APELADO: FAZENDA NACIONAL RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT - 1º TURMA

Transcrição

1 PROCESSO Nº: APELAÇÃO RELATÓRIO Trata-se de recurso de Apelação interposto por HABITARE WINDOW FASHION LTDA contra sentença proferida pelo Juízo da 21ª Vara Federal de Pernambuco que, em sede de mandado de segurança, denegou a ordem pretendida, consubstanciada no pedido de expedição de CND, já que, segundo a autoridade coatora, não teria sido cumprida a obrigação acessória de apresentação das chamadas "Declarações de Débitos e Créditos Tributários Federais" - DCTF. Alega a apelante que a negativa de fornecimento da CPEN com base exclusivamente na não apresentação de DCTF e DIPJ, com fundamento em mera Instrução Normativa, é ato que se afigura ilegal e arbitrário. Ademais, defende ser inaplicável à hipótese dos autos o precedente invocado na sentença (REsp /RJ), por se tratar de matéria diversa da discutida nestes autos (ausência de entrega de GFIP x ausência de entrega de DCTF). Contrarrazões pela Fazenda Nacional. Éo relatório. FP PROCESSO Nº: APELAÇÃO VOTO Entendeu o juízo de piso pela ausência de direito líquido e certo da impetrante quanto à obtenção de Certidão Negativa de Débitos, uma vez que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu, no julgamento do REsp /RJ, submetido ao rito dos recursos representativos de controvérsia, no sentido de que o descumprimento de obrigação acessória legitima a recusa do Fisco no fornecimento da Certidão Negativa de Débitos - CND.

2 Ocorre que, naquele julgado, a obrigação descumprida dizia respeito à entrega de GFIP, para a qual existe legislação específica (art. 32, IV e 10 da Lei nº 8.212/91) impeditiva da expedição pretendida. Confira-se: Art. 32. A empresa é também obrigada a: (...) IV - declarar à Secretaria da Receita Federal do Brasil e ao Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, na forma, prazo e condições estabelecidos por esses órgãos, dados relacionados a fatos geradores, base de cálculo e valores devidos da contribuição previdenciária e outras informações de interesse do INSS ou do Conselho Curador do FGTS; (...) 10. O descumprimento do disposto no inciso IV do caput deste artigo impede a expedição da certidão de prova de regularidade fiscal perante a Fazenda Nacional. No caso dos autos, em que a pessoa jurídica deixou de apresentar Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais-DCTF's referente ao período de agosto a dezembro/2012, entendo não existir óbice para que o Fisco emita a almejada certidão de regularidade fiscal, pois apenas se entregue, pelo contribuinte, declaração à autoridade fiscal informando-lhe o valor do tributo devido, nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação, é que se dá a imediata constituição do crédito tributário. Não havendo a apresentação da DCTF, caberia ao Fisco promover o lançamento de ofício ante a omissão do contribuinte, nos termos do art. 149, II, do CTN. Logo, não tendo sido constituído devidamente o crédito, legítimo o direito à certidão negativa de débito. Nesse sentido: TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CND. ART. 205 DO CTN. AUSÊNCIA DE ENTREGA DAS DCTFS. NECESSIDADE DE CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. AUSÊNCIA DE LANÇAMENTO PELO FISCO. INEXISTÊNCIA DE ÓBICE À EXPEDIÇÃO DA CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS. ILEGALIDADE DA RECUSA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 1 - Mandado de segurança que visa à expedição de Certidão Negativa de Débito, sob o fundamento de que a ausência de apresentação da DCTF não impede a expedição da certidão, uma vez que o crédito tributário não foi devidamente constituído. 2 - A certidão negativa de débito, em Direito Tributário, é o meio pelo qual se prova a quitação de determinado tributo, é o documento que busca informar a real situação fiscal do contribuinte e deve espelhar a realidade do fato certificado - Art. 205 do CTN. 3 - O descumprimento de obrigação acessória, como a falta de apresentação DCTF, não

3 obsta a expedição de Certidão Negativa de Débitos, quando o crédito não foi devidamente constituído. 4 - Apenas o procedimento administrativo do lançamento, seja em relação à falta de recolhimento do tributo ou em face do descumprimento da obrigação acessória, é que faz nascer o crédito tributário. 5 - Resta suficientemente comprovado nos autos que o óbice à expedição de CND pela Administração Tributária se deu pela omissão da requerente em apresentar as Declarações de Contribuições e Tributos Federais - DCTF s referentes ao primeiro, segundo, terceiro e quarto trimestres de 2001, e ao primeiro, segundo, terceiro e quarto trimestres de Não apresentadas as DCTF s, e não havendo notícia nos autos de que o Fisco constituiu o crédito tributário, mediante lançamento, não há qualquer óbice à expedição da Certidão Negativa de Débitos. 7 - Apelação da Fazenda Nacional e remessa oficial improvidas. (PROCESSO: , AC418805/SE, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGÉRIO FIALHO MOREIRA, Primeira Turma, JULGAMENTO: 22/04/2010, PUBLICAÇÃO: DJE 30/04/ Página 138) Registro, ademais, o seguinte julgado no STJ: PROCESSUAL CIVIL TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ERRO DE FATO. OCORRÊNCIA. ACOLHIMENTO DOS ACLARATÓRIOS. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. AUSÊNCIA DE LANÇAMENTO. DIREITO À CND. PRECEDENTES DE AMBAS AS S QUE COMPÕEM A PRIMEIRA SEÇÃO. 1. Cuida-se de embargos de declaração opostos pela Fazenda Nacional contra acórdão que negou provimento agravo regimental para manter decisão monocrática que aplicou a Súmula 284 do STF, ao entendimento de que o apelo especial é deficiente por não terem sido indicados os dispositivos de lei federal que foram violados pelo julgado regional. 2. É possível, em sede de embargos de declaração, a correção de erro de fato, especialmente, se o provimento embargado partir de premissas distantes da realidade delineada no processado. Na espécie, a decisão singular, confirmada pelo Colegiado da Primeira Turma, fundamentou-se em premissa fática equivocada, pois, efetivamente, nas razões do recurso especial de fls. 179/184, a recorrente apresentou de forma específica os dispositivos de lei federal que afirma violados pelo acórdão do TRF da 4ª Região. Ante tal constatação, deve-se afastar o óbice da Súmula 284 do Supremo Tribunal Federal. 3. O acórdão regional apresentou os seguintes fundamentos: a) de acordo com a inteligência do art. 205 do CTN, somente a partir da formalização do crédito tributário é que a autoridade fiscal poderá recusar-se ao fornecimento de certidão negativa de débitos; e b) na espécie, o simples descumprimento de obrigação acessória (entrega de DCTF e DIPJ) não caracteriza óbice à expedição da CND vindicada.

4 4. É entendimento deste Tribunal de a mera alegação de descumprimento de obrigação acessória, no caso, entrega de DCTF e DIPJ, não legitima a recusa ao fornecimento de certidão de regularidade fiscal (CND), mormente se não constatada a existência de débito vencido em favor da Fazenda, devidamente constituído. Precedentes: (REsp /SP, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 5/11/2008, REsp /SC, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 7/8/2008, Edcl No AgRg no Ag /SC, Rel. Min. Humberto Martins, DJ de 24/06/2008, REsp /RS, Desta Relatoria, DJ de 5/3/2009). 5. Embargos de declaração opostos pela Fazenda Nacional acolhidos para afastar a aplicação da Súmula 284 do STF e, na sequência, negar provimento ao recurso especial." (STJ, Primeira Turma, EARESP , Rel: Min. Benedito Gonçalves, DJE DATA:03/12/2009.) Dessa maneira, inexistindo débitos pendentes de regularização em nome da apelante, é injusto privá-la de uma certidão que, sendo-lhe por direito devida, é indispensável para o regular desempenho das suas atividades. Pelo exposto, dou provimento ao recurso de apelação para conceder a segurança pretendida, reconhecendo o direito da impetrante de obter a CND/CPEN, se outro motivo não houver que implique em inadimplência perante o Fisco Federal. Écomo voto. PROCESSO Nº: APELAÇÃO TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. APELAÇÃO. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. ENTREGA DE DCTF. RECUSA DE EMISSÃO DE CND/CPEN. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. RECURSO PROVIDO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Recurso de Apelação interposto por HABITARE WINDOW FASHION LTDA contra sentença proferida pelo Juízo da 21ª Vara Federal de Pernambuco que, em sede de mandado de segurança, denegou a ordem pretendida, consubstanciada no pedido de expedição de CND, já

5 que, segundo a autoridade coatora, não teria sido cumprida a obrigação acessória de apresentação das chamadas "Declarações de Débitos e Créditos Tributários Federais" - DCTF. 2. No julgamento do REsp /RJ, submetido ao rito dos recursos representativos de controvérsia, o C. STJ tratou de descumprimento de obrigação acessória referente à entrega de GFIP, para o qual existe legislação específica (art. 32, IV e 10 da Lei nº 8.212/91) impeditiva da expedição pretendida. 3. No caso dos autos, em que a pessoa jurídica deixou de apresentar Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais - DCTF's referente ao período de agosto a dezembro/2012, não existe óbice para que o Fisco emita a almejada certidão de regularidade fiscal, pois apenas se entregue, pelo contribuinte, declaração à autoridade fiscal informando-lhe o valor do tributo devido, nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação, é que se dá a imediata constituição do crédito tributário. 4. A mera alegação de descumprimento de obrigação acessória, no caso, entrega de DCTF e DIPJ, não legitima a recusa ao fornecimento de certidão de regularidade fiscal (CND), mormente se não constatada a existência de débito vencido em favor da Fazenda, devidamente constituído (STJ, Primeira Turma, EARESP , Rel: Min. Benedito Gonçalves, DJE DATA:03/12/2009). 5. Provimento ao recurso de apelação para conceder a segurança pretendida, reconhecendo o direito da impetrante de obter a CND/CPEN, se outro motivo não houver que implique em inadimplência perante o Fisco Federal. FP Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima mencionadas, ACORDAM os Desembargadores Federais da Primeira Turma do TRF da 5a. Região, por unanimidade, em dar provimento à apelação, nos termos do relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte do presente julgado.