apelado (1): Banco Panamericano S/A Apelado (2): Zé Pires Veículos Ltda Relator: Des. Elton M. C. Leme R E L A T Ó R I O sentença de fls Adota-se, na forma regimental, o relatório lançado na Trata-se de ação indenizatória proposta por André da Silva Fagundes em face de Zé Pires Veículos Ltda e Banco Panamericano S/A, alegando o autor que adquiriu no dia 15/7/2010, junto à primeira ré, um automóvel GM/Prisma, 2008/2009, semi-novo, financiado pela segunda ré. No dia 3/9/2010 o veículo apresentou defeito no motor, causando inúmeros transtornos, pois interrompeu a viagem de feriado prolongado da família. A primeira ré demorou 28 dias para efetuar o conserto, mas, afirma que houve desvalorização do bem com a retífica realizada. Postula a antecipação de tutela para a rescisão da compra e venda celebrada entra as partes, condenando a ré a restituir o valor de R$ ,00, o pagamento de multa no valor de R$ 102,15 e a transferência de pontuação pelo serviço falho que a ré prestou e a rescisão do contrato de alienação fiduciária celebrado com a segunda ré. Ao final, requer a rescisão do contrato de alienação fiduciária e do contrato de compra e venda, com restituição do valor pago, a devolução

2 em dobro do serviço prestado, indenização por dano material, no valor de R$ ,00 e reparação por danos morais. Antecipação de tutela indeferida a fls. 27. Contestação da segunda ré a fls alegando que o próprio autor confirma que o vício foi sanado no prazo previsto no CDC. Na entrega do veículo, o réu forneceu novo documento CRV com extensão da garantia por mais 90 dias, mas o autor se recusou a retirar o veículo sob a alegação de que havia outro vício. O réu, então, se prestou a sanar o suposto defeito na caixa de marcha, mas não havia tal defeito, convidando o autor à oficina para demonstrar, quando este acusou a ré de ter trocado os pneus e ter arranhado o para-choque traseiro, o que não aconteceu. Impugna, assim, os pedidos formulados. Contestação da segunda ré a fls , argumentando que o dano alegado decorre de fato exclusivo de terceiro, inexistindo nexo de causalidade entre o seu atuar e o dano narrado. Argumenta a inexistência de dano moral, postulando a improcedência dos pedidos. A sentença de fls julgou procedente em parte o pedido para condenar o primeiro réu ao pagamento de R$ 2.500,00 a título de indenização por dano moral acrescido de correção monetária a contar da publicação e juros legais a contar de 30/9/2010 e julgou improcedente o pedido em relação ao segundo réu. Condenou o primeiro réu ao pagamento

3 das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação. Apelou o autor a fls , afirmando que não é razoável que o veículo apresentasse defeito logo no primeiro mês de uso, insistindo, assim, na rescisão do contrato de compra e venda e do financiamento, condenando-se os réus a restituírem os valores pagos, além da reparação por danos morais. sentença recorrida. Contrarrazões da segunda ré a fls , prestigiando a É o relatório. À douta revisão. Rio de Janeiro, 25 de setembro de Des. Elton M. C. Leme Relator

4 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº Apelante: André da Silva Fagundes Apelado (1): Banco Panamericano S/A Apelado (2): Zé Pires Veículos Ltda Relator: Des. Elton M. C. Leme APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZATÓRIA. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO. DEFEITO REPARADO NO PRAZO DE TRINTA DIAS. RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. INOCORRÊNCIA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Hipótese em que o consumidor adquiriu veículo usado, que apresentou defeito no motor, pretendendo a condenação da vendedora e da instituição financiadora a reparação dos danos morais sofridos, bem como a rescisão dos contratos, na forma do artigo 18, 3º, do CDC. 2. Entretanto, não comprovou a parte autora a persistência do defeito após a ré ter realizado o reparo, o que ocorreu no prazo de trinta dias previsto no artigo 18, 1º, do CDC, faltando justa causa para a pretendida rescisão do contrato. 3. A instituição financeira não é responsável pela qualidade do veículo financiado, que foi escolhido pelo comprador junto ao fornecedor do produto 4. Desprovimento do recurso.

5 ACÓRDÃO VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº , originária do 2ª Vara Cível Regional da Pavuna, julgada na sessão de 24/04/2013, figurando como apelante André da Silva Fagundes e apelados (1) Banco Panamericano S/A e (2) Zé Pires Veículos Ltda. ACORDAM, por unanimidade de votos, os Desembargadores que compõem a Décima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. ACÓRDÃO apresentado na data da sessão. VOTO Trata-se de responsabilidade objetiva do vendedor do produto em decorrência da imperfeição de seus produtos e serviços. O autor adquiriu um veículo seminovo, que, no primeiro mês de uso, apresentou defeito no motor, sustentando o adquirente que a dimensão do vício é capaz de comprometer a característica ou qualidade do produto, requerendo a rescisão do contrato, nos termos do artigo 18, 3º do CDC.

6 Ocorre que o veículo objeto da transação foi adquirido na condição de usado, sendo da essência do negócio jurídico dessa natureza o recebimento do bem no estado em que se encontra. O defeito do motor, uma vez sanado no prazo do artigo 18, 1º do CDC, não autoriza a imediata rescisão do contrato. de Justiça: Alude-se, a respeito, a jurisprudência do Superior Tribunal VÍCIO. QUALIDADE. AUTOMÓVEL. EXEGESE. ART. 18, 1º, I, CDC. Constatado o vício do produto, concede-se ao fornecedor a oportunidade de saná-lo no prazo máximo de trinta dias. Não sendo reparado o vício, o consumidor poderá exigir, à sua escolha, as três alternativas constantes dos incisos do 1º do art. 18 do CDC. No caso, inexiste ofensa ao mencionado dispositivo, pois, imediatamente após a reclamação, o fornecedor prontificou-se a reparar o produto - um veículo automotor. Não aceita a oferta pelo consumidor, propôs a substituição do bem por outro da mesma espécie e em perfeitas condições de uso ou a compra pelo preço de mercado e, ainda assim, o consumidor manteve-se renitente. A primeira solução que o código apresenta ao consumidor é a substituição das partes viciadas do produto. Não se está diante de uma opção propriamente dita, uma vez que, como regra, o consumidor não tem outra alternativa a não ser aceitar tal substituição

7 (Antônio Herman de Vasconcellos Benjamin, in comentários ao Código de Proteção do Consumidor, coordenador Juarez de Oliveira - São Paulo - Saraiva, 1991). Não sanado o vício de qualidade, cabe ao consumidor a escolha de uma das alternativas prevista no art. 18, 1º,do CDC. O dispositivo em comento não confere ao consumidor o direito à troca do bem por outro novo, determina apenas que, não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso (...). Precedentes citados: REsp SP, DJ 22/3/1999, e REsp RS, DJ 12/5/1997. (REsp PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/12/2007.) Os demais defeitos alegados pela parte autora, de que a ré teria indevidamente efetuado a troca de pneus, ou que teria arranhado o para-choque, não foram comprovados, não autorizando a rescisão pretendida. Por outro lado, a autora não descreve qualquer conduta atribuível à segunda ré que pudesse ensejar os danos reclamados, devendo ser destacado que o automóvel foi livremente escolhido pela autora, limitando-se a instituição financeira a viabilizar o negócio através do financiamento. Portanto, não há o que reparar na sentença.

8 Justiça: Nesse sentido, observa-se a jurisprudência deste Tribunal de COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO MEDIANTE CELEBRAÇÃO DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO - RELAÇÃO DE CONSUMO CONFIGURADA - PRODUTO DEFEITUOSO INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE A AGÊNCIA DE VEÍCULOS E A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE NÃO POSSUI ACESSO AO BEM FINANCIADO. O Banco financiou veículo que se encontrava à venda no mercado e antecipou o pagamento do preço à empresa vendedora. No caso, eventuais danos ou prejuízos sofridos pelo comprador não podem ser atribuídos à instituição financeira, a qual não praticou qualquer ato ilícito e sequer tem responsabilidade solidária. Negado seguimento ao recurso. ( APELAÇÃO - DES. EDSON VASCONCELOS - Julgamento: 03/11/ DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL) APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DO CONSUMIDOR - PEDIDO DE RESCISÃO DE CONTRATO CUMULADO COM INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL - AQUISIÇÃO DE VEÍCULO USADO - AUTOR QUE ALEGA TER DESCOBERTO APÓS A COMPRA VÁRIOS DEFEITOS NO VEÍCULO - INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE APENAS ATRAVÉS DO CONTRATO DE MÚTUO

9 POSSIBILITOU A LIBERAÇÃO DE RECURSOS AO APELADO PARA A AQUISIÇÃO DO BEM NÃO INFLUENCIANDO DE QUALQUER FORMA NA AQUISIÇÃO DO VEÍCULO INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PELOS DEFEITOS DO VEÍCULO - RESCISÃO DA AVENÇA DE COMPRA E VENDA QUE NÃO IMPLICA NA RESOLUÇÃO DO CONTRATO DE FINANCIAMENTO - AUSÊNCIA DE SOLIDARIEDADE - REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA. 1. Cinge-se a controvérsia à análise da possibilidade de rescisão do contrato de financiamento celebrado entre o autor e o Banco apelante, em consequencia da extinção do contrato de compra e venda de veículo firmado entre o autor e a revendedora. 2. Na hipótese, o veículo, no mesmo dia em que foi adquirido pelo autor, apresentou defeitos que impossibilitaram sua regular utilização A sentença, de forma acertada, rescindiu o contrato de compra e venda, condenando a revendedora a pagar ao consumidor indenização por danos morais e materiais, referentes às quantias pagas a título de financiamento do veículo. 3. No entanto, no que tange à rescisão do contrato de financiamento merece reparo a sentença. O Banco apelante apenas financiou a aquisição do automóvel, não sendo responsável pela qualidade do bem que recebeu em garantia, eis que este é escolhido livremente pelo consumidor. Ressalte-se que o contrato de financiamento não pode ser considerado acessório do contrato de compra

10 e venda, por constituírem negócios jurídicos autônomos. 4. No presente caso, embora seja admitida a rescisão do contrato de compra e venda do veículo usado com suporte nas disposições do art. 18, 1º do Código de Defesa do Consumidor, o mesmo não ocorre com o contrato de mútuo, porquanto a instituição financeira não pode ser tida por fornecedora do bem que lhe foi ofertado como garantia de financiamento. 5. As disposições do Código de Defesa do Consumidor incidem sobre a instituição bancária apenas na parte que lhe toca quanto aos serviços que presta - relativos à sua atividade financeira e, quanto a isso, nada foi reclamado. 6. O banco recorrente antecipou dinheiro ao recorrido, que dele se valeu para pagar ao vendedor do automóvel, e é certo que o defeito do produto que a recorrido constatou não está relacionado às atividades da instituição financeira, pois toca exclusivamente ao revendedor do automóvel. 7. Se não é o banco fornecedor do produto "automóvel" e se, com relação aos serviços que prestou, não houve nenhuma reclamação por parte do consumidor, impróprio que venha a sofrer as restrições previstas no artigo 18 do CDC tão-somente porque ofertou financiamento à recorrente para aquisição do bem. 8. Provimento do recurso para excluir a condenação em face do 2º réu, mantendo válido e eficaz o contrato de financiamento celebrado entre recorrente e recorrido. 9. Precedentes do TJERJ e do E. STJ. DOU PROVIMENTO AO RECURSO, NOS TERMOS DO ART. 557, 1º-A, DO

11 CPC. ( APELAÇÃO - DES. MARCELO LIMA BUHATEM - Julgamento: 03/05/ QUARTA CÂMARA CÍVEL) Por tais fundamentos, provimento ao recurso, mantendo-se a douta sentença. voto no sentido de negar Rio de Janeiro, 24 de abril de Des. Elton M. C. Leme Relator