Transcrição

1 Recurso Administrativo Hierárquico Processo n.º: Recorrente: REGINALDO GUEDES DOS SANTOS Relatora: Desembargadora MARIA SANDRA KAYAT DIREITO Recurso Hierárquico. Servidor do Município de Duque de Caxias requisitado pelo Tribunal de Justiça ficando à disposição do Juízo da 4ª Vara Criminal. Requerimento de percepção de diferenças salariais em decorrência do desvio de função. Pretensão de equiparação aos Oficiais de Justiça. Servidor credenciado para exercício de função ad hoc por imperiosa necessidade do serviço na ocasião. Função que pressupõe situação esporádica e eventual. Evidente que o servidor cedido exerce funções diferentes daquelas inerentes ao cargo para o qual foi nomeado em seu órgão de origem. Ausência de prova de nomeação em caráter permanente. Indeferimento. Decisão mantida. Nomeação de natureza ad hoc que se caracteriza pela eventualidade. Negado provimento ao recurso. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Recurso Hierárquico n , em que é recorrente REGINALDO GUEDES DOS SANTOS.

2 ACORDAM os Desembargadores integrantes do CONSELHO DA MAGISTRATURA, por unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto, nos termos do voto da Relatora. RELATÓRIO Trata-se de requerimento formulado às fls. 02/07 através do qual o servidor público municipal pleiteia junto ao Tribunal de Justiça, o recebimento de diferenças salariais a titulo de desvio de função, uma vez que foi requisitado para exercer a função de Oficial de Justiça ad hoc perante o Juízo da 4ª Vara Criminal da Comarca de Duque de Caxias. 08/680. O pedido veio acompanhado dos documentos de fls. Parecer da DIAPA às fls. 684/685, opinando no sentido de que as atribuições do cargo de Analista Judiciário na especialidade Oficial de Justiça estão previstas no anexo único da Resolução n 29/2006 do E. Conselho da Magistratura, que regulamentou o artigo 4, 1, da Lei n 4.620/05 que dispõe sobre a reestruturação dos cargos do Quadro Único de Pessoal do Poder Judiciário deixando claro que o exercício do cargo somente é possível mediante aprovação em concurso público e que o requerente sempre teve ciência de suas atribuições e da ausência de qualquer retribuição pecuniária, tendo no máximo realizado algumas atividades inerentes ao cargo.

3 Informações da DGPES às fls. 686/703 de que não consta nos assentamentos funcionais do servidor o registro de designação para atuar como Oficial de Justiça ad hoc; que o cargo para o qual o requerente se submeteu, e obteve aprovação em concurso público, é da estrutura da Secretaria de Administração da Prefeitura de Duque de Caxias a quem cabe o pagamento da sua remuneração em virtude do ônus da requisição competir ao Órgão cedente; em razão da inexistência do mesmo cargo no Tribunal de Justiça é evidente que o servidor cedido exerce funções diferentes daquelas inerentes ao cargo para o qual foi nomeado, concluindo que o servidor não se encontra em desvio de função a uma, porque não exerce atribuições definidas na Resolução n 29/2006 do Conselho da Magistratura para o cargo de Oficial de Justiça Avaliador e a outra, porque as atividades exercidas diversas daquelas inerentes ao seu cargo têm como pano de fundo a sua cessão para este Tribunal, que pode ser dissolvida a critério de ambos os interessados ou pelo interesse de um deles e, por fim, destaca que a nomeação de ad hoc pressupõe uma situação esporádica e eventual, trazendo, inclusive, ementa do C. Tribunal Superior do Trabalho quanto à inexistência de vínculo de emprego para o oficial de justiça ad hoc. A DGPES destaca, ainda, à fl.697 que com relação à nomeação para a função de Oficial de Justiça ad hoc já foi objeto de deliberação perante o CNJ Conselho Nacional de Justiça, sendo decidido que tal nomeação deve observar o caráter excepcional, diante da situação temporária, salientando ainda, o referido Departamento deste E. Tribunal que o documento apresentado pelo servidor não é suficiente para assegurar que sua nomeação tenha sido em caráter permanente, sendo que o mais antigo, datado de 1992, sequer contem a assinatura do MM. Juiz de Direito

4 e, por fim, que não se aplica a Sumula 378 do STJ ante a ausência de desvio de função. Decisão da Exma. Desembargadora Presidente deste E. Tribunal de Justiça às fls. 705/706 indeferindo o pedido e determinando a expedição de oficio para apresentação do requerente ao seu órgão de origem. Recurso interposto às fls. 706/716 sustentando, em síntese, que a documentação trazida aos autos demonstra o desvio de função, estando a sua pretensão amparada na Sumula 378 do C. STJ e na jurisprudência. informação anterior. Parecer da DGPES às fls.721/722 ratificando a Despacho de fl. 725 mantendo o indeferimento do pedido conforme fls. 705/706 pelos seus próprios fundamentos. É O RELATÓRIO. VOTO A pretensão do recorrente não encontra amparo legal. A Súmula 378 do C. Superior Tribunal de Justiça estabelece que, se reconhecido o desvio de função, o servidor faz jus às diferenças salariais decorrentes.

5 No caso em exame, não se comprovou o alegado desvio de função, seja pela fragilidade da documentação apresentada, seja pela natureza temporária e eventual da nomeação da função ad hoc. Nos termos do parecer de fls.686/703, observa-se que os atos de nomeação relacionados pelo recorrente foram em sua totalidade referentes à sua designação para o desempenho da aludida função durante determinada sessão de julgamento do Tribunal do Júri vinculado à 4ª Vara Criminal da Comarca de Duque de Caxias. Pelo requerente foram juntados ainda 04 (quatro) Termos de Afirmação de Oficial de Justiça "Ad hoc", sendo que o primeiro está incompleto no campo destinado à data, omitindo-se o dia (janeiro de 1993), além de não conter assinatura do Juiz (fls. 57); o segundo, de , também não contém assinatura do Juiz (fls. 63); e o terceiro e o quarto, embora assinados pelo Juiz, estão datados do mesmo dia ( fls. 65 e 66). Além disso, é certo que o recorrente não exerceu o cargo de Analista Judiciário na especialidade de Execução de Mandados, o que somente é possível mediante aprovação em concurso público. O recorrente foi requisitado pelo MM. Juiz Titular da 4ª Vara Criminal da Comarca de Duque de Caxias, em 1988, por imperiosa necessidade do serviço, objetivando que o servidor ficasse à sua disposição para auxilio dos trabalhos cartorários. Mais tarde, ou seja, em julho de 1989, conforme se vê no

6 documento de fl.10 que o MM. Juiz de Direito credenciou o servidor para dar integral cumprimento aos mandados daquele Juízo. (fl.10) Posteriormente foram expedidos inúmeros ofícios e elogios e informações, sem fazer qualquer referencia à função de oficial de justiça ad hoc, mas sim aos serviços regularmente prestados naquela serventia. Demais documentos trazidos pelo recorrente demonstram atuações esporádicas como oficial de justiça ad hoc, em 1990, 1996 (fl.67), em 2007(fl.60), com designação específica para determinado ato, sendo a maioria deles, apresentação de alvará de soltura para a autoridade policial, conforme se verifica às fls. 40/54 e certidão de incomunicabilidade de jurados, assinada pelo recorrente conforme fls.55/66. Importante também frisar que atualmente a situação dos oficiais de justiça sofreu alterações, passando a ser uma função/especialidade do cargo de analista judiciário somente passível de exercício mediante aprovação em concurso público, como se disse anteriormente e que o CODJERJ, em seu artigo 72, prevê a competência dos Juízes de Direito para nomear ad hoc serventuário e outros auxiliares da justiça, nos casos de impedimento ou falta dos titulares e seus substitutos legais, levando à conclusão de que a nomeação ad hoc pressupõe situação esporádica e eventual, nomeação esta vinculada a um ato temporário e específico, afastando qualquer característica de permanência. A temporalidade da função ad hoc é reconhecida pela Justiça do Trabalho que pacificamente decidiu em inúmeros julgados a

7 impossibilidade de reconhecimento de vinculo de emprego, mesmo na hipótese de nomeação reiterada para o exercício de múnus público, não ficando caracterizada a continuidade necessária para o reconhecimento da relação de emprego, ainda que o Autor tenha sido designado oficial de justiça ad hoc reiteradas vezes.(fls. 690/691) Por fim, destaco a informação prestada no parecer da DGPES, especificamente à fl. 691, no sentido de que a norma vigente na ocasião da requisição do recorrente, que regulava as atividades administrativas e funcionais da Justiça de 1ª Instância deste Estado, era o Ementário da Corregedoria Geral da Justiça, expedido pelo Provimento n 92/1984, que no capítulo destinado aos Oficiais de Justiça previa que nos impedimentos desses, o Juiz poderia designar outro da mesma vara para a diligência, e, não o havendo, nomeará pessoa idônea para o ato. (artigo 763). Tal norma demonstra a legalidade do ato, assim como que, já naquela época, sinalizava no sentido de que a nomeação de ad hoc seria apenas em situação excepcional, de caráter eventual. A presente decisão encontra amparo também na jurisprudência deste E. Tribunal que é pacífica no sentido da impossibilidade de caracterização do desvio de função quando no desempenho da atividade de oficial de justiça ad hoc, tendo sido julgado recentemente caso semelhante da seguinte forma:

8 APELACAO DES. HENRIQUE DE ANDRADE FIGUEIRA - Julgamento: 03/12/ QUINTA CAMARA CIVEL ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. CONVÊNIO DE COOPERAÇÃO. GUARDA MUNICIPAL CEDIDO AO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DESVIO DE FUNÇÃO. DIFERENÇAS SALARIAIS. Ação de cobrança proposta por guarda municipal a fim de condenar os Réus a pagarem diferença vencimental em vista do desvio de função, enquanto desempenhou a atividade de Oficial de Justiça ad hoc com base em convênio de cooperação ajustado entre o Município do Rio de Janeiro e o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. O desvio de função se caracteriza pela atribuição ao servidor de tarefas distintas das cometidas ao cargo que ocupa desde que as novas atividades se refiram a cargo do quadro de pessoal organizado em carreiras do mesmo empregador. Na hipótese, para o exercício das funções próprias de Oficial de Justiça e de analista judiciário se exige nível de escolaridade superior, enquanto que o cargo de Guarda Municipal exige apenas o nível médio. Por fim, a nomeação com natureza ad hoc se caracteriza pela falta de habitualidade; trata-se de colaboração com o Poder Judiciário para execução de tarefa marcantemente temporária e eventual, requisitos que afastam o reconhecimento de relação de emprego. Impossível reconhecer o direito às diferenças salarias entre o cargo de Analista Judiciário na Especialidade de Execução de Mandados e o de Guarda Municipal. Recurso desprovido. INTEIRO TEOR Data de Julgamento: 03/12/2013 (*) Por todo o exposto, nego provimento ao recurso. Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de Desembargadora MARIA SANDRA KAYAT DIREITO Relatora