A cadeia solar no Brasil: o que esperar?
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- Baltazar Monteiro César
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1 Claudio Loureiro Engenheiro pela Escola Politécnica da USP e MBA pela Cranfield School of Management reino Unido. Como executivo do setor, passou pela Canadian Solar, GE e pelo Conselho da ABsolar A cadeia solar no Brasil: o que esperar? O setor solar fotovoltaico recebeu de forma efusiva a confirmação pelo Ministério de Minas e Energia os dois novos leilões fotovoltaicos em agosto e novembro de 2015 e as movimentações já se iniciam para cadastramento de projetos e sua habilitação. Esta é uma excelente notícia, pois demonstra o compromisso com a fonte no longo prazo e permite aos investidores do setor vislumbrar o desenvolvimento no Brasil. Entretanto, as mesmas questões após o leilão de Outubro de 2014 continuam presentes e, mencionando Carlos Evangelista, colega do setor, pelas publicações em mídia hoje teríamos entre 12 e 15 fábricas de módulos em operação no Brasil, o que ainda não corresponde aos fatos. Assim sendo, a pergunta permanece: quem se estabelecerá e qual a capacidade a ser instalada no Brasil? Isto se dá pois nosso país definitivamente em muito difere de outras economias onde a tecnologia fotovoltaica foi rapidamente adotada; isto não é em absoluto um julgamento e deve ser contextualizado com base em nosso histórico energético e seus fundamentos. Devese considerar, entretanto, que o aprendizado de investidores e fornecedores estrangeiros não se dá de forma imediata. Em suma, as decisões tendem a demandar mais elaboração e negociação entre entes públicos como privados em função de experiências anteriores em países onde existe maturidade no mercado, o que traz à tona uma série de questões que necessitam ser endereçadas de forma ágil, como as levantadas abaixo. Qual a demanda no setor fotovoltaico de grande escala e como isso afeta os fornecedores? Em outubro de 2014 foram contratados aproximadamente 1 GWp em capacidade instalada fotovoltaica a ser conectada em outubro de 2017;
2 Os leilões anunciados contratarão para conexão em agosto de 2017 e novembro de 2018; Podemos considerar o início de envios de módulos nacionais a partir de Janeiro de 2016 com finalização em Junho de 2017, ou seja, 18 meses de produção local; Caso o leilão de agosto/2015 acrescente 1 GWp à demanda para 2017, a capacidade instalada deverá ser de aproximadamente 1.3 GWp/ ano já em janeiro de 2016; Considerações para o curto prazo: o Os fabricantes de módulos deverão decidir e comprometer-se ainda no 2º trimestre deste ano com sua capacidade futura; o Para a demanda acima, pode-se estimar que de 4 a 6 fabricantes terão que se instalar no país nos próximos meses. No momento em que este artigo era elaborado, apenas um havia publicamente confirmado sua intenção; o As decisões destes integrantes da cadeia podem ou garantir capacidade para os leilões ou deixar a alguns participantes a importação como única alternativa; Como o PADIS apoiará o estabelecimento da cadeia? PADIS Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays O PADIS Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays - é um programa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior que visa apoiar a instalação da indústria de semicondutores no país e permite a isenção de tarifas/ impostos em contrapartida de investimento em P&D; Aplicar seus benefícios na cadeia fotovoltaica reduziria de forma considerável os custos unitários dos equipamentos, o que permitiria não somente a mais rápida adoção da tecnologia mas também a maior competitividade do produto montado no país em caso de potenciais exportações; Os prazos para inclusão de fornecedores no PADIS tende a ser exíguos dado o atual cronograma estabelecido para os primeiros leilões. Desta forma, o impacto de variações em preço, câmbio e tarifas/ impostos tende a ser significativo para os projetos já contratados. Pontos a serem considerados: o A inclusão fast track de fornecedores no programa deve ser considerada pelos órgãos responsáveis para assegurar benefícios já no primeiro trimestre de 2016; o Extensão do programa para componentes complementares como inversores, cabos e estruturas em adição aos módulos fotovoltaicos,
3 Qual as consequências de certificações na adoção da tecnologia? Originalmente consideradas somente para módulos fotovoltaicos, em 1º de fevereiro entrou em caráter mandatório a certificação de inversores com potência inferior a 10 kwp; A atual disponibilidade de laboratórios acreditados tem sido levantada por fabricantes, dadas restrições e gargalos no processo de certificação dos inversores; informações de mercado mencionam até 6 meses para conclusão dos testes para os que buscarem certificação na data deste artigo; Além de restringir a importação de inversores até o devido registro, a certificação tem sido base para a não aprovação pelas distribuidoras de sistemas fotovoltaicos em fase final de conexão cujos equipamentos já encontram-se nacionalizados; Os custos de certificação de módulos e inversores aliados à obrigatoriedade de execução por modelo e não por família esclarecendo, potências específicas como 250/255/260 Wp e não 60 células para módulos aumenta significativamente os custos dos fabricantes e a restrição na oferta de modelos Impactos para a adoção da geração distribuída o Custos adicionais no CAPEX reduzindo a taxa de retorno dos projetos; o Restrição na oferta de modelos e tecnologia, privilegiando unidades de mais baixo custo e de menor conteúdo tecnológico; o Lenta adoção em 2015, dado que autorizações para conexão têm demandado a certificação mandatória; o Redução na contribuição da GD no volume a ser manufaturado no país; Como o preço teto a ser definido nos próximos leilões pode influenciar a localização? Recordando o leilão de 2014, é importante lembrar que foi o mais longo da história com um alto deságio de aproximadamente 18%, levando a reduzidas taxas de retorno; Todos os projetos consideram a vigente redução da TUSD/ TUST para sistemas instalados até 2017, entretanto não há formalização da extensão deste benefício; A limitação da participação do Fundo Clima deve levar a incrementos nas taxas de juros do BNDES; Módulos locais certamente terão influência do Custo Brasil, o que tem sido estimado entre 25 e 30% por questões cambiais, tributárias e de volume em comparação aos preços internacionais; Assim sendo: o Seria de se esperar que o preço teto para os leilões de 2015 sejam mais altos que em 2014, inclusive com base no histórico de leilões eólicos e na atual conjuntura energética;
4 o O incremento do preço teto em 2015 viria a compensar os custos adicionais na modelagem de projetos, sendo que o ROI dos projetos não de aumentar significativamente vis-à-vis 2014; o O deságio nos próximos certames será crítico para a viabilização da tecnologia; enquanto preços reduzidos beneficiam a sociedade, taxas de retorno reduzidas tendem a afastar empreendedores no setor. As considerações acima não contemplam todas as tendências que influenciarão o estabelecimento da cadeia fotovoltaica no país, mas certamente estão entre as mais relevantes para os investidores da cadeia que consideram seu estabelecimento no Brasil. O esforço para o sucesso é multidisciplinar e depende do alinhamento entre diversos entes públicos e privados. Se por um lado órgãos federais - como as pastas de Minas e Energia, Ciência e Tecnologia e Industria, Desenvolvimento e Comércio Exterior e demais como ANEEL, EPE, BNDES - devem estabelecer uma pauta coerente e uníssona de forma a transmitir aos entes privados a segurança no desenvolvimento da cadeia, também é básico e necessário pelos investidores e participantes globais o seu aprofundamento e entendimento das questões e modus operandi do sistema elétrico brasileiro. Longe de querer apresentar respostas, mas sim promover o levantamento de questões e debate, esperemos que os próximos meses tragam uma base sólida para que nossas jabuticabas solares cresçam e se mantenham firmes nas próximas safras. The Brazilian PV supply chain: what s next? The confirmation of the upcoming PV auctions for August and November 2015 have positively affected the market and are a clear message to the market: Brazil has committed to PV as a key energy source for the upcoming years. This however creates bottlenecks, for as we know, no module manufacturing facilities are yet confirmed in order to supply the contracted capacity. Therefore, the million-dollar question: who will come and how much capacity will be installed? This is a particularity of our country, as we significantly differ from other economies that have adopted PV prior to us; this is not a judgement, but helps put into perspective our Energy matrix and it background. The point is that investor s and supplier s learning curves are not as fast, therefore decisions tend to take a while longer and demand more interaction amongst public and private entities, bringing several questions that need to be addressed. What is the utility scale Market size and how would it affect suppliers? With 1 GWp contracted in October 2014 and, let s say, an additional 1 GWp to be auctioned in August 2015, the total capacity to be delivered in October 2017 would add up to 2 GWp; The volume above would need to be delivered within 18 months and no single player would invest in such capacity; it could therefore be expected that at least 4 to 6 module manufacturers move into Brazil;
5 In order to start shipments in January 2016, decisions must be taken during the second quarter of 2015 and, so far, only one major player has publicly disclosed the commitment to local manufacturing; How will PADIS support the localization process? The PADIS Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays is a program from the Ministry of Development, Industry and Trade that targets the development of the semiconductor industry in Brazil and could significantly benefit the PV chain by reducing tariffs/ taxes/ duties; By investing in local R&D projects, the beneficiary of the program can be exempt of heavy burdens and speed-up the adoption of PV by offering components at a lower cost; The application, however, is time consuming and suppliers might not be able to benefit from it for the early projects; What are the impacts of component certification? As of February 1 st 2015, not only PV modules but also inverters up to 10 kwp capacity must be certified under Brazilian Technical regulations prior to be connected to the grid. As there is a backlog due to accredited laboratories availability, suppliers have reported a waiting list of 6 months in order to have the tests performed; The mandatory certification has become sine qua non factor so utilities grant the connecting authorization for any PV system; This leads to slower adoption on PV rooftop/ commercial markets and therefore a lower volume contribution to the prospective local manufacturers. How will the cap price behave in the upcoming auctions? Recapping: last year s auction discount from BRL 262 to BRL 220 on average was not expected and winning projects are likely running on single digit return. On top of it, current scenario displays currency exchange pressures, reduced economies of scale and the influence of tariff barriers; It might also be considered that an increase in transmission and distribution tariffs, as well as an impact in BNDES interest rates will impact financials for 2015 auctions in a different manner when compared to 2014; In that sense, we should expect an increase in cap price for PV auctions, what is in line with wind experience; the concern is in the discount, since lower prices will definitely lead to anxiety amongst investors and entrepreneurs. Far from providing answers, let s expect that the interaction amongst the several stakeholders, both public and private, will lead to solid and sustainable base to allow our jabuticabas to grow year after year.
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