MARGENS DE COMERCIALIZAÇÃO DA UVA FINA DE MESA NO PARANÁ
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- Juan Candal Medina
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1 MARGENS DE COMERCIALIZAÇÃO DA UVA FINA DE MESA NO PARANÁ Marcelo José Carrer 1 Alexandre Florindo Alves 2 Resumo: Sendo o Paraná um dos principais produtores de uva fina de mesa no Brasil, o presente trabalho teve como objetivos uma análise dos preços nos três níveis de mercado e um estudo completo das margens de comercialização da fruta. As séries de preços apresentaram comportamento semelhante, registrando preços altos no início das séries (1998 e 1999) e possível tendência de queda com recuperação a partir de A participação do produtor apresentou comportamento de queda, sendo explicada por aumento na oferta devido aos ganhos de produtividade. A margem relativa do atacadista apresentou comportamento de queda e a margem relativa do varejista apresentou comportamento ascendente, sendo isto explicado pela tendência de concentração de mercado no setor varejista. A participação do produtor foi em média 46,04%, a margem relativa do atacadista 22,78% e a margem relativa do varejista 31,17% no período estudado, em média. Palavras-chave: uva fina de mesa Paraná margens de comercialização. Abstract: Once Paraná State is one of the main fine grape producers in Brazil, this work aimed at analysis of prices at three market levels and a full study of the commercialization margins. The price series presented a similar characteristic, setting high prices in the beginning of the series (1998 and 1999) and a possible falling tendency, retrieving after The producer participation presented a falling behavior, which could be explained by the raise of offer due to productivity improvements. The wholesaler relative margins presented a fall and the retailer presented raising relative margins, being this fact explained by a tendency of market concentration at the retail market. The producer participation was 46.04% in average; the wholesaler relative margin was 22.78% and the retailer relative margin was 31.17% during the period studied, in average. Key-words: fine grape Paraná State commercialization margins 1. Introdução No mundo há cerca de 10 mil variedades diferentes de uva que se adaptam a vários tipos de solo e clima, o que faz a uva ser cultivada em quase todas as regiões do mundo. Têm-se dois grandes grupos de uvas: mesa e vinho/outros afins industriais. O mercado internacional de frutas frescas tem se expandido nos últimos anos. (CATI, 1999). 1 Bolsista PIBIC/CNPq do Departamento de Economia da UEM (marcelojcarrer@yahoo.com.br). Rua Kingston, 37. Jardim Canadá. CEP: Maringá-PR. 2 Professor Associado do Departamento de Economia da UEM (afalves@uem.br). Avenida Colombo, Jardim Universitário. CEP: Maringá-PR. Bolsista de Produtividade em Pesquisa da Fundação Araucária.
2 756 A uva é uma das frutas mais consumidas no mundo todo na forma in natura e como suco. Tem também extenso mercado como insumo básico da indústria de vinhos e outros fermentados alcoólicos. Segundo Mello (2008) o Brasil é o 14 o maior produtor de uva no mundo. Os maiores produtores encontram-se no hemisfério norte, com destaque para Itália, França, Estados Unidos e Espanha. No hemisfério Sul, Argentina, Chile e África do Sul são os maiores produtores. A produção brasileira de uvas é voltada tanto para produtos elaborados como para consumo in natura. Em 2006, foram produzidas t de uvas, segundo o IBGE (2008). Em 2007, a produção de uvas foi 11,04% superior ao ano anterior, sendo produzidas t (Tabela 1). O estado que concentrou a maior produção de uvas em 2007 foi o Rio Grande do Sul (52,05%), que se destaca por ser um grande produtor de vinhos, e a maior parte da uva produzida nesse estado tem como destino principal as vinícolas locais. O segundo maior produtor foi o estado de São Paulo (14,25%), seguido do Pernambuco (12,57%), Bahia (8,9%) e Paraná (7,32%). Tabela 1. Produção de Uvas no Brasil, em toneladas. Estado/Ano Pernambuco Bahia Minas Gerais São Paulo Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Brasil Fonte: Mello (2008). A área plantada de uvas no Brasil em 2006 foi de hectares passando para hectares em 2007, ou seja, um aumento de 2,74%. O estado com maior área plantada é o Rio Grande do Sul com hectares, seguido de São Paulo com hectares, Pernambuco com hectares e Paraná com aproximadamente hectares plantados, segundo o IBGE (2008). Houve também aumento do consumo de uvas in natura no Brasil ao longo do período analisado.
3 757 Analisando-se o total de uvas produzidas, importadas, exportadas e consumidas no Brasil (in natura e processada) [Tabela 2] verifica-se um aumento expressivo nas exportações de uvas. Segundo Mello (2008), o Brasil gerou um total de 169,696 milhões de dólares em divisas resultante da exportação da uva fina de mesa. O principal destino das exportações da uva fina brasileira é o mercado europeu e os principais estados exportadores são Pernambuco e Bahia, caracterizados por produzirem uva de alta qualidade, atendendo as exigências do mercado estrangeiro. Segundo Barros e Boteon (2002) o período de maior oferta da uva de mesa no mercado doméstico concentra-se entre novembro e março, quando são abastecidos os principais centros consumidores do país. Em dezembro, mesmo havendo grande oferta, os preços costumam alcançar níveis elevados devido ao fato da demanda também ser grande. No lado da demanda, o consumo da uva é semelhante ao das frutas em geral, aumentando nos meses mais quentes do ano. Segundo dados do Ceasa de Belo Horizonte, entre os meses de dezembro e fevereiro o volume comercializado é duas vezes maior que os meses de junho e julho. O destino da maior parte da produção são as Ceasas, situadas principalmente nas grandes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. De acordo com os mesmos autores, o sistema de comercialização da uva difere em cada região produtora, em função do grau de tecnificação de produção e de póscolheita e do modo como os produtores estão organizados. De modo geral, o canal de comercialização da uva de mesa brasileira é composto pelos seguintes agentes: produtor, intermediário, atacadista, varejista e exportador. No Paraná, em 2006 foram produzidas t da fruta em uma área plantada de 5657 ha., o que gerou um total de R$ 136,722 milhões. As principais cidades produtoras no estado do Paraná são: Marialva, Assaí, Bandeirantes, Uraí, Mandaguari, Nova América da Colina, Sarandi, Colombo, Jandaia do Sul e Japira (IBGE, 2008). Os produtores desses municípios são de pequeno ou médio porte, com pouca infra-estrutura de produção e pós-colheita e um clima não muito favorável à cultura. Nessas regiões, existem diversas cooperativas e associações, mas elas não apresentam um poder de barganha suficiente para comercializar com grandes redes, fazendo com que o atacado seja um canal de comercialização muito importante.
4 758 Barros e Boteon (2002) mencionaram que a consignação era a forma de venda mais praticada no estado, porque, na maioria dos casos, os produtores que em sua maioria são de pequeno ou médio porte, não têm condições de classificar o produto e também não conseguem ofertar um grande volume para que possam comercializar sem a presença do intermediário. Essa forma de venda geralmente resulta em preços menores para os produtores, já que o produto passa por diferentes agentes da cadeia até chegar ao varejo (BARROS; BOTEON, 2002). Tabela 2. Produção, importação, exportação e consumo de uvas no Brasil, em toneladas, 1996/2007. Ano Produção Total Processamento Mesa Exportação Importação Consumo in Natura Fonte: Mello (2008). Os principais objetivos do presente trabalho são analisar os preços da uva fina de mesa no Paraná nos diferentes níveis de mercado e fazer um estudo das margens de comercialização da fruta. 3. Objetivos O principal objetivo do presente trabalho é estudar o comportamento das margens de comercialização da uva fina de mesa no Paraná de julho de 1998 a junho de Como objetivos específicos podem ser relacionados uma análise dos preços nos
5 759 diferentes níveis de mercado e o estudo das margens de comercialização propriamente dito. 4. Metodologia No presente trabalho foram analisadas as séries de preços reais da uva fina de mesa nos três níveis da cadeia de comercialização. A série de preços reais no atacado foi construída com base nos preços diários e quantidades comercializadas diariamente disponibilizadas pela CEASA-PR (CARRER; ALVES, 2008). As séries de preços ao produtor e no varejo foram levantadas junto à SEAB/DERAL. Vale ressaltar que todas as séries foram corrigidas pelo IGP-DI, tendo como base de referência o mês de junho de O cálculo das margens de comercialização foi feito com base nas três séries de preços e seguiu a metodologia adotada por Barros (2007). 4.1 Construção da série de preços no atacado A literatura traz a possibilidade de utilizar vários índices para a construção de uma série de preços, como o índice de Paasche, o índice de Laspeyres entre outros. Por motivos de compatibilidade com a série de preço do SEAB/DERAL, neste trabalho foi utilizado o índice da Média Ponderada. A construção da série de preços no atacado se deu através da média ponderada entre os preços e as quantidades comercializadas diariamente nas regiões de Curitiba, Maringá, Londrina, Foz do Iguaçu e Cascavel. Os dados foram coletados junto à CEASA-PR e os preços médios mensais são resultado da multiplicação dos preços diários e quantidades diárias, dividida pelo total da quantidade comercializada no mês, obtendo-se assim a média ponderada mensal (CARRER; ALVES, 2008). 4.2 Margem de comercialização
6 760 Segundo Barros (2007) consumidores e produtores estão separados por muitos intermediários (transportadores, processadores e armazenadores) que se encarregam da condução da produção agrícola da região produtora até os consumidores finais. A margem é dada pela diferença entre o preço pelo qual um intermediário (ou um conjunto de intermediários) vende uma unidade de produto e o pagamento que ele faz pela quantidade equivalente que precisa comprar para vender essa unidade (JUNQUEIRA; CANTO, 1971 apud BARROS, 2007). Perdas devido ao amassamento, podridão, processamento fazem com que as unidades de venda e compra difiram entre si (BARROS, 2007). As margens permitem avaliar quanto do preço final, pago pelo consumidor, é apropriado pelos diversos agentes envolvidos no processo de comercialização da produção, teoricamente deve cobrir os custos relacionados ao processo de comercialização, os riscos associados ao mercado, além de gerar lucro aos agentes envolvidos na comercialização (SANTOS et al., 2006). Segundo Barros (2007), a principal utilização das medidas das margens de comercialização refere-se ao acompanhamento de sua evolução, propiciando avaliação do desempenho dos mercados. O mesmo autor cita que a estrutura do mercado estudado, as características do produto em si e as mudanças tecnológicas podem afetar na margem Cálculo das margens de comercialização A metodologia utilizada para o cálculo das margens de comercialização será a mesma metodologia apresentada por Barros (2007) e está representada a seguir: A Margem Total (MT) procura medir as despesas do consumidor devidas a todo o processo de comercialização. Corresponde, pois, à diferença entre preço do varejo (P v ) de um produto qualquer e o pagamento recebido pelo produtor pela quantidade equivalente na fazenda (P p ). Assim, MT = P v - P p (1) que corresponde a margem total absoluta. A margem total relativa é expressa como proporção do preço no varejo, ou seja:
7 761 MT = (P v - P p ) /P v (2) A margem pode ainda se referir a níveis específicos de mercado. Assim, a margem absoluta do varejista (M v ) será a diferença: M v = P v - P a (3) onde P a é o preço no atacado da quantidade equivalente à unidade vendida no varejo. A margem relativa do varejo será: M v = (P v -P a ) /P v (4) Fala-se também em margens absoluta e relativa do atacadista, que são, respectivamente, M a = P a P p (5) M a = (P a -P p ) /P v (6) Vale mencionar que no presente trabalho não foram consideras as perdas no cálculo das margens de comercialização da uva fina de mesa, por tal informação não ter sido encontrada na literatura. 5. Resultados e discussão 5.1 Análises de preços Preços ao produtor Figura 1. A série de preços reais da uva fina de mesa ao produtor está representada na
8 762 4,00 3,50 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 0,50 0,00 jul/98 jul/99 jul/00 jul/01 jul/02 jul/03 jul/04 jul/05 jul/06 jul/07 Figura 1. Série de preços reais da uva fina de mesa ao produtor, (valores corrigidos para jun./08 pelo IGP-DI). Fonte: dados básicos: DERAL, elaboração dos autores. A série indica preços altos e acima da média nos anos de 1998 e 1999, com uma possível tendência de queda nos preços até o início de 2005 e recuperação a partir deste ano (CARRER; ALVES, 2008). O preço médio recebido pelo produtor no período foi de R$ 2,09/kg da fruta. O preço máximo da série foi de R$ 3,63/kg e este se deu em abril de 1999, ano em que os preços registraram valores altos e acima da média. O preço mínimo foi de R$ 1,10/kg em janeiro de Um dos motivos desta possível tendência de queda nos preços até o ano de 2005 é o expressivo aumento da oferta no período, que segundo os dados do DERAL avançou de t em 1997 para t em 2003, ou seja, um aumento de 139,69% na produção da fruta no Paraná. Este aumento substancial na quantidade produzida se possibilitou devido aos ganhos de produtividade que os produtores obtiveram no período. Os ganhos de produtividade aumentam a produção por área plantada, possibilitando aumentos de rentabilidade associados à redução dos custos de produção. Assim, os produtores conseguem manter a produção crescente mesmo com queda nos preços. A Figura 2 ilustra a produtividade parcial (em gráfico de uma linha pode tirar a legenda) da uva fina de mesa no Paraná no período de 1997 a 2003.
9 763 t/ha Produtividade relativa Figura 2. Produtividade (t/ha.) da uva fina de mesa no Paraná, Fonte: dados básicos: DERAL, elaboração dos autores. Durante o período analisado houve um grande aumento na produção por área plantada da fruta. Em 1997 a produtividade relativa foi de 10,85 t/ha., em 2003 esse valor foi de 17,79 t/ha., um aumento de 63,93% na produção por hectare que explica o forte aumento da oferta da uva fina no período analisado. Não foram encontrados dados sobre a demanda da fruta para o estado do Paraná, porém Sato (2004) estimou que a demanda no Brasil aumentou em 9,20% no período de 1997 a Este aumento na demanda é proporcionalmente menor que o aumento da oferta, o que reforça a hipótese de que a redução dos preços se deu devido ao aumento na produção. No caso estudado cabe destacar também que os produtores da uva fina de mesa no Paraná são em sua maioria de pequeno ou médio porte, e apesar de algumas vezes estarem organizados em cooperativas, ainda não apresentam poder de barganha suficiente para negociar direto com as grandes redes varejistas, o que faz do atacado o maior canal de comercialização e acaba aumentando os custos durante o processo de comercialização e reduzindo os preços recebidos pelos produtores. Outro fato que merece ser mencionado são as oscilações nos preços que ocorrem durante cada período de um ano. Essas oscilações se dão devido a períodos de safra e
10 764 entressafra da fruta e são chamadas de variações sazonais. Variações sazonais também são comuns em outros mercados agrícolas Preços no atacado Carrer e Alves (2008) construíram uma série de preços da uva fina de mesa no atacado, visto que não existia nenhuma série disponível para este nível de mercado e para se fazer um estudo completo da comercialização da fruta tal série se tornaria necessária. A série de preços da uva fina de mesa no atacado foi construída com base nos preços e quantidades diárias disponibilizados pela CEASA-PR e está ilustrada na Figura 3. 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 jul/98 jul/99 jul/00 jul/01 jul/02 jul/03 jul/04 jul/05 jul/06 jul/07 Figura 3. Série de preços reais da uva fina de mesa no atacado, (valores corrigidos para jun./08 pelo IGP-DI). Fonte: Carrer e Alves, A série de preços construída está coerente com a teoria econômica, ou seja, apresenta valores maiores que a série de preços pagos ao produtor e valores menores do que a série de preços no varejo. A série também apresenta uma possível tendência de queda ao longo do período analisado. O preço médio foi de R$ 3,11/kg, sendo que o valor máximo foi de R$ 4,98/kg e o mesmo se deu em novembro de O valor mínimo foi de R$ 1,85/kg e
11 765 este se deu nos meses de janeiro e junho de 2005, um ano com preços abaixo da média, porém com possível tendência de recuperação nos preços. As unidades atacadistas são de extrema importância no processo de comercialização da fruta, pois elas são o principal canal de distribuição do produtor para o varejo, já que no caso da uva fina de mesa no Paraná a maioria dos produtores ainda não consegue negociar direto com as redes varejistas. Porém, vale ressaltar que em alguns casos o produto ainda passa pelo intermediário ou mateiro, que compra a fruta de pequenos produtores e revende para as unidades atacadistas. No Paraná as unidades da CEASA se encontram localizadas nos municípios de Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel e Foz do Iguaçu Preços no varejo Completando a análise de preços da uva fina de mesa no Paraná, segue a série de preços no varejo que está ilustrada na Figura 4. De acordo com Carrer e Alves (2008), a série de preços no varejo apresenta comportamento semelhante às séries ao produtor e no atacado, com possível tendência de queda e recuperação a partir do ano de O preço médio no período analisado foi de R$ 4,54/kg, sendo que o valor máximo para a série foi de R$ 6,79/kg e se deu em outubro de 1998 e o valor mínimo foi de R$ 2,86/kg e se deu em julho de Cabe destacar que a oferta no varejo é mais uniforme, pois as redes varejistas recebem frutas também de outras regiões produtoras, o que faz com que os preços sejam um pouco mais estáveis (CARRER; ALVES, 2008).
12 766 8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 jul/98 jul/99 jul/00 jul/01 jul/02 jul/03 jul/04 jul/05 jul/06 jul/07 Figura 4. Série de preços reais da uva fina de mesa no varejo, (valores corrigidos para jun./08 pelo IGP-DI). Fonte: dados básicos: DERAL, elaboração dos autores. Cada vez mais as grandes redes vêm dominando o mercado varejista, o que aumenta consideravelmente o poder de barganha do setor e também a exigência de produtos com maior qualidade. No caso da uva fina de mesa no Paraná, pelo fato dos produtores serem na maioria das vezes de pequeno porte e não estarem suficientemente organizados, dificilmente a negociação ocorre diretamente com o varejo, o que aumenta o número de envolvidos no processo de comercialização, aumentando custos de transação, e possivelmente resultando em preços menores para os produtores e maiores para os consumidores do produto. Segundo SATO (2004), o consumo de uva fina de mesa no Brasil foi de 2,94 kg per capita em 2002, valor baixo se comparado ao consumo europeu, que no mesmo ano foi de 5,9 kg per capita, o que indica existência de potencial de aumento na demanda desde que se melhore as condições de distribuição de renda no país. A mesma autora ainda cita que o consumo de frutas e verduras em geral vem aumentando devido principalmente à crença de que esses produtos fazem bem à saúde. Isso faz com que supermercados adotem estratégias de vendas diferenciadas para estes produtos, alocando um espaço maior e oferecendo conveniências que facilitam o consumo. 5.2 Margens de comercialização
13 767 A Figura 5 ilustra a participação do produtor e a margem total de comercialização da uva fina de mesa no Paraná, de julho de 1998 a junho de É importante mencionar que as margens estão expressas em percentuais, isto é, são margens relativas, o que facilita a compreensão e análise das mesmas. 70,00 60,00 50,00 % 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 jul/98 jul/99 jul/00 jul/01 jul/02 jul/03 jul/04 jul/05 jul/06 jul/07 Participação do produtor Margem Total Figura 5. Evolução da participação do produtor e da margem total de comercialização da uva fina de mesa no Paraná, junho1998 a julho Fonte: Resultados do trabalho. Cabe destacar que a magnitude da margem não é o fator principal para o produtor agrícola. Ao produtor interessa mais o lucro que ele irá auferir no processo de produção, visto que na margem (participação) do produtor estão incluídos todos os custos de produção, dentre os quais pode-se destacar os custos dos insumos, mão-deobra, terra, entre outros. Além disso, os produtores costumam assumir riscos maiores, visto que podem ocorrer quebras de safras devido a fatores climáticos, superproduções levando à redução nos preços, e no caso da uva pode ocorrer a incidência de pragas e doenças que danificam o parreiral. Então, se a participação do produtor aumentar e seus custos aumentarem em magnitude maior que o aumento de sua participação, tal aumento não é vantajoso para o mesmo.
14 768 A Figura 5 mostra que a participação do produtor é maior que as margens relativas do atacadista e do varejista em quase todo o período analisado. Tal fato é plausível, pois como citado no parágrafo acima o produtor arca com todos os custos de produção. Além disso, no caso da uva fina de mesa, não há processamento durante a comercialização. Evidentemente, isto resulta em uma participação do produtor maior já que não é agregado valor ao produto. A participação do produtor apresenta possível tendência de queda a partir do ano de Isto pode ser explicado pelo aumento da oferta tanto no Paraná, como também no Brasil. Segundo dados do IBGE (2008), a produção paranaense aumentou de t em 2000 para t em 2006, ou seja, aumento de aproximadamente 19% na oferta. A produção brasileira aumentou aproximadamente 23% no mesmo período. Vale ressaltar também os aumentos de produtividade dos produtores, não apenas no mercado da uva como também em outros mercados agrícolas. Estes aumentos de produtividade vêm aumentando a competitividade dos produtores agrícolas brasileiros, e se possibilitaram principalmente devido ao processo de modernização da agricultura e aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Como já citado na análise de preços do presente estudo, os produtores paranaenses da uva de mesa obtiveram aumentos de produtividade no período analisado, o que possibilita que os mesmos absorvam redução nos preços e consequentemente na sua participação sem ruptura na oferta, e no caso estudado até aumentando a oferta. De acordo com Barros e Boteon (2002), os produtores paranaenses são em sua maioria de pequeno ou médio porte. Isto contribui para que suas margens sejam reduzidas, já que sendo de pequeno ou médio porte muito provavelmente os produtores não possuem poder de barganha e sofrem pressões dos outros setores resultando em preços menores pagos aos mesmos. Como a uva de mesa não sofre processo de transformação e não tem subprodutos, tais fatores não entram no cômputo das margens. A Figura 6 mostra a evolução das margens relativas do atacadista e do varejista no período estudado. A margem relativa do atacadista também apresenta comportamento de queda durante o período. Até o ano de 2001 a margem relativa do atacadista apresentava-se em alguns momentos acima da margem relativa do varejista. Após 2002 a margem relativa do atacadista se reduz e fica quase sempre abaixo da margem relativa do varejista. Pelo
15 769 fato da uva apresentar alta especificidade temporal devido à sua perecibilidade, os agentes envolvidos no processo de comercialização incorrem em riscos maiores. Isto faz com que os mesmos exijam lucros maiores e provavelmente resulta em margens maiores. Porém, há também o fato da uva não sofrer processo de transformação/industrialização, então não é agregado valor ao produto durante o processo de comercialização. Ficando como função dos agentes atacadistas a compra do produto junto aos produtores e a venda do produto às redes varejistas. 70,00 60,00 50,00 % 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 jul/98 jul/99 jul/00 jul/01 jul/02 jul/03 jul/04 jul/05 jul/06 jul/07 Margem do Atacadista Margem do Varejista Figura 6. Evolução das margens relativas de comercialização do atacadista e do varejista, julho 1998 a junho Fonte: Resultados do Trabalho. A margem relativa do varejista apresenta comportamento crescente, chegando a apresentar-se acima até da participação do produtor em alguns meses. Este aumento da margem relativa do varejista ao longo do período analisado é explicado pela teoria econômica. De acordo com Sato e Bessa (2000), a tendência à concentração no varejo de alimentação se tornou mais acentuada após o Plano Real. A mesma autora cita que após
16 , quando a inflação se estabilizou, observa-se nitidamente a crescente participação das 20 maiores empresas do setor. Como conseqüência do Plano Real, houve também forte ingresso de capital externo no Brasil, principalmente via fusões e aquisições (Investimento Estrangeiro Direto). Tal fenômeno se deu no setor supermercadista brasileiro nos anos 90 levando ao aumento da participação de mercado das 20 maiores empresas do setor ao longo da década. Sato e Bessa (2000) estimam que em 1995 a participação das 20 maiores representava 57,6% da parcela de mercado, em 1998 este número aumentou para 66,9%. Segundo Pinto (2006), a diminuição de empresas na indústria, através de fusões e aquisições das redes menores pelas empresas mais competitivas no mercado cria barreiras à entrada de novos concorrentes e, consequentemente, permite a formação de oligopólios bastante concentrados. Esse processo de concentração no setor varejista aumenta consideravelmente o poder de negociação do setor e também o grau de exigência por produtos de melhor qualidade. Isto resulta em margens mais elevadas no varejo e redução das margens no atacado e da participação do produtor, como constatado no presente estudo. A Tabela 3 mostra as médias anuais das margens de comercialização e da participação do produtor ao longo do período estudado. Na Tabela 3 verfica-se tendência de aumento da margem relativa do varejo enquanto a participação do produtor e a margem do atacado caem. No ano de 1998, de cada R$ 1,00 gasto pelo consumidor da uva fina de mesa, em média R$ 0,50 ficavam com o produtor, R$ 0,28 ficavam com o atacadista e R$ 0,23 ficavam com o varejista. No ano de 2008, de cada R$ 1,00 gasto pelo consumidor, em média R$ 0,44 ficam com o produtor, R$ 0,20 ficam com o atacado e R$ 0,36 ficam com o varejista. A participação do produtor na média do período analisado foi de 46,04%, ou seja, de cada R$ 1,00 gasto pelo consumidor R$ 0,46 ficam com o produtor. A margem relativa do atacadista foi de 22,78% na média do período, sendo assim de cada R$ 1,00 gasto pelo consumidor R$ 0,23 ficam com o atacadista. Por fim, a margem do varejista que foi a única que apresentou possível tendência de elevação foi, em média, 31,17%. Isto indica que de cada R$ 1,00 gasto pelo consumidor final, R$ 0,31 ficam com o varejista.
17 771 Tabela 3. Participação do produtor e margens relativas total, do atacado e do varejo (Médias anuais). Ano Pp (%) Ma (%) Mv (%) MT (%) ,39 27,63 21,98 49, ,35 22,30 25,35 47, ,06 31,14 23,80 54, ,07 29,50 28,43 57, ,81 17,98 35,20 53, ,42 19,15 35,43 54, ,01 20,55 34,44 54, ,35 23,92 31,73 55, ,97 19,50 33,52 53, ,86 19,31 36,82 56, ,17 19,62 36,21 55,83 Média 46,04 22,78 31,17 53,96 Fonte: Resultados do trabalho. 6. Conclusões Os resultados do presente trabalho indicam para a redução da participação do produtor e da margem relativa do atacado. A margem relativa do varejo apresenta padrão crescente, sendo que tal fato é explicado pela tendência de concentração no mercado varejista após o Plano Real e, conseqüentemente, aumentos no poder de barganha do setor e das margens. O produtor da uva fina de mesa conseguiu aumentar substancialmente a produção no período analisado mesmo com a redução de sua participação, a principal explicação para este fato é o aumento de produtividade que possibilita redução nos custos de produção e torna possíveis aumentos de oferta mesmo com reduções nos preços. No tocante às margens de comercialização conclui-se que a participação do produtor na média do período analisado foi de 46,04%, ou seja, de cada R$ 1,00 gasto pelo consumidor R$ 0,46 ficam com o produtor. A margem relativa do atacadista foi de 22,78% na média do período, sendo assim de cada R$ 1,00 gasto pelo consumidor R$ 0,23 ficam com o atacadista. Por fim, a margem do varejista que foi a única que
18 772 apresentou possível tendência de elevação foi, em média, 31,17%. Isto indica que de cada R$ 1,00 gasto pelo consumidor final, R$ 0,31 ficam com o varejista. As séries de preços apresentaram preços altos no início (1998 e 1999) com possível tendência de queda até o ano de 2005 e possível recuperação nos preços a partir deste ano. Uma das explicações para tal fato foi o aumento da produção possibilitado pelo aumento da produtividade no período. Os preços apresentam variações consideráveis durante cada ano, por isso se torna necessário um estudo sobre a sazonalidade dos mesmos. Por fim, cabe destacar que se considera bem sucedido processo de construção da série no atacado, aspecto mais inovador do presente estudo. Tanto as séries de preços como as margens de comercialização encontram-se dentro dos padrões/resultados esperados. Referências BARROS, G.S.C. Economia da Comercialização Agrícola. CEPEA/LES- ESALQ/USP. Piracicaba, SP. 221 p., BARROS, M.C.; BOTEON, M. Avaliação do desempenho regional dos principais pólos produtores de uva no Brasil. In: Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, 40., 2002, Passo Fundo. Anais... Passo Fundo: SOBER, CD ROM. CARRER, M.J.; ALVES, A.F. Sazonalidade dos preços da uva fina de mesa no Paraná. In: Semana do Economista/UEM, 23., 2008, Maringá. Anais... Maringá: Semana do Economista, Disponível em < Acesso em 03 outubro CENTRAIS DE ABASTECIMENTO DO PARANÁ S.A. CEASA/PR. Volumes comercializados nas unidades atacadistas. Disponível em < Acesso em: 25 setembro 2007.
19 773 CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA, Disponível em: < Acesso em: 17 agosto 2006 COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL, Disponível em: < em: 17 agosto 2006 FAO. Statistical Databases. Disponível em < Acesso em: 03 novembro INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE Banco de dados agregados: Produção agrícola municipal Disponível em < Acesso em: 10 abril MELLO, L.M.R. Atuação do Brasil no mercado internacional de uvas e vinhos Panorama Disponível em < Acesso em: 19 novembro MELLO, L.M.R. Panorama da Vitivinicultura brasileira e mundial Panorama 2008, Disponível em < Acesso em: 01 agosto PINTO, C.D. Concentração de mercados e barreiras à entrada: Uma análise do setor de supermercados de Salvador. Revista Desenbahia, BA, v. 3, n. 5, dez SANTOS, M.A.S; REBELLO, F.K.; LOPES, M.L.B; SILVA, M.N.A. Relações de troca, sazonalidade e margens de comercialização de carne de frango na Região Metropolitana de Belém no período In: Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, 44., 2006, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SOBER, CD ROM. SATO, G.S. Análise do consumo de uva para mesa no Brasil. Informações Econômicas, SP, v. 34, n.7, jul.2004.
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