PENSIONAMENTO DO COMPANHEIRO SOBREVIVENTE

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1 PENSIONAMENTO DO COMPANHEIRO SOBREVIVENTE Rénan Kfuri Lopes Hoje não há mais dúvida acerca da proteção concedida pelo Poder Público nas relações estáveis, retirando-a de um status de parias sociais, e fixando a união estável no calibre de uma norma constitucional, ex-vi art.226 da Carta Magna, in verbis: Art A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. omissis... 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Quem opta por manter uma relação afetiva, com intuito de compor a sua base familiar tem amparo na Norma Ápice, e no plano infraconstitucional, o art.226 da CF é regulamentado pela dicção da Lei nº 9.278/96, que estabelece com clareza em seu art. 1º, in litteris: Art. 1º É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família.

2 Diante de tais argumentos, forçosa deve ser a conclusão de que somente uma visão arcaica e preconceituosa pode justificar a intenção de se negar o direito à pensão por morte à companheira do servidor falecido, fundados em insípidos argumentos que destoam com o regramento maior. Inclusive, vem a lume festejada decisão do colendo Superior Tribunal de Justiça, pontificando que o homossexual tem direito à pensão por morte deixada por seu companheiro, pondo à mostra que o Judiciário brasileiro não está contaminado pelo preconceito torpe e obtuso que, muitas vezes, serve de argumento para as mais vis e variadas violências cometidas, sejam elas de ordem física, sejam de ordem moral. Com efeito, decidiu a Corte da Legalidade, na oportunidade, ser discriminatório pretender-se excluir parte da sociedade aqueles que têm relações homoafetivas da tutela do Poder Judiciário sob o argumento de não haver previsão legal para a hipótese 1. O que vemos no particular, portanto, é que a sociedade busca caminhar rumo ao futuro, afastando de suas bases posturas incondizentes com a necessidade de respeito aos direitos individuais, que encontra guarida na ordem constitucional. Deve ainda ser visto, por outro lado, que a norma regulamentar detrás transcrita em nenhum momento estipula um prazo temporal mínimo de convivência familiar para a 1 Trecho extraído da informação divulgada no sítio eletrônico do STJ.

3 caracterização da união estável, restringindo-se a determinar suas características de duradoura, ininterrupta e pública. E provada a união estável através de documentos, escrituras públicas, sentenças judiciais, declarações e outros com força probante séria e confiável, o companheiro sobrevivente tem direito a receber pensionamento, como se fosse civilmente casado, conforme reiteradas decisões pátrias: ADMINISTRATIVO.SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. PENSÃO POR MORTE. COMPANHEIRA. UNIÃO ESTÁVEL. ART. 226, 3º, da CF/88. ARTS. 77 E 78 DA LEI Nº 5.774/71. SÚMULA Nº 253 DO TFR. RATEIO. TERMO INICIAL. 1. À luz da ordem constitucional vigente, a convivência more uxório foi elevada à condição de união estável, reconhecida esta relação, no art. 226, 3º, da CF/88, como uma entidade familiar. 2. "Provada a união estável entre o servidor e sua companheira, a esta assegura-se o direito à pensão por morte daquele, independentemente de designação expressa, que pode ser suprida pela demonstração de vida em comum" (cf. STJ, RESP /PE, 6ª. Turma, Rel. Ministro Vicente Leal, DJU, II, , p. 360). 3. A data inicial para o pagamento do benefício é a data do requerimento efetuado na via

4 administrativa, conforme pacífica jurisprudência deste Tribunal. 4. Apelação da autora provida. Apelação da União e remessa improvidas. (AC /MG; Relator convocado: JUIZ FEDERAL FLÁVIO DINO DE CASTRO E COSTA, DJ de 09/06/2005, p.62) **** CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - MANDADO DE SEGURANÇA - PENSÃO POR MORTE DE MILITAR - COMPANHEIRA - RATEIO COM EX- MULHER - ARTS. 77 E 78 DA LEI N /71 - LEI N /80, ART. 50, PARÁGRAFO 3º - SÚMULA 253 DO TFR - ART. 226, PARÁGRAFO 3º DA CF/88 - SENTENÇA CONCESSIVA MANTIDA. 1. Comprovada a convivência more uxorio e a dependência econômica, faz jus a autora à pensão por morte de servidor militar em concurso com a ex-esposa, consoante entendimento expresso na Súmula n. 253 do extinto TFR. 2. A falta de designação da companheira como beneficiária nos assentamentos funcionais do servidor, nos termos do 3º do art. 50 da Lei n /80, não obsta a percepção do benefício, visto que o parágrafo 4º do artigo 226 da Constituição reconhece como entidade familiar a

5 união estável entre homem e mulher, independentemente de designação de beneficiário, assegurando-lhe especial proteção. 3. Precedente do TRF 1ª Região (AC /DF, Rel. Des. Federal Luiz Gonzaga Barbosa Moreira, 1ª Turma, DJ 02/12/2002 p. 19). 4. Apelação e remessa desprovidas. (AMS /DF; Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ AMILCAR MACHADO, DJ de 11/07/2005, p.07) Assim, não há dúvidas que na união estável o companheiro sobrevivente tem direito a receber pensão a que faz jus sua mulher e filhos menores, como se fosse civilmente casado. Sub censura. Setembro de Rénan Kfuri Lopes, adv.