: Porto Seguro Companhia de Seguros. Advogado : Tânia Vainsencher e outros. Apelado : Ednaldo Adolfo de Sousa. Advogado : Cícero de Lima e Sousa.

Transcrição

1 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO DES. SAULO HENRIQUES DE SÁ E BENE VIDES ACÓRDÃO Apelação Cível n /001 3' Vara Distrital de Mangabeira Relator : Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides. Apelante : Porto Seguro Companhia de Seguros. Advogado : Tânia Vainsencher e outros. Apelado : Ednaldo Adolfo de Sousa. Advogado : Cícero de Lima e Sousa. APELAÇÃO CÍVEL SEGURO DE VEÍCULO SINISTRO PERDA TOTAL CONDENAÇÃO NO VALOR INTEGRAL DA INDENIZAÇÃO UTILIZAÇÃO DA TABELA FIPE VALORES ATUALIZADOS À ÉPOCA DO SINISTRO IRRESIGNAÇÃO ATUALIZAÇÃO DA DATA DO EFETIVO PAGAMENTO NÃO OCORRÊNCIA DEVER DE INDENIZAR DA DATA DO SINISTRO JULGAMENTO ULTRA PETITA CONDENAÇÃO ALÉM DO PEDIDO EXCLUSÃO DA PARTE QUE EXTRAPOLA OS LIMITES PROVIMENTO PARCIAL. Conforme entendimento jurisprudencial, a tabela FIPE a ser aplicada é aquela da data do sinistro, uma vez que a regularização do sinistro não pode acarretar prejuízo patrimonial ao consumidor. Dessa forma, o valor correspondente ao pagamento do sinistro é o constante na tabela FIPE na época do sinistro. Analisando mais detidamente os autos, percebe-se que o magistrado de primeiro grau foi além do pedido. É que, ao juiz incumbe decidir a lide "nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte", consoante dispõe o artigo 128, CPC. VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS estes autos acima identificados. ACORDAM os integrantes da Egrégia Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unanimidade, dar provimento parcial à Apelação Cível. RELATÓRIO Trata-se de recurso apelatório interposto pela Porto Seguro Companhia de Seguros, contra sentença do Juiz da 3' Vara Distrital de Mangabeira que, nos autos da Ação Ordinária de Cobrança, julgou parcialmente procedente o pedido, para condenar a promovida ao pagamento da quantia de R$ ,00 (quarenta e cinco mil, trezentos e quarenta e oito reais), conforme consta da tabela da FIPE, devidamente atualizado a partir da data do evento danoso, e 1

2 com juros de mora no percentual de 1% (um por cento) ao mês, a contar da citação (fls. 140/146). Irresignado, o promovido interpôs recurso apelatório (fls. 150/159), requerendo a reforma da sentença, para que seja aplicada a tabela FIPE vigente à época do pagamento da indenização. Nas contrarrazões do recurso (fls. 168/169), o apelado pugnou pela manutenção da sentença. Instada a se pronunciar, a douta Procuradoria de Justiça não opinou, alegando falta de interesse público (fls. 175/176). É o relatório. VOTO Depreende-se dos autos que em virtude de acidente automobilístico, que ocasionou a perda total do veículo, o apelado acionou a seguradora apelante para pagamento da indenização securitária. Registrou que, mesmo sabendo ter direito ao recebimento de 100% (cem por cento) do valor acordado, propôs a seguradora o recebimento da quantia correspondente a 74% (setenta e quatro por cento) do valor do automóvel mais a permanência com o veículo no estado em que se encontrava. Diante da negativa da seguradora, o apelado ingressou com a Ação de Cobrança, para compelir a promovida a efetuar o pagamento do valor de R$ ,72 (trinta e três mil, quinhentos e cinquenta e sete e setenta e dois centavos), equivalente a 74% do valor do automóvel. O Juiz de primeiro grau julgou parcialmente procedente o pedido, condenando a promovida no pagamento da quantia de R$ ,00 (quarenta e cinco mil, trezentos e quarenta e oito reais), relativo a 100% (cem por cento) do valor aplicado sobre o veículo, com referência ao constante na tabela FIPE à época do fato. Nas suas razões recursais, a apelante requer que a indenização securitária seja calculada a partir do valor de referência do automóvel pela tabela FIPE vigente na data do 010 pagamento da indenização, sendo este valor, atualmente, correspondente a R$ ,00 (vinte e nove mil, novecentos e trinta e nove reais), sob pena de enriquecimento ilícito. Pois bem. Registre-se que o caso em tela trata-se de uma relação de consumo, em que a apelante figura como fornecedora de serviços e o apelado como consumidor, portanto, matéria a ser analisada à luz do Código de Defesa do Consumidor. Dessa feita, as cláusulas contratuais devem ser interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor, nos termos do artigo 47 do Código de Defesa do Consumidor. A questão posta em julgamento cinge-se em saber qual valor da indenização a ser paga, apurada de acordo com o constante na tabela FIPE na data do sinistro ou do efetivo pagamento. Destaque-se que o contrato tem por finalidade a cobertura dos prejuízos sofridos pelo 2

3 segurado, observado o limite contratado, conforme apólice de seguro juntada às fls.10/14. No caso em exame, releva ponderar que a cláusula constante na Apólice de Seguro à fl. 162, a qual estabelece que a indenização deve ser calcula com base na tabela FIPE da data do mês em que for paga a indenização, é abusiva, uma vez que o objetivo principal do seguro é a cobertura do risco contratado, não podendo conceber uma cobertura inferior ao patrimônio segurado na data do sinistro, pois a burocracia interna da seguradora pode atrasar a data da liquidação do sinistro, de tal modo, que se configuraria em disposição unilateral e benéfica exclusivamente à seguradora, em detrimento do segurado. O requisito objetivo deve ser prestigiado, que é a data do sinistro, nessa data o patrimônio do segurado foi agredido, atingido ou violado. Portanto, essa é a data a ser considerado para qualquer efeito, inclusive, por suposto, para o cálculo da indenização. Portanto, a indenização não deve ser calculada com base na tabela FIPE da data do pagamento da indenização, pois, como se sabe, os valores dos automóveis tendem a perder valor de mercado, e a forma de cálculo adotada pela seguradora é deveras prejudicial ao segurado. Assim, conforme entendimento jurisprudencial, a tabela FIPE a ser aplicada é aquela da data do sinistro, uma vez que a regularização do sinistro não pode acarretar prejuízo patrimonial ao consumidor. Dessa forma, o valor correspondente ao pagamento do sinistro é o constante na tabela FIPE na época do sinistro. No entanto, analisando mais detidamente os autos, percebe-se que o magistrado de primeiro grau foi além do pedido. É que, ao juiz incumbe decidir a lide "nos limites em que foi proposta, sendo -lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte", consoante dispõe o artigo 128, CPC. O autor é quem fixa os limites da lide, deduzindo sua pretensão por meio da petição inicial. Por conseguinte, deve haver estreita correlação segundo o principio da congruência entre o pedido e a sentença, sendo vedado ao magistrado prolatar sentença além [ultra petita], fora [extra petita] ou aquém [citra ou infra petita] do pedido da parte, sob pena de macular o pronunciamento judicial. Assim, o magistrado, ao interpretar o pedido, deverá fazê-lo de forma restritiva, a teor do artigo 293 do Código de Processo Civil. Para ilustrar, transcrevo: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. [...] JULGAMENTO EXTRA PETITA. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 128 E 460 DO CPC. PROVIMENTO. 1. Na invalidação judicial de ato administrativo, o julgador deve, por força dos princípios da inércia da jurisdição, do dispositivo e da correlação entre causa de pedir, pedido e sentença, obedecer aos limites objetivos da pretensão jurisdicional deduzida (CPC, arts. 128 e 460), sob pena de proferir decisão infra petita (aquém), ultra petita (além) ou extra petita (fora), suscetível à correção jurisdicional. [...] (REsp SC, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/10/2006, DJ 07/11/2006 p. 250). Desse modo, constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal, 3

4 "sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação" (art. 515, 4, do CPC). De fato, no caso de sentença ultra e extra petita, "pode o tribunal em qualquer caso invalidar a decisão e substitui-la desde logo, sem a necessidade de devolver os autos para o primeiro grau de jurisdição", consoante lição de Luiz Guilherme Marinoni (MARINONI, Luiz Guilherme. Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, pág. 423). Nesse sentido, transcrevo: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ALEGAÇÃO DE JULGAMENTO EXTRA PETITA. ARTIGOS 128 E 460, DO CPC). [...] 1. O julgamento ultra ou extra petita (artigos 128 e 460, do CPC) viola a norma que adstringe o juiz a julgar a lide nos limites das questões suscitadas, sendolhe defeso alterá-las, e impõe a anulação da parte do aresto objurgado que exarcebou os limites impostos na inicial. [...] 7. Recurso especial desprovido. (REsp /PE, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/11/2008, DJe 01/12/2008). Na hipótese dos autos, foi pedido expressamente pelo promovente o pagamento no valor de R$ ,72 (quinhentos e trinta e três mil, quinhentos e cinquenta reais e setenta e dois centavos). Contudo, o magistrado considerando a ocorrência de danos no veiculo, objeto do contrato, decorrente de sinistro, determinou o pagamento do valor correspondente a 100% (cem por cento) da indenização, que totalizou a quantia de R$ ,00 (quarenta e cinco mil, trezentos e quarenta e oito reais), de acordo com a tabela FIPE. Registre-se que o promovente tinha ciência que o valor nominalmente requerido na inicial não era o correspondente ao pagamento integral, chegando inclusive a afirmar que, apesar de fazer jus ao valor total do seguro, por ato volitivo, preferia receber o correspondente a 74% (setenta e quatro por cento) - fl. 05. Dessa forma, dou provimento parcial ao recurso apelatório, para minorar o quantum indenizatório por indenização securitária para R$ ,72 (quinhentos e trinta e três mil, quinhentos e cinquenta reais e setenta e dois centavos), mantendo a sentença nos demais termos. É como voto. Presidiu a Sessão o Exmo. Sr. Des. José Aurélio da Cruz. Participaram do julgamento, o Exmo. Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides, o Des. José Aurélio da Cruz e o Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos. Justiça Presente ao julgamento o Dr. Marcus Vilar Souto Maior, Procurado de João Pessoa, 11 de dezembro de Des. Saulo Heri qneíde Só e Benevides R íàtor 4

5 TRIBUNAL DE JUrAÇA Diretoria Ju Registrado em 1...1fq