PARECER Nº / PRC MANDADO DE SEGURANÇA Nº 30326/DF PROCEDÊNCIA : DISTRITO FEDERAL RELATOR : MIN

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1 PARECER Nº / PRC MANDADO DE SEGURANÇA Nº 30326/DF PROCEDÊNCIA : DISTRITO FEDERAL RELATOR : MIN. JOAQUIM BARBOSA IMPETRANTE : LILIAN MOURA DA SILVA E OUTRO(A/S) IMPETRADO : PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO LITISCONSORTE: UNIÃO I Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado por servidoras públicas federais para anular o acórdão n 2161/2005 do Tribunal de Contas da União, que teria determinado a suspensão do pagamento de parcela incorporada - referente ao Plano Bresser, no percentual de 26,06% - por força de decisão judicial transitada em julgado. 2. Relatam as Impetrantes que, no mês de outubro de 2010, foram comunicadas da decisão impetrada pelos dirigentes do INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO IFES/ES, e deixaram de receber os respectivos valores.

2 2 3. Alegam, além da decadência - à luz do artigo 54 da Lei nº 9.784/1999 -, a nulidade da decisão da Corte de Contas por ofensa aos princípios constitucionais da coisa julgada, do direito adquirido, da segurança jurídica, da boa-fé e da irredutibilidade salarial. 4. O Tribunal de Contas da União prestou informações, manifestando-se, preliminarmente, pelo não cabimento e pela decadência do writ, e, no mérito, pela legalidade da decisão impetrada por não ter a decisão judicial estabelecido explicitamente a manutenção do pagamento do citado percentual, após subsequente reajuste salarial, salientando que os pagamentos oriundos de planos econômicos não se incorporam aos salários, tendo natureza de antecipação salarial e que houve a absorção da parcela pelos posteriores reajustes dos servidores federais. 5. A liminar foi indeferida, nestes termos: Verifico que não está presente o fumus boni iuris, uma vez que as situações individuais anteriormente submetidas ao crivo do judiciário não foram abrangidas pela decisão do TCU impugnada neste mandado de segurança. Aplica-se, em virtude da generalidade e da abstração do ato do TCU, a súmula 266 desta Corte: Não cabe mandado de segurança contra lei em tese. Ademais, a inexistência, nos autos, de cópia do documento que teria imposto às impetrantes a ordem de devolução dos valores parece afastar, também, o periculum in mora. Ante o exposto, indefiro a liminar. 6. A União requereu e foi aceito seu ingresso no feito. 7. É o relato do necessário.

3 3 II 8. O writ não deve ser conhecido, pois o caso não se enquadra na competência original do Supremo Tribunal Federal, fixada no art. 102, I, d, da Constituição da República. 9. Da análise dos autos, constata-se que a decisão do TCU determinou à Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, de forma genérica, sem analisar especificamente a situação das Impetrantes, fosse: a) alterado o sistema Siape a fim de que as rubricas referentes à sentenças judiciais sejam pagas em valores nominais, e não com base na aplicação contínua e automática de percentuais parametrizados sobre todas as parcelas salariais do servidor, afastando a incidência daquelas rubricas sobre vantagens criadas por novos planos de carreira após o provimento judicial; e, b) recalculado, em cada caso, o valor nominal deferido por sentença judicial relativa aos planos econômicos, acrescentandolhe apenas os reajustes gerais de salário do funcionalismo e subtraindo as incorporações decorrentes de novas estruturas remuneratórias, até a absorção integral da vantagem. 10. Na realidade, a apuração dos supostos valores e a alegada supressão das parcelas partiram dos dirigentes do IFES/ES, o que afasta a competência do STF. Nesse sentido: DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança preventivo em que se alega, em síntese, violações ao princípio da irredutibilidade de vencimentos e ao princípio da coisa julgada (arts. 37, XV; e 5º, XXXVI, da Constituição). Segundo a impetrante, a ordem para devolver valores deferidos por decisão judicial (URP de 26,05%), muito embora lhe tenha sido imposta em ato do Terceiro Comando Aéreo Regional (ofício 86/SPC/2385, de , protocolo Comaer / ), tem como fundamento o acórdão 2161/2005 do Tribunal de Contas da União (TCU), o qual determinou à Secretaria de Recursos Humanos do

4 Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão a alteração do sistema de pagamentos para que rubricas referentes às sentenças judiciais observassem valores nominais. Verifico, preliminarmente, que as informações prestadas pelo TCU indicam que o ato coator daquele tribunal tem caráter genérico, uma vez que as determinações contidas no referido acórdão 2161/2005 aplicam-se à Administração Pública Federal como um todo, cabendo à Secretaria de Recursos Humanos apenas o papel de executor das determinações contidas naquele ato. As situações individuais anteriormente submetidas ao crivo do judiciário não foram abrangidas pela decisão do TCU impugnada neste mandado de segurança. Aplica-se, em virtude da generalidade e da abstração do ato do TCU, a súmula 266 desta Corte. O caráter genérico do acórdão 2161/2005 é confirmado com a leitura atenta do ofício do Terceiro Comando Aéreo Regional. A decisão de incluir a impetrante na ordem de instauração de processo administrativo para devolução de valores tem origem em uma série de análises promovidas pelos órgãos competentes sobre as folhas de pagamentos de servidores que recebem parcela oriunda de decisão judicial. Essas análises, que se enquadram no que se costuma chamar de controle interno, podem ser identificadas na nota informativa 1088/10/COGJU-MP, do Ministério do Planejamento e no ofício 604/PP3-5/1597, de , protocolo Comaer / , oriundo da Subdiretoria de Pagamento de Pessoal do Comando da Aeronáutica. A leitura desses documentos, que chegaram à impetrante por meio do ofício do Terceiro Comando Aéreo Regional, deixa claro que a motivação imediata para que fosse promovida a revisão dos valores pagos a título de decisões judiciais transitadas em julgado foi a prolação, pela Segunda Câmara do TCU, do acórdão 6360/2009, que versou sobre aposentadorias de servidores do Comando da Aeronáutica. Com base nesse acórdão de 2009 e nas informações obtidas em consulta ao sistema eletrônico próprio mantido pelo Ministério do Planejamento, a Subdiretoria de Pagamento de Pessoal do Comando da Aeronáutica concluiu que a impetrante também estava em situação irregular quanto à percepção de rubricas de decisão judicial e, antecipando-se ao processo de análise da aposentadoria pelo TCU a impetrante encontra-se na ativa, determinou que fossem corrigidos os pagamentos de acordo com a lógica da vantagem pessoal, ou seja, respeitando-se os valores nominais que tais rubricas possuíam quando da sua concessão e observando-se, neste processo, o princípio do contraditório. Os fatos acima relatados afastam liminarmente a existência de direito líquido e certo da impetrante contra o acórdão 2161/2005 do TCU, uma vez que a decisão de instaurar processo administrativo para a devolução de valores tem origem no Comando da Aeronáutica, por provocação do Ministério do Planejamento. Uma vez que este Supremo Tribunal Federal não possui competência para julgar o ato dessas autoridades que eventualmente permaneceriam no pólo passivo após a exclusão do presidente do TCU, a conclusão que se chega é que a impetração não pode ser conhecida por esta Corte. Ante o exposto, nego seguimento ao mandado de segurança. Publique-se. Arquive-se. Brasília, 15 de dezembro de 2010 Ministro J OAQUIM B ARBOSA Relator Documento assinado digitalmente (MS 30004, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, julgado em 15/12/2010, publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG 17/12/2010 PUBLIC 01/02/2011). 4

5 5 11. Na hipótese de ser esta preliminar superada, o mandamus poderá ser conhecido, pois não se observa a decadência alegada pelo Impetrado. Com efeito, na exordial, foi relatado que as Impetrantes tomaram conhecimento da decisão do TCU apenas em outubro de 2010, e tal fato não foi impugnado. Além disso, verifica-se que a suspensão do pagamento da parcela reclamada ocorreu no referido mês, a partir do quinto dia útil, com os vencimentos relativos a setembro daquele ano. 12. No mérito, não assiste razão às Impetrantes porque o v. Acórdão n 692/92 do TRT da 14ª Região limitou os efeitos da condenação ao mês de outubro de 1989, nestes termos: Assim, basicamente correta a sentença, é de se negar amparo ao apelo voluntário. No entanto, em respeito à remessa oficial, considerando que a perda salarial questionada foi reposta em novembro de 1989, conforme mencionei, face ao princípio da legalidade e ao interesse público, é de ser dar provimento parcial à remessa ex officio, para limitar os efeitos da condenação ao mês de outubro de 1989, com o que se evitará o bis in idem (fl. 172 da reclamação trabalhista, que instrui o processo eletrônico, na página 42 do segundo arquivo (digitalizado) nomeado como instrução). 13. Constata-se, assim, que o TCU não ultrapassou as balizas estabelecidas pela decisão judicial transitada em julgado, especificamente porque esta reconheceu, expressamente, que as perdas salariais reclamadas foram repostas, em novembro de 1989, pela MP n 106, de , convertida na Lei n 7.923, de Destarte, não há razão para a continuidade do pagamento de verbas salariais já incorporadas em razão do reajuste geral de remuneração no setor público.

6 6 15. A manutenção do pagamento reclamado, em verdade, implicaria duplicidade ilegal, com efetivos prejuízos para os cofres públicos e ofensa ao princípio da legalidade. 16. Em suma, são improcedentes as alegações das Impetrantes. III 17. Diante do exposto, o Ministério Público manifesta-se pelo não conhecimento do mandado de segurança, ou, se ultrapassada a preliminar suscitada, pela denegação da ordem. Brasília, 1º de junho de PAULO DA ROCHA CAMPOS SUBPROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA