PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Corregedoria Geral da Justiça Processo n 2009/ (212/09-E)

Transcrição

1 PODER JUDICIÁRIO ei (212/09-E) CG J * * Registro de Imóveis - Negativa de averbação de caução prestada em contrato de locação de bem imóvel - Caução que recaiu sobre direitos de terceiro relativos a imóvel objeto de alienação fiduciária em garantia - Necessidade de anuência do credor fiduciário, inexistente na hipótese - Incidência do disposto no art. 29 da Lei n / Princípio da legalidade a ser observado na atividade de qualificação registrai - Recusa do Oficial Registrador acertada, corretamente ratificada pelo Meritíssimo Juiz Corregedor Permanente - Recurso não provido. Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça: Trata-se de recurso administrativo interposto por DMA Administração e Participações Ltda. contra decisão do Meritíssimo Juiz Corregedor Permanente do 14 Oficial de Registro de Imóveis da Comarca da Capital que indeferiu requerimento de averbação de caução de direitos sobre imóvel objeto de alienação fiduciária em garantia, prestada em contrato de locação, por entender imprescindível, no caso, a anuência expressa do credor fiduciário, à luz do disposto no art. 29 da Lei n /1997 (fls. 45 a 47). ^ M^

2 PODER JUDICIÁRIO Sustenta a Recorrente, em síntese, que não se mostra necessária, no caso, a anuência do credor fiduciário para a validade da caução prestada no ajuste locatício, pois, na eventualidade de execução da garantia representada pelos direitos sobre o imóvel em questão, será preciso, antes, quitar o débito da garantidora da locação perante aquele primeiro. Assim, segundo entende, nenhum prejuízo resultará ao credor fiduciário, com a garantia prestada pela devedora fiduciante, de sorte que prescindível a anuência exigida pelo Oficial Registrador (fls. 55 a 57). A Douta Procuradoria Geral de Justiça opinou no sentido do provimento do recurso (fls. 75 e 76). O recurso foi distribuído inicialmente ao Colendo Conselho Superior da Magistratura e, na sequência, remetido a esta, por concernir a dissenso sobre a prática de ato de averbação (fls. 77 e 78). É o relatório. Passo a opinar. Em que pesem os argumentos expendidos pela Recorrente e o parecer da Douta Procuradoria Geral de Justiça, o recurso não comporta provimento, impondo-se a manutenção da respeitável decisão proferida pelo Meritíssimo Juiz Corregedor Permanente. Ú^

3 PODER JUDICIÁRIO 3 Com efeito, a Recorrente pretende a averbação, na matrícula n do 14 Registro de Imóveis da Capital, de caução prestada por Vera Lúcia do Amaral em contrato de locação de outro imóvel. Referida caução recaiu sobre os direitos que a garantidora tem sobre o imóvel da matrícula n , objeto, no caso, de pacto acessório de alienação fiduciária em garantia, em que aquela figurou na condição de devedora fiduciante (fls. 07 a 10). Como esclarece Maria Helena Diniz, em contrato de locação de bens imóveis, "só os bens suscetíveis de alienação é que poderão ser dados em caução real". Isso porque, prossegue a ilustre Professora, "O principal efeito da caução real será o de separar do património do locatário um dado bem, móvel ou imóvel, afetando-o ao pagamento prioritário do aluguel e dos demais encargos locatícios, donde se podem deduzir as demais consequências", entre as quais, o "Direito do locador à excussão da coisa dada em garantia (CC, art ) se o débito, decorrente de contrato de locação, vencido não for pago, isto é, direito de promover sua venda judicial em hasta pública, mediante o processo de execução previsto no art. 585, III, do Código de Processo Civil, para, com o preço alcançado, pagar-se" (Lei de locações de imóveis urbanos comentada. 8 a ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p ). Tal orientação, sem dúvida, aplica-se, por igual, à caução que incide sobre direitos relativos a bens imóveis, que fica, assim, para ser admitida, na dependência de serem estes últimos suscetíveis de alienação.

4 PODER JUDICIÁRIO 4 Na hipótese, por força do contrato de alienação fiduciária do imóvel em garantia do pagamento de dívida contraída em financiamento imobiliário, os direitos de que dispõe a devedora fiduciante sobre o bem sofrem limitação no tocante à sua possibilidade de alienação. De fato, em conformidade com o disposto no art. 29 da Lei n /1997, "O fiduciante, com anuência expressa do fiduciário, poderá transmitir os direitos de que seja titular sobre o imóvel objeto da alienação fiduciária em garantia, assumindo o adquirente as respectivas obrigações". Assim, embora os direitos do fiduciante sobre o imóvel objeto da garantia fiduciária sejam passíveis de alienação, esta, para ser reputada válida e eficaz, depende, nos expressos termos da lei, do consentimento do credor fiduciário. Bem por isso, parece evidente que, para que sejam dados em caução em contrato de locação, tais direitos igualmente dependem de prévia anuência do credor fiduciário, o que não houve no caso. Nunca é demais lembrar que, não pagos os valores dos aluguéis, o bem dado em garantia - no caso, os direitos sobre o imóvel - poderá ser levado à execução, com venda em hasta pública, forma conhecida de alienação forçada. E a jurisprudência dos tribunais tem, efetivamente, admitido a penhora e a alienação em hasta pública dos direitos do devedor fiduciante sobre a coisa alienada fiduciariamente em garantia do pagamento da dívida contraída (STJ - 2 a T. - REsp n RS - rei. Min. Félix Fischer - j ; STJ - 5 a T. - REsp n rei. Min. Félix Fischer-j ).

5 PODER JUDICIÁRIO 5 Daí a imprescindibilidade do consentimento do credor fiduciário, a fim de que os direitos do devedor fiduciante possam ser dados em garantia do cumprimento das obrigações locatícias pelo locatário. Portanto, correta se mostra, na espécie, a recusa do Senhor Oficial Registrador de proceder à averbação da caução prestada no contrato de locação apresentado, recusa essa legitimada pelo princípio da legalidade que, como sabido, deve ser sempre observado na atividade de qualificação registrai. Por via de consequência, o recurso interposto não comporta provimento. Nesses termos, o parecer que se submete à elevada consideração de Vossa Excelência é no sentido de ser negado provimento ao recurso interposto. Sub censura. São Paulo, 30 de junho de ÁLVARO LUIZ VALERY MIRRA Juiz Auxiliar da Corregedoria

6 RECEBIMENTO Em 02 de julho de 2009, recebi estes autos com o parecer retro, para conferência Eu, (jjv^^^ywo (Rosa Maia) Escrevente Técnico Judiciário do GAJ 3, subscrevi. CERTIDÃO Certifico e dou fé que, nesta data, registrei o parecer retro sob o n 212/09-E. São Paulo, 02 de julho de 2009 Eu, '^..yvfc-^w^ (Rosa Maia), Escrevente Técnico Judiciário do GAJ 3, certifiquei e subscrevi CONCLUSÃO Em 02 de julho de 2009, faço estes autos conclusos ao Excelentíssimo Senhor Desembargador REIS KUNTZ, DD Corregedor Geral da Justiça em exercício Eu, ^/-->.' VA:*'-'- (Rosa Maia), Escrevente, subscrevi Processo n 2009/54294 Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e por seus fundamentos, que adoto, nego provimento ao recurso. Publique-se. São Paulo,.} y-w^v,<j ^^r^ REiskwrz Corregedor Geral da Justiça em Exercício