PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Julio César Minga Tonetti NOSSA SENHORA APARECIDA: A NOVA PADROEIRA DO BRASIL DIÁLOGOS SOBRE A DEVOÇÃO POPULAR E A ROMANIZAÇÃO MESTRADO EM HISTÓRIA SOCIAL SÃO PAULO 2019

2 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Julio César Minga Tonetti NOSSA SENHORA APARECIDA: A NOVA PADROEIRA DO BRASIL DIÁLOGOS SOBRE A DEVOÇÃO POPULAR E A ROMANIZAÇÃO Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em História Social, sob a orientação da Prof.ª. Dra. Olga Brites. SÃO PAULO 2019

3 Sistema para Geração Automática de Ficha Catalográfica para Teses e Dissertações com dados fornecidos pelo autor Minga Tonetti, Julio César NOSSA SENHORA APARECIDA: A NOVA PADROEIRA DO BRASIL DIÁLOGOS SOBRE A DEVOÇÃO POPULAR E A ROMANIZAÇÃO / Julio César Minga Tonetti. -- São Paulo: [s.n.], p. ; cm. Orientador: Olga Brites. Dissertação (Mestrado em História) -- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em História, Devoção popular. 2. Nossa Senhora Aparecida. 3. Romanização. 4. Representação. I. Brites, Olga. II. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em História. III. Título. CDD

4 Julio César Minga Tonetti NOSSA SENHORA APARECIDA: A NOVA PADROEIRA DO BRASIL DIÁLOGOS SOBRE A DEVOÇÃO POPULAR E A ROMANIZAÇÃO Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em História Social, sob a orientação da Prof.ª. Dra. Olga Brites. Aprovado em: / / BANCA EXAMINADORA Prof.ª. Dra. Olga Brites PUC/SP Prof.ª. Dra. Maria do Rosário Cunha Peixoto PUC/SP Prof.ª. Dra. Norma Marinovic Doro UFMS

5 Bolsista contemplado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) durante o ano de Detalhe do Processo nº / do Programa PROSUC.

6 Dedico este trabalho aos meus sobrinhos Arthur Tonetti Nobre e Alice Tonetti Nobre, ao futuro das juventudes brasileiras!

7 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, revelado e encarnado na imagem de todos que lutam por um mundo melhor e colocam na pauta de suas vidas a solidariedade e a alegria. Cheio de gratidão pelo dom da vida e da liberdade agradeço a Nossa Senhora, em especial a Senhora Aparecida em seus diversos olhares: Mariama, Mamãe Oxum, Morenita... A ela o meu eterno agradecimento por me abençoar de tantas maneiras nos momentos de desânimo e nas horas dedicadas ao de estudo e a pesquisa. A memória dos meus queridos avós Enedina Minga e Sabino Minga, agradeço por transmitirem a mim o interesse pelo sagrado e pelo popular. Aos meus pais Helena Maria Minga Tonetti e Idinirço Tonetti, agradeço a formação cristã que me deram, é dela que brota todo o movimento que me faz caminhar em busca de uma sociedade solidária. Aos meus irmãos Sabrina Lúcia Tonetti Nobre e Jefferson Wando Minga Tonetti, por sempre me apoiarem nas minhas escolhas e me ensinarem o valor do trabalho junto com meu cunhado Anderson Paulo Nobre. A Jonas da Silva Leão Neto, pela disposição em me acompanhar aos arquivos e por ter paciência em ouvir minhas reclamações sempre me incentivando, animando e transmitindo os valores místicos das matrizes africanas que muito contribuiu para este trabalho. A minha prima Nídia de Oliveira, agradeço a disposição e a alegria dos cafés nas tardes frias. Ao Programa de Pós-Graduação PUC - SP, na figura da minha orientadora Olga Brites, professora e mulher de resistência política, sem a sua colaboração, paciência e orientação esse trabalho não teria se concretizado. Agradeço imensamente a sua generosidade em partilhar o conhecimento e me animar a não desistir. A Professora Maria do Rosário Peixoto, uma acadêmica engajada nas lutas sociais e no sonho de um país melhor, agradeço as grandes contribuições a minha temática, tanto nas aulas quanto no exame de qualificação. A querida amiga e Professora Norma Marinovic Doro, com quem aprendi desde o início da vida acadêmica o compromisso social com a educação. Que a sua trajetória continue a inspirar outros jovens como eu a buscar um mundo melhor. A Jorge Paulo de Souza e Silva, amigo de infância agradeço as palavras de incentivo desde o início da minha caminhada acadêmica, sua fé na vida sempre me revigora.

8 Aos colegas de turma Andresa, Lucas, Edney e Amanda que me incentivaram durante as aulas com momentos de descontração e partilha nas resistências, elementos da pesquisa e da vida. Ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida na figura da querida Dorotheia Barboza e a todos os funcionários do Centro de Documentação e Memória (CDM), agradeço a acolhida precisa e a disposição efetiva em compartilhar as narrativas em torno da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Aos amigos e amigas do Centro de Juventude Anchietanum, por tecerem tantos sonhos ao meu lado. A CAPES por incentivar a minha pesquisa através da bolsa, sem esse financiamento ela não teria sido possível. A todos os devotos e devotas de Nossa Senhora Aparecida que partilham comigo através de seus olhares a fé na vida...

9 TONETTI, Julio César Minga. Nossa Senhora Aparecida: a nova padroeira do Brasil. Diálogos sobre a devoção popular e a romanização. Dissertação de Mestrado (Mestrado em História Social), Pontifícia Universidade católica de São Paulo, São Paulo,2019. RESUMO Essa dissertação apresenta um estudo sobre a institucionalização da devoção popular a Nossa Senhora Aparecida feita pela Igreja Católica do Brasil durante o processo de romanização. Seu objetivo é analisar a instrumentalização da devoção como estratégia política utilizada pela mesma. No final do século XIX, a Igreja do Brasil iniciou uma tentativa de romanização das devoções populares buscando fortalecer sua unidade através dos rituais e celebrações. A principal devoção mariana neste período foi o culto a Nossa Senhora Aparecida, reconhecida como padroeira principal do Brasil pelo Papa Pio XI no ano de Segundo a tradição popular contada pela Igreja o encontro da imagem teria se dado por volta do ano de 1717 na região de Guaratinguetá-SP. A imagem que fora encontrada por três pescadores transformou-se em um ícone de veneração e popularizou-se com a divulgação de seus milagres. Essa devoção atravessou diversos períodos históricos da política nacional e foi oficializado no dia 31 de maio de 1931, na cidade do Rio de Janeiro (capital federal no período) em cerimônia religiosa e cívica dirigida pelo Cardeal Arcebispo D. Leme com os demais bispos brasileiros. Nesta cerimônia Nossa Senhora Aparecida foi proclamada Padroeira principal do Brasil romanizando de acordo com os cânones da Igreja esta devoção popular. Palavras-chave: Devoção Popular; Romanização; Nossa Senhora Aparecida; Imprensa; Representação.

10 TONETTI, Julio César Minga. "Our Lady Aparecida: the new patroness of Brazil". Dialogues on popular devotion and romanization. Master's Dissertation (Master's Degree in Social History), Pontifical Catholic University of São Paulo, São Paulo, ABSTRACT This dissertation presents a study on the institutionalization of the popular devotion to Our Lady Aparecida made by the Catholic Church of Brazil during the process of Romanization. Its purpose is to analyze the instrumentalization of devotion as a political strategy used by it. At the end of the 19th century the Church of Brazil began an attempt to "romanize" popular devotions, seeking to strengthen their unity through rituals and celebrations. The main Marian devotion in this period was the cult of Our Lady Aparecida, recognized as the principal patroness of Brazil by Pope Pius XI in the year According to popular tradition told by the Church, the "encounter" of the image would have occurred around the year of 1717 in the region of Guaratinguetá-SP. The image that was found by three fishermen became an icon of veneration and became popular with the spread of his miracles. This devotion crossed several historical periods of national politics and was officially made on May 31, 1931, in the city of Rio de Janeiro (federal capital in the period) in a religious and civic ceremony led by Cardinal Archbishop D. Leme with the other Brazilian bishops. In this ceremony Our Lady Aparecida was proclaimed the principal Patroness of Brazil "romanizing" according to the canons of the Church this popular devotion. Keywords: Popular Devotion; Romanization; Our Lady Aparecida; Press; Representation

11 Romaria É de sonho e de pó O destino de um só Feito eu perdido em pensamentos Sobre o meu cavalo É de laço e de nó De gibeira ou jiló Dessa vida cumprida a sol Sou caipira pirapora nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura E funda o trem da minha vida O meu pai foi peão Minha mãe, solidão Meus irmãos perderam-se na vida A custa de aventuras Descasei, joguei Investi, desisti Se há sorte eu não sei, nunca vi Me disseram, porém, Que eu viesse aqui Pra pedir de romaria e prece Paz nos desaventos Como eu não sei rezar Só queria mostrar Meu olhar, meu olhar, meu olhar Compositor: Renato Teixeira De Oliveira

12 SUMÁRIO INTRODUÇÃO Devotos e Devoções: expressões culturais do catolicismo popular O Catolicismo Devocional das Minas ao Ciclo Paulista Devoção Popular e Romanização A Santa Aparecida : Trajetos de uma Devoção Popular Origem da imagem Os pescadores e os primeiros milagres Edificações do culto e reconhecimentos Aparecida: da devoção popular a Fé Romanizada O projeto de uma Nova Padroeira A Proclamação do Padroado A viagem a Capital Federal A nova Padroeira CONSIDERAÇÕES FONTES ESCRITAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS...137

13 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Mapa da região das minas e sudeste (1707) Figura 2 - Criação de Dioceses no Brasil por Regiões, até Figura 3 Fotografia da imagem original de Nossa Senhora Aparecida, antes de ser restaurada Figura 4 - Fotocopia do Jornal Santuário Num Figura 5 - Jornal "Santuário D'Apparecida Figura 6 - Dos prelados presentes no Jubileu de Prata da Coroação da imagem de N.S.A Figura 7 - Comissão de Aparecida - SP que acompanhou a imagem ao Rio de Janeiro Figura 8 - Foto do Congresso Mariano na Igreja de Sto. Afonso Figura 9 - Vagão / capela que levou a imagem até o Rio de Janeiro Figura 10 - Chegada da imagem de N. S. Aparecida no Rio Figura 11 - Missa realizada em frente a Igreja São Francisco de Paula em 31/05/1931, publicada no Almanaque de Aparecida Figura 12 - Imagem sendo conduzida para a Catedral após a missa solene Figura 13 - Início da Procissão solene em frente a Catedral do Rio de Janeiro Figura 14 - Bispos Brasileiros visitando o Presidente da República Getúlio Figura 15 - Chegada da imagem em Aparecida - SP em 01/06/

14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS C.S.S.R CDM E.F.C.B Congregação do Santíssimo Redentor Centro de Documentação e Memória Padre Antão Jorge, Aparecida SP Estrada de Ferro Central do Brasil. ECOS MARIANOS Almanaque de Aparecida. MARIANO Aquilo que se relaciona a devoção a virgem Maria. N.S.A Nossa Senhora Aparecida.

15 13 INTRODUÇÃO Era uma das noites frias do mês mariano 1, precisamente dia 30 de maio do ano de 1931, uma vez mais as velas que iluminavam o entardecer do dia eram dedicadas a Virgem Maria, no estreito Vale do Rio Paraíba do Sul. As velas tremulavam com o sopro da brisa que vinha das montanhas. Entre rezas e súplicas se ouve a voz do Cardeal, consolando o povo de Aparecida e entoando uma ave Maria pela comunidade aparecidense que tristemente acompanhava a saída da imagem morena do pálido santuário localizado na Praça do Carmo. Os alunos que estudavam no Seminário Santo Afonso despediram-se da imagem em frente à Estação da Companhia Central do Brasil entoando o Ave Maris Stella, o arcebispo levou a imagem para seu altar no salão capela, depois dirigiu palavras de consolo ao povo... 2 A pequenina imagem 3 de Nossa Senhora da Conceição, vulgarmente chamada de Aparecida que fora encontrada por três pescadores em 1717 no rio Paraíba do Sul estava viajando para o Rio de Janeiro, Capital Federal, para ser solenemente aclamada como Padroeira do Brasil. Ato perpetuado por uma carta assinada pelo Papa Pio XI no dia 16 de julho do ano anterior. Poderíamos discorrer inúmeros aspectos relacionados ao curto processo cronológico que levou está devoção popular torna-se uma das maiores em exercício do país e alcançar o reconhecimento da hierarquia do catolicismo brasileiro, se nos atrevêssemos a escrever sobre isso o tempo tornar-se-ia demasiadamente um período muito longo, dado as proporções sociais que este culto no Brasil faz evocar e o grande número de campos de estudos que se possibilitam a indagar tais fatores. Deste modo o objetivo pontual deste trabalho é indagar a maneira que a imagem encontrada em uma aldeia de pescadores, região de passagem para as minas em terras brasileiras do século XVIII tem o seu reconhecimento de culto oficializado no processo 1 Mariano (a): Substantivo utilizado para designar o culto a Virgem Maria, e tudo aquilo que se refere a este culto, nas práticas oficiais do catolicismo ou na piedade popular. Cf.: Boff a piedade Mariana é muito mais que a metade do conjunto da piedade popular. (BOFF,2006, p.551) 2 Cf. Almanaque de Nossa Senhora Aparecida de 1932, p.28, pasta s.d, Centro de Documentação e memória do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida (CDM). 3 A importância da utilização de imagens rituais para o cristianismo católico está associada a sua doutrina teológica e pode ser considerada como uma catequese para proporcionar um contato com os dogmas da Igreja. Quando se trata da utilização de imagens utilizadas no contexto devocional essa proporção catequética é substituída na maioria das vezes por uma ideia mística de personificação do sagrado no meio da natureza humana. Para Eliade (1991) as imagens constituem aberturas para um mundo trans-histórico. Não é, entretanto, seu menor mérito: graças a elas, as diversas histórias podem se comunicar. (p.174)

16 14 ritualístico e místico da Igreja católica no século XX, dentro da chamada política de romanização, proposta pela Igreja no mesmo período. Podemos considerar muitas coisas quando tratamos das imagens de devoção. As imagens de devoção concentram em seus traços artísticos elementos que são interpretados a luz da tradição religiosa do lugar em que elas são cultuadas. Elas possuem diversas narrativas, é justamente as narrativas em torno delas que revelam e fomentam a veneração. Em torno, das imagens de devoção, acredito que não apenas no Brasil, há uma narrativa comum composta pelos mesmos mitemas: o encontro da imagem por pessoas que vivem à margem dos círculos do poder econômico ou eclesiástico, a definição do local de adoração que não coincide com o espaço institucionalizado da Igreja, a disputa (em alguns ausente, mas bastante comum de qualquer forma pela posse da imagem. Nessa disputa, aparece a luta pela legitimidade do culto, que, quase sempre, arrasta a contragosto a hierarquia da Igreja. (ABUMANSSUR,2017, p.114) A saída da imagem da cidade de Aparecida no dia 30 de maio de 1930 é resultado de um processo histórico de disputa pela constituição mística e espiritual de um exercício de culto católico, ora, a imagem quebrada e escura encontrada por três pescadores não mais pertencia a simples e pobre aldeia de pescadores de Itaguaçu da Vila de Guaratinguetá como fora naqueles idos de 1717 e sim se tornaria um dos patrimônios mais sacros do catolicismo brasileiro, a padroeira da nação. Constitui-se tradicionalmente no catolicismo que os santos padroeiros, ou seja, os que são patronos ou oragos guardam e protegem o lugar, região ou pessoas que a eles são confiados, tendo como missão profícua diante de Deus rogar por aqueles que a eles recorrem em suas insatisfações e desafios humanos. O Brasil tinha como seu padroeiro São Pedro de Alcântara, cargo que lhe fora dado por Dom Pedro I em 1822 quando foi Proclamada a Independência. O fato é que São Pedro de Alcântara foi destituído do seu posto dando lugar para Nossa Senhora Aparecida, que vai ser reconhecida como padroeira nacional, ou seja, padroeira da nação 4 conceito que vai além de povo pela notoriedade toponímica que essa palavra abrange. Os dados em relação a devoção a São Pedro de Alcântara no Brasil são concentrados em indícios de fontes da administração da Igreja do Santo de mesmo nome, Capela Imperial, localizada na cidade de Petrópolis RJ, fragmentos que não se concentram em registrar as práticas de veneração ao Padroeiro e sim a relação financeira e administrava que a coroa imperial brasileira tinha com a mesma capela. Afastado da realidade do povo brasileiro do 4 Cf.Cf. Chauí, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000.

17 15 início do século XIX, o orago franciscano e espanhol não reunia em torno de si um grande número de devotos em todo o território nacional, dados que podemos constatar ao analisarmos a existência de apenas duas igrejas paroquiais que tem o santo como Padroeiro até os dias atuais. 5 A dissertação que apresentamos não tem como principal objetivo fazer um mapeamento estatístico das devoções presentes no Brasil durante o processo de escolha da nova padroeira. A proposta é entendermos qual a relação imediata do processo de romanização com a devoção a Nossa Senhora Aparecida que consequentemente vai expandir a mesma em uma esfera nacional e com aprovação oficial da Igreja e do Papa. Ao problematizarmos e levantarmos hipóteses sobre o processo que levou Nossa Senhora Aparecida se tornar padroeira da nação brasileira destacamos que este estudo é muito importante para contribuir com as análises diversas que estão surgindo dentro da historiografia brasileira, nas pesquisas sobre questões religiosas no Brasil, muitas apontam para Nossa Senhora Aparecida como parte da construção de ícones Nacionalistas e discorrem de forma subjetiva da utilização da devoção popular para este efeito. Torna-se necessário um estudo mais aprofundado dos sujeitos protagonistas dessa devoção que por enquanto aparecem pouco pesquisados nas abordagens da historiografia e das apropriações de memória oficial feitas pela própria Igreja 6 no Brasil. Na dissertação defendida por Lourival dos Reis (2000), pioneira sobre este tema da devoção a Nossa Senhora Aparecida, a hipótese levantada pelo pesquisador é perceber a relação do nacionalismo com a devoção a nova padroeira, bem como relacionando a isso a cor negra da imagem como um elemento simbólico utilizado pela Igreja em momentos oportunos para buscar legitimar uma identidade nacional construída na ideia da miscigenação. Para isso o autor utilizou como fonte para a sua pesquisa uma coleção de santinhos de Nossa da Conceição Aparecida propagados pelo Brasil de , tendo como questionamento principal o escurecimento das reproduções da imagem ao longo do processo de expansão do 5 Atualmente existe uma Igreja Paroquial dedicada a São Pedro de Alcântara no município de mesmo nome no estado de Santa Catarina com data de criação em 23/04/1843; também na cidade de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, possui uma Igreja dedicada ao santo. 6 Atualmente dispomos dos seguintes trabalhos acadêmicos que enfatizam a imagem de Nossa Senhora Aparecida como parte das constituições de símbolos nacionais brasileiros: Peters, José Leandro. Nossa Senhora Aparecida no discurso da Igreja ( ). (Dissertação de Mestrado). Juiz de Fora: UFJF,2012. SANTOS, Lourival dos. Igreja, Nacionalismo e Devoção Popular: as estampas de Nossa Senhora Aparecida (Dissertação de Mestrado). São Paulo: Universidade de São Paulo, ALVES, Andréa Maria Franklin De Queiroz. Pintando uma imagem Nossa Senhora Aparecida 1931: Igreja e Estado na construção de um símbolo nacional. (Dissertação de Mestrado). Dourados: UFGD,2005.

18 16 culto. Um processo artístico e político que possibilitou uma afirmação de identidade negra para a Padroeira de uma terra de mestiçagem como é o nosso país. Já na dissertação de Andréa Maria Franklin De Queiroz Aves (2005) o enfoque principal é a utilização da imagem religiosa de Nossa Senhora Aparecida no ano de 1931 pela Igreja e pelo Estado na construção de um símbolo nacional. A utilização política da imagem pela Igreja como elemento centralizador de sua unidade frente ao golpe que deu início a chamada Era Vargas ( ) é analisada através de fontes da imprensa, relacionando a construção do nacionalismo como forma de controle social da ordem objetivada pelo líder político. Dentre os principais símbolos nacionais a imagem da Padroeira abraça a bandeira brasileira em seu manto, possibilitando uma nova representação da mesma com o sagrado. As dimensões simbólicas que são pontuadas nas pesquisas acima se diferenciam no tocante as hipóteses que produzem: a primeira parte para o simbolismo através da reprodução gráfica da imagem de Nossa Senhora Aparecida, e a segunda indaga como está mesma imagem é utilizada como símbolo político dentro do contexto de fundamentação das bases de um nacionalismo brasileiro. O que fica evidente nestas duas pesquisas é a grande contribuição ao olhar a figura religiosa de Nossa Senhora Aparecida em sua relação com a sociedade brasileira como um todo, não apenas com o universo católico de modo que problemáticas até então não visitadas por historiadores pudessem constituir um discurso cientifico e acadêmico diferente do que foi concebido no mundo do pensamento intelectual católico brasileiro. Alguns apontamentos de pesquisa sobre a mesma temática aparecem no pensamento intelectual Católico Brasileiro, a representação da imagem de uma nova padroeira busca identificar um estilo de catolicismo brasileiro, reflexão pautada na necessidade de um rompimento com o processo de romanização fator contraditório as teorias e pesquisas acadêmicas que não estão imbricadas ao pensamento reflexivo desta instituição. 7 Os símbolos religiosos nos ajudam a indagar a existência de conflitos humanos diversos uma vez que os mesmos são constituídos e propagados por sujeitos que compõem o cenário social, econômico e político de variadas formas. Esses sujeitos assumem identidades ligadas as suas crenças e místicas constituindo um grupo de atores que propagam uma devoção que extrapola o âmbito individual e doméstico, caso contrário o culto a imagem de 7 Cf.: VILLAÇA, Antônio. O pensamento católico no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

19 17 Nossa Senhora Aparecida não teria chegado até os dias de hoje com tanto destaque no cenário religioso do país. No caso de Aparecida os pescadores e ribeirinhos assumem um papel predecessor ao dos clérigos e representantes da Igreja nesta devoção É importante, entretanto, não nos deixarmos imobilizar pela perspectiva histórico-cultural, e perguntarmo-nos se além da sua própria história um símbolo, um mito, um ritual, podem nos revelar a condição humana, enquanto modo de existência em um próprio universo. (ELIADE,1991, p.176) Ao revelar a condição humana, suas construções e articulações, os rituais e mitos proporcionam meios eficazes de questionamentos sobre as experiências e vivências das situações que são inevitáveis dentro dos processos sociais que vão sendo constituídos. A experiência religiosa é uma forma de questionamento sobre as realidades existenciais humanas, indagações que podem ser alimentadas por sentimentos de luta e esperança, melhorias ou simplesmente favorecem certa conformidade com a ordem social vigente e com os desafios cotidianos, daí a importância de identificar os sujeitos que primeiramente assumem e propagam essa crença. A proposta principal desta pesquisa é justamente traçar uma linha dentro do grande mosaico que é a devoção brasileira a Nossa Senhora Aparecida, como forma de resistência nas ações cotidianas através de uma experiência pessoal, que mesmo sendo reconhecida oficialmente pela Igreja não deixa estática e centrada em dogmas as construções particulares que aparem em torno da figura da mesma. A crença também é política e uma construção cultural, ela ilustra um espaço que o ser humano toma em sua posição social. A expressão de crença mais comum para o homem religioso é a devoção, substantivo que já pontuamos nesta introdução e conceito que melhor iremos definir no primeiro capítulo deste texto. Portanto, a forma como foi institucionalizada esta devoção a Nossa Senhora Aparecida dentro da política de romanização proposta pela Igreja é a nossa principal indagação. Cada imagem encontrada, cada nova devoção que surge em meio aos pobres torna-se uma crítica à incapacidade das instituições de oferecer, com exclusividade, o livramento necessário buscado por essas pessoas. As devoções populares são a evidência, pois de que as formas institucionalizadas de religião não são capazes de esgotar a demanda ou de monopolizar a oferta de bens de salvação. (ABUMANSSUR, 2017, p.115) Pesquisas relacionadas ao devocionismo, ao simbolismo, ao ritualismo e ao mítico são desafiadoras para os historiadores. O fenômeno religioso é manifestado na história e através

20 18 da história. E, pelo simples fato de estar manifestado na história, ele é limitado, é condicionado pela história. (ELIADE, 1991, p.27) Interpretamos o fenômeno religioso a partir da tradição cultural em que ele se manifesta, portanto, o campo historiográfico que permite uma discussão teórica mais assertiva em relação a devoção é sem dúvidas a História Cultural. Um dos expoentes deste campo historiográfico Peter Burke em seu livro O que é História Cultural? (2008) assinala que o terreno comum dos historiadores culturais pode ser descrito como a preocupação com o simbólico e suas interpretações. Símbolos, conscientes ou não, podem ser encontrados em todos os lugares, da arte à vida cotidiana [..] (p.10) Os símbolos religiosos como citamos anteriormente possuem em torno de si uma narrativa que transmite ao devoto uma inserção de experiência mística que culturalmente vai envolvendo o mesmo em torno de um mistério. Através desse espaço do mistério se percebe uma imersão na realidade do sagrado que constitui a experiência individual com a devoção, ou seja, um movimento que caracteriza essa presença no cotidiano ocasionando um hibridismo cultural nos diversos espaços de circularidade dos sujeitos envolvidos. Ao tratar da circularidade cultural, salienta Ginsburg: Os historiadores só se aproximaram muito recentemente e com certa desconfiança desses tipos de problema. Isso se deve em parte, sem dúvida nenhuma, à persistência de uma concepção aristocrática de cultura. Com muita frequência ideias ou crenças originais são consideradas, por definição, produtos das classes superiores, e sua difusão entre as classes subalternas um fato mecânico de escasso ou nenhum interesse; como se não bastasse, enfatiza-se presunçosamente a deterioração, a deformação, que tais ideias ou crenças sofreram durante o processo de transmissão. (2006, p.12) Desse modo, não podemos considerar a cultura apenas como um elemento a ser investigado a partir das classes superiores, esse fator nos desafia metodologicamente no decorrer de qualquer pesquisa sobre religiosidade, tendo em vista que a maior parte dos indícios e fontes que temos para investigar esse campo estão nos arquivos destas instituições e desafiam o historiador a uma leitura a contrapelo para buscar ali elementos de estudo em relação aos sujeitos envolvidos. Ao analisar os métodos em relação as pesquisas culturais Pesavento (2007) resume que a História Cultural pressupões um método, trabalhoso e meticuloso, para fazer revelar os significados perdidos no passado sugerindo potencializar a interpretação por meio de um

21 19 maior número possível de relações entre os dados pesquisados. Dentro desta metodologia o conceito que mais se aproxima de devoção popular é a cultura popular. Nesta perspectiva, ao problematizar o campo popular da cultura o pesquisador Chartier (1995) ressalta que a definição de cultura popular pode ser resumida em dois grandes modelos de interpretação: o primeiro concebe a cultura popular como um sistema simbólico autônomo que funciona segundo uma lógica absolutamente alheia a da cultura letrada, o segundo percebe a cultura popular em suas dependências e carências em relação a cultura dos dominantes. Compreendemos que essas duas definições podem ser encontradas a partir das diversas abordagens que esse tema pode estar inserido. Faz-se necessário destacar, no entanto, que a interpretação do conceito de cultura popular utilizada dentro deste texto concebe a cultura popular como um sistema simbólico autônomo que possui as suas características indiferentes da cultura letrada, como afirma o autor na definição citada no parágrafo anterior. Portanto, o que denominamos devoção popular não é simplesmente aquilo que não é reconhecido oficialmente pela Igreja, e sim as práticas que dialogam ou não com as dinâmicas institucionalizadas pela mesma e ainda assim resistem e são transmitidas. Em Stuart Hall (2003) vamos encontrar o seguinte esclarecimento: Quero afirmar o contrário que não existe uma cultura popular íntegra, autentica e autônoma, situada fora o campo de força das relações de poder e de dominação culturais. Em segundo lugar, essa alternativa subestima em muito o poder da inserção cultural. Este é um ponto delicado, pois ao ser apresentado abra-se à acusação de que está apoiando a tese da implantação cultural. O estudo da cultura popular fica se deslocando entre esses dois polos inaceitáveis: de autonomia pura ou do total encapsulamento. (p. 254) Deste modo, através das sociabilidades ou dos interesses que permeiam o campo religioso podemos entender que este campo da cultura é mutável e passa por alternâncias a partir dos espaços e sujeitos envolvidos, fator que novamente reafirma o conceito de hibridismo presente nas manifestações culturais que são movidas pelas relações sociais. Ao problematizar as relações culturais Benjamim (1940) nos alerta que a cultura não é isenta através do seu processo de transmissão, ou seja a propagação e utilização de símbolos

22 20 está relacionada a um contexto de apropriação das reminiscências do passado que contempla a busca da solução dos enfrentamentos sociais do agora 8. Através das práticas culturais dos exercícios de devoção popular que são os objetos desta pesquisa cabe questionarmos a tolerância da Igreja em relação aos mesmo podemos identificar espaços culturais de resistência que rompem com a ideia de conformismo, daí a necessidade que o historiador busque analisar os documentos produzidos por instituições problematizando além do que é proposto e informado pelas mesmas, produzindo então uma história a contrapelo. A documentação referendada para a construção deste texto em sua maioria, fazem parte do acervo do Centro de documentação e memória Padre Antão 9 Jorge localizado no segundo anda da torre do Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, na cidade de Aparecida SP. O acervo que foi criado no final da década de 1990, e abriga uma grande documentação relacionada ao culto a Nossa Senhora Aparecida e o seu desenvolvimento no Brasil. Segundo informações obtidas através de relatos de funcionários do acervo um seleto número de pesquisadores busca o local como meio de obtenção de registros e fontes para os seus trabalhos em torno da temática, sendo em sua maioria historiadores e religiosos que fazem trabalhos acadêmicos nas áreas de teologia, ciências da religião e arquitetura. O acervo do memorial é composto por uma série de jornais, revistas, livros religiosos diversos (desde livros devocionais a livros de cantos e partituras litúrgicas), plantas e projetos de construção arquitetônica, material áudio visual e fotográfico que registram desde os exercícios de culto a Nossa Senhora Aparecida até a construção de todo o complexo do Santuário Nacional, bem como os reconhecimentos oficiais feitos pelos papas e autoridades políticas em relação ao mesmo. A utilização de boa parte deste material é feita por outras divisões de trabalho dentro do próprio Santuário Nacional, devido à grande demanda de informações que as várias instancias que articulam os serviços neste local requerem, tais como: a manutenção do museu 8 Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. In Walter Benjamin - Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1987, p MOTTA, Bruna Gisele.; BIZELLO, Maria Leandra. Memória, lugares e documentos: centro de documentação e memória Pe. Antão Jorge CSSR do Santuário Nacional de Aparecida. Disponível em :< Acesso em : 17 de Novembro de 2017.

23 21 e do memorial dos devotos, a preparação de festas religiosas ligadas a datas históricas do culto a Nossa Senhora Aparecida e também fomentos para programas de Rádio e TV do próprio Santuário Nacional. Através de solicitações ao Santuário Nacional e de visitas para pesquisas separamos um número considerável de documentos que mesmo fragmentados em sua maioria possibilitaram o desenvolvimento deste trabalho. Parte desta documentação se encontrava digitalizada, e foi necessário retomar aos impressos originais para reconsiderar partes de periódicos que não estavam disponíveis por inteiro nos arquivos digitais. O acervo digitalizado é organizado em uma espécie de hemeroteca o que dificulta o trabalho do pesquisador já que para se levantar questões a partir de periódicos e fotografias é muito importante entender como são construídas estás séries em sua diagramação e redação. Como descrito acima podemos perceber que o acervo é muito mais para uso da própria instituição religiosa do que para pesquisadores de fora da mesma, devido a sua forma de organização ser precisa e específica nas denominações litúrgicas da Igreja. Os documentos escritos que utilizamos para alcançar os objetivos desta pesquisa são em sua maioria Jornais comerciais e confessionais, e também revistas religiosas. O memorial consta com todas as edições do Jornal Santuário, que foi fundado pelos Missionários Redentoristas no ano de 1900, congregação responsável pelo Santuário Nacional de Aparecida e pelo editorial do jornal que existe até hoje, sendo o veículo de comunicação de imprensa católica mais antigo do Brasil. Além das informações relacionadas ao âmbito religioso e de propagação do culto a Nossa Senhora Aparecida, o periódico que era publicado frequentemente também trazia informações acerca dos conflitos políticos internacionais, destacando aspectos econômicos e locai da região do Vale do Paraíba Paulista e informando os devotos das atividades a serem realizadas no santuário tanto no âmbito do cerimonial religioso, como nas promoções beneficentes de apoio as obras dos missionário redentoristas nas regiões de Aparecida SP. Material este que se torna um documento histórico de grande valor para a compreensão social do período, destacando que é através deste periódico que grande parte das tentativas de purificação de costumes de diversas devoções católicas vão ser publicadas, pois, como citado anteriormente é o primeiro periódico religioso a ser lançado no Brasil. Um outro material analisado é o Manual do devoto de Nossa Senhora Aparecida, livro impresso com autorização eclesiástica no ano de 1928, contendo os principais milagres

24 22 da santa em ordem cronológica e orações próprias da liturgia cristão, com uma série de orientações de exercícios espirituais em relação ao culto da imagem milagrosa. Portanto, as fontes para o conhecimento da prática devocional são cada vez mais múltiplas: Ou seja, qualquer fonte documental que for mobilizada para qualquer tipo de história nunca terá uma relação imediata transparente com as práticas que designam. Sempre a representação das práticas tem razões, códigos, finalidades e destinatários particulares. Identifica-los é uma condição obrigatória para entender as situações ou práticas que são objetos de representação. (CHARTIER,2001, p.16) Como apoio as discussões trazidas pelo jornal Santuário em 1927 foi feito o lançamento de um subsidio anual o Almanak de Nossa Senhora Aparecida, diferente dos almanaques existentes no período o almanaque de Aparecida possuía uma diagramação bem mais elaborada que facilitava a diversidade de seu conteúdo que possuía um grande espaço para uma matéria intitulada Crônicas de Aparecida onde eram publicas as manchetes mais destacadas de setembro a setembro do ano anterior pelo jornal Santuário. Neste material é predominante a utilização de fotografias e ilustrações que se relacionam com as matérias elencadas. Ele se encontra preservado e conservado em todas as suas edições no centro de documentação e memória citado anteriormente. Para a temática e período que buscamos analisar utilizaremos as publicações do Almanaque dos anos de que trazem de maneira detalhada aspectos do processo de Proclamação de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil, possibilitando um diálogo historiográfico com as fotografias que ilustram as matérias e tópicos destacados por este editorial. A utilização da fotografia como documento histórico é resultado da busca cada vez maior de uma ampliação do olhar sobre o homem e sua complexidade algo que as novas correntes historiográficas se propõem a fazer, comparadas com outras fontes como revistas, livros de tombo e registros paroquiais, descrição de discursos entre outros documentos a fotografia vem contribuindo com uma maneira muito objetiva de se pensar e escrever a história, possibilitando problematizações junto aos documentos escritos que ajudam a questionar os fatores sociais e construtores das memórias históricas. De maneira maior quando colocamos em destaque festa, devoção e representação, elementos culturais presentes nas crenças institucionais ou populares. Nessa perspectiva, a imagem não meramente ilustra o texto, nem o texto apenas explica a imagem, ambos se

25 23 complementam, concorrem para propiciar uma reflexão sobre os temas em questão (GODOLPHIM,1995 p.180). Dialogando com fronteiras interdisciplinares como a antropologia e as Ciências da Religião esta pesquisa pretende ampliar os estudos já existentes sobre as devoções populares no Brasil e foi intensificada no período da Era Vargas ( ). Sabemos que esta fase da história brasileira já mereceu atenção por parte de inúmeros estudiosos 10 relacionando as práticas religiosas legitimadoras utilizadas pelo estado. Entretanto, várias questões ainda permanecem desconhecidas. Uma delas é a ação romanizadora da Igreja Católica durante esse período através de práticas de representação e utilização de grande valor simbólico para o fortalecimento do nacionalismo e combate de ideias consideradas contra o governo republicano. Fazemos uma delimitação dentre estes fatores. Nesta temática conforme já foi salientado buscamos estudar a representação na Proclamação de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil em 1931 como uma política de apropriação da devoção popular e institucionalização do Catolicismo Romano, ou seja, o processo de romanização desta prática religiosa. Consequentemente, o símbolo que a imagem da nova Padroeira carrega representa de algum modo a mudança no olhar institucional da Igreja para esta devoção popular e transmite significados tanto para o campo religioso quanto para o social, desse modo utilizamos o conceito Representação para problematizarmos metodologicamente esse processo em que a imagem tendo recebido o título de padroeira ganha uma nova significância. De acordo com Chartier (2011) a noção de representação modificou profundamente a compreensão do mundo social, obrigando-nos a repensar as relações do ser social ou do poder político. Deste modo, ao analisarmos a crença a Nossa Senhora Aparecida como crescente devoção mariana popular do povo brasileiro, percebemos que sua representação também ganhará um cunho político, tanto na administração da própria Igreja como nas relações seculares entre Igreja e Estado. As relações entre essas duas tradições possuem um amplo alcance historiográfico que pode ser traduzido através do conceito de Representação, as representações simbólicas tendem a legitimar certas práticas sociais e culturais. Neste estudo de caso a Romanização 10 Cf: Discussões propostas pelo autor onde são relacionadas as ações da religiosidade no discurso nacionalista da Era Vargas ( ) LENHARO, Alcir. A sacralização da política. Campinas: Papirus, 1986.

26 24 de algumas devoções da piedade popular caminham em busca da centralização de uma representatividade assertiva e com um peso político considerável. As sugestões de capítulo buscam ilustrar um pouco a organização de temáticas que propomos fazer na dissertação: No Primeiro Capítulo Devoções e devotos: expressões culturais do catolicismo popular,propomos uma discussão em torno do conceito de devoção, problematizando a empregabilidade do mesmo no processo de formação do catolicismo no sudeste brasileiro. O objetivo principal é localizar na constituição do espaço histórico e geográfico da formação do vale do Paraíba paulista como local estratégico para a propagação e manutenção de crenças exercitadas sem a manutenção do catolicismo oficial, possibilitando reconhecer a influência europeia nestas práticas e ressaltando a importância dessa região como eixo de ligação entre a capital do Rio de Janeiro e as regiões das minas durante o chamado ciclo do ouro. Dentro dessa abordagem problematizamos a concentração de diversas nomenclaturas que compõem o conceito de Devoção popular, tais como: piedade popular, catolicismo popular, religiosidade popular. No segundo capítulo intitulado A Santa Aparecida : Trajetos da devoção popular centralizamos a discussão em torno da figura de Nossa Senhora Aparecida, a origem da sua imagem, dos seus primeiros devotos e as primeiras organizações propostas para este culto. As relações da devoção a Santa Aparecida com as demais práticas devocionais do Vale do Paraíba possibilitam entender o processo de popularização da mesma, imbricando a análise de conjuntura histórica de transformação desta imagem em um símbolo miraculoso que aos poucos vai ganhando uma proporção de territorialidade que começa a ser aproximada da prática oficial de culto do catolicismo naquele período. Este capítulo possibilita um panorama da evolução da devoção a Nossa Senhora Aparecida e sua transformação em um símbolo sagrado de proporção nacional na ressignificação feita pela Igreja em relação a mesma. O hibridismo cultural e a noção de representação possibilitam elementos teóricos para analisarmos essa conjuntura histórica. No terceiro capítulo A Nova Padroeira: devoção popular e o processo de romanização a partir da análise de documentos da imprensa e fotografia buscamos levantar hipóteses acerca da institucionalização das práticas devocionais a Nossa Senhora Aparecida através da tentativa de romanização destas mesmas práticas, destacando a presença de membros da Igreja como o Cardeal Leme que empreenderam uma política de purificação

27 25 destes exercícios devocionais ao conseguir a aprovação do Papa Pio XI em 1930 das práticas e honras litúrgicas próprias de padroeiros de lugares e nações, dado que é neste momento que Nossa Senhora Aparecida é proclamada padroeira do Brasil. De maneira atenta propomos uma problematização através do diálogo com essas fontes analisando como foram os festejos desta celebração ocorrida no dia 31 de maio de 1931 na cidade do Rio de Janeiro, reiterando as consequências subsequentes de fatores imbricados nesta celebração. O objetivo da presente pesquisa é, portanto, buscar o entendimento das ações de apropriação da devoção popular pela Igreja no Brasil durante o processo romanizador, cada qual em seu tempo histórico fazendo um estudo das representações simbólicas e das relações de interesses de ambos na apropriação e utilização da devoção popular e da crença como meio de dominação política.

28 26 1. DEVOTOS E DEVOÇÕES: EXPRESSÕES CULTURAIS DO CATOLICISMO POPULAR Era um cristianismo de muita reza e pouco padre, muito terço e pouca missa. Hoornaert A epígrafe acima nos propõe uma problemática baseada em fatos cotidianos que se desenvolveram na formação da sociedade brasileira desde o século XVI, no início da formação da América Portuguesa. 11 A presença da Igreja no Brasil faz parte de uma transição que está aliada a política colonizadora catequética onde a tentativa de substituição das práticas religiosas dos povos originários desta região pode ser observada por aspectos diversos sejam pelas pesquisas historiográficas ou pelas fontes que utilizamos para delimitar essa pesquisa. Grande parte destes estudos dividem o catolicismo desenvolvido na sociedade brasileira em duas partes distintas, a primeira desde o processo catequético iniciado por volta de 1534 até 1960, e a segunda de 1968 até a atualidade nos pós concílio Vaticano II que redefiniu as estruturas teológicas e catequéticas de toda a Igreja. Podemos considerar que está divisão se relaciona muito mais ao campo do desenvolvimento dos estudos do pensamento teológico na Igreja do Brasil do que propriamente uma divisão de período na História da Igreja no Brasil que considerasse outros objetos de pesquisa. A organização deste capítulo dentro de uma normatização cronológica de modo algum quer assinalar que nas diversas conjunturas históricas acontece um processo de forma linear, ou reforçar um debate teórico historiográfico já superado de que o agora depende do antes e que os acontecimentos são consequências pré-determinadas por períodos e séculos. A ordem utilizada aqui é apenas com o intuito de facilitar didaticamente a leitura dos fatos a partir das fontes consultadas. Para Benjamin (1987) a história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de "agoras"(p.232). Consequentemente a opção por uma sequência cronológica nos fatos que aqui apontamos são comparativos 11 Cf. AZZI, Riolando. A instituição eclesiástica durante a primeira época colonial. In: HOONAERT, Eduardo et.al.,coords. História Geral da Igreja no Brasil. São Paulo/Petrópolis, Vozes/Paulinas,1983.

29 27 que atualizam essa dimensão de circularidade nas diversas conjunturas históricas, e tendem apenas a colaborar com a organização das ideias dentro do texto. Neste primeiro capítulo a partir da análise de dois periódicos que fazem parte da imprensa regional do vale do paraíba, datados da segunda metade do século XIX, propomos uma análise de algumas práticas devocionais que encontramos nas notas e colunas de ambos. O jornal Parahyba, disponibilizado em hemeroteca do arquivo do Museu de Santo Antonio de Sant Ana Galvão, da cidade de Guaratinguetá SP era um periódico semanal que circulou na região na segunda metade do Século XIX. Poucos exemplares deste periódico estão disponibilizados para consulta, sobre este jornal salienta Assis: Jornal considerado de direita, O Parahyba sempre defendeu os interesses do Partido Conservador, tendo que disputar público, a partir da década de 1880, com outros veículos locais de natureza distinta, como O Liberal, criado em 1881 (C. MARCONDES, 1973). Até 1884, era impresso em prelo de madeira, cuja capacidade permitia a tiragem de, no máximo, 100 exemplares por edição; a partir de então, começou a ser rodado em tipografia de ferro. (2008, p.02) Nesta perspectiva podemos compreender que o número de tiragem não era muito grande, portanto, o jornal possuía um público leitor pré-determinado na região do vale paulista e fluminense. Os exemplares que analisamos destacam pequenas notas informativas no que se refere a religiosidade, como convite para missas de sétimo dia ou in memoriam e outras informações sobre festas e cronogramas paroquiais. pesquisa: De acordo com Capelato (1988) a imprensa nos oferece inúmeras possiblidades de A imprensa oferece amplas possibilidades para isso. A vida cotidiana nela registrada em seus múltiplos aspectos, permite compreender como viveram nossos antepassados não só os ilustres, mas também os sujeitos anônimos. O Jornal, como afirma Wilhelm Bauer, é uma verdadeira mina de conhecimento: fonte de sua própria história e das situações mais diversas; meio de expressão de idéias e depósito de cultura. Nele encontramos dados sobre a sociedade, seus usos e costumes, informes sobre questões econômicas e políticas. (1988, p.21) Um outro periódico analisado é o jornal Liberdade, que possui todo o seu acervo digitalizado e disponível para consulta pela internet. O jornal teria circulado entre os anos 1924 e 1928, tendo como principal foco a emancipação do distrito de Aparecida em cidade, foi dirigido por um professor Julio Machado Braga e sobre a religiosidade e vida paroquial

30 28 da cidade de Guaratinguetá e região se concentra mais em notificar as celebrações e visitas que ocorreram no Santuário de Aparecida, valorizando desta forma a religiosidade em torno da santa. Entendemos que inúmeras construções culturais são feitas por aqueles que protagonizam o período histórico em que vivem 12, e existem práticas diversas nestas conjunturas históricas que vão além da problematização teológica. Essas práticas também se referem ao universo religioso, as expressões criadas estão associadas a circularidade cultural que proporcionam trocas de saberes, e constroem a partir desses saberes novas construções culturais. Essas construções não fogem da influência do espaço geográfico e da cultura local, ou seja, o desenvolvimento da crença representa uma maneira transcendente de conexão com o sobrenatural a partir do natural, imbricando as tensões culturais que podem ser localizadas no olhar para cada uma delas. É exatamente desta maneira que surge a prática da devoção. Consequentemente, as devoções podem ser construídas, reforçadas e difundidas na vida cotidiana. O conceito de devoção aparece durante a reformulação social do cristianismo na Europa do século XVI, ou seja, durante a Reforma Protestante 13 onde um contato de forma direta com o divino vai sendo consolidado nesta sociedade humana visando uma ruptura com as estruturas de uma prática ritualística medieval. A propagação de um cristianismo medievalista estava condicionada a realização de ritos comunitários como peregrinações, procissões e romarias promovendo uma crença onde as manifestações rituais eram mediadas por figuras religiosas eclesiásticas como bispos e padres que possuíam um poder simbólico institucional de contato com o místico onde podiam relacionar a natureza humana com as sobrenaturais. As práticas religiosas do imaginário medievalista mostram indicadores de uma religiosidade comunitária e hierarquizada onde suas temáticas eram propostas e redigidas por membros de uma instituição 14. A aprendizagem da prática religiosa estava ligada a família e a sociedade em que o indivíduo estava inserido. 12 In: GEERTZ, Cliford. A Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, In: SEFFENER, Fernando. Da Reforma a Contrarreforma.Coleção História geral em documentos. São Paulo: Atual. 14 Ibid.

31 29 Para Hoornaert (1991) um novo modelo de prática religiosa vai se expandir, as chamadas devoções. As práticas de devoção se propagam durante o início da Idade Moderna no século XV, em poucos anos a devotio conquista a Europa cristã mesmo sem receber um apoio da hierarquia da Igreja. A palavra devoção vem do latim, devotione, ou seja, dedicar-se a um encontro de experiência mística, não através da razão, e sim através de uma prática de fé. Várias discussões dentro das ciências humanas alertam para a construção cultural do conceito de devoção, que vem sendo explorado por diversos teóricos da antropologia, sociologia e teologia. Podemos considerar que a expressão cultural que mais caracteriza a crença após a sociedade moderna para o homem religioso é a devoção. As devoções populares também se constituem em um conjunto rico e diversos em suas práticas, origens e configurações. Há devoções em torno de santos reconhecidos pela hagiografia oficial da Igreja e há aquelas que surgem de tradições imemoriais da cultura dos povos e comunidades. Algumas estão mais próximas do controle eclesiástico, outras não são sequer reconhecidas como práticas aceitáveis. Há devoções que sustentam dois níveis de narrativas, uma formal, que pode e é usada na catequese, e outra centrada no caráter extraordinário e legitimador- da devoção, mantendo assim uma tensão dinâmica entre os ritos oficiais e a espiritualidade mágica popular. (ABUMANSSUR, 2017, p.109) Deste modo as práticas religiosas das devoções dão um novo significado ao exercício do catolicismo, as devoções partem de uma experiência entre o místico e a sua crença dando uma originalidade na relação entre o devoto e o exercício devocional, um modelo inovador dentre as formas que são propagadas e institucionalizadas pela Igreja. É através do estabelecimento de uma ligação mais próxima com a Virgem Maria, os santos ou santas que o diálogo estabelecido pelo devoto propõe um novo significado com o sagrado. O devoto pode dialogar de maneira mais objetiva com o seu santo, seja através das promessas e ex votos, ou realizando trocas e barganhas múltiplas através de missas, procissões, peregrinações, velas acesas, festas e até mesmo vestimentas. Ao analisar essa ritualização no folclore brasileiro Câmara Cascudo assinala que: Para o povo o sobrenatural é lógico pelas simples evidencia, explicando-se pelo próprio mistério impenetrável às argúcias da curiosidade humana. Ao contrário dos intelectuais, o popular não se interessa pela explicação ao fenômeno, mas unicamente por sua interpretação. Tem a intuição do silencio impassível a todas as perguntas, infalíveis e inúteis. (2001, p.33)

32 30 As devoções propõem uma criatividade de relacionar o sagrado e o profano, o pagão e o cristão de modo muito particular. A prática devocional dá um novo significado a interpretações dogmáticas deste catolicismo oriundo das experiências particulares que objetivam a santidade daqueles que as praticam. Desta maneira seria muito impreciso considerar as devoções apenas como práticas que estão paralelas ao catolicismo oficial. Os devotos possuem então práticas piedosas que são principalmente expressas através da oração, das romarias, das peregrinações, benzimentos e festas de santos exemplos citados anteriormente que fazem parte de um "culto privado" mais amplo, que é chamado de piedade popular. 15 Conforme Londoño: Nas diversas formas de piedade que a cristandade foi estabelecendo, o culto a dezenas de santos, reconhecidos ou não pelo magistério da Igreja, abriu um rico espaço para crenças, atos e manifestações provenientes de outras religiões. Através do reconhecimento de milagres e graças, a devoção aos santos, com sua plasticidade, pode alojar a crença na eficácia de gestos rituais alheios ao cristianismo, permitindo assim a permanência de redefinidas referências de ordem e sentido. (LONDOÑO, 2001, p.13) Estas expressões populares de fé, consideradas piedade popular desenvolveram-se à margem da liturgia oficial do catolicismo, mas elas, se forem sabiamente praticadas e mantidas longe de qualquer superstição, são reconhecidas pela Igreja Católica como importantes para o fomento da fé e da espiritualidade dos fiéis. De que maneira essas práticas poderiam se manter longe daquilo que a Igreja considera como paganismo ou superstição? Uma outra prática comum na devoção popular é utilizar a imprensa como local para pedir, agradecer e divulgar as graças que foram alcançadas em determinadas situações. Na prece abaixo, intitulada O desespero do solteiro publicada no jornal O Parahyba, podemos problematizar esse tipo de publicação: 15 De acordo com o Artigo Primeiro do Catecismo da Igreja Católica Nº1674, se considera que: Fora da liturgia dos sacramentos e dos sacramentais, a catequese deve ter em consideração as formas de piedade dos fiéis e a religiosidade popular. O sentimento religioso do povo cristão desde sempre encontrou a sua expressão em variadas formas de piedade, que rodeiam a vida sacramental da Igreja, tais como a veneração das relíquias, as visitas aos santuários, as peregrinações, as procissões, a via-sacra, as danças religiosas, o rosário, as medalhas, etc.

33 31 Perdido no mundo sem ella sem norte; És triste caminho, sozinho, citado; Enquanto mais vivo, mais eu me convenço; Deveres, não posso d alguem ser amado; Oh Christo bondoso, tu vês a desgraça; Que sempre me segue sem nunca findar; Embora contricto as taltas confesse; Humilde de joelho as aos pés do altar.[...] Tu creias que aceito, á toa, não peço; A vida de moço no mundo perdido; E fraco barquinho, sem nauta, sem leme; Nas ondas bravios dos mares varrido! São Paulo, Maio de 1879 J.A. (Nº ) Esse poema em forma de oração, permite percebermos que de fato a devoção popular tem características próprias e diferentes das orações tradicionais, sempre evocando uma característica ligada ao sofrimento e ao sacrifício. De que modo essas características demonstram circularidade entre os elementos da devoção popular e a prática institucional religiosa da Igreja? Certamente o que pode ser considerado como diferença entre a prática religiosa devota católica da prática religiosa oficial da Igreja não é algo a ser percebido apenas com um simples olhar, ambas práticas dialogam entre si e em certos momentos imbricam, ocasionando uma série de proficuidades das mesmas. Desde as procissões e novenas, romarias, peregrinações, benzimentos e outros exercícios considerados de piedade popular, é possível percebermos diferenças entre o que é considerado sacro, ou seja, o que está dentro das normatizações doutrinárias da Igreja e o que é considerado religioso, ou seja, elementos que podem até auxiliar o fiel em sua crença religiosa, mas, não é reconhecido oficialmente dentro das normatizações da liturgia da Igreja. A procissão, por exemplo, existe apenas dois atos processionais que fazem parte da liturgia oficial do catolicismo: a procissão dos ramos, que é celebrada no Domingo de Ramos conforme o calendário litúrgico católico e a procissão das velas, celebrada na festa da apresentação do menino Jesus no templo no dia 02 de fevereiro, data fixada no calendário litúrgico. Todas as outras procissões como a de Corpus Christi, são celebradas de acordo com a cultura do lugar e ganham características de um ato devocional dentro de uma celebração romanizada. Um outro exemplo disso é a conservação doméstica de relíquias dos Santos e Santas, as igrejas mantêm o costume de conservação de relíquias consideradas sagradas, só que a forma de prática religiosa em torno desse hábito pode estar direcionada para objetivos totalmente diferentes. Na tradição popular a relíquia de um santo aparece quase como se fosse um amuleto, que afasta o perigo e protege o devoto que a ela se apega.

34 32 Em outras palavras, quando a Igreja em sua prática litúrgica oficial propõe aos fiéis a veneração de uma relíquia ela busca enfatizar uma prática de representação, simbolizando em um objeto os sinais dogmáticos de benção e catequese, admoestando os fiéis a seguirem o exemplo daquele santo ou santa para que possam buscar a santidade. Isso na esfera do catolicismo oficial, ou catolicismo romanizado. Todavia na prática devocional popular, como pontuamos anteriormente, seja na igreja ou em casa a conservação das relíquias absorve um sentido totalmente diferente, aquele objeto se torna um amuleto para proteger o devoto contra os perigos cotidianos do mundo natural, a relíquia o livra dos olhares maliciosos, das doenças e desastres que se afastam da casa, ou da pessoa que conserva a mesma. Certamente em cada forma de representação do místico e do sagrado proposta se possui uma sensibilidade diferente. O entendimento que se tem é através da utilização desta relíquia e não um pressuposto catequético. Desta maneira Pesavento (2012) define que a representação, seria dada pela exposição de uma imagem, que se substitui, algo/outro, ou mesmo pela exibição de objetos ou ainda por uma performance portadora de sentidos que remetem a determinadas ideias. (p.37) Na definição de Berger: No catolicismo, o homem vive em um mundo no qual o sagrado é mediado por uma série de canais- os sacramentos da Igreja, a intercessão dos santos, a erupção recorrente do sobrenatural em milagres-uma vasta continuidade de ser entre o que se vê e o que não se vê, numa continuidade entre o empírico e o supra empírico que pressupõe uma união permanente dos acontecimentos humanos com as forças divinas que permeiam o universo, efetuada (não apenas reafirmada, mas literalmente restabelecida) repetidas vezes no ritual religioso (1985, p.124) A série de canais entre o mundo natural e sobrenatural é esclarecida na experiência dos rituais religiosos, a ligação desse rituais com as esferas do mundo cotidiano levam o devoto a se identificar de maneira significativa com devoções caracterizadas a partir das particularidades em que ele vive, por exemplo, em um período de seca a propagação de procissões 16 penitenciais e rogativas fazem um apelo a divindade pela chuva e boas colheitas, na ocasião das epidemias e enfermidades a utilização de rezas e benzimentos. Essas atitudes remetem a uma tradição cultural e nos levam a perceber como os movimentos 16 In: KANTOR, Iris. Pacto festivo em Minas colonial. São Paulo: Universidade de São Paulo, Dissertação de Mestrado. (Policopiada).

35 33 da vida e suas necessidades legitimam por conta própria ao devoto a práticas imbricadas na sua crença. A conjuntura de formação histórica do catolicismo popular brasileiro, que pontuamos até aqui destaca uma prática com distanciamento do clero, aos olhos de muitos religiosos este catolicismo era cheio de excessos e deveria ser combatido, conforme os estudos de Câmara Cascudo: Sem a intervenção minuciosa e suspicaz do clero na vida mental, lenta e coerente do povo, foi possível a manutenção da herança intocada de receitas e conceitos para julgar as ocorrências do cotidiano. Essencial ao equilíbrio estável era a satisfação notória dos deveres cristãos, as obrigações ao culto, e não a vivencia doutrinal cristã. O entendimento popular não sente incompatibilidade alguma entre seu pensamento aferidor das coisas e a consciência do Catecismo, vagamente pressentido e venerado em potencial. Evita a exibição ante o ministro sagrado que executa outro processo aliciante da divindade. Quanto pensa e pratica fora natural e licito. Assim, conserva, intatos, os santos dispensáveis do calendário, alguns de inarredável predileção. (2011, p.32) Podemos compreender que as ações cotidianas dos indivíduos vão sendo ligadas ao mistério que se acredita, partindo da prática religiosa essas atitudes proporcionam um diálogo diferente com o espaço do mundo do trabalho, das ideias, das festas e das necessidades. A característica principal do devoto é reconhecer essa presença das ações místicas em tudo aquilo que ele for fazer e observar seja nos momentos de felicidade ou tristeza de algum modo ritualizando o seu dia e produzindo de maneiras diversificadas ritos de passagem e integração social 17. As propagações de devoções dão as mesmas uma interpretação de popularidade, em sua maioria as crenças descritas como populares são cheias de significados míticos e interpretações baseadas na transmissão da oralidade e dos costumes populares, não estão preocupadas com interpretações cientificas ou teológicas e sim com a relação estabelecida entre o santo e o devoto. O catolicismo popular brasileiro é tributário da religiosidade ibérica que prevalecia no período da expansão colonial portuguesa. A maioria das imagens, atualmente cultuadas, foi trazida para o Novo Mundo pelos 17 De acordo com Guilouski: Entre os diversos tipos de rituais religiosos destacam-se: Iniciação ou passagem: rituais de iniciação para vida adulta nas sociedades tribais, batismo cristão, crisma, casamento, investiduras e ordenações de líderes das diversas tradições religiosas, Bar Mitzvah e Bat Mitzvah no Judaísmo, feitura na Umbanda e Candomblé... (GUILOUSKI,2012, p.98).

36 34 padres colonizadores como, por exemplo, a Virgem de Nazaré ou o Bom Jesus. Essas imagens serviram como foco de atração de uma religiosidade frouxa e difusa, que se constituía pela interação com as religiões áfricas e indígenas. Dadas a dimensão do território brasileiro e a sua insuficiência da assistência pastoral, a religião que medrou por aqui se tornou dependente da ação dos leigos. Essa religiosidade organizada em torno do culto aos santos, das novenas, festas e romarias prescindia do clero para se constituir. (ABUMANSSUR, 2017, p.111) Com efeito as crenças nos santos, nas peregrinações e romarias, a prática de uma oração individual e um encontro direto com o divino sem intermediação de um chefe religioso vai ser o modo de fé tecido principalmente pelos grupos sociais que não possuíam acesso a uma instrução catequética doutrinal da Igreja, dado que no Brasil como analisaremos no terceiro capítulo as paróquias eram poucas, e as dioceses também. No Brasil rural a assistência paroquial era dificultada pelas distâncias, pela própria ausência de padres e sobretudo pela população a ser assistida. (REIS, 1997, p.106) A prática das romarias e peregrinações também eram incentivadas na região de Aparecida SP, mesmo sendo o santuário um local que recebe muitos peregrinos, a prática devocional deste ritual também está presente o periódico Liberdade que circulou na década de 1920 pela região fez a seguinte publicação: As associações religiosas da Basílica promovem no dia 25 uma romaria ao santuário do Sr. Bom Jesus de Tremembé, na qual poderão tomar parte todos os catholicos praticantes da paróquia. Afim de tratar da organização da romaria foi nomeada de acordo com o revmo.vigário uma comissão composta dos srs. José de Freitas Valladão, Julio Machado Braga e Feliciano de Freitas Valladão, cm os que podem ser adquiridas as passagens cujo preço é 4$000. As inscrições terminaram no dia 24. (Ed ) O sr. Bom Jesus de Tremembé tem a sua imagem em um santuário na cidade de mesmo nome, acorrem a ele devotos de várias localidades do vale do Paraíba. O que poderia caracterizar essa prática como uma iniciativa dos exercícios de oração ligados a devoção popular? Ora, o caráter significativo da romaria é reafirmado pelo sofrimento do deslocamento, sendo a pé pelo esforço físico, se for feita por algum outro meio de locomoção como carro, ônibus ou trem é justamente o gasto com a passagem que garante o sacrifício feito pelo devoto. No caso do convite acima, fica evidente o protagonismo dos organizadores que mesmo estando em acordo com o vigário, assumem o papel de organizadores desse ritual.

37 35 Em sua maioria as igrejas eram dirigidas pelas irmandades religiosas e padres missionários que pregavam missões onde realizavam os sacramentos como casamentos, batizados e festas de padroeiros, sendo estes os poucos momentos que uma instrução catequética profícua de acordo com a doutrina oficial da Igreja era possibilitada. A prática de um catolicismo paroquial estava na maior parte do tempo relacionada a vida urbana. Desse modo as irmandades e confrarias religiosas possuíam um caráter de sociabilidade que ajudava na manutenção de práticas devocionais que na maioria das vezes não eram assistidas por clérigos e possuíam uma certa autonomia em relação as práticas litúrgicas do catolicismo oficial, como vimos anteriormente tanto na semana santa, como nas peregrinações e romarias mesmo existindo a tutela do clero acontece um protagonismo por parte daqueles que organizam tais atos, demonstrando que outras práticas ganhavam espaço e aconteciam. Consequentemente no cristianismo brasileiro práticas como a reza do terço, as peregrinações e romarias, os compadrios em festas de São João, as excelências e ofícios devocionais foram sendo estabelecidas nas tradições domésticas e algumas expandidas para tradições locais ou regionais, buscando elementos e características próprias do lugar tais como: a natureza, as relações de trabalho, as festas, os funerais, os nascimentos e os tempos ligados ao calendário oficial católico. As devoções têm a sua marca na transmissão oral e hereditária sempre se reafirmando através da língua local. Palavras e imagens são formas de representação do mundo que constituem o imaginário. (PESAVENTO, 2012, p.57) Assertivamente o conjunto de representações distinguiria o simbólico e o imaginário. O imaginário social é cada vez menos considerado como uma espécie de ornamento de uma vida material destacada como a única real, ou seja, o imaginário é reforçado através das representações simbólicas materiais. Materialidade esta que não podemos delimitar quando tratamos da prática religiosa, pois está prática possibilita uma experiência de transcendência ou mística que evoca sentimentos e abstrações que mesmo sendo para resolver questões da vida material estimulam elementos do sobrenatural que fazem parte do imaginário. Podemos considerar que o imaginário se mostra um fator preponderante de mudança a cada época, a cada crise individual ou social que faz com que o devoto intensifique a sua prática, em um primeiro momento para pedir e no segundo momento para reclamar ou

38 36 receber a graça alcançada, fazendo com que o mesmo através do imaginário possa assimilar ou integrar em suas determinações como algo corriqueiro. As escolhas de soluções para os problemas que os devotos apresentam ao santo ou santa de devoção partem da solução normal para a mística, transferindo essa resolução no imaginário para o divino. Para Baczko: Sendo todas as escolhas sociais resultantes de experiências e expectativas, de saberes e normas, de informações e valores, os agentes sociais procuram, sobretudo em situações de crise e conflito graves, apagar as incertezas que essas escolhas necessariamente comportam. É assim que estas escolhas são muitas vezes imaginadas como as únicas possíveis e mesmo como impostas por um destino inelutável. Uma das funções dos imaginários sociais consiste na organização e controle do tempo coletivo no plano simbólico. (1985, p.312) Em outras palavras a prática devocional que parte dos imaginários sociais através de seus reflexos simbólicos vai alcançando popularidade, ou seja, é uma prática religiosa que se torna popular, sua popularidade está presente na forma como é divulgada e exercitada. O simbolismo acrescenta um novo valor a um objeto ou uma ação, sem por isso prejudicar seus valores próprios e imediatos. Aplicado a um objeto ou uma ação, o simbolismo os torna abertos. O pensamento simbólico faz explodir a realidade imediata, mas sem diminuí-la ou desvalorizá-la; na sua perspectiva, o universo não é fechado, nenhum objeto é isolado em sua própria existencial idade: tudo permanece junto, através de um sistema precioso de correspondências e assimilações. (ELIADE, 1991, p.178) A maior parte dos rituais religiosos do catolicismo estão ligadas a figura simbólica do clérigo e por ele são dirigidas, a alternativa da prática devocional ocasiona um outro simbolismo é uma ligação direta com o divino sem necessidade do intermédio entre o devoto e o santo. De acordo com Hoornaert: A influência da devotio moderna foi corrosiva em relação à ordem hierárquica do cristianismo e por isso o movimento não foi bem visto em Roma pelas autoridades eclesiásticas. Diante da repercussão da devotio por toda a Europa elas não tiveram muito o que fazer senão esperar o momento oportuno para revirar o quadro, o que aconteceu com o paroxismo do protestantismo no século 16, que paradoxalmente ofereceu a hierarquia as oportunidades para rearticular o projeto clerical. Nos séculos 14 e 15contudo houve uma aspiração crescente no corpo social cristão ocidental no sentido de se desclericalizar a vida cristã em geral e relegar as distinções hierárquicas a um nível puramente operacional, esvaziando as considerações pretensamente teológicas acerca da distinção entre

39 37 sacerdote e cristão comum. Na devoção toda eram afinal de contas igualados diante dos santos e da tarefa de se santificar. (1991, p.65) Conforme já destacamos a utilização do adjetivo popular se refere a povo, ou seja, uma prática que adquire popularidade. Portanto a devoção popular estaria ligada a um culto aberto daqueles que dialogam com o catolicismo oficial e que lhe oferecem um novo significado a partir de suas vivências cotidianas com distanciamentos do meio clerical. A devoção popular pode ser relacionada ao conceito de cultura popular. A despeito disso, Chartier (1995) afirma que: Compreender a "cultura popular " significa, então, situar neste espaço de enfrentamentos as relações que unem dois conjuntos de dispositivos: de um lado, os mecanismos da dominação simbólica, cujo objetivo é tomar aceitáveis, pelos próprios dominados, as representações e os modos de consumo que, precisamente, qualificam (ou antes desqualificam) sua cultura como inferior e ilegítima, e, de outro lado, as lógicas específicas em funcionamento nos usos e nos modos de apropriação do que é imposto.(p ) Para Boff (2006) não existe piedade popular 18 que não integre de fato uma dimensão sociopolítica, ou seja, a propagação da devoção seja de forma doméstica ou em pequenos grupos é uma maneira política de questionar o papel dos clérigos nas funções que lhes são socialmente determinadas. A construção de um pensamento religioso desclericalizado, ou seja, com distanciamento dos clérigos não pode ser caracterizado apenas uma necessidade ligada a subversões das questões hierárquicas. A Europa Moderna vivia um processo de reestruturação da vida social quando as devoções começaram a se popularizar. O crescimento das cidades, a descoberta do novo mundo e a expansão do protestantismo são fatores que levam a questionar a autoridade institucional do clero e possibilitam o aumento de práticas representativas que reforçam a igualdade de clérigos e não clérigos, em busca de objetivos relacionados a prática devocional que exercitam. Acima de tudo é necessário pontuar que muitas das devoções se popularizam também através de clérigos, aos poucos muitos foram se aproximando destas práticas. As ordens religiosas que vieram para a América portuguesa trouxeram junto consigo inúmeras invocações devocionais que possibilitaram uma imersão no processo catequético de um devocionismo, abrindo brechas para uma rápida expansão de um catolicismo leigo 18 Conforme Hoornaert: Catolicismo vivido pelos pobres em geral. (HOORNAERT,1974, p.98)

40 38 marcado pelas popularizações que persistem até os dias atuais com as invocações diversas de santos e santas propagadas principalmente nos locais onde a presença de clérigos foi quase inexistente. A lógica do funcionamento da Igreja, a prática sacerdotal e, ao mesmo tempo, a forma e o conteúdo da mensagem que ela impõe e inculca, são a resultante da ação conjugada de coerções internas, inerentes ao funcionamento de uma burocracia que reivindica com êxito mais ou menos total do monopólio do exercício legítimo do poder religioso sobre os leigos e da gestão de bens e salvação, e de forças externas que assumem pesos desiguais de acordo com a conjuntura histórica. As coerções internas surgem como imperativo da economia de carisma que deseja confiar o exercício do sacerdócio, atividade necessariamente banal por ser cotidiana e repetitiva, a funcionários intercambiáveis do culto e dotados de uma qualificação profissional homogênea adquirida por um processo de aprendizagem específica, e aparelhados com instrumentos homogêneos capazes de possibilitar uma ação homogênea e homogeneizante (BOURDIEU, 2011, p ). O processo de expansão do catolicismo devocional acontece concomitantemente com a expansão do catolicismo nas terras além mar. Na América portuguesa a influência do catolicismo devocional se torna muito forte principalmente com a fundação do Colégio de Piratini pelos religiosos jesuítas em 25 de janeiro de 1554.

41 O catolicismo devocional das minas ao ciclo paulista A propagação de um catolicismo devocional entre as regiões das minas acontece de maneira tão forte no final do século XVII tornando propicias uma sequência de manifestações ligadas a expressões artísticas como o barroco que vai caracterizar este período da história brasileira. Figura 1- Mapa da região das minas e sudeste (1707) O mapa acima, reproduzido a partir de um mapa de 1707 nos ajuda a observar a região de conjuntura histórica da devoção popular que propomos analisar. Importante eixo de ligação entre a sede governamental do Rio de Janeiro e a chamada região das minas podemos entender que esse trajeto é privilegiado, pois, é através dele que o abastecimento dessa mesma região é proporcionado, incentivando o aparecimento de vilarejos, hoje

42 40 constituídos em cidades. Um ponto importante é entendermos que a proibição do estabelecimento de ordens religiosas nestas regiões acontece justamente como uma forma de prevenção da apropriação desses mesmos grupos como instituições de terras que poderiam vir a ser encontrados veios de mineração. Fator que devemos considerar, dado a influência da Igreja na formação da América portuguesa, como aliada a coroa no processo educacional através da catequese. Eventualmente a presença da Igreja como mantenedora do processo educacional e catequético na América portuguesa estava atrelada as necessidades do processo colonizador. A formação catequética da Igreja no ciclo paulista se torna muito eficaz e produtiva com a utilização das devoções como método de instrução e propagação da fé católica entre as classes que formavam. Tão grande é a influência do cristianismo devocional na formação do Brasil que podemos falar em duas forças sociais que modelaram o modo de pensar do brasileiro em termos de religião: a força da instituição oficial (a missão) e a força da devoção. Por onde a instituição oficial construiu igreja s e catedrais, conventos e mosteiros, a devoção construiu uma multiplicidade de santuários que vão desde os santuários domésticos (oratórios) até os centros de romaria que até hoje congregam milhares e milhares de devotos por ocasião das festas anuais. (HOORNAERT, 1991, p.67) De fato, a construção de um catolicismo devocional na região paulista e na região das minas está ligada a representação do sagrado nas festas populares que muitas vezes precediam ou aconteciam juntamente com as solenidades religiosas 19, a maior parte dessas festas preservavam uma estrutura de classes e algumas tentativas catequéticas por parte da Igreja. Conforme pontuamos é exatamente no final do século XVII que as práticas devocionais vão adquirir um caráter público e social de formas diferenciadas. A grande proliferação de construção das igrejas com invocações devocionais diversificadas atreladas ao aparecimento de inúmeros altares nas naves laterais das mesmas que passam a ser dedicados a inúmeros santos e santas oriundos das invocações domésticas propõem novas formas sociais de relacionar o espaço público, de maneira que as ações religiosas começam a ser reinventadas. 19 In: JANCSÓ, István; KANTOR, Iris, org. Festa: cultura e sociabilidade na América portuguesa. São Paulo: Hucitec: EDUSP: FAPESP: Imprensa Oficial, v.

43 41 Boff (2006) salienta que as principais características da devoção popular são: sentimento, exuberância, expressividade, vitalidade e caráter maravilhoso. Segundo a doutrina católica, a devoção é um "culto privado (pessoal ou comunitário)", centrado no ato de entrega ou consagração de si próprio ou da comunidade" ao amor de Deus (e, por extensão, ao das pessoas divinas, aos santos" e à Virgem Maria). No século XVIII a grande proliferação de irmandades e confrarias reunindo diversos grupos em sociedades de devoção podem ser consideradas a melhor forma de expressão comunitária de algumas devoções, desta forma a expansão do catolicismo devocional na região das minas e no planalto paulista se torna não apenas uma prática religiosa e sim uma prática de sociabilidade que garantia uma assistência para a alma do devoto desde a sua existência terrena até a sua morte que era assistida obrigatoriamente por todos os membros da irmandade. Em termos sociais, irmandades e confrarias possibilitaram a organização e expressão de livres, libertos e escravos selecionando membros, definindo regimentos e funções, fornecendo emblemas, construindo espaços e estabelecendo tempos de festas e liturgias claramente identificadas. (LONDOÑO,2001, p.14) A grande expansão das irmandades e confrarias demonstram a necessidade de orientar os devotos nas suas práticas devocionais proporcionando aos mesmo uma identificação com os santos assistidos em cada uma delas. As irmandades se reuniam em torno de uma mesa organizativa que era eleita na época de festa de seu santo homenageado, essa mesa era responsável pela organização dos rituais e das festas ligadas ao santo padroeiro e na manutenção das igrejas que construíam ou tomavam sob sua tutela. Num pequeno periódico que circulou no Vale do Paraíba, na segunda metade do século XIX, é comum encontramos notas como a transcrição a seguir: Irmandade do S. Sacramento O procurador abaixo assignado roga aos Irmãos do apostolado que venhão pagar a sua joia anual. Já vencida na forma do art. 13 do compromisso, que reza o seguinte: Os irmãos do apostolado d um e outro sexo são obrigados: A pagar cada um a jóia anual de 20$000, pela festa do natal. Guaratinguetá, 8 de Fevereiro de O Procurador Antonieto Theodosio de Faria Couto. (Jornal O Parahyba, Nº 741, ) O jornal que tem edição assinada por Ismael Mafra, se declara um órgão conservador, na edição referida trouxe em suas notas de última página a publicação acima.

44 42 O que poderia caracterizar as irmandades é a colaboração coletiva para a manutenção do culto e dos prédios administrados pelas mesmas. Qual seria a relação dos membros dessas irmandades com o culto religioso de fato? Durante o ciclo do ouro na região das Minas ( ) as presenças das irmandades religiosas substituem o trabalho de clérigos e membros oficiais da Igreja, de fato, aconteceu uma política de proibição da presença de ordens religiosas tradicionais na região das minas tais como jesuítas, franciscanos, carmelitas, mercedários entre outras ordens religiosas não podiam adquirir terras nesta região. Neste espaço a presença das irmandades torna-se uma alternativa para a implementação de práticas devocionais estruturadas principalmente pelos grupos religiosos oficiais. Esse afastamento proporciona então uma expansão de catolicismo promovida por pessoas que não estavam diretamente ligadas a um estado clerical. É durante este período que a devoção a Nossa Senhora Aparecida começa a ganhar destaque no Vale do Paraíba paulista: Em meados do século XVIII, época do ciclo do ouro, a velha capela de Aparecida torna-se uma referência oficial de peregrinações locais. Guaratinguetá unia duas rotas fundamentais daquele período: a rota do ouro e a rota das tropas de integração. A cidade interligava as terras meridionais, além das terras paulistas, ao Rio de Janeiro, promovido em 1763 à sede colonial. (OLIVEIRA,2001, p.51) Para Hoonaert (1974) é preciso lembrar que o catolicismo se propagou no Brasil principalmente pelos leigos, pessoas que não eram ligadas à instituição eclesiástica. A construção de um catolicismo devocional pode ser associada exatamente na forma como ele se expandiu principalmente nas regiões que concentravam as principais relações econômicas do período. Os grupos sociais de acordo com as suas classes passam a serem organizados pelas irmandades a quais são membros, sejam com devoções a santos negros como São Benedito ou a Nossa Senhora do Rosário que reuniam escravos e forros ou a santos como São Francisco, devoções ao santíssimo Sacramento a invocações diferentes da virgem Maria ou ao Cristo relacionadas a sua paixão e morte. De acordo com Dorado (1985) a teologia popular é o resultado de um processo de assimilação da fé por uma pessoa ou por uma coletividade, no qual podemos distinguir dois

45 43 momentos ou dois níveis: um histórico e outro sociocultural, ou seja, como já citamos o sentido devocional é conduzido pelo momento histórico que o devoto se encontra inserido podendo proporcionar uma tensão composta por tradição, oposição ou mediação em relação a crença popular ou a crença oficial proposta pela Igreja. As propagações feitas pelas irmandades das devoções ligadas ao cotidiano do mundo terreno se tornam uma possibilidade de institucionalização e reconhecimento social das invocações popularizadas entre grupos. As maiores influências dessas práticas podem ser percebidas na forma como as expressões culturais ocasionam o surgimento de um calendário litúrgico de festas que dão um novo significado as festas oficiais propostas pela Igreja. As festas que se estendiam de modo significativo nas cidades coloniais não eram compostas apenas de missas, terços e procissões, muitas dessas celebrações estavam organizadas em torno de danças e folguedos que homenageavam o patrono da irmandade e misturavam elementos sociais das camadas diversas que compunham as mesmas. As danças em louvor a São Gonçalo, as congadas em louvor a São Benedito ilustram como as celebrações religiosas se tornam espaço de sociabilidade entre esses grupos. Sobre a festa de São Benedito que ocorreria nas regiões do distrito de Aparecida em 1924, o jornal Liberdade, publicou: Realisa-se amanhã a festa de S.Benedicto em sua cappela. Hoje à tarde já haverá reza solemne seguida de leilões de prendas. Amanhã haverá missa cantada e sermão às 10 horas, procissão de tarde, à entrada da qual haverá reza. A noite haverá de novo leilão de prendas, findo o qual será queimada uma artística armação de fogos. O sr. José Fructuoso Arantes Silva e a Sra. D. Palmyra Guedes, encarregados da festa no corrente anno não tem poupado esforços para que a mesma tenha o máximo de brilho possível. (Nº 6, Apparecida 20 de abril de 1924) Os rituais reinventam os espaços sociais e o calendário religioso oficial. Impondo um diálogo entre o sagrado e o profano no cotidiano. A nota acima mostra como a festa religiosa estava caracterizada com práticas de sociabilidade e entretenimento: leilão e queima de fogos. O elogio feito ao casal de festeiros pelo jornal nos dá indícios de que ambos ocupam um lugar social de destaque pela organização da festas que movimentava também a renda econômica das irmandades e da igreja do lugar. Ao referir-se a tal assunto Dias considera que:

46 44 As procissões, e demais festas religiosas, que movimentavam o cotidiano colonial, em algumas ocasiões, a depender de sua grandiosidade, além do aspecto devocional, funcionavam também para movimentar a economia local, fazendo circular dinheiro a partir de sua execução pois envolvia o pagamento pela participação dos oficiais câmara, religiosos, músicos, pessoas que se contratavam para levarem os carros alegóricos, além dos ornamentos, entre outros. (2010, p.110) O calendário religioso era assistido pelas irmandades que acrescentavam as celebrações oficiais da igreja um modo de homenagear o santo protetor com elementos místicos de cada região ou grupo social. As festas que marcam profundamente os períodos de encontros sociais são oportunidades para que a presença social dos grupos não clericais fosse reafirmada perante a instituição. 20 Eram as irmandades que contratavam os padres para presidirem as suas celebrações religiosas da melhor forma que lhes fora cabido. Essas atitudes provocam uma tensão frequente entre clérigos e leigos. Para Rodrigues (2005) a irmandade surge então como centro difusor de uma identidade do nosso em função de um santo. Ponto intermediário entre o devoto e a sensibilidade de sentir-se parte de algum grupo (p.49). Consideremos então que as irmandades que propagavam e alimentavam devoções estavam concentradas em uma nova perspectiva de ideia cristã, diferente da proposta pela maior parte do clero. Essas devoções traziam elementos que oficialmente a Igreja não conseguia alcançar na sua liturgia oficial tais como: a resistência a situações diversificadas no mundo do trabalho ou resignação diante das mesmas. Ao tratar das relações sociais no contexto da religiosidade brasileira Hoornaert (1974) observa que a devoção frequentemente é marginalizada socialmente, mas eclesialmente ela pode apresentar documentos de veracidade insuspeita. Ela construiu um legítimo modelo eclesial. (p.67) A interiorização de elementos simbólicos ligada aos rituais, demonstra como a devoção possibilita marcas até mesmo no espaço geográfico. É o caso do cruzeiro erguido na região do distrito de Aparecida SP utilizado como caminho de sacrifício para 20 Cf: SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da cor: Identidade Étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

47 45 meditação da paixão de Cristo. Sobre o ritual de inauguração do cruzeiro o jornal lança a seguinte nota: Com grande concurrencia de povo efetuaram-se no domingo passado a transladação e a erecção do grande cruzeiro no morro circunvizinho a esta localidade. O acto foi abrilhantado pela banda de música Aurora Apparecidense e após as cerimônias o snr. Professor Amador de Lima Junior fez um discurso alusivo ao acto.(1925, ed. 75 ) A participação da banda de música e a caminhada que leva o cruzeiro até o lugar em que vai ser plantado, reforça a prática simbólica de sacrifico que discutimos no parágrafo anterior, é essa mesma prática que é reforçada nas celebrações da semana santa. Um outro fator importante é que as irmandades interiorizavam aspectos sociais da necessidade humana, seja nos autos da paixão realizados durante a semana santa ou nas procissões rogativas em que se pedia ao santo uma proteção particular contra pestes, epidemias ou grandes secas fica evidente a imbricação de misticismos que possuem um caráter social. em 1925: Uma publicação feita no jornal Liberdade, narra as celebrações da Semana Santa Na Basílica de Nossa Senhora essas comemorações realizar-se-ão de toda pompa de liturgia. Hoje haverá missa solene com distribuição das palmas e tarde sahíra a tocante procissão dos passos, dando-se o encontro no largo de São Benedicto. [...] Quarta feira- Ofício solene das trevas as seis horas da tarde. Quinta feira- missa solene as 8 ½ horas com comunhão geral em seguida procissão do Santíssimo Sacramento. [...] Sexta feira Sermão da Paixão as 8 horas havendo em seguida a missa dos prossantiticados e demais solenidade próprias [...] as 5 horas entrará o oficio das trevas e logo mais saíra, a procissão do enterro que percorrerá o itinerário do costume. A entrada da procissão haverá o sermão da solenidade. Sábado- A s 7 horas bençam do fogo e do círio paschoal [...] a s 6 horas da tarde, officio solene da Ressureição e coroação de Nossa Senhora [...] ( ) As celebrações que aparecem no programa publicado pelo jornal, mostram como os ritos oficiais litúrgicos da Igreja dividem espaço com os rituais da tradição popular em celebrar a mesma semana, os ofícios chamados das trevas é fruto dos exercícios ligados a irmandade da boa morte ou a procissão das trevas, onde é oportunidade para se fazer memória da prisão de Jesus, a chamada procissão do foguetório, realizada em muitas cidades na noite de quarta-feira da semana santa. Além dos ofícios mesmo com a pregação do sermão feita por membros do clero a procissão do Senhor dos Passos e a do Senhor morto assinalam o espaço da cultura popular presente nesta cerimônia. E por último a

48 46 coroação da imagem de Nossa Senhora que credita a figura da mesma como participante da paixão e sofrimento do filho. Convém lembrar que no caráter particular as devoções também sobreviviam sejam nos benzimentos e rezas transmitidos de uma geração a outra ou até mesmo através das imagens de santos que eram guardadas e conservadas como herança de família. Considerando então um catolicismo de muito terço e pouca missa. Conforme Dominique: Entram a título de elementos no corte que uma análise histórica ou sociológica opera realçando as unidades que considera pertinentes em relação ao modelo interpretativo que se atribui. O que interessa ao operador não é o estatuto da verdade dos enunciados religiosos que estuda, mas as relações que esses enunciados mantêm com o tipo de sociedade ou de cultura que os explicam. (1982, p. 160) Um outro momento em que a devoção popular aparece muito forte são nos funerais e rezas de encomendas. A crença de não ser assistido na hora da morte e a preparação para a mesma é uma outra característica daqueles que estavam ligados as práticas devocionais. O papel das irmandades de assistir os membros na hora da morte estava presente em suas constituições. Um ponto a ser destacado são as entradas nas irmandades como garantia para ser assistido pela mesma com o funeral, a construção de igrejas e cemitérios utilizadas para enterrar membros das irmandades foi muito comum em algumas regiões brasileiras. 21 Um dos parágrafos dos estatutos da irmandade de Nossa Senhora Aparecida por exemplo, fundada em 1752 no Vale do Paraíba informa o seguinte: Os irmãos vestirão Opas brancas e com elas assistirão as funções e acompanharão os irmãos defuntos, em duas alas e o irmão que faltar sem motivo, será condenado a pagar dois vinténs a irmandade 22. O compromisso com a ritualização da morte é destacado dentro dos Treze parágrafos que constituem a formação da irmandade aprovada pelo Bispo de São Paulo no período, Dom Frei Antonio da Madre de Deus, que advertia a necessidade de se conservar inviolavelmente os compromissos que constam neste estatuto que foi deliberado em vinte e cinco de setembro de 1756 pelo próprio bispo. 21 Retomamos aqui a seguinte discussão sobre os diversos fatores da falta de assistência religiosa de padres e clérigos na formação do catolicismo brasileiro: No Brasil rural a assistência paroquial era dificultada pela distância, pela própria ausência de padres e sobretudo pela população a ser assistida [..] Fora da intermediação dos padres, desenvolviam-se relações mais diretas com o divino [...] Reis, João José. O cotidiano da Morte no Brasil oitocentista. In: Alencastro, Luiz Felipe (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das letras, Cf. Estatuto da Irmandade de Nossa Senhora Aparecida In: MACHADO, P. Aparecida na História e na Literatura. Campinas: Ed, do autor. 1975, p

49 47 Culturalmente podemos destacar algumas formas de devoções presentes no ciclo paulista e na região das minas: forte ligação aos santos protetores demonstradas através de rezas e festas religiosas, pouca ou quase nula ligação com os clérigos das liturgias oficiais católicas, celebrações ligadas aos períodos sagrados do calendário religioso oficial como Natal e Semana Santa, uma constante preocupação com os ritos funerários ( desde a participação nos funerais até a relação pós morte) e uma profunda reverencia a imagens e objetos sacros. As sensibilidades que surgem em relação aos rituais muitas vezes necessários para a sobrevivência brotam no sentido que o devoto expressa na sua relação com os santos. O mundo sobrenatural, a fragilidade da vida e o medo de morrer sem ser assistido devidamente eram expressados através das festas e rituais religiosos. De acordo com Grossi (1999) nas Minas, muitas pessoas transitavam entre forças divinas e malignas, como se a distinção entre elas desaparecesse por instantes. Buscava-se o sobrenatural que fosse mais eficiente para a resolução do problema que afligia a alma ou o corpo. A utilização de diversas imagens, relíquias e objetos no catolicismo popular ilustram como a crença e a necessidade de proteção andavam juntas. A devoção popular assume uma espécie de enfrentamento em relação ao poder oficial e ao poder maligno espiritual mesmo que de forma inconsciente. Através de uma nova leitura sobre estes desafios um novo imaginário de catolicismo pode ir sendo percebido no Brasil. Da mesma forma que as devoções populares interiorizam práticas individuais elas possuem uma essência renovada das práticas comunitárias, afinal de contas a maior parte das suas expressões não são realizadas individualmente: as peregrinações, as romarias, as procissões e festas extrapolam o culto privado e fomentam a ocupação de espaços sociais diversificados. Só percebemos da piedade popular restos frequentemente inorgânicos cujas formas superpostas ou deformadas no curso dos séculos não permite uma interpretação imediata: no lugar do objetivismo tranquilo dos folcloristas do passado, que coligiam dados, somos obrigados a colocar a interrogação que nos dirigem essas índias do interior, sem por isso pretender apagar a história da repressão. (p.114) Portanto, o catolicismo popular, suas manifestações culturais expressas em devoções possuem uma origem mítica ligada ao mundo rural, devido à pouca assistência religiosa

50 48 proporcionada pelos membros oficiais da Igreja ( padres e bispos), deste modo as tradições familiares e o exercício individual baseado na experiência que humaniza e torna espontânea com uma certa originalidade a releitura de um catolicismo oficial propagado pela Igreja através de suas catequeses e práticas burocrática administrativas (em relação aos seus dogmas e percepções no exercício deles).

51 Devoção popular e romanização A devoção popular e as práticas de religiosidade do povo, sempre foram questionadas nas múltiplas características que sintetizam elementos considerados pagãos a ritos litúrgicos oficializados pela Igreja. O pensamento católico influenciado por elementos culturais que fogem a normatização do culto padrão teologicamente reconhecido pela Igreja tornou-se alvo de uma política centralizadora instituída no Século XIX através do movimento hierárquico da administração da Igreja no Brasil como resultado do Concílio Vaticano I ( ) 23. No Brasil, com a Proclamação da República em 1889 acontece a separação oficial entre Igreja e Estado, extinguindo o regime do Padroado 24 evento que irá proporcionar uma maior aproximação da mesma com a figura do Papa, buscando uma horizontalidade estrutural e política. Segundo Beozzo (1993, p. 31), se não havia mais tutela do Estado, a Igreja do Brasil entrou em estreitas relações com Roma, sob certos aspectos, substituiu uma tutela por outra. Respaldada por uma estratégia de romanização 25 do culto, tentou apropriar-se de elementos culturais da piedade popular encontrados no meio devocional para institucionalizar outros modos de crença cristã que não faziam parte da sua tradição catequética. Podemos considerar como principal característica do movimento da romanização a tentativa de um controle maior sobre o curso do catolicismo brasileiro, o exercício de um catolicismo considerado cheio de excessos e sem uma coesão doutrinária ligada e sustentada apenas nos rituais da Igreja e nas orientações dos padres era algo a ser intensamente combatido. Para Hoonaert (1991) podemos considerar que levantes feitos pelo próprio clero 23 De acordo com a dissertação de Carlos Moisés Silva Rodrigues (2005), defendida na PUC-SP, intitulada: No tempo das irmandades : Cultura, Identidade e Resistência nas Irmandades Religiosas do Ceará ( ), ao tratar o início da política de Romanização iniciada pela Igreja, onde o autor considera que: Primeiro Momento: De Pio VII a Pio IX, que corresponde a consolidação da doutrina conservadora. Segundo Momento: Pontificado de Leão XIII, que sem abandonar a doutrinação contra o mundo moderno, deu passos decisivos para o estabelecimento de uma política de intervenção católica na realidade concreta, de que as concordatas são o maior exemplo. Terceiro Momento: De Pio X a XII, a conversão da doutrina em ação política, do discurso em práxis, através dos Programas da Ação Católica, que acabaram por gerar as contradições que levaram a convocação do Concílio Vaticano II. (p.132) 24 Ibid. 25 In: OLIVEIRA, P.R. Religião e dominação de classe; gênese, estrutura e função do catolicismo romanizado no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1985.

52 50 ao buscar reformar o catolicismo brasileiro na segunda metade do século XIX que foram chamados de Igreja Patriótica, ou seja, que discordava de várias orientações da política de romanização acabaram sendo unidos aos conceitos de religiosidade popular, ou então devoções populares. É exatamente nesta conjuntura política que o processo de romanização se intensifica. O processo de normatização das paróquias passa a ser intensificado. Atos como a reorganização da vida paroquial e do protagonismo do clero se torna uma das maneiras mais intensas de percebermos a força política que as estratégias de romanização. É exatamente o que o aviso a seguir publicado no jornal Parahyba nos ajuda a compreender: Para comodidade dos parochianos, e bôa ordem no serviço parochial, o sacramento do baptimso seá áhora em diante administrado em todos os domingos e dias santos, immedia tamente depois da missa conventual, e nos mesmos dias as 3 horas da tarde, dando-se signal, no sino meia hora antes. e nas quintas feiras logo depois da missa do sacramento. Fóra destes, dias e horas, só em caso de necessidade. O vigário Benedito Teixeira da S. Panto ( N 460) O aviso acima, apesar de tentar transparecer que era uma melhoria para a vida dos paroquianos nada mais é que apenas uma tentativa de normatização dos horários e dias em que o vigário poderia celebrar e administrar o sacramento do batismo. O sino que é apontado como o sinal antes da celebração de maneira sutil demonstra como é o vigário quem avisa e define como a prática sacramental é administrada, nesta nota fica evidente a necessidade de reafirmação do clérigo como aquele que coordena a vida religiosa local. Ao abordar aspectos do processo de valorização do clero e da diminuição da participação dos leigos na administração das igrejas e mesas de ordens religiosas, bem como a busca de valorização da criação de centros educacionais onde objetivamente se buscasse uma formação centralizada no discurso catequético da Igreja o historiador Marin considera que: A ofensiva romanizante teria colocado os católicos em sintonia com as crenças e práticas romanas, homogeneizando-os doutrinariamente. Ou seja, os leigos passaram a ocupar uma posição subalterna em relação ao clero, perderam toda a autonomia na condução dos serviços religiosos, tornando-se passivos, submissos e tolerados apenas em funções secundárias e sob tutela clerical. Enfim, a romanização seria o processo pelo qual os agentes religiosos assumiam o controle e a autoridade na condução de todos os assuntos religiosos. Essa visão reforça a ideia de passividade, de incapacidade política e de falta de iniciativa do laicato. Recentemente, algumas pesquisas ressaltaram os resultados parciais da

53 51 Igreja em reformar a religiosidade popular, sobretudo, devido à sua permanência e vitalidade. (MARIN,2001, p.155) A crítica lançada pelo autor, pode ser reforçada a partir da análise das diversas fontes que estamos propondo: encontramos sempre na imprensa notas que concentram as funções religiosas na figura do vigário, nas fotografias que iremos analisar a imagem dos clérigos sempre colocam os mesmos como aqueles que levam a imagem, conduzem a procissão, ou seja, o tempo todo são eles que aparecem como mentores das práticas religiosas. Será que de fato era isso que acontecia? E os leigos? Realmente eram apenas um grupo sem iniciativa e com passividade? Podemos responder a essas questões quando retomamos a hipótese da necessidade de reestruturação do clero como foco principal da política de romanização. A necessidade da restruturação do clero justifica o enfoque determinante da construção de seminários e da vinda de ordens e congregações religiosas europeias para assumirem paróquias, centros catequéticos e educandários. Observa Hoonaert (1991) que Era necessário estabelecer em primeiro lugar a disciplina eclesiástica através dos seminários, a fim de garantir a proficuidade do processo de purificação do catolicismo desenvolvido no Brasil. O processo de criação de Diocese no Brasil vai ser totalmente intensificado após o Concílio Plenário Latino Americano (1899) 26, influenciado pelas novas diretrizes do Concílio Vaticano I que já citamos, o aumento das diocese no Brasil é justificado pela propagação rápida da política de romanização. A busca por um catolicismo de reta doutrina exigia uma maior proximidade dos clérigos com o povo e uma intensificação de uma catequese doutrinadora e ligada aos dogmas da Igreja. Para melhor conseguirmos visualizar esses registros podemos analisar os dados que apontados pela tabela abaixo: 26 Origem do Concílio Plenário Latino Americano: O Papa Leão XIII convocou esse Concílio em 25 de dezembro de 1898 com a carta apostólica Cum diuturnum1 e realizou-se em Roma, entre os meses de maio e julho de Era a primeira vez que se reunia num Concílio particular o episcopado de toda a América Latina. O Concílio Plenário marcou uma nova fase da Igreja Latino-americana, pois ela Podia sair então de seu isolamento devido às várias circunstâncias, e substitui-lo por uma coesão do episcopado. Ainda que muitos, naquela ocasião, não levassem, inicialmente em consideração os resultados do Concílio, esse foi sem dúvida, o início de um novo tempo na vida da Igreja. A Igreja no Brasil, fizera uma primeira experiência mais intensa de colegialidade episcopal no final do século XIX. Com a questão religiosa e a publicação da Pastoral Coletiva em 1890, ela fez essa nova experiência de colegialidade episcopal com toda a Igreja da América Latina. (SILVA,2008, p.65)

54 52 Criação de Dioceses no Brasil por Regiões, até 1930 Regiões Períodos Total Amazônia Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Total Figura 2 - Fonte: CERIS (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais),2000. Em uma análise estática é muito fácil perceber a diferente proporção que vai acontecer na criação de dioceses no Brasil, de 1551 com a criação do primeiro bispado na Bahia até 1890 o aumento de diocese no país é quase mínimo, é claro que sabemos das questões burocráticas e econômicas que são necessárias para o funcionamento destas sedes episcopais, além disso as intencionalidades políticas das regiões onde são criadas sedes de bispados adquirem um destaque maior que as territorialidades regionais específicas. De 1890 até 1930 o Brasil tem a investidura episcopal de 68 novas dioceses, ou seja, número exageradamente maior de dioceses criadas que nos últimos 300 anos analisados. Destas 68 dioceses foram 27 criadas na região sudeste do país, a região que propomos analisar no início deste capítulo. Ligada aos ciclos econômicos nacionais sendo o principal eixo de veiculação de imprensa do país, fatores que podemos elencar para o rápido reconhecimento de diversas cidades desta região como sedes de bispados. De maneira bem esclarecida é válido ressaltar que o aumento das Dioceses no Brasil está inserido em um período histórico estratégico onde a Igreja Católica vai empreender uma série de ações para a centralização de sua unidade, buscando romper com os velhos paradigmas coloniais e monárquicos que proporcionaram um catolicismo devocional de muito terço e pouca missa como também de pouca ligação com o eixo Romano, é

55 53 justamente no contexto do Concílio Vaticano I que é divulgada a Constituição dogmática Pastor Aeternus, sobre o primado e infalibilidade do Papa. A constituição foi promulgada na Quarta Sessão do Concílio, em 18 de julho de 1870, pelo papa Pio IX 27. Reafirmando a importância de uma Igreja ligada e centralizada na figura do seu maior representante, e direcionada aos ensinamentos do mesmo. As afirmações das obrigações do vigário paroquial aparecem em notas publicadas pela imprensa local na região do vale do Paraíba: Sendo um dos deveres mais importantes do Parocho, o ensino do catecismo, por isso de hoje em diante, em todos os domingos e dias santos, de 5 horas da tarde, cumprirei este dever, na Igreja Matriz desta cidade. Peço, portanto, aos srs. Pais de família, e senhores de escravos, que mandem seus filhos, e domésticos, para nos instruíres, na doutrina christã O vigário Benedito Teixeira da S. Panto ( N 460) A nota acima, publicada no jornal Parahyba, no ano de 1872, ilustra de maneira objetiva a necessidade de afirmação sobre qual era a função do pároco na igreja que era a ele confiada. Essa informação vai ao encontro da política de centralização da doutrina que vai ser impulsionada pelo movimento romanizador. A catequese paroquial visa de modo particular a manutenção e ordem da doutrina da Igreja, a maneira como o vigário afirma sua obrigação em transmitir a doutrina do catecismo nos leva a entender que outras instruções aconteciam para a transmissão da fé a crianças e escravos, proporcionando uma outra formação dentro do catolicismo. Será que essa outra formação era a catequese pela instrução devocional? Um catecismo muito mais prático que teórico? Consequentemente no final do Século XIX a criação da Diocese de Taubaté e a vinda da congregação religiosa dos Missionários Redentoristas da Europa para trabalhar na direção do santuário de Aparecida SP, bem como a mudança no quadro político brasileiro com a Proclamação da República ocasionará uma intensificação de práticas que buscam romanizar a devoção popular a Nossa Senhora Aparecida. Sobre esse período salienta Marin: A Igreja, durante a República Velha ampliou suas pretensões de influência sobre a sociedade civil e o Estado. Entre as reformas a serem alcançadas, foram destacadas: a moralização e ampliação de seus quadros 27 De acordo com a consulta no texto da Constituição dogmática Pastor Aeternus. Acesso em: 17 de novembro de Disponível em:

56 54 de pessoal, a importação de Ordens e Congregações Religiosas estrangeiras, a fundação de seminários, a realização de alianças com as facções oligárquicas estaduais e com o governo federal.com vistas a garantir um acúmulo patrimonial e apoio à política expansionista), a montagem de uma nova estrutura organizacional e devocional segundo os moldes do catolicismo romano e a difusão de uma rede de instituições católicas de ensino privado para cristianizar as elites, para que estas, por sua vez, cristianizassem o povo, o Estado e a legislação. (p.153,2001) De acordo com Neto (2206) a chegada da congregação dos missionários redentoristas para fazerem a administração do santuário de Nossa Senhora Aparecida em 28 de outubro de 1894, foi o impulso para a projeção nacional deste mesmo santuário. É exatamente neste mesmo ano que D. Arcoverde assume a diocese de São Paulo, sempre transmitindo em sua atenção pastoral a necessidade de dar novo espírito aos centros de devoção e romarias, processo que vai ser estimulado com a criação da Diocese de Taubaté. No início do Século XX nesta mesma conjuntura histórica em 1908 a diocese de São Paulo é elevada à condição de arquidiocese pelo Papa Pio X, a arquidiocese de São Paulo, centralizaria nela a administração religiosa de várias outras dioceses criadas neste período, destacamos também que juntamente foi circunscrita na mesma data a criação da Diocese de Taubaté que teria como abrangência de região diocesana todas as cidades do Vale do Paraíba paulista e toda a região norte do estado de São Paulo, que seria responsável direta pela igreja diocesana de grande fluxo devocional, o santuário de Nossa Senhora Aparecida, reconhecido como santuário episcopal da antiga diocese de São Paulo. A prática de uma doutrinação a partir do catolicismo romanizado começa a se expandir. Não podemos deixar de destacar aqui aspectos políticos desta doutrinação assumidos pelo espaço institucional como Igreja que vinha a ser reconsiderado diante do sistema político, bem como salientar que as facilidades de comunicação com Roma possibilitavam uma maior integração das dioceses com a figura do Papa. Partindo desta premissa são interessantes as considerações de Foucault: A doutrina vale sempre como sinal, a manifestação e o instrumento de pertença previa-pertença de classe, de status social ou de raça, de nacionalidade ou de interesse, de luta, de revolta, de resistência ou de aceitação. A doutrina liga os indivíduos a certos tipos de enunciação e lhes proíbe, consequentemente, todos os outros; mas ela se serve, em contrapartida de certos tipos de enunciação para ligar indivíduos entre si e diferenciá-los, por si mesmo, de todos os outros. A doutrina realiza uma dupla sujeição: dos sujeitos que falam aos discursos ao grupo, ao menos virtual, os indivíduos que falam. (1996, p.43)

57 55 No Vale do Paraíba importante eixo de ligação econômica do sudeste brasileiro as estratégias doutrinarias de romanização do culto tendem a se intensificar, primeiro a nível regional com a instalação da Diocese de Taubaté e a vinda de diversas congregações religiosas europeias para trabalhar com o ensino em várias modalidades e formar um novo clero através de seminários e núcleos eclesiásticos. Encerrando o período de adaptação dos redentoristas em Aparecida, ia a situação assumindo prognósticos bastante favoráveis. Pouco a pouco disciplinava-se o culto religioso, romanizando-o, enquanto esgrimiam com a natural dificuldade da língua. A popularidade dos padres missionários bávaros crescia a cada dia [...]. (NETO,2006, p.174) Depois, com a propagação do culto a Nossa Senhora Aparecida, após ter chegado ao conhecimento do Papa Leão XIII ( ) as mudanças em relação a esta devoção começam a serem intensificadas. A doutrina católica é reinterpretada e contextualizada pelos homens de maneira diferente, de acordo com os meios e circunstâncias. Por exemplo, na religiosidade popular as crenças e práticas estão misturadas aos dogmas mais refinados. O termo católico, compreendido como aquele que professa a religião católica, não contempla a multiplicidade das vivências na fé dos indivíduos, que podem transitar por outras religiões e por diferentes e variadas apropriações da doutrina católica.(marin, 2001, p.149) A intensificação de ações em relação a estrutura litúrgica do culto a Nossa Senhora Aparecida começa a ocorrer dez anos antes da coroação oficial da imagem. As festas em homenagem a Nossa Senhora da Conceição Aparecida inicialmente eram realizadas no primeiro domingo de maio, mês dedicado pela tradição popular como mês de festas a virgem Maria. Após a instituição da festa da imaculada Conceição a ser celebrada no dia 08 de dezembro conforme instrução dogmática de 1854 a festa passou a ser comemorada neste dia, estendendo-se também ao dia 08 de setembro quando tradicionalmente a Igreja celebra a Natividade de Nossa Senhora. Em 1894, o Santo Padre Leão XIII, por meio de um Decreto, incluiu a Virgem Aparecida no calendário da diocese de São Paulo e marcou dia próprio para a sua festa, a saber: no quinto domingo depois da Páscoa. Foi esse o primeiro grau de glória concedido pela Igreja a Nossa Senhora Aparecida 28. Podemos entender que entender o processo de romanização é algo muito amplo e que não pode ser colocado como um sistema religioso e sim um processo histórico dentro 28 Cf.: Estrela de Aparecida, 1897 p.45 In: MACHADO, P. Aparecida: Na História e na Literatura. Campinas: Ed. Do autor, Cf.: Nota 01.

58 56 de determinados interesses institucionais. Um aspecto importante é perceber como os exercícios de devoção popular durante o mês de maio, ou seja o mês considerado mariano 29 vão sendo inseridos dentro da estrutura litúrgica oficial da Igreja. Para Cascudo (2011) ninguém sabe quando começou este costume e de onde veio essa tradição que aparece intensificada após a segunda metade do século XIX no sertão brasileiro. Entretanto, o primeiro domingo de maio, data fixa e tradicional continuava a atrair maior concorrência de povo, e ser preferível à data móvel do 5º domingo da Páscoa. Obteve-se, então a transferência como se lê nas lições do breviário: Leão XIII permitiu que se celebrasse a festa da SSma. Virgem, sob o título de Aparecida, no primeiro domingo de maio, com o privilégio de se utilizar na celebração litúrgica os textos próprios do Comum das festas de Nossa Senhora. (MACHADO, 1975, p.65) Fica evidente que a tradição popular ganhou, não foi por instrução do decreto do papa que a festa colocada no 5º domingo do tempo pascal transferiu a tradição do povo de festejar a Senhora Aparecida durante o Mês popularmente mariano, dado que os domingos do tempo pascal são celebrados de acordo com a data da festa da páscoa que no catolicismo é uma festa de data móvel ocasionando que algumas vezes essa celebração não viesse a ocorrer no mês de maio. Somente em 1954 foi fixada a data de 12 de outubro como data da festa litúrgica de Nossa Senhora Aparecida, fato que está extremamente ligado a Proclamação do padroado em 1931, ato que buscamos analisar nesta dissertação. Portanto, podemos perceber que em nenhuma das duas datas fixadas anteriormente pela Igreja a festa vai conseguir alimentar a piedade do povo, dado que podemos considerar a partir das inúmeras reflexões que de algum modo vão unificar os exercícios devocionais do mês de maio ao mês de outubro, que posteriormente será consagrado em vários lugares do pais como o mês dedicado a padroeira do Brasil, imbricando a isto o codinome de mês do santo Rosário, exercício típico da devoção popular mariana. A tentativa de romanização em atos como este pode ser considerada como um olhar pontual dentro de todo o processo ocorrido no Brasil podendo ser percebido como de maior visibilidade, dado a dimensão que a prática de crença a Nossa Senhora Aparecida acabou atingindo. Ao tratar da diversidade no processo de romanização na sociedade brasileira Marin considera: 29 Cf.: Nota de rodapé número 01.

59 57 No Brasil, a romanização ocorreu de forma desigual. Essa conclusão antecipada incita novos olhares sobre a temática, principalmente daqueles que não concluam previamente, que a romanização teria sido sempre vitoriosa. Novos olhares e perguntas devem ser dirigidos às regiões já analisadas e, principalmente, àquelas onde não foram realizados estudos pontuais. Assim, pode-se observar ou não resultados diferenciados nas múltiplas frentes de atuação da Igreja e uma romanização burocrática, parcial ou plena. A elaboração de uma nova síntese da romanização, no Brasil, deve considerar as especificidades do processo em apreço em todas as regiões brasileiras. Os confrontos da Igreja com as diferenças foram, e ainda são, permanentes. A pretendida homogeneidade da Igreja nunca se configurou no real. (2001, p.159) O processo de romanização no Brasil poder ser considerado um processo de romanizações, esse processo vai ser unificado em torno da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Somente através da tentativa de reunir os católicos em torno de um ícone nacional haveria a possibilidade de algum êxito nesse processo. Entretanto, esse processo rendeu um resultado contrário: através da centralização religiosa em torno da imagem de Nossa Senhora Aparecida a devoção popular em relação a mesma cresceu e circulou mais ainda entre os diversos campos sociais ocasionando um fortalecimento da mesma. Como veremos no capítulo a seguir as várias tentativas de romanização deste culto não foram capazes de descaracterizar a sua essência de devoção popular.

60 58 2. A SANTA APARECIDA : TRAJETOS DE UMA DEVOÇÃO POPULAR Frequentemente o dia 12 de outubro de cada ano aparece em várias notícias das mídias sociais brasileiras que destacam o caráter de uma invocação popularmente aclamada: Viva Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil. Desde 1980 o dia 12 de outubro é considerado feriado Nacional 30, pois, é neste dia que os devotos de todo o Brasil prestam suas homenagens a sua santa Padroeira. A ligação do povo com essa data rememora historicamente um suposto acontecimento: o encontro da imagem de Nossa Senhora ocorrido em meados de outubro do ano de 1717 no Rio Paraíba do Sul. É exatamente essa a narrativa oficial relatada pela Igreja para fazer memória do encontro da imagem de 36 centímetros que se tornou um dos maiores símbolos do catolicismo no Brasil. Precisamos retroceder cerca de 300 anos buscando entender o significado deste dia para o povo brasileiro. Seria muita pretensão deste texto abordar de forma criteriosa uma história ampla que atravessa três séculos. Similarmente podemos destacar inúmeras pesquisas com estudos diversos científicos, memorialistas e religiosos que buscam entender a origem do culto a Nossa Senhora Aparecida 31. Trabalhos que resgatam as leituras oficiais e populares em torno do encontro da imagem. A construção da devoção mariana 32 na América latina, ou seja, a devoção a Virgem Maria, aparece de variadas maneiras e com diversos títulos. Em cada região encontramos um tipo de apropriação cultural de uma Senhora que se torna Nossa, ou seja, Nossa Senhora, considerada protetora e benevolente para determinado povo. Aqui no Brasil popularizou-se Nossa Senhora Aparecida. Vários elementos do cotidiano e do mundo do trabalho vão sendo incorporados a ação devocional e isso faz com que cada Nossa Senhora vá absorvendo algo muito peculiar daquele grupo ou irmandade do qual ela passa a fazer parte. Esse fenômeno que é atualizado a cada festa do dia 12 de outubro nos instiga a uma investigação que vai além dos significados atribuídos oficialmente pelo catolicismo institucional. 30 Conforme a Lei Nº de 30 de junho de 1980, decreto votado pela Congresso Nacional assinado pelo Presidente João Figueiredo ( ) o dia 12 de outubro tornou-se feriado nacional para culto público a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. 31 BRUSTOLONI, J. J. História Abreviada do Santuário de Aparecida. 9. ed. São Paulo: Editora Santuário, Aquilo que se refere a figura da virgem maria, cf. nota nº1.

61 59 Consequentemente, no segundo capítulo, buscamos, problematizar a devoção a Nossa Senhora Aparecida partindo dos relatos oficiais assumidos pela Igreja e contrapondo aspectos da devoção popular que são citados dentre os mesmos ou se tornam mais visíveis quando interpelados a partir de outras fontes; fazemos uma análise a contrapelo, reafirmando como objetivo central um esboço analisando os principais passos que caracterizam esta prática devocional brasileira e o seu relacionamento com o catolicismo institucional. De acordo com Pesavento (2012) o texto do historiador tem, pois, uma pretensão a verdade refere-se a um passado real, mas toda a estratégia narrativa de prefigurar essa temporalidade já transcorrida envolve representação e reconstrução (2007, p.18). Buscamos problematizar a partir da documentação pesquisada a narrativa construída em torno da origem desta devoção popular brasileira. Muitos brasileiros católicos e não católicos já conhecem de longa data a história desta imagem milagrosa que evoca de certa maneira a proteção da Virgem Maria, aclamada sob o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, podemos dizer que a invocação a Nossa Senhora Aparecida se tornou um dos maiores símbolos nacionais do povo brasileiro 33. Portanto, a imagem de Aparecida começa a ser associada a busca de uma identidade nacional 34 e passa a ser utilizada tanto por instituições religiosas como por instituições políticas de certo modo, como um espelho da sociedade brasileira em diversos períodos. A imagem de Nossa Senhora Aparecida aos poucos vai se entrelaçando com a devoção popular e personifica uma representação de ligação entre diversas classes sociais brasileiras, entre uma prática religiosa tradicional e popular que de alguma maneira preenche uma lacuna do sagrado nas sociedades humanas. Podemos questionar: De que maneira a utilização de uma imagem dentro de uma esfera mística e ritual pode permanecer durante tantos anos? Qual é o anseio dos devotos que mantem essa tradição? De forma evidente as questões propostas estão ligadas a uma certa racionalidade e cientificismo que não são objetivos daqueles que buscam fundamentar as suas relações cotidianas em práticas ritualísticas e místicas ligadas a transcendência. As práticas religiosas são reafirmadas nos sentidos rituais, prática que na maioria das vezes exclui de seu terreno questionamentos históricos e filosóficos. 33 Cf. Chauí, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, Cf. ALVES, Andréa Maria Franklin De Queiroz. Pintando uma imagem Nossa Senhora Aparecida 1931: Igreja e Estado na construção de um símbolo nacional. (Dissertação de Mestrado). Dourados: UFGD,2005.

62 60 Um outro ponto que devemos considerar é a apropriação cultural que vai sendo feita desde a América Portuguesa e a circularidade cultural das relações neste período histórico. A presença da Igreja no Brasil vai garantir a expansão de ritos hierárquicos que propiciam a manutenção de certa organização em espaços diversos da sociedade. Ao tratar da forma como a Igreja se organizou para expandir-se nestas terras Azzi considera que: A organização da Igreja no Brasil entre era em grande parte controlada pelo padroado, uma prerrogativa da coroa portuguesa baseada no fato de o rei ser grão-mestre de três tradicionais ordens militares e religiosas de Portugal: a de Cristo (a mais importante), a de São Tiago da Espada e a de São bento, a partir de A ordem de Cristo era herdeira dos templários e gozava de grande influência. O direito de padroado foi cedido pelo papa ao rei português com a incumbência de promover a organização da Igreja nas terras descobertas, de forma que foi por meio deste padroado que a expansão do catolicismo foi financiada. (AZZI, 1977, p.168) A imagem de Nossa Senhora Aparecida, e outros santos populares, aos poucos vai se tornando um elo de ligação religiosa entre as classes populares, dado o motivo (no caso Nossa Senhora Aparecida) ter sido encontrada por pescadores que trabalhavam nas margens do rio Paraíba. Era apenas mais uma devoção popular frente a estrutura rígida e hierárquica que a Igreja possuía fortemente fundamentada com o regime do Padroado. Como discutimos no capítulo anterior são as devoções populares que proporcionam uma crença católica paralela a crença oficial e que em muitos casos contribuem para que a crença oficial continue existindo e fazendo parte da vida social em muitos lugares 35. Esse catolicismo popular, ou seja, que tem as suas crenças e rituais transmitidos pelo povo não é uma forma de crença que se opõe a catequese católica mas nasce de dentro da formação católica, por exemplo: é através da catequese que oficialmente o catolicismo vai sendo transmitido aos membros da comunidade católica, as devoções populares proporcionam um aprendizado catequético diferente deste modelo, pois, ao invés de transmitirem ensinamentos em formas teóricas e dogmáticas ocasionam aprendizados que provém de ideias práticas e simbólicas. A catequese doutrinal parte dos documentos da Igreja e está imbricada aos textos bíblicos e as exegeses, a catequese devocional parte da intimidade entre o devoto e o santo e é 35 In: RODRIGUES, Carlos Moisés Silva. No tempo das irmandades : cultura, identidade e resistências nas irmandades religiosas do Ceará ( ). Dissertação de Mestrado. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,2005.

63 61 transmitida de forma oral, se constitui em sua maior parte por experiências místicas práticas como: promessas, pedidos de cura, trocas de favores, proporcionando ao devoto um conhecimento que parte de experiências vividas 36. Ao tratar dos rituais fúnebres brasileiros realizados no século XVIII se percebe que os mesmos passam a imitar as procissões do enterro de Cristo ou de Nossa Senhora da Boa morte 37 que estão ligadas as celebrações devocionais da semana santa principalmente nas regiões paulista, como pontuamos anteriormente. Portanto, a procissão devocional do enterro de Cristo realizada nas tardes das sextas feiras santas são exemplos para o devoto de como realizar os cortejos fúnebres em suas regiões, facilitando uma catequese muito mais prática do que teórica em relação aos ritos e cerimonias na hora da morte. Um convite publicado no jornal Liberdade do distrito de Aparecida SP, para as celebrações Semana Santa, diz o seguinte: Promettem revestir-se de grande brilho as solenimnidades da semana santa, a se realizarem na Basilica de N. Senhora. Hoje a tarde sairá a tradicional procissão dos Passos, com o sermão do encontro e do Calvario.( Edição Nº 5, Aparecida 13 de Abril de 1924) O convite faz referência a procissão do Encontro, exercício tradicional da devoção popular, onde homens se reúnem em torno da imagem de Cristo carregando a cruz e as mulheres em torno da imagem de Nossa das Dores, em um ponto pré-determinado acontece o chamado encontro das imagens, essa cerimônia não está prevista dentro das celebrações oficiais da Igreja, e, no entanto, é uma prática que até hoje ainda pode ser encontrada em 36 O trecho seguinte é de um poema intitulado Promessa publicado como um ex-voto em agradecimento a uma cura: De moléstia terrível que sofria Já tinha recorrido à toda ciência E meu mal que ninguém bem conhecia Lá, então, progredindo com inclemência Desesperado sempre e abatido Um nervoso de mim se apoderava Já me sentia bem desiludido Enquanto o mau estar sempre aumentava. Quando o recurso humano é importante E parece se vai findar a vida Lá no céu, há um Deus onipotente Vou pedir a Senhora Aparecida. Quero vê-la bem perto de meus olhos E tenho a certeza de sarar De minha vida tirará abrolhos E ficarei muito forte para lutar. Mário de Oliveira 07/02/1931. In: Machado, Padre. Aparecida na História e na Literatura. Campinas: Ed. Do autor, Cf.: REIS, João José. A morte é uma festa. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p.116.

64 62 diversos lugares pelo Brasil. Acompanhar caminhando o sofrimento de uma mãe que tem seu filho condenado a morte é fazer memória de todos os sofrimentos que fazem parte das trajetórias de vida dos diversos sujeitos, proporcionando uma experiência muito mais visível e representada, do que apenas uma análise teórica catequética que está baseada em pensamentos teológicos. Não há nenhuma narrativa bíblica que ateste a presença de Maria, mãe de Jesus no momento em que ele carregava a cruz para o Calvário, coube a tradição popular acrescentar esse episódio as celebrações da semana santa. Veremos no decorrer do capítulo como ao redor da imagem de Nossa Senhora Aparecida vão se juntar personagens diversos: pescadores em suas vilas, o clero, os reconhecimentos políticos ligados ao Estado e a Igreja, enfim uma sequência de fatos que de alguma maneira legitimam e propiciam diálogo entre sujeitos diferentes que proporcionaram a expansão dessa crença pelo Brasil e pelo mundo. A pequena imagem que hoje é aclamada como Padroeira Principal do Brasil, segundo o decreto assinado pelo Papa Pio XI em 16 de julho de 1930 torna- se um símbolo de união nacional e marca de certo modo o pertencimento ao catolicismo brasileiro 38. A aprovação do papa a esta devoção popular é mais um sinal da força dos fiéis com suas práticas sociais paralelas as da Igreja e da necessidade de que a hierarquia eclesiástica fundamentada desde o início do processo colonizador tem, em manter as expressões religiosas que brotam do povo aliando-as a conceitos teológicos, dogmas e origens europeias e romanas de culto. 38 In: CHAUÍ, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo:2000.

65 Origem da imagem Para Eliade (1991) é através da ação do divino na história humana que se assegura a validade das Imagens e dos símbolos e esta mesma história acrescenta continuamente novos significados a estes simbolismos. 39 A origem do místico está justamente na história estabelecida pela manifestação da presença do sagrado. Na narrativa que essas imagens carregam. As imagens aos poucos foram se tornando para muitos povos formas de contato com o divino, com o sobrenatural. Desde imagens pintadas em seus próprios corpos, esculturas de pessoas ou animais, expressões da natureza ou até mesmo uma pedra ou um poste foram e são formas daqueles que professam uma crença terem um portal para se habitarem num mundo onde se conhece o próprio mistério. De variadas formas, a religião tenta ligar o homem ao mistério de sua existência. Assim também promoveu e divulgou a necessidade de ícones sagrados em seus rituais de cura, benção ou maldição, para chegarem a este objetivo. Pode-se afirmar que, no catolicismo o homem é marcado por ritos que vão conduzindo o seu contato com o místico e redirecionando aspectos intrínsecos nestes pontos que são destacados de mistério e sua relação com os mesmos. Podemos questionar: De que maneira o contato com uma imagem dentro de um ritual pode permanecer caminho de transcendência durante tantos séculos? Qual é o anseio dos devotos que mantém esta tradição? As imagens religiosas só ganham um sentido a partir das narrativas que se criam em torno delas. Os milagres, os pedidos, os agradecimentos, as rezas só são fortalecidas pelos depoimentos que atestam de fato o que a imagem representa. A narração, em seu aspecto sensível, não é de modo algum o produto exclusivo da voz. Na verdadeira narração, a mão intervém decisivamente, com seus gestos [...] que sustentam de cem maneiras o fluxo do que é dito. (BENJAMIN, 1985, p.220-1) Aliados as narrativas estão os gestos que reforçam ainda mais o poder encontrado nestas imagens. Dessa forma a devoção popular a Nossa Senhora Aparecida começa a assumir 39 De acordo com ELIADE (1991), um objeto qualquer torna-se paradoxalmente uma hierofania, (o que o autor considera como manifestação mística para o crente de alguma coisa sobrenatural em algo do mundo natural), as imagens seriam um receptáculo do sagrado, ou seja, um objeto qualquer se torna uma hierofania mesmo participando do mundo cósmico em torno de si.

66 64 um caráter mais sólido que a condicionará a sua condição: de santa popular a padroeira do Brasil. Várias são as hipóteses e narrativas que percorrem o imaginário popular em relação a confecção e encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição, que posteriormente foi chamada de Aparecida, ou seja, a forma como ela foi encontrada lhe propiciará um título e uma invocação. O jornal Diário de São Paulo, em uma publicação do ano 1954 assinala que a imagem pertencia a um religioso jesuíta do início da colonização no século XVI, um religioso que abandonou os votos professos para se casar com uma filha do cacique Tibiriça. A imagem teria após a sua morte lançada no rio por um de seus descendentes. Uma outra hipótese que aparece publicada em uma revista católica chamada Ave Maria no ano de 1967, discorre que a imagem compunha o acervo de uma capela de escravos as margens do Rio Paraíba e que a mesma vitimada por uma enchente se perdeu nas águas. Um outro relato registrado em 1952 nos arredores do Vale do Paraíba Paulista nos diz o seguinte: Nossa Senhora Aparecida era de Jacareí... Devido a uma grande enchente no Paraíba, apareceram dois monstros. Eles estavam fazendo terríveis estragos, derrubando barrancos e pondo em grande movimento o rio. Amedrontada uma velhinha que morava perto do rio, tirou a imagem de Nossa Senhora que tinha em seu oratório, colocou numa gamelinha e soltoua na água com fé que a imagem da santa a faria desaparecer os monstros. Os monstros rolaram vencidos água abaixo e a santa ficou no rio!... Há uma segunda lenda: Em Jacareí havia uma grande fazenda onde os escravos eram tratados sem piedade. Um dos escravos, pegando do barro escuro, modelou grotescamente uma imagem. Era uma santa escura como ele, escravo. E de seus lábios caía dolorosamente o segredo divino da oração. Segredo daquela alma onde sentimentos desencadeados eram respostas as chibatadas. A oração era uma caixa arrancada da dor e da revolta. Um dia o feitor encontrou o escravo com a imagem nas mãos. Falou para o sinhô e veio o castigo: teve que joga-la no rio com as suas próprias mãos e depois ser algemado... O rio guardou a santa para um dia mostra-la a todo o mundo. E essas lendas correm de boca a boca. (MACHADO, 1975,p. 152) Na tradição popular a explicação dada para os eventos sobrenaturais sempre evoca um sentido místico ligado a realidades históricas e culturais imbricadas em cosmogonias que se fundamentam nos mitos de origem 40. Essas lendas e cosmogonias buscam aplicar correções a 40 Ao discutir a atualização constante dos símbolos e imagens dentro da prática religiosa do Cristianismo, podemos entender que essas práticas são conhecidas como uma intervenção sobrenatural na História humana. Conforme Eliade (1991) Em suma o cristão é levado a aproximar-se de todo conhecimento histórico com medo e temor ; pois, a seus olhos, o acontecimento histórico mais banal, mesmo continuando a ser verdadeiro (ou seja, historicamente condicionado), pode

67 65 relações humanas consideradas injustas ou pecadoras, ou seja, o pertencimento sobrenatural relacionado a algo sagrado que é considerado inexplicável para o cientificismo humano. As narrativas em torno do encontro da imagem possuem características de histórias míticas que evocam personagens e espaços considerados sagrados na tradição popular. Esses relatos que são encontrados nos contos populares podem enfatizar a dimensão cultural do início do culto a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Nos dois relatos citados acima podemos destacar a presença de elementos que estão de alguma maneira na história oficial narrada em relação ao encontro da imagem como o rio Paraíba e a cor escura da mesma. A imagem da virgem, quadro ou estátua, é fundamental na teologia popular latino-americana. É na imagem que se faz presente a mãe e que permite relações humanas de proximidade [...]. Na imagem se estabelece uma certa unidade entre a pessoa representada e a imagem, de tal forma que se originaram relações humanas com ela. A imagem se constitui na padroeira e é especialmente milagrosa. (DORADO,1992, p..71) Oficialmente a Igreja possui uma pesquisa científica na qual justifica a origem da imagem encontrada no rio Paraíba. A estátua de barro cozido tem a sua confecção um tanto incerta, a mesma tem traços marcante do barroco brasileiro e segundo algumas especulações teria sido feita por um monge Agostiniano que viveu no Século XVII na cidade de Santana de Parnaíba, localizada na província de São Paulo. Atribui-se ao monge Frei Agostinho de Jesus um santeiro baiano que teve como mestre o Frei Agostinho da Piedade. 41 Os santeiros eram aqueles artesãos mestres em fabricar imagens religiosas devocionais, ou seja, tinham habilidade em esculpir imagens de santos e santas ligados a tradição religiosa de suas regiões, produzindo o que conhecemos como arte religiosa. A arte religiosa, é a arte que valoriza o sentido devocional dos exercícios populares, essa arte é muito diferenciada da arte sacra, que é um estilo artístico de uma arte produzida a partir das exegeses catequéticas e que tem como estratégia principal facilitar a catequese doutrinal e o culto divino institucional do catolicismo. A narrativa abaixo é assumida oficialmente pela Igreja como a História do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição no rio Paraíba. O que leva a Igreja a registrar e conservar essa narrativa? Qual seria a necessidade de registrar a devoção a Nossa Senhora esconder uma nova Intervenção de Deus na História, em todo o caso, esse acontecimento pode ter uma significação transhistórica, pode portar uma mensagem. (p.171) 41 In: MACHADO,P. Aparecida: Na História e na Literatura. Campinas: Ed. Do autor, 1975.

68 66 Aparecida dentre as inúmeras devoções existentes no Vale do Paraíba? De acordo com o registro do livro do Tombo da Paróquia de Guaratinguetá registrado no ano de 1743 pelo Padre José Vilela o encontro da imagem ocorreu da seguinte forma: No ano de 1719, pouco mais ou menos, passando esta vila para as Minas, o governador delas e de São Paulo, o Conde de Assumar, Dom Pedro de Almeida e Portugal, foram notificados pela câmara os pescadores pra apresentarem todo o peixe que pudessem para o dito governador. Entre muitos foram a pescar Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso com suas canoas. E principiando a lançar suas redes no Porto de José Correia leite, continuaram até o Porto de Itaguassu, distancia bastante, sem tirar peixe algum. (Livro do Tombo da Paróquia de Guaratinguetá p.98) O Conde de Assumar 42, aparece neste relato portando um papel de representação, representa o poder temporal, ou seja, uma autoridade que oprime em razão de um cargo governamental. E lançando nesse Porto João Alves e sua rede de rasto, tirou o corpo da senhora, sem cabeça: lançando mais abaixo outra vez a rede tirou a cabeça da mesma senhora não se sabendo nunca quem ali a lançasse. Guardou o inventor esta imagem em um tal e qual pano, e continuando a pescaria, não tendo até então tomado peixe algum, dali por diante foi tão copiosa a pescaria em poucos lanços, que receoso, e os companheiros de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, se retiraram as suas vivendas, admirados deste sucesso. (Livro do Tombo da Paróquia de Guaratinguetá p.98) O relato se mostra muito objetivo e ao mesmo tempo transpõe uma experiência mística. Fatores que vão aparecer de formas diversas: a ligação da imagem com o rio e os pescadores (a favor da classe laboriosa), a imagem aparece sem cabeça (as mortes por decapitação na corrida do ouro), a imagem encontrada é enegrecida pelas águas do Rio Paraíba ( relação da escravidão). Sobre as narrativas culturais Burke (2008) destaca que oferecem pistas importantes para o mundo em que foram criadas. Além destes elementos o rio é elemento importante nesta história. Os rios desde a antiguidade evocam uma ligação com o sobrenatural, na crença cristã a água revigora e é sinal de transformação, pureza e vida. Podemos ir a tempos longínquos e pensar como a água marca a tradição cristã desde a sua origem: o batismo de Jesus no rio 42 In: BRUSTOLONI, J. J. História Abreviada do Santuário de Aparecida. 9. ed. São Paulo: Editora Santuário, 1996, pg

69 67 Jordão marca o início da sua vida pública e é utilizado na tradição crista como o momento em que as águas foram santificadas. 43 Podemos nos aventurar de forma mais longínqua e pensar o relato da criação que é transmitido pelo cristianismo o espírito de Deus pairava sobre as águas 44, ou seja a relação do divino que passa pela água como elemento físico que evoca misticamente a presença de uma transcendência sagrada e religiosa. É assim que a imagem de Nossa Senhora da Conceição aparece naquelas águas do rio Paraíba do sul, um rio que tinha um sentido muito forte para aquela região, proporcionava sustento através da pesca e acorria as necessidades hidrográficas daquela sociedade 45. Na tradição popular, no relato que nos é proposto e descrito acima o rio é habitado por um monstro, ou seja, um ente sobrenatural que não pertence ao mundo cotidiano e que é combatido pela fé na virgem Maria, quando a sua imagem é lançada sobre o mesmo. De uma maneira ou outra o espaço do rio e a ligação com as águas reforça a ligação com o sobrenatural, importando seja no relato oficial ou no relato popular uma relação mística. A estatueta que surge das águas carrega em si não apenas o lado, ou a lama do rio e sim um sentido místico, um sinal das águas que ora possuíam o espírito cosmogônico e agora materializa algo que estaria ligado a este espírito. Isso pode estar muito ligado a oficialização do culto dada pela Igreja. Esses mitemas são recorrentes nas narrativas em torno das imagens de devoção popular e atestam o caráter diferenciado dessas imagens, dando-lhes a legitimidade necessária para se tornarem objetos da adoração e destino das romarias e peregrinações. (ABUMANSSUR, 2017, p.110) A imagem representa algo sobrenatural que protege e oferece segurança onde não se encontra no mundo natural. A representação seria dada pela exposição de uma imagem, que substitui algo outro, ou mesmo pela exibição de objetos ou ainda uma performance portadora de sentidos que remetem a determinadas ideias (PESAVENTO,2007, p. 20). 43 In: RATZINGER, J. A transmissão e as fontes da fé. In.: Communio. Vol XXIII, N 1, 2005, pp In: Ibid. 45 In: BRUSTOLONI, J. J. História Abreviada do Santuário de Aparecida. 9. ed. São Paulo: Editora Santuário, 1996.

70 68 Figura 3- Fotografia da imagem original de Nossa Senhora Aparecida, antes de ser restaurada. Fonte: CDM. Aparecida - SP A fotografia acima, faz parte do acervo do centro de documentação e memória do santuário Nacional de Aparecida, é uma das poucas fotografias da imagem original encontrada no rio Paraíba sem o manto e a coroa, de acordo com dados do arquivo essa fotografia foi feita durante a segunda metade do século XX. A imagem nos remete a uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, típica devoção portuguesa presente no Brasil, nesta fotografia ela já se encontra apoiada no pedestal de prata que lhe foi fixado para facilitar o transporte e a conservação. Dois elementos chamam a atenção na imagem: os cabelos que estão incompletos e o pescoço envolto em colares. Segundo a narrativa do santuário nacional, a imagem foi encontrada assim, parte de seu cabelo teria sido comprometido pela água e o pescoço, como é pontuado na narrativa oficial estava quebrado, sendo a cabeça fixada com cola e os colares um costume popular para disfarçar a emenda das partes fixadas. A imagem de Nossa Senhora da Conceição encontrada no rio estava decapitada, a cabeça separada do corpo, estando submersa no rio paraíba no contexto do século XVIII a

71 69 tradição popular vai associar essa figura de linguagem a pena de morte 46 que era legitimada neste contexto de formação do império luso-brasileiro. Misticamente a associação feita a esse contexto histórico busca representar ou de alguma maneira identificar a violência presente nas ações legitimadas pela estrutura governamental como uma demonstração de poder temporal que oprime as expressões humanas de grupos sociais menos favorecidos. Será que de fato foi a devoção popular que colocou esses colares para encobrir a emenda entre a cabeça e o corpo da santa? E esse significado atribuído as decapitações que ocorriam no império, pode ser considerado com uma prática de questionamento político? A constituição da imagem e a transcrição oficial feita em torno dela já nos apontam elementos políticos que constituem as práticas religiosas, até mesmo as práticas de devoção popular. De acordo com Moura: Tem-se aqui uma metáfora densa da sociedade brasileira, que o mito nos lega, mas num plano inconsciente. Sociedade brasileira em que a cabeça da sociedade, jamais se funde com o corpo, sempre associadas num equilíbrio instabilíssimo, que se complica através de segmentações sociais, culturais e raciais cada vez mais plurais. (MOURA,1997, p.132) Os pescadores passam a serem vistos como oprimidos em um contexto social pela ordem recebida da Câmara de Guaratinguetá, uma leitura que vai ser atualizada nos discursos e publicações feitas pelo jornal Santuário na década de 1930, afinal tinham que pescar e entregar uma grande quantidade de peixes para um representante do sistema monárquico em uma época do ano que a pesca estava difícil, ou seja, realmente buscam um milagre. Através desta experiência social acontece um encontro que vai ser caracterizado místico e religioso e que culturalmente vai sendo definido por interpretações diversas até se transformar em uma prática de devoção, a devoção a Nossa senhora Aparecida. Ao estudar as práticas devocionais no contexto da região das minas e depois no vale do paraíba Moura destaca: Já não se está mais no sertão fazendeiro, aurífero e diamantino, mas ainda o século XVIII, num período que precede em muito o ciclo cafeeiro. Este achado se dá numa área onde a devoção à Virgem da Conceição e a devoção à Virgem do Rosário são fortes, marcadas estas invocações pela segmentação de santa de rico e santa de pobre, já descrita para Minas Gerais. As devoções 'tradicionais", isto é, aquelas originárias da tradição iberocatólica, são expressivas numa área cultural e geográfica que não só está povoada de fazendas escravistas (perfil que no século XIX, o café 46 Ibid.

72 70 acentuará ainda mais) mas onde também ocorria o trabalho do agregado, onde as vilas mais importantes eram passagens importantes do que restava do ouro das Minas, do algodão de Minas Novas e os outros bens que deviam atravessar a Mantiqueira e a Serra do Mar. Refiro-me às Vilas de Hepacaré, Guaratinguetá, Cunha e, entre outras, Paraty, já na Província do Rio de Janeiro. (MOURA,1997, p.125) Portanto, desde as diversas narrativas que contam o encontro da imagem até a história assumida como oficial registrada no livro do tombo da Paróquia de Guaratinguetá existem elementos míticos que atestam o caráter de devoção popular que podemos encontrar em torno da mesma, possibilitando leituras e problematizações que possibilitam outras leituras além da que é oficialmente assumida pela Igreja católica no Brasil em torno deste ícone religioso.

73 Os pescadores e os primeiros milagres Aspectos como estes levaram a devoção e culto a imagem que apareceu, daí o codinome que a mesma ganhou Nossa Senhora Aparecida, que mais tarde vai se tornar uma invocação, fazendo menção a forma como ela foi encontrada. Consequentemente, a pescaria milagrosa em um rio que não tinha peixes se torna o primeiro milagre atribuído a imagem, deste modo a fama que a referida imagem era milagrosa começa a se propagar. Ao analisar aspectos diversos, relatados em entrevistas com devotos da Padroeira do Brasil considerados milagres, salienta Santos: Essa fé na capacidade da Padroeira em prover os seus filhos traduz-se na expectativa de receber e agradecer pelas graças alcançadas: os milagres. O maior milagre é a manutenção da família unida. O resto é decorrência desse milagre principal: saúde, moradia, proteção da violência urbana, manutenção e educação dos filhos, como podemos constatar através das entrevistas. (2011, p.16) Os pescadores que trouxeram a imagem do rio Paraíba são familiares, fato que atesta o caráter inicial da devoção a mesma ser uma devoção doméstica, ou seja, privada. A partir deste culto privado surge um culto público que com os passar dos anos assume um caráter nacional. Os três pecadores Felipe Pedroso, Domingos Alves Garcia e João Alves seriam os primeiros a propagarem na região do antigo morro dos coqueiros a crença na Senhora Aparecida. Qual seria a origem desses três pescadores? Como poderíamos afirmar a existência dos mesmos? Alguns documentos da Paróquia de Guaratinguetá conservados na Cúria Arquidiocesana da cidade de Aparecida SP fazem referência a existência dos mesmos 47. Outro elemento comum a esses mitos é o lugar social das pessoas a quem a Virgem ou os santos decidem se mostrar: são sempre pessoas que vivem à margem dos circuitos sociais mais bem estabelecidos. São pescadores, indígenas, escravos, lenhadores, pastores. Pessoas pobres de recursos materiais que são socorridas em suas necessidades por intervenção divina. São os mais pobres os depositários da confiança do divino. Não é sem razão que o divino se manifesta, em especial, para os mais carentes, pois são eles que têm as melhores disposições para receberem esse tipo de ajuda, considerando que dificilmente, podem contar com o auxílio da ciência, da tecnologia ou das organizações e instituições sociais modernas e dependentes de uma cultura tipicamente urbana. (ABUMANSSUR, 2017, p ) 47 In: MACHADO, P. Aparecida na História e na Literatura. Campinas: Ed. Do autor, 1975.

74 72 Por determinação dos fatores sociais que foram acontecendo em torno da imagem esses três pescadores são os primeiros a produzir o embrião da devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. O primeiro milagre então é testemunhado por estes três protagonistas: a pesca milagrosa. A figura do peixe e da pesca aparece na tradição religiosa como símbolo das origens do cristianismo, desde as primeiras comunidades cristãs o peixe é utilizado como um presságio de benção e partilha de alimento, reforçando a dimensão da partilha e da solidariedade como espinha dorsal dessas comunidades. Não é à toa então que após o aparecimento da imagem, os pescadores tendo conseguido tanta abundância de peixes façam uma ligação com o encontro da mesma imagem retirada das águas. Para Moura: No Vale do Paraíba paulista, no fim do século XVIII, é encontrada por pescadores do Rio Paraíba uma imagem da Virgem. O mito nos fala de uma pescaria convencional em que a rede ao invés de trazer peixe traz, em primeiro lugar, o corpo de uma imagem e, numa segunda jogada, a cabeça da mesma imagem [...]. A nova imagem acolhida, não da superfície do mar, como a do Rosário, mas do fundo do rio mais importante o Paraíba em condições excepcionais, propícias à crença nos milagres, que se sucedem, uns após outros. Ela é surgida, aparecida, sai das águas desta terra, diferentemente das outras, passageiras que de caravelas e galeões aqui chegam, porque já eram e estavam. (MOURA,1997, p.125) Temos, portanto, um paralelo, a imagem que aparece nas águas vai propiciar uma mistificação que enaltece a prática popular de culto a virgem Maria, ou seja, não se tem mais a imagem da Nossa Senhora da Conceição trazida por colonizadores além-mar e sim é uma Nossa Senhora desta terra, destas águas que representa o povo do Vale do rio Paraíba.Tendo como propagadores a figura dos três pescadores a narrativa em torno do milagre atesta a dimensão sagrada em torno da imagem. A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores. E, entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos. Entre estes, existem dois grupos, que se interpenetram de múltiplas maneiras. A figura do narrador só se torna plenamente tangível se temos presentes esses dois grupos. Quem viaja tem muito que contar, diz o povo, e com isso imagina o narrador como alguém que vem de longe. ( BENJAMIM, 1994, p.204) A narrativa que vai ser conservada até transformar-se em texto escrito destaca a popularidade que a imagem ganhou a partir do que é contado naquela aldeia de pescadores.

75 73 Após o episódio da pesca milagrosa teria o povo acorrido a imagem e lhe dedicado sempre orações piedosas e preces populares garantindo a mesma um agradecimento pela graça alcançada. Neste contexto pode se observar uma devoção doméstica ligada as características rurais daquela região que a imagem apareceu. Um pouco depois temos o registro do segundo milagre, que seria chamado de milagre das velas, episódio narrado no livro do Tombo da Paróquia de Guaratinguetá. Em uma destas ocasiões se apagaram duas luzes de cera da terra, repentinamente, que alumiavam a Senhora, estando a noite serena, e querendo logo Silvana da Rocha acender as luzes apagadas também se viram logo de repente acesas, sem intervir diligência alguma: foi este o primeiro prodígio, e depois em outra semelhante ocasião viram muitos tremores no nicho e altar da Senhora, que parecia cair a Senhora, e as luzes trêmulas estando a noite serena. (Livro do tombo da Paróquia de Guaratinguetá p. 98) O milagre das velas ocorre durante a noite e logo é entendido como um segundo milagre oferecido pela imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a escuridão da noite simbolizaria as trevas do mundo que separa o ser humano do divino sendo necessário que os devotos pudessem transmitir luz nessa escuridão. Não temos data oficial que demonstra qual seria o período em que aconteceu o milagre descrito nesse relato. Provavelmente este fenômeno ocorrera durante a reza do terço que se torna popular na devoção a Nossa Senhora Aparecida. Muitos outros casos surgem no imaginário popular: cura de uma menina cega de nascença, um caçador salvo dos dentes de um animal feroz em plena mata fechada, uma criança salva das águas no rio Paraíba... O próximo trecho também é retirado do livro do Tombo e novamente reforça a presença feminina de Silvana da Rocha, que se torna uma das protagonistas ligada aos primeiros milagres relatados. Em outra semelhante ocasião, em uma sexta feira para o sábado ( o que sucedeu várias vezes) juntando-se algumas pessoas para cantarem o terço, estando a Senhora em poder de Silvana da Rocha, guardada em uma caixa ou baú velho, ouviram dentro da casa muito estrondo, muitas pessoas, das quais se foi dilatando a fama até que patenteando-se muitos prodígios, que a senhora fazia, foi crescendo a fé e dilatando-se a notícia, e chegando ao vigário José Alves Vilela, este e outros devotos lhe edificaram uma capelinha e depois demolida esta, edificaram no lugar em que hoje está com grandeza e fervor dos devotos, com cujas esmolas tem chegado ao estado em que de presente está.(livro do tombo da Paróquia de Guaratinguetá p. 98) A Igreja sancionou e divulgou os três primeiros milagres relatados, os mesmos fizeram parte dos inúmeros processos que serviram para oficializar esta devoção popular.os milagres

76 74 que hoje são conhecidos e de alguma maneira reconhecidos pela Igreja foram: as velas que se acenderam sozinhas durante a reza do terço na casa de Silvana da Rocha, irmã de Felipe Pedroso. E também o cavaleiro que ficou preso no átrio da igreja em seu animal por fazer chacota e duvidar dos milagres atribuídos a santa. Os prodígios desta imagem foram autenticados por testemunhas que se acham no Sumário sem sentença, e ainda continua a Senhora com seus prodígios, acudindo à sua santa casa romeiros de partes muito distantes a gratificar os benefícios recebidos desta senhora. (Livro do tombo da Paróquia de Guaratinguetá p. 98) Sem nenhuma dúvida o milagre de maior destaque é a libertação dos grilhões do escravo Zacarias, que sendo apanhado em fuga pediu para rezar em frente a imagem em sua capela, e teve as correntes que o prendiam arrebentadas proporcionando-lhe a liberdade. No imaginário popular muitos milagres surgiram, pois, de acordo com Brustoloni: Para o povo, o termo milagre tem um significado muito mais amplo do que aquele da Teologia Católica. Para a gente simples, o conceito milagre abrange os dons naturais provenientes da natureza ou da habilidade humana. A chuva que cai a seu tempo, a saúde dos animais, o clima favorável, as plantações e colheitas, uma cirurgia bem-sucedida ou uma doença debelada, um problema pessoal ou profissional bem solucionado, tudo isso conseguido após um pedido a Nossa Senhora Aparecida é considerado milagre pelo povo. (BRUSTOLONI, 1998, p.57) Os milagres estão relacionados com a intervenção imediata em problemas sociais, desde o encontro da imagem. De acordo com o botânico Saint Hilare que passou por Aparecida em 1822 a imagem era vista como milagrosa a algum tempo. A uma légua de Guaratinguetá, passamos em frente a capela de Nossa Senhora da Aparecida. A imagem que ali se adora, passa por milagrosa e goza de grande reputação, não só na região como nas partes mais longínquas do Brasil. Aqui vem ter gente: dizem, de Minas, Goiás e Bahia, cumprir promessas feitas a Nossa Senhora Aparecida. (HILARE, 1954, p.66) O estudioso que estava viajando pela Província de São Paulo, passa pelo Vale do Paraíba e destaca o povoado Nossa Senhora Aparecida, onde por causa de uma imagem de Nossa Senhora aclamada como milagrosa acorre pessoas de outras províncias do Brasil para cumprir promessas feitas a mesma. A dimensão que esta devoção vai tomando pode ser observada então desde o século XVIII, caracterizando uma invocação própria do contexto sertanejo do Vale do Paraíba. Ressaltando o caráter rural da devoção que ia se fortalecendo.

77 Edificações do culto e reconhecimentos O Povoado de Aparecida fazia parte da Vila de Guaratinguetá e teve o seu desmembramento a partir da estrutura de crença que foi sendo formada em torno das homenagens e relações sociais criadas pelo motivo do aparecimento da imagem no início do Século XVIII. As fontes oficiais e registros que existem sobre este culto e sua evolução foram reunidas aos poucos por padres e escritores de áreas diversas 48 que tinham a ideia de propagar e guardar a crença ligada a Nossa Senhora Aparecida. Rapidamente relatos populares em torno da imagem passaram a ser sendo transmitidos entre diversos grupos sociais. As proporções destes relatos chamaram a atenção do Vigário de Guaratinguetá, provocando a necessidade de uma especulação em relação aos chamados milagres e prodígios que a imagem vinha fazendo. Apesar de ter atravessado uma formação ligada ao cristianismo durante o desenvolvimento da chamada região das Minas, o Vale do Paraíba não fugia a regra do restante do país, o número de clérigos era muito pequeno e nem todas as regiões eram assistidas com facilidade por uma Paróquia. Fatores que analisamos no capítulo anterior. A vida social neste contexto estava toda ligada a questão religiosa, pela instituição do Regime do Padroado no Império Ultramarino Português os padres eram em sua maioria assalariados públicos tendo domo mecenas de financiamento a organização governamental vigente. Os clérigos recebiam um salário oriundo do tesouro nacional, fato que imbricava ainda mais o poder religioso ao poder político. Os lugares de culto e abrigo da imagem de Nossa Senhora Aparecida na origem desta devoção se perdem em relatos dispersos e anotações feitas pelo Padre Vilela, na época vigário de Guaratinguetá no Livro Tombo da Paróquia. Nos costumes cristãos ter em sua casa imagens de santos e santas católicos é muito comum, principalmente nas regiões das Minas onde a arte barroca foi difundida 49,neste contexto histórico a região de Guaratinguetá era um caminho de passagem para as Minas devido a sua proximidade com as cidades que tinham destaque nos movimentos de administração econômica e social. 48 In: MELLO E SOUZA, Laura de, org. Cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, (Col. História da Vida Privada no Brasil, v.1). 49 In: MELLO E SOUZA, Marina de. Reis negros no Brasil escravista: história da festa de coroação de Rei Congo. Belo Horizonte: Edit. UFMG, 2002.

78 76 Podemos ressaltar que a Igreja utilizava essas imagens como um instrumento catequético principalmente para ilustrar e atingir a imaginação das pessoas proporcionado uma manifestação mística para aqueles que não sabiam ler e escrever, ou que não falavam a língua nativa como os africanos que aqui foram escravizados. A catequese devocional era muito mais popularizada em todo o país do que a catequese doutrinária baseada nas perguntas e respostas. A imagem de Nossa Senhora Aparecida vai acompanhar a rotina dos pescadores que a recolheram nas águas do rio Paraíba, sendo passada hereditariamente na família destes mesmos pescadores até o reconhecimento eclesiástico do vigário de Guaratinguetá que assumirá a responsabilidade pela mesma tempos depois. Essa trajetória de reconhecimento do culto pela Igreja pontuaremos no próximo tópico. Segundo Machado (1975) a imagem de Nossa Senhora Aparecida passou por sete altares, ou seja, uma referência ao número de mudanças e abrigos arquitetônicos que foi proporcionado a estátua desde o seu encontro no Porto de Itaguaçu. Após a descrição do encontro da imagem em 1717 se registra na continuação do relato no livro do tombo da Paróquia de Guaratinguetá feito pelo vigário Vilela Felipe Pedroso conservou esta imagem seis anos pouco mais ou menos em sua casa, junto a Lourenço de Sá [...] (p.44), pontua-se aqui um primeiro período de seis anos, ou seja de 1717 até Tudo indica que a imagem permaneceu este período na casa de Felipe Pedroso na beira do córrego chamado Lourenço de Sá onde hoje está localizada a Estação de trem na cidade de Aparecida - SP, de acordo com os relatos oficiais apurados pelo Santuário Nacional o pescador veio a se mudar deste local levando a imagem consigo. Retomando ainda a continuação do relato [...] e (Felipe Pedroso) passando para a Ponte Alta, ali a conservou em sua casa nove anos, pouco mais ou menos [...]. (Pg.44), ou seja, o período citado estaria entre os anos de 1724 até 1733.Dando sequência a trajetória tomada pela imagem o registro prossegue: Daqui se passou a morar em Itaguassú, onde deu a imagem a seu filho Felipe Pedroso, o qual lhe fez um oratório tal e qual, e em um altar de páus colocou a Senhora, onde todos os sábados se ajuntava a vizinhança a cantar o terço e mais devoções. (MACHADO, 1975, p.44)

79 77 Portanto de 1733 até 1742 a imagem de Nossa Senhora voltou para a localidade onde a mesma havia sido encontrada, já sendo procurada por pessoas da região que iam até a mesma prestarem homenagens e cantar a oração do terço, presente na tradição religiosa popular brasileira. Teria sido em uma destas reuniões supostamente que ocorreu o chamado milagre das velas, citado anteriormente. Essa exposição da imagem em um oratório pública enfatiza à proporção que a devoção começa a assumir com o passar do tempo. No ano de 1742 estando o culto a imagem de Nossa Senhora Aparecida sendo acompanhado pelo clérigo, José Alves Vilela foi lhe construída uma Capela de Pau- a- pique e coberta de sapé, oferecendo aos fiéis um culto público a referida imagem que já não mais comportava apenas o culto doméstico. Uma questão importante: é exatamente o Padre José Alves Vilela que escreve pela primeira vez em registro oficial o relato de como a imagem foi encontrada que discutimos anteriormente. Podemos considerar este fato como o primeiro registro de uma institucionalização dessa devoção, o reconhecimento do clero local. Ao tratar dessa prática em relação as devoções populares, salienta Jurkevics: Uma medida importante, nesta estratégia, foi trazer a guarda das imagens dos santos de devoção popular para os templos paroquiais (matriz ou capela), em substituição às ermidas e oratórios, onde as imagens eram guardadas por leigos. Correlatamente a essa medida, ocorreu o controle das romarias, onde ermitães foram substituídos por sacerdotes, especialmente de congregações religiosas, pois quem tinha o controle da imagem tinha também o controle da festa e da devoção. Isto ocorreu nos grandes centros de romarias que passando para o controle clerical se tornaram fonte de tensões entre as práticas de romeiros e o catolicismo romano do clero. (JURKEVICS, 2004 pg.43) O mesmo vigário vai pedir ao Bispo de maneira oficial, com documento datado do dia 05 de maio de 1743 a construção de uma capela para abrigar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, processo que vai se desenrolar até o ano de 1745, onde a Capela teve a sua inauguração no dia 26 de julho deste ano. Que hoje é chamada de Basílica 50 velha e é localizada no Morro dos Coqueiros na cidade de Aparecida SP. Segundo Hoanaert: A transladação da Imagem do santo ou da santa da ermida ou do santuário doméstico para a matriz simboliza esta tentativa de recuperação 50 A história etimológica da palavra basílica começa na língua grega, com um vocábulo que chegou ao latim sob a designação de basílica (que alude a um edifício público ). No nosso idioma, uma basílica é uma igreja que sobressai pela sua dimensão, a sua história ou outras características especiais. In: acessado em 30 de julho de 2018.

80 78 por parte do poder dominante. A procissão solene anual, perpetua e renova o começo desta recuperação. (p.400,1983) O viajante Saint Hilare 51 passando pela província de São Paulo no ano de 1822 deixa registrado em seu diário de viagens uma menção da igreja de Nossa Senhora Aparecida do morro dos coqueiros, descrevendo também a visão que se pode ter a parir da mesma. Comparada com a igrejas visitadas por ele nas regiões das minas que possuíam a douração em seus altares e várias peças em ouro o botânico vai considerar o templo uma construção sem notoriedade. A igreja está construída no alto de uma colina, á extremidade de grande praça quadrada e rodeada de casas. Tem duas torres que fazem de campanário, mas seu interior nada apresenta de notável. O que realmente vem a ser a vista encantadora desfrutada do alto da colina. Descortina-se região alegre, coberta de mata pouca elevada. O Paraíba ali descreve elegantes sinuosidades, e o horizonte é limitado pela alta cordilheira da Mantiqueira. Deste modo podemos destacar na origem do culto uma religiosidade muito ligada a questões devocionais e populares que tende a se propagar nessas regiões que tinham pouco investimento em uma catequese tradicional e confirmavam um espaço de privilégio clerical. Sendo que o reconhecimento de crenças como o culto a Nossa Senhora Aparecida sempre se deu de maneira paralela a ideias catequéticas propostas pelo clero ou por instituições que o representavam, aspecto que vai se intensificar apenas no início do século XX. Para Moura: Ainda no século XIX é construída uma capela e depois uma igreja, de aspecto barroco na sua feição arquitetônica externa em Guaratinguetá. Tornase o cenário específico de sua devoção. Proprietários de escravos e escravos, comerciantes, faiscadores, agregados, tropeiros, sitiantes, posseiros, todos acodem ao templo desta velha/nova Virgem Maria, que ganha a altitude dos altares principais em inúmeras igrejas, e surge modesta pequenina nas capelas rurais passando a fazer parte das algibeiras dos viandantes. (MOURA,1997, p.125) Alguns relatos recolhidos no início do Século XX em razão dos estudos feitos pelo Padre Otto Maria Boehm 52, missionário redentorista que de reuniu e transcreveu documentos para fazer parte do acervo do arquivo histórico da então Catedral de Aparecida - SP. Foram recolhidos depoimentos de pessoas diversas das regiões em torno de Aparecida que através de suas memórias relatavam fatos relacionados a história da imagem e a evolução do culto a mesma no Vale do Paraíba. 51 In: HILARE, Augusto Saint. Segunda Viagem a província de São Paulo. São Paulo: Martins, De acordo com informações trazidas no livro do Padre Machado, Aparecida na História e na Literatura (1975) o Padre Otto Maria Boehm, teria nascido na Alemanha em 1880, ordenado sacerdote em 1907 e vindo para o Brasil como missionário redentorista.

81 79 O depoimento abaixo arquivado na Cúria e posteriormente publicado pelo jornal O Santuário diz o seguinte: Os pescadores que acharam a imagem de Nossa Senhora eram do Porto das Pedras e vieram descendo o Rio Paraíba, até que chegaram ao Porto de Nossa Senhora, onde foi o ponto final da pescaria. Foi ali mesmo que pescaram a cabeça da imagem. Os pescadores deram a santa a Silvana da Rocha que morava no alto do morro dos coqueiros num casebre de sapé, encostado numa grande árvore de graúna que servia de esteio. E nessa árvore, a qual era ôca embaixo, Silvana colocou a dita imagem, justamente no lugar onde se ergue o altar mor da atual igreja. Depois do estrondo que a Imagem tinha dado várias vezes, enquanto fica guardada numa caixa, arrumaram um altarzinho sobre o tronco ou cepo daquela árvore cortada. Segundo uma antiga tradição está ainda guardado aquele tronco de graúna debaixo do altar de Nossa Senhora verdade esta que alguns pedreiros que trabalharam nas obras da Capela, confirmam como testemunhas oculares. (Maria Rosa de Jesus 91 anos de idade In: MACHADO,1975, p. 186) A transferência de uma imagem doméstica para um oratório público caracteriza a evolução de uma crença particular para uma crença pública, o que marca a sua expansão e propagação popular tanto no viés religioso quanto nas esferas políticas que ambientam as construções de intercâmbios culturais, o espaço que a devoção vai alcançar ultrapassa a dimensão individual de crença conquistar com suas próprias forças um espaço, a partir da consciência individual, não obstante sua marginalização na vida pública (MATOS, 1997, p.41) Um longo trajeto foi percorrido para que a devoção a Senhora Aparecida se tornasse oficializada. As peregrinações e romarias em torno do Porto de Itaguaçu na região de Guaratinguetá-SP, segundo narrativas espalharam em suas rotas prodígios e milagres. Isso pode ser constatado no trecho abaixo: Chegou hoje de madrugada uma numerosa romaria do Rio. No dia 9 é esperada uma romaria de Caçapava, exclusivamente de militares. Durante ocorrente mez são esperadas diversas romarias, procedentes de várias cidades. 53 Na época que a imagem foi encontrada por volta de 1717 a via de Guaratinguetá possuía uma capela em seus arredores que era administrada por religiosos Mercedários In: JORNAL O PARAHYBA. Edições: Nº 460, Nº 741, Nº 963, Nº Disponível em: Visitado em 03/12/ Sobre a Ordem dos mercedários: A Ordem Real e Militar de Nossa Senhora das Mercês da Redenção dos Cativos surgiu através dos investimentos de São Pedro Nolasco e São Raimundo da Penaforte, com o rei Jaime I. Segundo relatos tão antigos quanto o histórico dessa invocação, a Virgem teria aparecido em sonho para os três homens em uma mesma noite, solicitando a intercessão pelos fiéis que se encontravam em cativeiro. Em vista disso, eles constituiriam a Ordem com votos de castidade, obediência e pobreza. Como também deveriam proporcionar a libertação dos escravizados, desempenhariam

82 80 Houve em Guaratinguetá pároco desde antes de Frei João da Costa e Almeida, frade mercedário, em supomos que no aparecimento da imagem ele ainda estava lá, pois no elenco existente figura entre os auxiliares de 1720 ( Cf. a Igreja na Hist. De SP Tomo 3º pg.201). O viajante Saint Hilare também comenta a existência de uma capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário na região entre a vila de Guaratinguetá e o povoado de Lorena A cerca de duas léguas de Nossa Senhora Aparecida, encontra-se a beira do caminho, uma capelazinha chamada Capela do Rosário. Apenas merece que dela se faça menção. Depois de passada tal capela veem-se muito menos casas. 56 Entendemos então que existiam referencias do clero na vida do povo que morava naquela região, já estava presente, possivelmente Frei João da Costa e Almeida era o pároco no período que a imagem de Nossa Senhora Aparecida fora encontrada no Rio Paraíba. A ligação paroquial de Guaratinguetá era com a sede episcopal do Rio de Janeiro, diocese a qual estava subsidiada territorialmente. O bispo daquela Diocese no período era Dom Francisco de São Jerônimo 57, português da Congregação de São João evangelista. Conforme Machado: Mui provavelmente, tiveram conhecimento da pesca histórica e primeiras notícias, sem lhes dar maiores atenções, os Vigários de Guaratinguetá, antecessores do Padre Vilela que foram os religiosos Mercedários (Ordem de Nossa Senhora da redenção dos cativos), entre os quais figuram desde 1715 a 1720, como Vigários Frei João da Costa e Almeida seguido por Frei Felix Sanches Barreto até 1722 e desta data até novembro de 1725 Pe. Antônio Bicudo de Siqueira. (MACHADO,1975, p.186) Podemos entender que os padres não olharam com respectiva significância para o fenômeno da pesca da imagem no início das transposições orais sobre o mesmo por não se interessarem por este tipo de crendice direcionada e vivida por pessoas que não possuíam instruções eclesiásticas ligadas diretamente a hierarquia da Igreja. No entanto existe a assim seu fim militar. Os primeiros mercedários que chegaram ao Brasil, mais exatamente em Belém do Pará, vieram do Peru com Pedro Teixeira em In: TEIXEIRA, Vanessa Cerqueira. A celebração entre o sagrado e o profano: os rituais festivos da irmandade de Nossa Senhora das Mercês de Mariana (Minas Gerais, séculos XVIII-XIX) DOI: / v16. n < 55 In: NERY,Frederico Morato. Os primeiros episcopados do Rio de Janeiro: de D. José de Barros Alarcão a D. Frei Antônio do Desterro Malheiros. Coletânea Rio de Janeiro Ano XIV Fascículo 28 p Jul./Dez In: HILARE, Augusto Saint. Segunda Viagem a província de São Paulo. São Paulo: Martins, Ibid.

83 81 hipótese também que estes religiosos não tomaram conhecimento dessa prática devocional iniciada ao redor da imagem encontrada no rio Paraíba. Apenas com a chegada do Padre José Alves Vilela (conforme citamos anteriormente) que se deu no termino do ano de 1725 conforme registros da cúria diocesana do Rio de Janeiro. A presença do clero vai ser sempre reafirmada com a expansão dos primeiros veículos de comunicação no Vale do Paraíba, no relato abaixo, publicado no jornal Liberdade, podemos encontrar essas referências: Realisou se com grande solenidade no dia 11 a festa de N. Sra. Apparecida. As 9 horas houve missa cantada, pregando ao Evangelho o Revmo. Conego Luiz Gonzaga, cura da Sé de S. Paulo. A tarde sahiu imponente procissão, que devido á chuva ameaçadora não pode fazer todo o percurso como de costume. Afim de assistir as solenidades aqui estiveram os Exmos. E Revmos. Srs D. Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de S. Paulo e D. José Marcondes H. de Mello, bispo de S. carlos. A concorrência de romeiros foi bem regular, apezar de diversos factores que contribuíram para dificultar as viagens, como as chuvas, excessivo aumento no preço das passagens e os contínuos desastres da central. O reconhecimento episcopal, ou seja, do bispo local, delimita o espaço que a devoção a Nossa Senhora Aparecida vai ganhar, mesmo sendo visitada por muitos romeiros é a visita destes clérigos ou a referência a eles em documentos oficiais e jornais que de alguma maneira autoriza a crença em torno da imagem. É comum encontrarmos nos registros oficiais do Santuário Nacional nome de clérigos que são citados como propagadores ou defensores desta devoção. Se desde a sua origem essa devoção ganhou o reconhecimento popular qual seria o interesse constante de membros da Igreja ligarem os seus nomes a esta devoção? Como discutimos anteriormente a edificação da primeira capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida no ano de 1742 marca o reconhecimento eclesiástico para essa devoção e pode significar a primeira forma de oficialização desse culto a partir da organização do catolicismo brasileiro. O reconhecimento do clero local, no caso representado pela figura do Padre José Alves Vilela representa uma instituição local de culto, o que vai ser o germe da expansão da devoção desta crença. Com a morte de Dom Francisco de São Jerônimo em junho de 1721 a diocese do Rio de Janeiro permanece sem bispo, o que é chamado no contexto do catolicismo de Sé vacante 58, o sucessor foi o bispo Dom Antônio de Guadalupe que tomou posse do bispado no 58 Ibid.

84 82 dia 02 de Agosto de 1725 e ficou no cargo até o ano de 1740 quando foi transferido para Portugal ao bispado de Vizeu onde faleceu em 31 de Agosto do mesmo ano. Foi esse bispo quem designou o Padre José Alves Vilela como vigário da Igreja de Guaratinguetá no ano de De maneira similar a capela de Aparecida vai transformando-se em santuário. Acompanha as fases do ciclo do café, que enriquecia e esgotava o Vale do paraíba, e impregna-se com marcas imponentes da Matriz do Morro dos Coqueiros, espalhando a profética prosperidade do lugar. (OLIVEIRA, 2001, p.54) Em consequência disso, vê-se, a todo instante uma sequência de fatores que levaram à devoção e o culto a imagem negra de uma simples vila de Guaratinguetá a tornar-se a mais invocada e conhecida santa de devoção mariana brasileira. Aos poucos a devoção a Senhora Aparecida nome que é utilizado devido a forma como a imagem foi encontrada se popularizou e cresceu. Em linhas gerais, de 1745 a 1803, a capela, filial da igreja matriz de Santo Antônio de Guaratinguetá, teve seus bens, assim como sua festa anual, administrados pela Irmandade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. O atendimento religioso era realizado pelo vigário da Paróquia [...]. Em 18 de outubro de 1800, uma resolução de D. João VI passou o santuário para controle secular[...]. Por fim, em setembro de 18005, as esmolas bem como o patrimônio da capela, foram oficialmente incorporados aos bens públicos, extinguindo-se a irmandade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. (NETO,2006 p.162) Com a Proclamação da República em 1889 e o fim do regime do Padroado a administração da igreja de Aparecida, passa a ser exclusivamente da Igreja, e não mais da mesa administradora ligada ao poder imperial. A Igreja reassume o poder da capela após o regime de padroado que no Brasil Império deixava a administração do santuário em mãos laicas. Mais tarde convoca os missionários redentoristas para nela cumprirem os desígnios da evangelização romanizadora preconizada pelo Concílio Vaticano I. Para mostrar seu poder de liderança, passa a disciplinar as romarias, e na festa da coroação de Nossa Senhora como Rainha do Brasil (50 anos depois da instituição do dogma da Imaculada Conceição em 1854), comprova que a partir dessa obra o santuário tornara-se hegemônico, sacralizado, centralizador, indestrutível. Fato já anunciado em 1888, na reinauguração da Basílica do Morro dos Coqueiros. (OLIVEIRA, 2001, p.54) Até os dias atuais a devoção a Nossa Senhora Aparecida é muito propagada e difundida pela Igreja Católica no Brasil, publicidade está que ainda não justifica a grande

85 83 quantidade de devotos que esse título mariano conquistou. O interessante é notarmos que após os inúmeros reconhecimentos recebidos do catolicismo oficial, a devoção a Nossa Senhora Aparecida possui exercícios de práticas de crença imbricados a devoção popular, tais como: as promessas, os santinhos, as fitinhas, as bênçãos, as procissões, as trocas de flores. A mesma devoção passou por vários estágios e até hoje vem sendo considerada um dos títulos marianos 59 que mais possui devotos por todo o mundo. As festas em comemoração à santa mudaram de data diversas vezes, sendo que a data que ficou fixada no calendário popular é justamente a realizada no segundo domingo do mês de maio, mês que a tradição popular celebra a figura da virgem Maria. Um dos convites publicados no jornal Liberdade, convida o povo para a celebração desta forma: Realisasse amanhã na Basilica a solene festa de Nossa Senhora Apparecida constando de missa cantada as 9 horas, com sermão, Evangelho e procissão a tarde. Hoje e amanhã a noite haverá Leilões de prendas promovidos pela União de Moços Catholicos. Durante os leilões serão exibidas fitas cinematográficas. 60 O convite acima demostra como a festa popular acontece no mesmo espaço que a festa romanizada: a procissão e o leilão promovido pela União de Moços Católicos enfatizam a participação dos leigos enquanto organizadores destas celebrações, bem como a exibição de fitas cinematográficas reforçam a necessidade de uma catequese romanizadora, que evoca sempre um sentido de instrução normativa. Que tipos de filmes ou mensagens teriam sido exibidos neste evento? Qual seria de fato a intenção principal da utilização deste tipo de recurso audiovisual? De maneira assertiva não podemos considerar que a expansão do culto a Nossa Senhora Aparecida tenha sido fruto dos reconhecimentos oficiais que lhes foram agraciados pelos líderes do catolicismo brasileiro, é necessário entendermos que todo esse processo partiu de fato das narrativas que se propagaram em torno da imagem e assumiram um caráter devocional facilitado pelo espaço geográfico em que essas narrativas surgira, dado que como pontuamos anteriormente o Vale do Paraíba era uma importante região de passagem que ligava a região das minas a eixos em desenvolvimento político-industrial, como São Paulo e Rio de Janeiro. 59 Cf.: Conforme nota

86 84 No trecho abaixo, vamos encontrar uma publicação de agradecimento a Nossa Senhora Aparecida feita nas notas do periódico Santuário publicado no dia 06 de junho de 1931 com os seguintes dizeres: Maria Conceição de Jesus estando passando mal com cólica uterina, seu pae pediu a Nossa Senhora que encontrasse um remédio que a curasse e foi prontamente atendido. Por promessa ela fez uma novena de terços a Nossa Senhora, durante o mês de Maria. Enviou 1$ a Nossa Senhora e 4$ para a publicação por duas vezes. ( SANTUÁRIO D APPARECIDA, Nº.30,06/06/1931, p.03) Essa nota de agradecimento se assemelha as demais notas publicadas na sequencia na mesma coluna do jornal, ou seja, podemos compreender que os elementos da devoção popular são destacados de maneira eficaz dentro do próprio texto: a promessa, a cura e o cumprimento da promessa de maneira particular e sem ligação com os ritos oficiais do catolicismo, fato que fica evidente quando a autora destaca a novena e os terços que promoveu durante o mês de maio como parte do agradecimento. As práticas de terços e novenas, bem como os exercícios de devoção durante o mês de maio demonstram comoa devoção popular possui uma característica e independência própria perante a realidade do catolicismo oficial. Nesta perspectiva, são importantes as contribuições de Oliveira: Não se pode atribuir a organização da mitogênese de Aparecida apenas a administração, redentorista, uma vez que o aparelho do Estado, desde a Velha República, manteve permanentemente interesse na afirmação da identidade nacional proporcionada pelo culto à santa. As duas forças conjugadas numa mesma política cultural desenvolveram essa mitogênese, desde as primeiras romarias organizadas até a peregrinação de 1931 que levou a própria imagem ao Rio de Janeiro, num grande ritual de consagração ao padroado de Nossa Senhora Aparecida. (2001, p.63) A Basílica nova, ou seja, a igreja atual que abriga a imagem de Nossa Senhora Aparecida teve o início de sua construção com o lançamento da pedra fundamental em 10 de setembro de Até os dias atuais a história de Nossa Senhora Aparecida que é proposta pelos grupos religiosos pode ser resumida nos pontos principais que destacamos neste capítulo, aliada a uma série de outras histórias de milagres e graças que continuam sendo contadas pelos devotos que de maneira extraordinária espalham e reforçam está devoção pelo Brasil. Um fator importante: como citamos na introdução o Jornal aos poucos vai se tornar o meio mais efetivo de divulgação dos documentos oficiais da Igreja, se tornando o veículo

87 85 principal do processo de romanização. Esse fator não impede que a devoção popular ganhe espaço no periódico, como vemos no excerto abaixo: Para o romeiro que chega a Aparecida, a narração da imagem encontrada no Rio Paraíba se sobrepõe á narração elaborada pelos séculos de mariologia ensinada nos seminários. Mesmo porque as Nossas Senhoras são muitas, mas esta aqui é diferente. Essa tem uma história particular e uma trajetória de milagres que só dizem respeito a ela. Essa Senhora é Nossa. Para o devoto, mais vale os últimos 300 anos do mito do que os 20 séculos de doutrina mariológica. (ABMANSSUR, 2017, p.115) Mesmo com as explicações e abordagens teológicas os devotos ainda buscam em torno da imagem aparecida, uma essência mística que caracterizam a fé em Nossa Senhora Aparecida por uma dimensão muito mais sentimental que teológica, é uma pena que não nos é possível traduzir este sentimento em um objeto de pesquisa e sim problematizar dados e fatos que levam a ele.

88 86 3. APARECIDA: DA DEVOÇÃO POPULAR A FÉ ROMANIZADA Com a Proclamação da República no ano de 1889 extinguiu-se o regime do Padroado 61, ocasionando aos poucos um distanciamento entre a Igreja e o Estado. Nos primeiros trinta anos da República brasileira a Igreja precisou assegurar-se frente ao Estado de uma outra forma, já não possuía mais a oficialização de nascimentos e casamentos que seriam dadas em outros espaços e não mais nas igrejas paroquiais 62. Respaldada por uma estratégia de romanização 63 do culto, o que discutimos no capítulo anterior, como instituição a mesma tentou apropriar-se de elementos culturais da piedade popular encontrados no meio devocional para institucionalizar outros modos de crença cristã que não faziam parte da sua tradição catequética. O Brasil na década de 1930 atravessava um período de mudanças nas instituições políticas, econômicas e religiosas, é exatamente nessa conjuntura que o processo de reconhecimento das devoções e crenças consideradas populares pelo Catolicismo se tornou uma forma de fortalecimento dos grupos católicos e uma oportunidade para abraçar um número maior de fiéis que por razões geográficas ou espaços sociais diferenciados não eram assistidos por líderes eclesiásticos e possuíam estratégias para conservarem as suas práticas de fé independente dessa tutela ou liderança. Na mentalidade católica tradicional a figura do Papa representa toda a Igreja e no Brasil aliada a figura do papa encontramos a Nova Padroeira, Nossa Senhora da Conceição Aparecida. A imagem encontrada entre os caminhos do café e do ouro se torna um ponto de conciliação da devoção popular com o catolicismo romanizado, portanto a mesma possui a simbologia que imbrica dois mundos católicos presentes no país. A imagem representa muito mais que a si mesma. Desta forma a representação seria dada pela exposição de uma imagem, que se substitui algo outro, ou mesmo pela exibição de objetos ou ainda uma performance portadora de sentidos que remetem a determinadas ideias (PESAVENTO,2007, pg. 20). 61 In: HOORNAERT, E. et al. (orgs.). História da Igreja no Brasil Tomo II/1. Petrópolis: Vozes; Paulinas, In: LUSTOSA, Oscar. de F. A Igreja Católica no Brasil - República: cem anos de compromisso: SP: Ed. Paulinas, In: OLIVEIRA, P.R. Religião e dominação de classe; gênese, estrutura e função do catolicismo romanizado no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1985.

89 87 Debates como: o combate ao comunismo, a satanização dos costumes modernos, as ameaças das teorias ligadas ao esoterismo deixavam na Igreja uma preocupação exímia, no Estado o medo destas ideias que na maioria das vezes eram consideradas como subversivas poderia ser amenizado com a aproximação do governo com uma educação moral acirrada e uma religiosidade catequética forte. Elementos que ficam evidentes nas notícias e manchetes que são divulgadas no Jornal Santuário, um dos principais periódicos que utilizamos como fonte para esta pesquisa. Em suas páginas o enfoque as cartas papais com orientações sobre como ser católico no meio destes costumes modernos e amedrontando os fiéis com pequenas notas sobre a perseguição feita a Igreja da Europa por grupos comunistas. 64 Na imagem abaixo do jornal Santuário, edição do semanário de Número 42, publicado em um sábado dia 08 de Setembro de 1904 fica evidenciado como o periódico trás na primeira capa a imagem de Nossa Senhora Aparecida destacando abaixo da mesma o adjetivo Mãe, ora, foi exatamente neste dia que a imagem foi solenemente coroada como Rainha do Brasil, título este que possui um reconhecimento outorgado pelo Papa de forma diferenciada, ou seja podemos compreender que este é o Primeiro passo de importância oficial para a romanização desta devoção. Todas as coroações e atos realizados como forma de homenagem a imagem são oficialmente reconhecidos nesta celebração que de certo modo é a escalada do movimento em razão da Proclamação de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil. Para Burke (2017) em alguns momentos de fortalecimento dos seus dogmas e de sua fé a Igreja utiliza imagens que possam reafirmar, cada vez mais as suas doutrinas. Com este intuito a primeira página do jornal ganha uma reprodução da imagem oficial de Nossa Senhora Aparecida com uma antífona que possui um peso teológico grande, já não é mais apenas a Santinha Apparecida, encontrada nos registros do Livro do Tombo da Paróquia de Guaratinguetá e sim a representação iconográfica da Mãe Santíssima, base da catequese católica fundamentada em sua doutrina. 64 Colocar nota dessas publicações no jornal santuário

90 88 Figura 4 - Fotocopia do Jornal Santuário Num.42 - Fonte CDM/ Aparecida - SP A partir da análise de algumas edições do Jornal Santuário da década de 1930 podemos compreender que realmente o panorama religioso do catolicismo brasileiro estava sendo incorporado ao projeto romanizado. A utilização da figura de Nossa Senhora Aparecida permanentemente no cabeçalho do Jornal nos alerta para uma nova abordagem em torno do catolicismo popular brasileiro e possibilita problematizarmos: de qual maneira esse catolicismo devocional passou a ser instrumentalizado? Quais veículos serão utilizados para a propagação dessa prática catequética? Em uma nota que aparece na Edição de Número 26 publicada no dia 09 de maio de 1931, que dará início a uma sequência de textos, colunas e notas com o intuito de divulgar a festa da Proclamação do Padroado que aconteceria no Rio de Janeiro, em primeira página é destacado que: O nossa Santuário aparece hoje não só com o seu material typografico renovado, mas também com um novo cabeçalho que corresponde a seu character de orgam da devoção á Padroeira do Brasil. Acha-se no centro do cabeçalho a imagem de Nossa Senhora Apparecida. Do lado direito vê-se a Basilica de Apparecida, onde a Padroeira do Brasil é visitada e venerada por seus devotos e onde Ella estabeleceu o seu throno de graças. Do lado esquerdo vê-se, symbolisando o Brasil, a barra do Rio com o Pão de

91 89 Assucar, não há em todo paiz outro ponto tão conhecido do mundo inteiro como característico do Brasil, pelo que foi escolhido para representar o paiz junto da sua padroeira. (1931, p.1, nº 26) A informação acima marca um novo período para este veículo de imprensa religiosa, um momento de diálogo muito mais acirrado com os documentos oficiais da Igreja, como as cartas encíclicas e as catequeses doutrinárias que irão tomar a maior parte dos espaços das colunas do jornal. A mudança no cabeçalho do mesmo propõe uma leitura totalmente diferente da que mostramos anteriormente que apenas trazia o nome do periódico: Santuário D Apparecida. A nota desta edição enfoca o que podemos problematizar na imagem abaixo: Figura 5 - Jornal "Santuário D'Apparecida".Fonte: CDM/ Aparecida - SP. Com uma breve análise comparativa podemos ver nesta edição a imagem de Nossa Senhora Aparecida no centro com a seguinte antífona Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, ladeada pelo pão de açúcar cartão postal da Capital Federal e pela Basílica, cartão postal do vale do Paraíba Paulista. É também nesta edição que o jornal se intitula órgão da Basílica Nacional, pois, anteriormente destacava o título de órgão da Basílica episcopal, ao fazer uma análise entre linhas entendemos que de fato acontece um processo de modificação no culto a Nossa

92 90 Senhora Aparecida, e o jornal como veículo deste culto possibilita uma problematização desta modificação, fato que propomos discutir neste capítulo. De maneira profícua precisamos ir além das aparências para utilizarmos a imprensa como fonte histórica. Cabe ao historiador uma leitura entre linhas da conjuntura histórica que o jornal nos oferece, destacando no caso do jornal Santuário o seu status de imprensa religiosa católica. Portanto, é importante problematizar e superar pela análise a ideologia da objetividade e da neutralidade da imprensa que, construída historicamente, se nos confronta como um dado de realidade: a imprensa não se situa acima do mundo ao falar dele. (CRUZ; PEIXOTO, 2007, p.258) A religiosidade do catolicismo brasileiro separada do regime do estado tende a buscar uma nova identidade, baseando-se nas constituições conciliares e na bula Quadragesimo anno 65 uma carta encíclica do Papa Pio XI, de 15 de maio de 1931, sobre a restauração e aperfeiçoamento da ordem social, em conformidade com a Lei Evangélica, no 40º aniversário da encíclica de Leão XIII, Rerum Novarum. Nesta bula novamente a orientação de Roma era uma crítica as ideias do Comunismo e do Socialismo e uma exortação as questões da classe trabalhadora. Os debates que aparecem no jornal Santuário possuem como plano de fundo colunas ligadas a essas temáticas, principalmente reproduzindo alocuções e encíclicas do Papa, o que nos dá um indicio de que o público leitor do jornal também vinha se modificando, já que o jornal não estava mais apenas com o enfoque de relatar o que ocorria em relação ao culto a Nossa Senhora Aparecida que era o seu projeto embrionário. De acordo com Cunha (2010) o papel da instituição religiosa residiria em legitimar o regime republicano e não participar diretamente das tramas políticas decorrentes do pacto oligárquico que se estendia da federação aos municípios. A legitimação da república foi instrumentalizada com a construção de símbolos de identidade nacional que viria a ser intensificada após a chegada de Getúlio Vargas ao poder através de um golpe no ano de Em um país com maioria católica 66 seria estratégico que o governante tentasse manter um diálogo amistoso com a Igreja. Ao aceitar o seu papel como força auxiliar 65 CARTA ENCÍCLICA QUADRAGESIMO ANNO. Disponível em: < Acesso em: 17 de Novembro de AZEVEDO, Demi. A Igreja Católica e seu papel Político no Brasil. Estudos Avançados 18 (52), 2004.

93 91 política do governo provisório, as lideranças da Igreja ofereciam orientação que serviram para aperfeiçoar a ideologia nacional da elite burguesa. Isso fica evidente nas publicações da imprensa católica problematizadas nesta conjuntura histórica. Há registros históricos de uma certa união de interesses: os devotos que queriam a virgem de Aparecida como Padroeira, o clero que desejava uma cristianização mais romanizada, pois era muito santo e pouca missa (além de demonstrar sua força atuante na sociedade) e o governante que havia chegado através de um golpe republicano ao governo exaltava a questão da Nacionalidade que assegurava seu mandato. Palavras que podem ser encontradas no discurso 67 que Cardeal Leme 68 dirigiu aos bispos e ao povo reunido logo após o decreto da Santa Sé oficializar a nova Padroeira. 67 Senhores! O Brasil não tem rei. Mais os chefes da nação são escolhidos pelo povo. Pois bem o nosso povo quer ter a sua rainha. E essa rainha? Ei-la na expressão singela dessa imagem venerada: Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Não é verdade que a quereis como vossa Rainha (Ninguém poderá descrever o enthusiasmo, o calor do grito unisono que rompeu de toda aquella massa humana: Sim! Sim! Nós a queremos Nossa Senhora da Apparecida, Viva Nossa Rainha! Viva a Rainha e Padroeira do Brasil!!!) AH! Vós a quereis como Rainha? Então almas nos lábios, juremos todos que nem os arremessos tentaculares da heresia invasora, nem as investidas fanatizantes da superstição grosseira, nem as tramas das lojas, nem o barbarismo da meia sciencia, nem a irrisão dos increos, nem a irieza dos indifferentes, nem o laicismo dos governantes, nem a perseguição aos maus, nem força alguma da terra ou do inferno será capaz de arrancar do coração do povo brasileiro o nome e o amor de Nossa Senhora. Diante de todos os homens, diante de todas as seitas e de todos os partidos nós os brasileiros, havemos de mostrar que Maria Santíssima é nossa Rainha, e Rainha que nunca será destronada. E ela também diante de todas as nações do mundo vai mostrar que é a rainha da nossa pátria é a mãe do povo brasileiro. (Discurso do Cardeal Leme na consagração de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil em 31/05/1931 Fonte: CDM-Aparecida-SP) 68 O cardeal foi a principal figura relacionada ao processo da Romanização do catolicismo no Brasil sobre está questão conferir: Hoornaert, O cristianismo moreno do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1931.

94 O projeto da nova Padroeira No ano de 1929 os bispos Brasileiros fizeram uma petição ao Papa Pio XI, solicitando que Nossa Senhora da Conceição Aparecida, imagem que representava a Virgem Maria para muitos brasileiros fosse reconhecida de maneira oficial pela primazia romana como padroeira principal do Brasil fato este que retiraria do trono São Pedro de Alcântara, que desde a Proclamação da Independência em 1822 ocupava o título de Orago Nacional. Na ocasião das festas Jubilares de setembro de 1929, os prelados reunidos no santuário de Aparecida oficialmente solicitaram a Roma um pedido oficial em nome do povo, para que a imagem fosse proclamada padroeira do Brasil e pudesse receber as honras litúrgicas destinadas a tal título. Figura 6- Fotografia dos prelados presentes no Jubileu de Prata da Coroação da imagem de N.S.A - Fonte: CDM. Na fotografia acima, publicada no Almanaque de Aparecida de 1931, revista anual do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, é destacado o conjunto de 25 dos 27 bispos que participaram do Congresso Mariano 69 em 1929 conforme citamos no parágrafo anterior, em uma nota especial o Almanaque trouxe uma matéria intitulada Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil contendo a fotografia e os nomes dos bispos 70 que participaram do 69 Cf.: Nota De acordo com a descrição da notícia publicada na página 54 do Almanaque de Nossa Senhora Aparecida de 1931, estão presentes na fotografia os seguintes prelados: Em pé: D. Alderico, Abbade de Pirapora; D. Guilherme Müller. Bispo de Barra do Pirahy; D. Innocencio, Bispo-Coadjutor de Campanha; D. José Carlos de Aguirre. Bispo de Sorocaba; D. Adalberto Sobral, Bispo da Barra; D. José Mauricio da Rocha, Bispo de Bragança; D. Ranulpho da Silva Farias, Bispo de Guaxupé; D. Attico Eusebio da Rocha, Bispo de

95 93 evento. Esse congresso possuía um caráter jubilar e solene, pois, foi a ocasião de comemoração das bodas de prata da coroação da imagem de Nossa Senhora Aparecida ato que reconhecia oficialmente a mesma como Rainha do povo brasileiro, realizado no ano de Não possuímos informações sobre o fotógrafo, pois, o periódico não registra o crédito da mesma foto. Objetivamente a imagem conduz a um significado radical do processo de romanização, uma valorização extrema do clero e uma demonstração de poder por parte da Igreja que pode ou não legitimar e permitir determinados cultos. A apropriação que vai sendo feita da devoção popular vai ocasionando um hibridismo que ocasiona uma ressignificação. No entanto, se como objeto a fotografia permite, sobretudo, a elaboração de um discurso, ela é também vestígio do real. Ela permite a verificação de elementos momentaneamente ocultados ou definitivamente desaparecidos. Nesse sentido ela assume o caráter de uma fonte insubstituível. (ABISSET, 1981, p.15) A imagem faz parte do acervo do centro de documentação e memória (CDM) e demonstra uma hierarquização absoluta no processo de reconhecimento de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil. Dado que o destaque da presença dos bispos é referendado dentro do texto do Almanaque de 1931, uma revista anual, conforme pontuamos na introdução. A publicação discorre da seguinte maneira o evento: Os votos unanimes do Episcopado e dos fiéis, manifestados tão eloquentemente nas Festas jubilares de Setembro, que Nossa Senhora Apparecida seja proclamada e venerada officialmente como Padroeira de todo o Brasil, foram attendidos e approvados pelo Papa. A 1 de Maio p. p. o Exmo. e Revmo. Sr. Arcebispo de São Paulo recebeu telegramma de Roma, annunciando officialmente que o Santo Padre declarou Nossa Senhora sob a invocação de Apparecida como Padroeira do Brasil. Estava proxima a Festa propria de Nossa Senhora Apparecida, dia 11 de Maio. Era pois natural que nesse dia se promulgasse e celebrasse a disposição do Santo Padre.A Festa foi, pois, celebrada com todo esplendor. Na Missa solenne, á qual assistiu pontificalmente o Sr. Arcebispo, o Mons. Chantre do Cabido Metropolitano de São Paulo, prégador da Festa, annunciou ao povo que por ordem do Papa Nossa Senhora Apparecida deve ser por todo o Brasil honrada e invocada Cafelandia; D. Manoel Nunes Coelho, Bispo de Aterrado; D. Carlos Duarte Costa, Bispo de Botucatú; D José Maria Parreira, Bispo de Santos; D. Fernando Taddei, Bispo de Jacarézinho; D. José Pereira Alves, Bispo de Nictheroy; D. Domingos, O.S. B., Abbade de S. Bento, S. Paulo. Assentados: D. Octavio Chagas de Miranda, Bispo de Pouso Alegre; D. Francisco de Campos Barreto, Bispo de Campinas; D. Alberto José Gonçalves, Bispo de Ribeirão Preto; D. Antonio dos Santos Cabral, Arcebispo de Bello Horizonte; D. José Marcondes Homem de Mello, Arcebispo-Bispo de S. Carlos; D. Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de S. Paulo; D. Sebastião Leme, Cardeal-Arcebispo do Rio; D. João Braga, Arcebispo de Curityba; D. João de Almeida Ferrão, Bispo de Campanha; D. José de Oliveira Lopes, Bispo de Pesqueira; D. Benedicto Alves de Souza, Bispo do Espirito Santo.

96 94 como Padroeira principal, e depois de ter explicado a alta importancia deste decreto pontificio, renovou a consagração do Brasil a Nossa Senhora Apparecida. Depois da Missa solenne reuniu-se o povo na Praça, em redor do monumento de Nossa Senhora, e celebrou com discursos, hymnos e aclamações Nossa Mãe, constituida agora officialmente Padroeira e Protectora do Brasil inteiro. (Almanaque de Nossa Senhora Aparecida, 1931 p.54) Ao problematizarmos a descrição que é dada anteriormente através da matéria a fotografia publicada na mesma não concilia de modo algum a perspectiva traduzida pelo discurso da Igreja de uma padroeira para o povo, a palavra povo apenas é mencionada no final da informação contida dentro do texto. Considerando de maneira assertiva uma divisão de espaços celebrativos: No primeiro momento a citação dos Bispos que fazem o pedido ao Papa juntamente com os fiéis, poderíamos tecer aqui uma observação a contrapelo fiel é aquele que segue com fidelidade a normatização dogmática da Igreja, enquanto povo pode ser considerado em um sentido aberto e amplo, abarcando os que piamente são fiéis e aqueles que não são. Pelo que segue na descrição e como é costume em pontificais a missa ocorreu dentro da Igreja. No segundo momento a celebração feita pelo povo com hinos e aclamações ocorre na Praça, em frente ao monumento da Imaculada Conceição, percebemos aí uma outra relação com o espaço que é fora da igreja, ou seja, fora do local oficial de culto. Compreender a cultura popular significa, então, situar neste espaço de enfrentamentos as relações que unem dois conjuntos de dispositivos: de um lado, os mecanismos da dominação simbólica, cujo objetivo é tornar aceitáveis, pelos próprios dominados, as representações e os modos de consumo que precisamente, qualificam (ou antes desqualificam) sua cultura como inferior e ilegítima, e, de outro lado, as lógicas específicas em funcionamento nos usos e nos modos de apropriação do que é imposto. (CHARTIER, 1995, p.184) Antes de chegar a ser reconhecida como padroeira nacional a devoção a Nossa Senhora Aparecida precisou não só atravessar o Vale do Paraíba -SP como também se relacionar com as ideologias e confrontos políticos vividos no Brasil desde o fim do período monárquico, as insatisfações do povo com a Igreja por suas normatizações excessivas, a insatisfação de várias figuras do clero com o catolicismo brasileiro e a burocracia da Cúria Romana Pontuando a questão religiosa da década de 1870 que lançou uma crítica as ordens Papais dentro da Igreja do Brasil, considerando que as burocracias impediam o surgimento de uma imagem de Catolicismo brasileiro, dado que as

97 95 Cerceada por rostos de curiosidade ou de descrença, de fé ou de agnosticismo a santinha Aparecida só obteve o reconhecimento oficial de culto pelo Rito Romano como Padroeira do Brasil dado pelo Papa Pio XI no dia 16 de julho do ano de Conflitos e interesses estavam presentes nestes atos, ainda mais pelo período conturbado que a República brasileira vinha atravessando 72. O decreto Pontifício foi publicado oficialmente na íntegra nas primeiras páginas do Almanaque de 1931, se encontra na página seguinte a da matéria sobre o Jubileu e o pedido dos bispos que descrevemos acima. Segue alguns trechos que transcrevemos na íntegra para uma maior problematização: Do Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro e dos outros Arcebispos, Bispos, Prelados e Prefeitos Apostolicos do Brasil recebemos o pedido de nos dignarmos constituir como Padroeira principal do Brasil a Bemaventurada Virgem,concebida sem mancha, vulgarmente chamada «Nossa Senhora da Conceição Apparecida». Nada nos parece mais opportuno do que acceder aos votos não só destes Antistites, mas ainda de todos os fieis do Brasil que com constante fervor e piedade veneraram a Immaculada Virgem Mãe de Deus quasi desde os primeiros annos do descobrimento da região brasileira até aos nossos tempos [...] Multidões de fieis vêm de diversos lugares do Brasil em peregrinaçäo a este templo, afim de implorarem o soccorro e auxilio de Nossa Senhora [...] Considerando tudo isto attentamente, julgamos que deviamos deferir os pedidos de tantos Prelados que o Nosso Nuncio Apostolico no Brasil largamente apoia com sua adhesäo [...] constituimos e declaramos a Beatissima Virgem Maria concebida sem mancha, sob o titulo de Apparecida, Padroeira principal de todo o Brasil deante de Deus, accrescentando os privilegios liturgicos e as outras honras que pelo costume competem aos Padroeiros dos lugares principaes [...] Não obstante qualquer cousa em contrario. Dado em Roma, junto de São Pedro, sob o annel do Pescador, no dia 16 do mez de Julho do anno de 1930, e nono de nosso Pontificado. CARDEAL E. PACELLI Secretario de Estado. (Almanaque de Aparecida, 1931,p.55) Nesta carta apostólica o Papa Pio XI declarou Nossa Senhora Aparecida como padroeira principal do Brasil e do povo brasileiro, instituiu a liturgia própria da sua festa, reconhecendo a devoção que antes era popular como uma devoção dentro dos cânones da Igreja. No decreto, o Papa afirmou que atendia ao pedido do Episcopado e do povo brasileiro, o qual com fervor e piedade constantes, desde os anos do Descobrimento das regiões brasílicas até nossos tempos, tem venerado e venera a Imaculada Virgem Mãe de Deus (Pii XI Litt. Apost. 16 Julii Acta Ap. Sedis, vol. 23, pag. 7). Essa carta se nomeações de prelados e bispos aconteciam a partir destas questões burocráticas e não de interesses a Igreja presente nesta terra. 72 Cf.:CUNHA, Célio. Educação e Autoritarismo no Estado Novo. São Paulo: Cortez 1981.

98 96 encontra preservada no acervo da Cúria Metropolitana de Aparecida SP. Quais seriam os reflexos desta proclamação para os devotos brasileiros? Tendo como mentor principal a figura do recém eleito Cardeal Leme 73 para que se fizesse cumprir o edito papal, o cardeal que na época era Arcebispo do Rio de Janeiro (Capital Federal) embasado na carta apostólica de Pio XI, possibilitou aos devotos uma nova padroeira, uma padroeira mestiça que está mais próxima da representação da sua identidade segundo algumas colocações proferidas e discutidas por setores intelectuais da Igreja no período. 74 Levando-se em conta o que foi observado nas publicações do período foram muitas as manifestações de fé e devoção do povo ao louvar sua nova Padroeira. A celebração desta festa fora antecipada por um grande congresso Mariano que aconteceu na Cidade do Rio de Janeiro de 17 a 30 de maio de 1931, organizado pelo Cardeal Leme. Em uma entrevista feita com o Cardeal Dom Sebastião Leme e publicada pelo jornal Santuário no dia 16 de maio de 1931, podemos analisar como essa festa foi grandiosamente preparada e foi destaque na imprensa religiosa e em outros meios de comunicação do período. O aspecto romanizador das orientações que aparecem na entrevista pode ser percebido nos trechos que iremos analisar: [...] Assim as homenagens nacionais a Padroeira do Brasil valerão ainda como afirmação de que o nosso povo nasceu Catholico, nos princípios catholicos foi civilizado e catholico quer continuar a ser haja o que houver e custe o que custar.mais que uma festa exterior as solemnidades do Rio de Janeiro a N. S. Apparecida avultarão como um plebiscito nacional em favor da Santa Egreja de Nosso Senhor Jesus Christo e portanto das forças vivas da nacionalidade. [...] Não tenho a menor dúvida que [o povo] vai comparecer conheço o meu povo e posso garantir que só não irá a rua para 73 Podemos entender a ação pastoral de D. Sebastião Leme a partir das considerações a seguir: Com Dom Leme, o Episcopado brasileiro encontra sua mais expressiva liderança ao ponto de fazer convergir para si liberais e ultramontanos. É com Dom Leme que os discursos se transformam em prática. Sua volta ao Rio de Janeiro nos anos de 1920 como arcebispo auxiliar do cardeal Arcoverde é o marco de uma nova inserção da Igreja no país. Portanto, desde já, a Igreja mergulha na realidade secular, mas teologizando-a, cristianizando-a, catolicizando-a. O objetivo de Dom Leme era catolicizar todos os espaços, empreendendo uma forte presença nas massas para ganhar a adesão do Estado, tornando-o cristão. [...] Dom Leme acaba forjando uma espécie de cronologia católica dentro do mundo que se considerava profano.[...]em outras palavras, Dom Leme insistia em condensar não apenas o regime político às orientações católicas, não apenas catolicizar o espaço político, mas perenizálo como um novo tempo histórico agora sob a égide da soberania do Cristo de Pio XI, uma etapa que antecipa as agruras do homem moderno e o coloca na linha certa, extinguindo o conflito social, político e econômico em função Da nova era religiosa na qual entrava a nação. In: BALDIN, Marco Antonio.Dom Leme e a recristianização do Brasil Ensaio de interpretação. ANAIS DO II ENCONTRO NACIONAL DO GT HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E DAS RELIGIOSIDADES Revista Brasileira de História das Religiões ANPUH Maringá (PR) v. 1, n. 3, ISSN Disponível em 74 Cf. VILLAÇA, Antônio. O pensamento católico no Brasil. Rio de janeiro: Zahar, 1975.

99 97 festejar N. Senhora quem por enfermo ou motivo grave não puder sair de casa. [...] Agora prevemos que excederá de um milhão o número de almas que formarão ala a passagem de Nossa Senhora D Apparecida. [...] Conto com entusiamos do clero [...] com a a boa vontade da imprensa da Capital federal, que já abriu colunas a propaganda da ideia e finalmente temos simpatia do governo provisório. [..] Ora eu só pedi 50 mil pessoas para cada grupo! [...] O cardeal começa a entrevista valorizando a formação Católica do povo brasileiro desde o início do processo colonizador afirmando de maneira esclarecida que o povo vai comparecer à festa, se referindo a solenidade de Proclamação de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil a ser realizada na Capital Federal. Além destas preocupações o entrevistado destaca a colaboração da imprensa e a simpatia do governo provisório para com o evento. De fato, a imprensa do Rio de Janeiro ira destacar de diversas maneiras essa celebração colocando manchetes do tipo A maior consagração católica da América do Sul, ou seja, o resultado de toda a movimentação que fora solicitada através das declarações desta entrevista demonstra a força política- religiosa que esse jornal exerce, não apenas como veículo catequético romanizador da Igreja mas também como referência para a imprensa religiosa e não confessional sobre as atividades feitas pela Igreja no Brasil. Em um outro trecho da entrevista o Cardeal Leme reforça a necessidade da grande procissão na Capital federal: Perfeitamente, como nunca se viu no Brasil e em parte alguma. Uma procissão única...nem podia ser de outro modo. Única no mundo, por sua beleza e expansão religiosa é a cidade do Rio de Janeiro. Única a circunstância da visita de N. Senhora Apparecida a capital do Paiz.[...] Não é necessário ser profeta para se prever que depois da aclamação da padroeira na Capital da República, aumentará de muito o número de fiéis que em romaria de amor visitarão este santuário. [...] (Jornal Santuário Ed.33) Uma indagação que podemos nos fazer ao confrontarmos os relatos anteriores: realmente a participação popular que o Cardeal tanto enfatiza acontece por atitudes espontâneas da população ou acontecem por conta de um condicionamento feito através das orientações dadas pelo mesmo utilizando este veículo de divulgação? Devemos lembrar que no trecho anterior da mesma entrevista o prelado declara que pediu que todos os membros das

100 98 associações católicas levassem outros membros para participar do evento. Ora eu só pedi 50 mil pessoas para cada grupo!, foi a afirmação feita pelo mesmo. As negociações para a ida da imagem até a cidade do Rio de Janeiro, não parecem ter sido tão fáceis. Em momentos diversificados a população do distrito de Aparecida é lembrada como aqueles que emprestam a imagem para o evento: Que conflitos podem ter ocorrido para que a imagem pudesse ir até a Capital Federal? De que maneira a solução de fazer a imagem sair acompanhada por uma comissão de moradores de Aparecida pode ser colocada no campo de negociação e conflito? Mas permita que eu lhe diga: não é bem uma saída ou separação da imagem e seu povo de Apparecida. Representando a cidade irá uma comissão de aparecidenses. Guiados pelos mesmos Padres Redemptoristas que são os anjos custódios da Padroeira, vão eles levar a Imagem expol-a ao culto do Rio de Janeiro e do Brasil e sem deixa-la um só momento, na mesma tarde vão traze-la a seu altar de todos os dias aqui no santuário [...] em um carro transformado em ando especialíssimo [...] Nós todos somos da família de Nossa Senhora Apparecida, somos seus filhos e temos direito as suas bênçãos. Mas só a cidade de Apparecida é que tem a honra de ser a casa ou o tecto escolhido por nossa Mãe para sua residência permanente. O Brasil é a família. Esta cidade é a casa materna. (Jornal Santuário) Para Doro (2006) é próprio do documento fotográfico mostrar apenas um fragmento do real e a câmera não registra objetivamente uma realidade (p.166). Daí a importância de problematizarmos o documento fotográfico como um vestígio que precisa ser indagado e confrontado com outras fontes históricas. Nessa perspectiva lançamos alguns questionamentos sobre as mesmas. Nas fotografias abaixo, publicadas pelo Almanaque de Apparecida de 1932 temos as imagens das comissões de aparecidenses formadas com o intuito de acompanhar a imagem durante o caminho a ser percorrido pela mesma até a Capital Federal. A presença constante de um grande número de pessoas ou de uma parcela representativa dos devotos que participavam ativamente das associações ligadas ao culto a Nossa Senhora Aparecida aparece constante, uma hipótese que podemos levantar aqui é justamente a da necessidade de afirmação dessa devoção em relação ao clero e aos demais fiéis.

101 99 Figura 7- Fotografia da Comissão de Aparecida - SP que acompanhou a imagem ao Rio de Janeiro, publicada em Almanaque de Aparecida Fonte: CDM. Não conseguimos identificar o nome do fotógrafo ou a data que esta fotografia foi tirada, pois, a mesma se encontra publicada nesta revista anual, produzida pelo próprio Jornal Santuário sem nenhuma outra investigação. Também não encontramos registros de reuniões para escolha desta comissão. Uma outra informação que o Jornal dispõe é que também foi elaborada uma comissão de devotos do Rio de Janeiro, que tinha como intuito principal acompanhar a imagem no trajeto referido.

102 A Proclamação do Padroado O final da entrevista de Dom Leme que foi transcrito no tópico anterior, evoca um lugar de memória, em relação a presença da imagem de Nossa Senhora Aparecida na região do Vale do Paraíba, a entrevista é encerrada recordando como a declaração oficial do Papa Pio XI chegou ao Brasil, e quais foram as impressões tidas pelo Cardeal em relação a mesma. O Jornal Santuário foi o primeiro veículo de imprensa religiosa no país, fato que citamos na introdução desta dissertação, é claro que notícias sobre a Igreja e a religiosidade estão presentes na imprensa não confessional, ainda mais quando as ações religiosas de algum modo estão politicamente imbricadas com o governo. A imprensa católica destacada nesta parte da entrevista demonstra a existência de um conflito pelo lugar de fala. Podemos ver no trecho abaixo como é feita a referência da imprensa católica na entrevista: Na festa de 11 de Maio do anno passado foi pelo Exmo Sr. Arcebispo publicado na Basilica de Apparecida o decreto do santo Padre que declarou N. Senhora Apparecida Padroeira do Brasil. Todos os assistentes rezaram então a consagração a N. Senhora e todos os jornaes catholicos, transcrevendo o decreto do Papa, levaram ao conhecimento dos fieis a auspiciosa noticia. A importância deste factoque é a Proclamação de N. Senhora Apparecida como Padroeira do Brasil inteiro, pedia contudo uma consagração mais solemne, mais grandiosa de maior publicidade na Capital Federal. Deste modo ficaria o povo mais compenetrado do Padroado de N. Senhora Apparecida e do dever da devoção a ella, seriam mais grandiosas as homenagens do Brasil a Nossa Senhora Apparecida e mais oficial a sua consagração a ela. ( ornal Santuário,1931, p.1, nº26) Indagando a partir do trecho acima caberia perguntar: Qual é realmente a importância da imprensa católica na propagação do culto a nova padroeira? Ora, conforme discutimos ao longo da dissertação a difusão do culto a Nossa Senhora Aparecida e o seu fortalecimento possuem raízes na devoção popular. O lugar hegemônico e oficial da cultura aparece se fizermos uma leitura a contrapelo deste desfecho da entrevista, onde fica evidente o lugar de fala do Cardeal a partir dos documentos da Igreja. Attendendo a suplica que em representação do povo brasileiro, formulara o episcopado nacional, sua Santidade o Papa Pio XI declarou N. S. da Conceição Apparecida Padroeira do Brasil.[...] Essencialmente catholico amorosíssimo de N. S. da conceição, a quem mesmo sem fundamento litúrgico (grifo meu), invocará sempre como gloriosa Padroeira, o Brasil tem agora aprovação oficial de sua devoção predileta. (grifo meu) É de justiça, pois que aos pés de N. S. da Conceição, sob o titulo querido e popular de Apparecida, aclamemos em plebiscito de amor, a Rainha e

103 101 Padroeira do Brasil. Rio de Janeiro, 22 de Abril de Sebastião, Cardeal Arcebispo (Jornal Santuário,1931, p.02) De acordo com Martin-Barbero (1997) nem o conflito nem a repressão paralisam as trocas e os intercâmbios culturais, muito pelo contrário, por vezes inclusive o estimulam. Através do intercâmbio entre as culturas é necessário considerar que os caminhos dentro do espaço religioso da devoção possuem aspectos conciliadores que são tutelados por mecanismos múltiplos de normatização de conduta pela Igreja, e que extrapolam os limites impostos por esses mesmos mecanismos. Um indicio que nos conduz a concluirmos isso é justamente as frases grifadas no último trecho da entrevista, ao tratar da devoção a Nossa Senhora Aparecida o prelado declara: a quem mesmo sem fundamento litúrgico, ou seja, assume que mesmo sem o reconhecimento oficial da Igreja já existia uma prática religiosa em torno da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Podemos indagar: Se existe uma prática religiosa em torno da imagem por qual motivo é enfocado anteriormente dentro da entrevista que a imprensa católica é responsável pela divulgação desta devoção? Caberia aqui entendermos que a divulgação a qual se faz referência é justamente ao culto a Nossa senhora Aparecida dentro das normas romanizadas? A próxima frase grifada é sinalizadora dentro da conjuntura histórica vivida pela Igreja no período, pois, interpela que de fato a oficialização desta prática de devoção popular feita pela instituição é respaldada pela política de romanização que discutimos no capítulo anterior. Para Dom Leme o Brasil tem agora aprovação oficial de sua devoção predileta, ou seja, somente agora normatizada pelos ritos romanizados a devoção popular a Nossa Senhora Aparecida pode ser considerada oficial. Qual é o valor desta oficialização de prática para a devoção popular? Na edição do Jornal Santuário de 09 de maio de 1931, foram publicadas as orientações definidas pelo Cardeal Dom Sebastião Leme e pelo conselho apostólico do Rio de Janeiro para as festas em preparação a celebração oficial de Proclamação do Padroado que ocorreria no dia 31 do mesmo mês. O periódico publicou na primeira página e com detalhes bem normativos para todas as paroquias e dioceses os eventos e cerimônias que deveriam ser realizados em honra da Nova Padroeira. Em um primeiro momento as orientações foram dirigidas a todas as paróquias do Brasil (Semana Parochial), e depois para a arquidiocese do Rio de Janeiro, o Jornal Santuário transcreve na integra 14 pontos de orientações normativas, dos quais selecionamos alguns:

104 102 6ª- Em todas as parochias domingo, 24 de maio, missa festiva consagração do povo a N. S. Apparecida. [...] b) A tarde nas parochias suburbanas e rurais, em cada uma ou em grupo de mais parochias solemnissima procissão de N. S. Apparecida. Para a semana arquidiocese foram publicadas as orientações abaixo: 30 de Maio 10 ½ - Cathedral- Pontificial de sua Emininencia, com assistência de todo o clero e alunos do seminário. Consagração do Brasil a N. S. Apparecida; 20 horas- Sessão solene de encerramento no Externato de S. Ignacio, rua S. Clemente. 31 de Maio 15 horas- Procissão triunfal de N. S. Apparecida. Estarão presentes mais de trinta bispos e representações do clero e povo de todas as diocese do Brasil. Farão o cortejo de N. Senhora alguns dos milhares de moças, vestidas de branco, senhoras vestidas de preto ou escuro, cavalheiros com trajes de rigor e homens, incorporados as Ligas Catholicas. Ao encerrar a procissão coroação de Nossa Senhora. (Ibid.) Consequentemente as orientações oficiais assinalam a posição e interesse da Igreja com a celebração demonstrando uma aproximação com os rituais de devoção popular. A procissão e a consagração são práticas devocionais que a Igreja utiliza de maneira estratégica quando normatiza o modelo como essas práticas devem ser organizadas, propagas e realizadas. Devemos estar atentos a dois pontos que essa publicação nos revela: as sessões solenes 75 que são realizadas com temas de discussão teológica em colégios religiosos católicos que evidenciam a romanização do culto a Nossa Senhora Aparecida este é o primeiro ponto. Um segundo ponto que destacamos é a presença de duas práticas de devoção popular como o momento de ápice da festa: a procissão e a coroação da imagem de Nossa Senhora, ritos realizados durante o encerramento do mês de maio como exercício de festa e oração pelos grupos populares, muitas contendo folguedos e cânticos infantis. Na fotografia abaixo, publicada no Almanaque de Aparecida de 1932 o fotógrafo não foi identificado como na fotografia anterior, nessa imagem podemos ver o interior da igreja de Santo Afonso com enfeites no teto e nas colunas e um grande número de fiéis que assistem a uma das sessões solenes do congresso Mariano, onde foram expostos temas de dogmas doutrinários marianos Teses que foram expostas nas sessões solenes realizadas em colégios e paróquias da cidade do Rio de Janeiro- DF, essas sessões aconteceram de 24 a 30 de maio de 1931 ás 20h00, destacando elementos teológicos centrais pertencentes ao culto a virgem Maria. Apenas os temas 13º e 14º tratam especificamente de abordagens sobre Nossa Senhora Aparecida. 1º- Nossa Senhora mãe de Deus [...]. 2º- N. Senhora- Corredentora [...].3º- N. Senhora- Medianeira de todas as graças [...]4º- N. Senhora- Rainha e defensora da cristandade.5º- N. Senhora e a família.6º- N. Senhora e a mocidade.7º- N. Senhora e o operariado.8º- N. Senhora e o reinado social de Jesus Cristo no mundo.9º- N. Senhora e o reinado social de Jesus Cristo no Brasil.10º- Os santuários celebres de Nossa Senhora.11º- Os santuários brasileiros de N. senhora.12º- N. Senhora na literatura e nas artes brasileiras.13º- O padroado nacional de n. Senhora Apparecida.14º- Nossa senhora salvação do Brasil. 76

105 103 Figura 8- Foto do Congresso Mariano na Igreja de Sto. Afonso no Rio de Janeiro publicada no Almanaque de Aparecida do ano de Fonte: CDM. Para o período de 17 a 24 de maio foi estabelecido que em todas as dioceses e paroquias do país deveriam ser realizadas pregações que fortalecessem a Semana da Padroeira 77, onde todas as cerimonias religiosas proporcionariam uma catequese para os fiéis relacionando a figura de Nossa Senhora Aparecida a dogmas católicos e a temas de interesse da Igreja católica do Brasil. Um aviso com as normatizações em relação a essa Semana da Padroeira, foi expedido pelo cabido metropolitano da cúria do Rio de Janeiro, sob o número de 210 nas circulares do respectivo órgão o aviso foi publicado na íntegra contendo 11 pontos que normatizam a festa a ser realizada na Capital do país. Os trechos abaixo relacionados foram selecionados com o intuito de levantarmos algumas hipóteses em relação a problemática proposta: 77 De forma parecida com as sessões solenes foram publicadas orientações para as pregações em cerimonias realizadas durante a Semana da Padroeira, que aconteceu do dia 17 ao dia 24 de maio de Nas dioceses e paróquias as pregações deveriam ser baseadas nas temáticas seguintes: 1º- Nossa Senhora como mãe de Deus tem direito ao culto e ao amor de todos os homens: como nossa Padroeira tem direito as nossas devoções. 2º- [...] Nossa Senhora é mãe especial do povo brasileiro. 3º-Os males da propagação de heresias e erros da fé catholica. Nossa Senhora, defesa e baluar da nossa Santa religião. 4º- O culto de N. Senhora e a prática das leis de Deus e sacramentos da Igreja. 5º- Nossa senhora e a conversão dos pecadores. [...] 6º- Nossa Senhora e nossa salvação. [...] 7º- N. S Apparecida rainha e padroeira do Brasil, por aclamação do povo e concessão expressa do vigário de Jesus Cristo. Gratidão e confiança nacionais.

106 Em todas as igrejas matrizes, igrejas de religiosos, irmandades e capelas, por ocasião de todas as missas que nelas se celebrarem domingo próximo, serão lidos e explicados aos fieis a carta de S. Eminencia e o programa das solenenidades.[...] 3- A porta de todas as igrejas e outros logares públicos, onde seja possível faze-lo, afixem o programa geral das festividades e o particular de cada parochia.[...] 6- [...] Palavra de ordem: cada um dos membros de todas as associações deverá convidar, persuadir e inscrever, pelo menos cinco pessoas em cada um dos grandes grupos do préstito que acompanhará a imagem de N. Senhora Apparecida, na procissão de 31 de maio. Os quatro grupos são: 1- Moças, filhas de Maria ou não, vestidas de branco (mangas compridas e sem decote) véu branco ;2- Senhoras quanto possível vestidas de preto, véu preto ou branco;3 -Moços e homens que desfilem incorporados ás Ligas Catholicas não haja traje determinado); 4- Cavalheiros que em traje de rigor ( frak e calça listrada) formarão a guarda de honra. 7- [...] a) Marcar dia e hora para nova reunião coletiva, em que cada membro das associações deverá trazer a indicação precisa do número de pessoas que conseguiu inscrever em cada um dos grupos [...] d) Instruir bem as associações sobre o traje e outros pontos já assentados ou que vierem a ser determinados pela Comissão Geral e, principalmente, mons. Gonzaga do Carmo, encarregado de organizar e dirigir a procissão. 8- [...] Haverá lugar para os colégios masculinos e femininos, centros de catecismo, escoteiros, etc. Recomenda-se que se apresentem com estandartes.9- Os srs. Sacerdotes desta archidiocese, ou aqui de passagem, comparecerão paramentados de casula, dalmática ou pluvial, de qualquer cor, menos preta ou roxa.10- No dia 31 de maio depois do meio dia, fica proibida qualquer função religiosa. Câmara eclesiástica, Rio, 30 de abril de Mons. Francisco de Assis Caruso. Secretário do Arcebispado p.02 O objetivo das tentativas de romanização do culto católico que discutimos desde o segundo capítulo são reproduzidos através destas palavras. As normas litúrgicas e institucionais tendem a valorizar as igrejas paroquiais e o aumento no número de fiéis através de convites feitos pelas associações religiosas. Na fala do cardeal Leme na entrevista que transcrevemos anteriormente o prelado já pontuava que havia pedido aos grupos e associações 50 mil pessoas a mais para incorporar as instituições que iriam participar da procissão solene. Isso fica evidente dentro do texto pela alocução adjetiva palavra de ordem ao referir-se ao pedido feito as associações católicas do período. Voltando a essa problemática podemos destacar que a intenção não era apenas divulgar a celebração, e sim garantir um momento homogêneo de reconhecimento oficial ao culto a Nossa Senhora Aparecida. O catolicismo popular, constituído por setores diversos e grupos híbridos culturalmente possuía diferenças e essência própria, mesmo que baseado em elementos do mundo católico essa prática religiosa não era bem aceita pela Igreja Romana, algo que já pontuamos anteriormente. Ao tratar da devoção popular e sua relação com o catolicismo oficial, salienta Davi:

107 105 Uma das maneiras que a Igreja Católica encontrou para manter a coesão coletiva ao seu redor, já que estava vivendo uma realidade que punha em risco sua hegemonia no terreno religioso, foi se defender das outras manifestações religiosas, tentando recuperar uma outra parcela da população que, apesar de católicos estariam relegados a um plano inferior por terem comportamentos divergentes daqueles defendidos pela instituição, como é o caso do fervor manifestado pelo culto a santos reconhecidos ou não reconhecidos, pelas romarias, pela privatização da fé. (2001, p.233) Exatamente nessa perspectiva que a fala de Dom Leme busca abarcar um grande número de pessoas, reconhecendo oficialmente o culto a santa Aparecida, automaticamente se fortalece o número daqueles que são considerados apenas praticantes de uma religiosidade popular.

108 A viagem a Capital federal A princípio a grande sequência de regras instituídas para a celebração de proclamação do padroado resultaram em inúmeras publicações no Jornal Santuário, com o intuito de garantir a realização da festa nos moldes litúrgicos romanizados. No excerto abaixo publicado na primeira página do periódico no dia 09 de maio de 1931 fica declarado que o lugar da imagem é em seu santuário. Seria essa colocação uma condição imposta pela mesa diretora de devotos coordenadores do santuário? Qual relação podemos estabelecer novamente entre a imagem e a região em que ela foi encontrada? Declarou ainda o Sr. Arcebispo com o cabido, que a ida da imagem fica restringida para este caso único, não forma precedente e não sera repetida. Nestas condições os devotos de Nossa Senhora Apparecida não poderão deixar de alegrar-se imensamente sobre as honras que serão prestadas a sua querida Mãe e Padroeira ( Jornal Santuário,1931, p.1 nº26) Uma outra publicação feita na edição do dia 23 de maio do mesmo ano informa aos leitores a maneira como a imagem será transladada para a Capital Federal: 1º- A venerada imagem de Nossa Senhora da Conceição Apparecida será transladada para esta capital no dia 31 do corrente, devendo voltar para a cidade de Apparecida a tarde do mesmo dia, logo após a procissão. 2º- As 14 horas em ponto sairá da Cathedral Metropolitana a solemnissima procissão que obedecerá ao seguinte itinerário: Primeiro de Março, Visconde de Inhauma, Avenida Rio Branco, Avenida das Nações e Esplanada do Castelo. 4º- assim foi determinado que, as 13 horas deverão formar: a) o grupo das senhoras [...] b) as ordens terceiras e irmandades [...] c) os collegios dos meninos e meninas [...] d) os escoteiros [...] e) as Ligas Catholicas [...] f) as Filhas de Maria [...] g) os cavalheiros da guarda de honra [...] h) clero regular e secular e seminário [...] i) as autoridades e representações offiaes de associações civis e militares [...] j) os Revm. Capitulares e Exms. Srs. Bispos [...] (Aviso da Camara eclesiástica do Rio publicado no Jornal Santuário, 1931 nº 28) Sobre a composição do trem que faria o translado da imagem: A composição será das de luxo um carro-salão da administração, arrumado em cappela receberá o altar e o trono da virgem. Parte deste carro será para acomodar o Exm. Arcebispo de São Paulo, D. Duarte Leopoldo e Silva que velará o precioso tesouro confiado a sua archidiocese. Em outros dois carros haverá os lougares precisos para a guarda de honra e a Comissão que desta Capital irá a Apparecida do Norte receber a milagrosa imagem. (Jornal Santuário, 1931 nº 28) O grupo de padres que acompanhou a imagem de algum modo são nomes que são associados ao processo de romanização do catolicismo brasileiro. Tendo como principal mentor a figura do Cardeal Leme, apoiado pelo arcebispo de São Paulo, Dom Leopoldo e Silva.

109 107 A administração da estrada de Ferro Central do Brasil, recebe um número muito grande de elogios, por parte do Jornal Santuário. Segundo o próprio jornal foi oferecido um desconto nas passagens para todos aqueles que fossem ao Rio de Janeiro participar da celebração.qual seria o intuito de diminuir em 50% o valor das passagens para a data da celebração? A administração da Central, no intuito de facilitar a vinda das pessoas que desejam assistir ás festas em honra de N. S. Apparecida, Padroeira do Brasil, resolveu, depois de ouvir o Ministro da Aviação conceder o abatimento de 50% nas passagens de ida e volta para a estação Pedro II. (Jornal Santuário,1931, nº 29) Nenhum outro jornal que analisamos cita esse abatimento no preço das passagens que aparece no periódico que citado. A intenção de fazer um evento apoteótico com grande número de pessoas pode ser considerada através da informação acima relatada. Antes da imagem sair de seu santuário, houve uma celebração de encerramento das festividades do mês de maio, com a imposição das fitas as chamadas filhas de Maria 78, associação religiosa feminina que tinha como intuito principal propagar a devoção popular mariana. O fragmento abaixo publicado no Jornal santuário que parafraseamos na introdução deste trabalho narra a saída da imagem da Basílica de Aparecida na noite do dia 30 de maio de O excerto faz parte da publicação especial de informação a cobertura sobre a festa da proclamação do padroado: As 8 ½ horas da noite do dia 30 [...] O vigário interino tirou a imagem do seu throno, colocou-a no andor e rezou com o povo uma Salve rainha e 3 Ave Marias na intenção de resultar esta viagem em maior gloria de Deus e de nossa Mãe santíssima e correr tudo bem.[...] O andor foi ladeado pela Commissão de Apparecida e seguido pela de S. Paulo.[...] Acompanharam a santa Imagem o PP. José Francisco Vigário interino, Andrade Macedo, Otto Maria e o irmão Carlos. O R. P. João Baptista redactor do Santuário já tinha seguido uns dias antes para assistir ao congresso mariano na Capital Federal. [...] (Jornal Santuário, 1931, p.03) Conforme citado anteriormente não encontramos nenhum relato sobre a condição de escolha dos clérigos, religiosos e da comissão que foi acompanhando a imagem até a cidade do Rio de Janeiro. Qual teria sido o critério de escolha utilizado para essa seleção? 79 Algumas 78 Como no dia 31 de Maio o nicho de Nossa senhora estava vasio e fechado, foi feito o encerramento do mês mariano no dia 30 [...] receberam 15 moças a fita verde de aspirante e 14 a fita azul de filha de Maria. ( Ed.27 p.03) 79 No carro cappela revezavam-se as Commissões de Aparecida e São Paulo rezando o terço [...]

110 108 pistas podem ser esclarecedoras, por exemplo, o Padre Otto Maria 80 foi um religioso redentorista que é considerado um dos pioneiros a recolher notícias, entrevistas e documentos diversos sobre a expansão do culto a Nossa Senhora Aparecida. [...] era o sentimento íntimo de piedade e fé, era o amor grande e sincero a N. Senhora, era o ardente desejo e a intima satisfação de mostrar amor filial a Nossa Senhora e prestar-lhe as homenagens mais grandiosas possíveis. [..] O carro salão torna-se verdadeira cappela: os padres de sobrepeliz, os Cônegos de murça ajoelhados em torno do Sr. Arcebispo rezam o terço a N. Senhora. [...] (Ibid.) Na fotografia abaixo tirada do interior do vagão que foi transformado em capela para levar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, podemos ver ao fundo o oratório onde a mesma imagem foi transportada. A ornamentação em estilo românico e o nicho tradicional revelam elementos da Liturgia Romanizada, o manto branco utilizado pela imagem apenas algumas vezes nos remetem a cor festiva da liturgia segundo o catolicismo e também a dignidade da cor dos papas. Um elemento chave para entendermos a ligação da devoção popular com o processo de romanização do culto a Nossa Senhora Aparecida é nos indagarmos: Que elementos da devoção popular aparecem neste altar? Além do modo como são colocadas as flores, quais outras pistas a imagem nos oferece sobre a ligação da devoção popular ao culto de Nossa Senhora Aparecida? Sem dúvida alguma o reconhecimento de uma grande participação popular, nas fotografias a presença de grande número de pessoas fica sempre evidenciada. Ao redor do oratório um grande número de membros do clero e representantes de outras instituições posam para a foto, a fotografia faz parte do álbum fotográfico da festa de Proclamação de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil. A fotografia que se encontra no arquivo do Santuário Nacional não está identificada e não existem dados do fotógrafo. 80 Conf. Nota nº 53.

111 109 Figura 9 - Vagão / capela levando a imagem para o Rio de Janeiro, série de fotografias da Proclamação de N. S. A. como Padroeira do Brasil. Fonte: CDM. De acordo com Burke: Os documentos precisam ser contextualizados[...]. Isso nem sempre é fácil no caso de fotografias, uma vez que a identidade dos fotografados e dos fotógrafos é muitas vezes desconhecida, as próprias fotografias originalmente em muitos casos- são oriundas de uma série e foram separadas do projeto ou do álbum no qual eram inicialmente mostradas, para acabarem em arquivos ou museus.(2017, p.37) Ao tratarmos essa fotografia como parte de um álbum fotográfico podemos entender que ela carrega diferenças das fotografias que foram publicadas pela imprensa, pois a mesma retrata pessoas (no caso os que não são religiosos) que não possuem seus nomes citados em outras fontes analisadas. Uma outra prática de homenagem popular que é transcrita no jornal é a oferta de flores durante o percurso que a imagem fez. O Almanaque de 1932 vai detalhar de maneira específica as pequenas celebrações que ocorreram em cada estação que a imagem passou, destacando músicas, orações e fogos de artifício. Ao tratar do costume de troca de flores, ou seja, o devoto oferece uma flor e retira para levar como lembrança ou amuleto uma outra que esteja junto da imagem podemos ler: Mas as flores numa estação entram e na outra saem. E como a boa gente sabe pedir só uma pétala de lembrança. [...] E quantas flores, flores tão belas oferecem aqui á Virgem [...] (Jornal Santuário 1931, N.27,p.02)

112 110 As flores e as pétalas atiradas à virgem representam bem os sentimentos ternos e filiais dos que acompanharam a procissão triumphal. [...] constituiu um verdadeiro plebiscito nacional em favor da religião católica. ( Ibid.p.03) No primeiro relato encontramos uma afirmação da prática da devoção popular, como já citamos o costume de conservar as flores dos andores como busca de proteção, na narrativa a palavra que é usada para denominar essa prática é apenas lembrança, ou seja termo que desconsidera as outras possibilidades de utilização devocional destas flores. Já na segunda parte o fragmento se refere as flores que eram atiradas a imagem durante a procissão no Rio de Janeiro novamente mostrando como esse gesto pode ser interpretado em realidades diferentes. Citando ainda os movimentos em torno do translado da imagem e relacionando as pessoas que o assistiam o texto continua dando maior enfoque aos gestos feitos pelas pessoas durante o translado da imagem Quantas scenas comoventes podemos presenciar: o povo piedoso ao longo da Estrada, de mãos erguidas para a virgem. Como são cheios de enthusiasmo os fluminenses e cariocas: gesticulam mostram uns aos outros o altarzinho, batem palmas, atiram beijos á imagem no seu throno [...] Jornal Santuário, continuação de publicação Ed. 27 p.02) Os gestos de comoção popular citados pelo Jornal vão ser intensificados quando o periódico cita a participação do povo na cidade do Rio de Janeiro 81, após a chegada da imagem. Para Benjamin (1987) a história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de "agoras"(p.232). O campo da cultura não pode ser considerado o campo do passado, ele se atualiza através de uma circularidade que abrange as diversas conjunturas históricas, inclusive as religiosas. 81 O Jornal Santuário em edição posterior publicou o seguinte canto religioso, chamado de Canto dos cariocas a propósito da viagem de Nossa Senhora Aparecida ao Rio de Janeiro: Nossa Rainha altaneira Que em trono feito alcantil, Sois a maior brasileira reinando sobre o Brasil. Vinde a nós, virgem viageira Que a terra de ardor febril Ampara, em cada palmeira Vosso pálio: um só céu de anil. Vinde a nós que, ao fim da viagem, Para vos dar hospedagem, De joelhos, tal merecei; O Corcovado achareis, Abrindo os braços na imagem Do redentor Rei dos Reis... Sem identificação do autor. In : MACHADO, Padre. Aparecida: Na História e na Literatura. Campinas: Ed. do autor, 1975.

113 111 [..] Como se mostrou piedoso neste dia o povo do Rio de Janeiro, quanta comoção se via em todos os rostos, quantas lágrimas correram, quantos sacrifícios fizeram para tomar parte das homenagens a N. Senhora. Dos subúrbios saíram milhares de pessoas pelas dez da manhã e voltaram pelas oito da noite passando todo esse tempo de pé e sem nada comerem, mas voltavam alegres e contentes de terem mostrado seu amor, e feito um sacrifício a N. S. Apparecida [...] (Jornal Santuário, continuação de publicação Ed. 27 p.02) Consequentemente a dimensão de sacrifico que é enfatizada na devoção popular, leva um grande número de pessoas as ruas, a dimensão do sacrifício, da peregrinação e da procissão é fruto dos rituais da devoção popular, que ganham um outro significado a medida que a presença do clero e da hierarquia católica vai sendo inserida nestas liturgias. O povo aparece no jornal sempre com adjetivos que estão ligados a emoção e benévolo, ou seja, uma maneira de legitimar a participação popular na perspectiva da normatização. Era manhã do dia 31 de maio quando o trem especial adentrou a estação Dom Pedro II na região central do Rio de Janeiro: [...] Entrou o trem santuário na estação D. Pedro II que estava toda ella engalonada com bandeiras e festões [...] uma massa compacta de povo [...] estavam na estação o Sr. Cardeal, o exmo. Sr. Vigário geral e grande número de prelados e sacerdotes. Lia-se em todos os rostos, além de forte enthusiasmo profunda Commoção e em muitos olhos brilharam lágrimas quando a veneranda Imagem deixou o trem e muito devagar rompeu a densa multidão em direção a saída. [...] Jornal Santuário, continuação de publicação Ed. 27 p.02) A imagem abaixo retrata o momento que a imagem de Nossa Senhora Aparecida recém-chegada ao Rio de Janeiro foi colocada sobre o automóvel 82 rumo a Igreja São Francisco de Paula, onde seria celebrada a missa solene. Essa fotografia foi a que mais circulou nos principais jornais do Rio de Janeiro editados no final da tarde do dia 31 corrente. Em uma pequena nota do Jornal Santuário foi avisado que apenas a imprensa cadastrada pela cúria diocesana poderia fazer imagens e cobrir o evento, fato que possibilitou que essa mesma imagem circulasse com ângulos diferentes pelos diversos periódicos do Rio de Janeiro. De acordo com Doro (2006) a constatação das muitas possibilidades de informações que possam estar contidas em uma única imagem fotográfica e sendo essa imagem um 82 Foi a mesma colocada sobre um automóvel no qual tomaram lugar o sr. Arcebispo de São Paulo. Formou-se uma longa fileira de automóveis para acompanhar N. Senhora. Mas também o povo todo acompanhou a pé e as calçadas de ambos os lados estavam cheias de gente que esperavam a imagem e a aclamavam. [...]

114 112 testemunho visual de uma situação vivida, ela leva o historiador a utilizar essa fonte nas diversas pesquisas historiográficas. Ao analisar a fotografia como fonte para o historiador podemos nos deparar com questões que não podem ser respondidas, salienta Burke (2017) Uma série de imagens oferece testemunho mais confiável do que imagens individuais, seja quando o historiador tem como foco todas as imagens existentes [...] seja quando observa as mudanças nas imagens [...] ao longo do tempo. (p. 282). Figura 10- Chegada da imagem de N. S. Aparecida no Rio de Janeiro em 31/05/1931, publicação do Almanaque de Aparecida de Fonte: CDM. A legenda publicada embaixo da imagem na edição do Almanaque do ano de 1932, nos dá algumas pistas sobre a intenção do fotógrafo em fazer esse registro: Cena impressionante no momento do desembarque de Nossa Senhora Aparecida na estação Pedro II Rio de Janeiro. Desta forma o redator do periódico anual transmitiu a sua leitura da fotografia acima. Novamente sinalizando que as leituras partem exatamente do nosso lugar de fala em relação ao objeto.

115 A nova Padroeira do Brasil A missa oficial da Proclamação do Padroado de Nossa Senhora Aparecida ocorreu na manhã do dia 31 de maio em frente à igreja de São Francisco de Paula, na região central do Rio de Janeiro. Dentre os periódicos que analisamos a celebração não aparece em nenhum momento como o destaque principal da solenidade. Como vimos anteriormente o Cardeal Leme enfatizou em várias falas a importância da solene procissão, algo que demonstra de maneira clara a força da prática da devoção popular em relação as práticas dos ritos romanizados. Não conseguimos localizar o ritual utilizado para a celebração desta missa, diferente de outras celebrações como a da Coroação oficial, ocorrida em 1904 e que é encontrada em integra no arquivo da Basílica Nacional. Recolhendo alguns vestígios no jornal santuário podemos levantar algumas hipóteses de como teria ocorrido essa primeira parte da celebração oficial: A frente da egreja de São Francisco de Paulla estava toda engalanada e na porta principal fora erguido um rico altar provisório ao alto do qual foi colocada a imagem milagrosa [...] A vasta praça estava cheia de povo que ali se comprimia e apertava, as escadarias, sacadas e janelas estavam igualmente apinhadas de povo.[...] Jornal Santuário, continuação de publicação Ed. 27 p.02) O termo utilizado para definir a forma como a igreja estava enfeitada engalanada poderia significar um arquétipo do jeito romanizado? O trecho que resume o lugar onde foi celebrada a missa também faz menção ao povo, aliás, um dos poucos momentos em que essa categoria aparece na narrativa feita pelo jornal santuário, que concentra em suas publicações os discursos de alguns clérigos e figuras políticas que estiveram presentes nos festejos. Um outro ponto importante: o jornal sempre faz menção a sujeitos ligadas a instituições que de algum modo possuem um lugar social de fala na conjuntura política do país, por exemplo, aos membros do governo provisório que participaram da celebração, a empresa ferroviária e aos colégios. Na fotografia abaixo, que foi publicada na sessão de fotos do Almanaque de 1932, podemos ver o altar onde foi celebrado a missa, e nele, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, destacada com uma enorme quantidade de flores, o altar em estilo tridentino onde a centralidade do mistério celebrado culmina com a imagem da nova padroeira ao topo.

116 114 Figura 11 - Missa realizada em frente a Igreja São Francisco de Paula em 31/05/1931, publicada no Almanaque de Aparecida Fonte: CDM. O costume popular de rezar o terço durante a missa, que foi salientado no primeiro capítulo a partir da expressão era um catolicismo de muito terço e pouca missa, pode ser encontrado no trecho abaixo Logo que a missa entrou, estabeleceu-se silencio na praça e foram entoados cânticos a N. senhora, emtremeado das dezenas de terço, cada uma por uma das intenções que o Exmo. Sr. Cadeal expoz quando anunciou a grande festa mariana. Terminada a Missa começaram as aclamações a N. Senhora Apparecida [...]. Jornal Santuário, continuação de publicação Ed. 27 p.02) Dois pontos aqui são importantes: Primeiro essa é a única parte de todas as publicações no jornal santuário que encontramos uma menção a missa ocorrida nesta manhã. Segundo, a oração do terço que é um exercício da devoção popular novamente assume um espaço paralelo com o da liturgia oficial da Igreja. Podemos questionar: quais seriam as intenções solicitadas pelo Cardeal Leme nessa oração? Poderiam essas intenções ser de fato relacionadas ao culto a Nossa Senhora Aparecida ou a constituições dogmáticas teológicas imbricadas ao culto mariano como nas temáticas das sessões solenes realizadas durante as festas?

117 115 Terminada a missa iniciam aclamações a Nossa Senhora Aparecida, novamente o jornal não escreve quais seriam essas aclamações, já que anteriormente em outras edições quando o periódico destaca esse tipo de manifestação automaticamente ele as associa ao povo que participava das celebrações, o que é percebido de forma diferenciada na informação acima. Continuando a narrativa, destacando a grande multidão que participava da celebração o periódico relata: Em seguida a imagem foi de novo colocada no automóvel e seguiu para a cathedral, em marcha lentíssima, sempre rodeada, seguida e aclamada por uma multidão compacta de povo. [...] Já era tempo de fechar as portas da cathedral para fazer os últimos preparativos á grande procissão, e o povo não queria sair. Só após pedidos repetidos e insistentes foi se esvasiando o recinto. Jornal Santuário, continuação de publicação Ed. 27 p.02) A primeira procissão realizada da Igreja de São Francisco de Paula a Catedral do Rio de Janeiro é um preambulo do que viria a ser a solene procissão organizada pela cúria diocesana do Rio de Janeiro que iria levar a imagem da Catedral até a Esplanada do Castelo. Exatamente nos momentos em que os exercícios religiosos são característicos da devoção popular que o povo aparece como categoria nas narrativas publicadas pelo jornal. Qual seria a intenção da matéria ao afirmar que o povo não queria sair da Catedral? Reafirmar a grande quantidade de pessoas que participaram desta celebração? Na fotografia abaixo, publicada em outros veículos da imprensa não confessional, como o Jornal última hora e o jornal A Noite 83 fica retratada a imagem sendo colocada no andor em um automóvel preparado para este fim sendo arrumada no mesmo por Dom Duarte Leopoldo e Silva, arcebispo de São Paulo tendo ao lado a figura do cardeal Leme. A imagem mostra um grande número de pessoas, homens com os chapéus sendo tirados da cabeça em sinal de veneração e algumas pessoas segurando flores ao lado dos estandartes e distintivos dos grupos religiosos e irmandades católicas que enviaram suas comissões representativas para participar das solenidades, conforme solicitado durante o cronograma da festa que já discutimos anteriormente, 83 Nas edições consultadas dos jornais destacados, aparecem as seguintes manchetes com a imagem abaixo: A maior Consagração Católica da América do Sul, jornal A NOITE. Rio de Janeiro. 01/06/1931 Ed.7008, p.01. Idem. Jornal última hora. Rio de Janeiro. 31/05/1931, p.03.

118 116 Figura 12 - Imagem sendo conduzida para a Catedral após a missa no Largo S. Francisco de Paula em 31/05/1931, publicação do Almanaque de Aparecida Fonte: CDM. A imagem permaneceu na Catedral do Rio de Janeiro, da mesma forma o jornal não traz informações sobre este período e continua narrando a festa com um relato descritivo da procissão que teve início no começo da tarde do mesmo dia: As duas horas da tarde saiu da cathedral a Procissão de N. senhora Apparecida, que conforme estava estabelecido percorreu a rua 1º de Março, rua Visconde de Inhauma, avenida Rio Branco, avenida das Nações e chegou á esplanada do castelo depois das cinco e meia.[...] A imagem de N. S. Apparecida foi colocada no automóvel no qual tomaram lugar o sr. Nuncio Appostolico, o sr. Arcebispo de São Paulo e o sr. Conego Rezende [...] estavam cheios de uma massa compacta de povo. As janelas e sacadas das casas até nas alturas de oito ou dez andares, estavam igualmente cheias, não de espectadores curiosos, mas de pessoas piedosas que dali faziam parte no cortejo da mãe dos brasileiros[...]. [...] as multidões cheias de enthusiasmo batiam palmas, davam vivas e palmas e cahiam chuvas de pétalas.[...] Na avenida as casas pareciam colmeias e centenas de mãos a agitar-se e espalhar flores e outras maõs extendendo-se para a virgem numa prece ardente e olhos a derramar lágrimas de comoção e de fervorosa supplica. (Jornal Santuário, continuação de publicação Ed. 27 p.02)

119 117 A descrição feita da celebração destaca a participação dos clérigos, em especial o Núncio Apostólico, ou seja, aquele que representa o papa como diplomático tanto no corpo eclesial quanto no âmbito social de acordo com uma tradição do catolicismo romano. A presença do Núncio configura a ligação estreita do reconhecimento deste culto popular pela Igreja romana. 84 Na continuação do texto o povo aparece novamente quebrando a passividade que lhe foi imputada na descrição do momento da missa. Uma das práticas que aparece associada a população que acompanha a imagem pela publicação que foi feita no jornal santuário é a de levar flores nas mãos, isso podemos encontrar desde o início das primeiras narrativas sobre a saída da imagem do Santuário de Aparecida, prática essa que caracteriza muito a cultura popular nas homenagens feitas aos santos de devoção e a Nossa Senhora. Figura 13 - Início da Procissão solene em frente a Catedral do Rio de Janeiro em 31/05/1931, publicada no Almanaque de Aparecida de Fonte: CDM. A fotografia acima, uma das três que encontramos que captaram o momento da procissão enfatiza a grande quantidade de padres e clérigos com títulos e funções 84 Um núncio apostólico é um representante diplomático pertencente a Santa Sé exercendo o posto de embaixador.

120 118 diversificadas que participaram desta celebração. São os clérigos que estão à frente da procissão, eles conduzem as celebrações e orientam os fiéis durante a mesma. Ao analisarmos esta imagem podemos levantar diversas hipóteses, uma delas é a associação direta do culto a Nossa Senhora Aparecida iniciado nos arredores de uma aldeia de pescadores com o processo de romanização com o qual estamos dialogando, ora, é exatamente nessa conjuntura que não vemos mais pescadores tomando conta da imagem e sim o clero regular reforçando a ideia inicial de que essa prática de devoção popular vai ser utilizada pela Igreja para ampliar o projeto da ação romanizadora. Ainda na edição do dia 06 de junho, o jornal conclui as considerações e narrativas feitas sobre a festa destacando o ato final da procissão, uma consagração ocorrida na Esplanada do Castelo, ato que contou com a participação dos representantes políticos de governo provisório recém instalado. Para ser vista por todos, a Imagem foi levada através dos diversos agrupamentos, rompendo com dificuldades a multidão e recebendo as mais delirantes aclamações.[...] os alto falatens repetiam os cânticos: Salve o mãe e Com minha mãe estarei, sendo acompanhado pelas multidões.[...] No fim da esplanada foi construído um vasto tablado para os prelados e sacerdotes e no centro do mesmo um artístico altar maravilhosamente ornamentado.[...] De um tablado especial assistem ao desfile o sr. Presidente da republica com sua sra, diversos ministros, o chefe de policia, os membros do corpo diplomático com suas famílias. [...] (1931, p.01 nº 27) ( Continuação Ed. 27 p.02) Os agrupamentos institucionais católicos que ganham destaque dentro do texto são sempre citados quando há referência ao povo ou a multidão, quando o jornal define as pessoas que participaram dos festejos são utilizados esses adjetivos 85. Consequentemente junto a esses agrupamentos aparece uma referência aos representantes do governo provisório e ao Presidente Getúlio Vargas que como chefe de Estado estava presente na solenidade e aparece em algumas fotografias que foram publicadas no Almanaque de 1932 e constam no acervo do Santuário Nacional. A presença do Presidente Getúlio Vargas como chefe de estado nessa celebração aparece como destaque em toda a imprensa analisada durante o processo de pesquisa. A legitimação do ato da Igreja fica evidente na centralidade daquilo que é propagado através das 85 Não houve matine nos cinemas, não houve corridas, não houve regatas porque para todos a procissão de N. Senhora Apparecida era mais importante e atraente. Movimentou-se o Rio de Janeiro todo desde o presidente da República até os humildes pescadores das praias diante deste acontecimento único [..]

121 119 imagens e publicações: as roupas litúrgicas dos clérigos que aparecem nas fotografias e nas normatizações sobre as mesmas em documentos, a imagem de Nossa senhora Aparecida trazida pelos padres e bispos e a fotografia abaixo dos bispos em visita ao presidente em exercício, nessa imagem além da postura dos prelados com suas insígnias podemos destacar no centro a figura de Vargas explicitando a relação do poder religioso com o poder político. Figura 14 - Bispos Brasileiros visitando o Presidente da República em exercício, Getúlio Vargas durante as festas da nova Padroeira. Almanak de Aparecida, Fonte: CDM. De acordo com Canclini (1998) o popular não é monopólio dos setores populares, dado que uma mesmo pessoa pode estar inserida em diversos grupos e integrar-se de forma diversificada nas relações simbólicas estabelecidas entre eles. Desse modo a representatividade de grupos em torno da imagem nos ajuda a questionarmos novamente a tentativa de homogeneização de culto feita pela Igreja. Nas fotografias que apresentamos que mostram as celebrações realizadas em homenagem a nova Padroeira uma característica comum entre elas no chama a atenção: existe uma necessidade de legitimação da participação popular que esta imbricada as manchetes de jornais que afirmam a participação de uma grande multidão no evento. Os jornais nos trazem alguns números que certificam a participação popular.

122 120 Segundo as estimativas passaram pela Estação Central do Brasil cerca de pessoas, número considerável para o período, será que esse número de pessoas foi concentrado nos festejos de Nossa Senhora Aparecida no Padroado ou foram apenas divulgados como totalizantes pelo jornal? Tendo terminado a sua volta pela Esplanada, o automóvel a imagem de N. Senhora Apparecida parou ao pé da escada do altar.[...] Chegando ao alto deu a Imagem a beijar ao sr. Cardeal e depois, satisfazendo um desejo do Chefe de estado, a aproxima do sr. Dr. Getulio Vargas que a beija nos pés.[...] Nunca se viu na historia do Brasil uma demonstração mais colossal, o espetáculo de um povo que se ergue uníssono para aclamar Aquella que a Egreja proclamou Padroeira do Brasil. Foi uma verdadeira afirmação da vontade nacional de ser catholico. [...] (Jornal Santuário, Ed. 27 p.02) O episódio do beijo que o Presidente teria oferecido a imagem aparece relatado apenas no Jornal santuário, e em alguns pequenos periódicos católicos, como na revista Vozes de Petrópolis, Revista Mensageiro do Carmelo 87, qual seria o intuito principal destes veículos da imprensa em publicar esse relato? Como esse episódio pode ser considerado como aproximação entre política e processo de romanização? Percebemos aí o poder político institucionalizado alinhado com a perspectiva da fé romanizada. Dentre as inúmeras hipóteses que podemos levantar consideremos a que o trecho acima nos propõe: ao fazermos uma leitura a contrapelo entendemos que o tempo todo dentro do texto é proposital a tentativa de unidade que se dá ao catolicismo como uma única voz religiosa no país, e a afirmação de que a nova Padroeira se sobressai como ponto de união nessa relação entre cidades, estados, agrupamentos e irmandades, diferentes cargos clericais buscando exatamente o que é proposto no projeto de romanização: uma única voz para toda a Igreja, centralizada na hierarquia institucional da mesma. Essa disputa pode ser percebida na forma como essa unidade vai sendo reafirmada. A celebração teria sido encerrada com a consagração presidida pelo cardeal Leme e pela coroação da imagem, ato simbólico que é sempre realizado no encerramento do mês de maio como forma de honraria e solenidade que compõem popularmente os festejos e homenagens a Nossa Senhora. Essas duas práticas que também são exercícios da devoção popular não aparecem registradas em nenhum lugar, apenas algumas notas de que a 86 [...] Passaram pelos torniquetes da Estação Pedro II no dia da festa de N. S. Apparecida que tomaram os subúrbios. Para assistirem a despedida de N. Senhora compraram ingressos na Central 2733 pessoas. [...] No mesmo dia vieram ao rio pelas barcas da Cantareira pessoas, sendo de Nictheroy e os outros das ilha. (P.03) 87 Cf. O beijo da Pátria seria levado pelo próprio Presidente da República. In: MACHADO, Padre. Aparecida: Na História e na Literatura. Campinas: E. do aut.,!975, p.402.

123 121 celebração teria sido encerrada desta maneira com o discurso de exortação de Dom. Sebastião Leme que orienta de forma incisiva ao povo se afastar de todos os maus costumes modernos 88. Terminando a celebração e seguindo a recomendação de Dom Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de São Paulo de que a imagem deveria retornar imediatamente para o seu templo no final do dia 31 a mesma foi levada para a Estação Pedro II a fim de ser reconduzida ao distrito de Aparecida. [...]. Já se achava muita gente na estação para despedir-se de N. Senhora Apparecida [...] ficaram em grande número rezando em silencio ou trocando algumas impressões em voz baixa. Os padres distribuíram entre eles as medalhas e imagens que levavam, e depois as flores do altar. [...] Desde a saída da estação d. Pedro II o Especial foi esperado e saudado em todas as estações dos subúrbios, fazendo paradas mesmo que em pequenas estações, como Queimados e outras, onde se reuniram os habitantes dos arredores para honrarem N. Senhora Apparecida com aclamações e cânticos. E porque não satisfazer um desejo tão justo dessa boa gente. [...] (Continuação de publicação Ed. 27 p.02) O retorno da imagem ao Santuário em Aparecida SP, não possui uma narrativa criteriosa como a que é feita em razão do translado da mesma para o Rio de Janeiro. O Almanaque de 1932 publicou detalhes genéricos que são resumidos em manifestações de entrega de flores e preces, já o Jornal Santuário, criou uma coluna intitulada Ecos da imagem no Rio, onde publicou a integra dos discursos proferidos durante as sessões solenes teológicas realizadas na semana da Padroeira que antecedeu a festividade. Consta no anuário do santuário Nacional que ao chegar a imagem em Aparecida ocorreu uma outra solene procissão, que foi finalizada com o canto de ação de graças Te Deum, hino litúrgico do rito romana que faz um agradecimento ao final de algum evento religioso ou civil. A fotografia a seguir, também publicada no Almanaque de 1932, mostra as filhas de Maria levando a imagem da estação central do distrito de Aparecida a Basílica, pelos trajes de solenidade e festa podemos entender que além de utilizadas como elementos informativos e de divulgação as fotografias eram feitas a serviço da instituição para despertar a fé dos espectadores. Para Peter Burke (2017) fotografias podem ser consideradas evidência da história e história. 88 Cf. Nota 65.

124 122 Figura 15- Chegada da imagem em Aparecida - SP em 01/06/1931, publicada no Almanaque de Aparecida Fonte: CDM Essa fotografia é diferente das outras que apresentamos aqui não apenas pela captação imagética produzida pelo fotógrafo e sim por ser a única que mostra a imagem de Nossa Senhora Aparecida sendo conduzida por outros membros da Igreja e não os padres e clérigos. No distrito de Aparecida quem devolve a imagem ao seu lugar são os membros das instituições presentes na Igreja local isso nos remete a narrativa tão pontuada em diversos discursos: o povo de Aparecida é o guardião da imagem da mesma. Afirmação essa que contradiz a afirmação de um culto nacional relacionado a essa prática devocional. Através desta análise é possível entendermos que a dimensão tanto da imprensa como fonte histórica quanto da fotografia nos auxiliam a problematizar o passado e percebermos que os embates ocorridos entre a devoção popular e a fé romanizada não são fatos que se perpetuam ou desaparecem, historicamente esses dois grupos estão presentes no catolicismo brasileiro e atravessam diversas conjunturas históricas, inclusive a atual. O que reforça a ideia de que não podemos considerar a cultura como algo no singular, já que ela circula por diversos espaços e sujeitos sendo muito genérico apenas considerar a mesma pertencente a determinado grupo. Mesmo com tantas tentativas de homogeneização as

125 123 trocas sociais possibilitam novos significados e questionam por si só através desses sujeitos uma ideia de sucesso que ocorre nessas tentativas.

126 124 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Só podemos pensar a devoção popular no Brasil se nos propormos a entender os estigmas sociais e fronteiriços característicos da nossa formação. Na América Latina e no Brasil está representação religiosa com a figura da Virgem Maria foi sendo considerada múltipla e hibrida principalmente pela catequese ligada a essa figura feminina e materna, raiz do culto mariano. Isso pode ser uma constante, herança de nossa formação cultural que foi muito enriquecida com a mistura de povos que formaram o que hoje chamamos de povo brasileiro. Tratemos de observar que estes povos possuíam crenças próprias com seus mitos emblemas e significados que foram sendo incorporados desde sempre pelas crenças cristãs ou vice e versa, por exemplo as deusas indígenas e orixás femininos africanos. De uma maneira geral o culto mariano é uma das expressões mais fortes dessa conjuntura histórica. A imbricação dessas crenças acontece através dos sujeitos que podem ou não atuar dentro de grupos e instituições, fator que faz emergir uma relação de tensão e conflito que constrói culturalmente um indicador místico e religioso pautado na transmissão oral e nas ações cotidianas. A circularidade entre crenças não acontece de maneira pacífica e sim nos conflitos e tensões que tendem a mostrar uma ideia de conciliação, principalmente quando as instituições, nesse estudo de caso a Igreja tem como objetivo principal mostrar para a sociedade que possui uma única voz, um único discurso que sobressai a todos os discursos que são proferidos e defendidos por seus diversos setores. A devoção popular a Nossa Senhora Aparecida aparece como um ponto de indagação dos pescadores e ribeirinhos a instituição religiosa, a Senhora Aparecida possui características, próprias, se encerra em narrativas que subvertem a ordem, basta lembrarmos que a memória propagada do encontro da imagem é justamente como um ato de salvação frente a norma da Câmara administrativa da região de Guaratinguetá de conseguir grande número de peixes para o novo governador geral que passava para chegar a região das minas, o conde de Assumar. Consequentemente, através desta narrativa podemos problematizar o que a imagem passa a representar para os sujeitos que transpõem e divulgam essa crônica memorialista. Mais do que a representação artística e cultural de Nossa Senhora da Conceição, a imagem encontrada no Rio Paraíba passa a adquirir um outro sentido: é a Nossa Senhora da

127 125 Conceição, só que a Aparecida, ou seja aquela que aparece e não a imagem artística que lembra o dogma teológico publicado pelo Papa (apenas em 1854) e identificada pela instituição religiosa. De acordo com Chartier (2011) a noção de representação modificou profundamente a compreensão do mundo social, obrigando-nos a repensar as relações do ser social ou do poder político. Deste modo, ao analisarmos a crença a Nossa Senhora Aparecida como crescente devoção mariana popular do povo brasileiro percebemos que sua representação também ganhará um cunho político, tanto na administração da própria Igreja como nas relações seculares entre Igreja e Estado. Ao analisarmos a vinculação entre religiosidade humana, representação e o imaginário social, são perceptíveis as diversas práticas utilizadas ao longo da História humana, que visaram legitimar as hierarquizações sociais através da aplicação do sagrado (BACZKO, 1984, p.300). Para atingir a problemática levantada neste trabalho, a base de estratégia explicativa é firmada no referencial de estudos do imaginário social, buscando destacar os conhecimentos populares em relação a crença a Nossa Senhora Aparecida que se contrapõem a crença institucionalizada em ritos, expressões e formas de manifestações religiosas diversas, fato que destacamos anteriormente. Uma sociedade partilha de conteúdos de pensamentos, interiorizados nos indivíduos, sem que seja necessário explicitá-los (CHARTIER, 1990, p.41). Dado o exposto, o conceito de Representação modifica amplamente a percepção do imaginário social e a construção política que se faz do mesmo, possibilitando uma análise a contrapelo das fontes oficias que servem como indícios para as contribuições que buscamos fazer em relação a circularidade dessas práticas encontradas nos indícios analisados. A afirmação de toda a narrativa presente na memória através do imaginário social está sendo assumida na representação daquela imagem Aparecida que começa a integrar a vida daquelas comunidades ribeirinhas. Um fato importante: o que transforma a imagem em um elemento simbólico do sagrado não é a forma como ela é constituída na tradição católica oficial e sim a narrativa em torno da mesma que a legitima (mesmo quebrada e artisticamente alterada pelas águas do rio).

128 126 Para Benjamim (1987) dentre as narrativas nenhum acontecimento grande ou pequeno pode ser considerado perdido para a história. Temos, portanto, um desafio: indagar essas narrativas como elementos que ajudem a perceber a problemática da cultura como um conceito que atravessa a memória e não pode ser apenas ligado a tradições ou ações folclóricas, de forma que a narrativa religiosa em relação a Nossa Senhora Aparecida é uma atualização da memória devovional dos sujeitos que a iniciaram. Ao tratar da propagação dessa memória potencializada pela representação da mesma na imagem podemos reafirmar a circularidade dentro da esfera da cultura. Circulando por espaços diversos como o segundo capítulo deste texto nos mostrou é que essas narrativas se transformam em uma memória coletiva com significados profundos e místicos dentro daquela conjuntura histórica cultural. Esses fatores nos alertam que o lugar da cultura é o lugar do conflito, ou seja, através de inúmeras formas se busca justificar as diferenças pelo viés da cultura. Dentro do espaço religioso do catolicismo brasileiro esse conflito aparece nas aproximações e reafirmações de aspectos presentes na cultura não oficial da Igreja e conduzem a tentativas inúmeras de conciliação entre vários setores que apesar de professarem as mesmas crenças transitam com particularidades diferentes, uma dessas particularidades é justamente a tentativa de homogeneização dos ritos que é sempre reforçada pela instituição, aspecto este que viemos indagando desde o início desse texto. destacamos: Ao tratar dessa relação entre instituições e grupos, ou subalternos e submissos [...] que nem toda assimilação do hegemônico pelo subalterno é signo de submissão, assim como a mera recusa não é de resistência, e que nem tudo que vem "de cima" são valores da classe dominante, pois há coisas que vindo de lá respondem a outras lógicas que não são as da dominação. (MARTIN-BARBERO,1997, p.107) Consequentemente podemos concluir que a cultura popular vai muito além dos espaços que tendenciosamente acabamos articulando, como por exemplo o espaço da resistência a cultura hegemônica. Sem nenhuma dúvida é algo que remete a um passado ou memória significativa que ganham um significado tradicional, só que não estão presas a uma centralidade de tradição, pois, os significados mudam, as relações mudam e até mesmo as tradições são termos cheios de pluralidade e circularidade.

129 127 No caso da conjuntura religiosa da devoção o que muda é justamente a narrativa mesmo através de questionamentos mínimos se percebe um novo olhar para a ordem estabelecida, conforme pontuamos no segundo capítulo a devoção popular é a afirmação de como as instituições como a Igreja, com suas organizações e formas catequéticas normatizações que não conseguem atingir os sujeitos como um todo. Fiquemos atentos as particularidades nesses aspectos. As orações católicas que eram feitas em latim, as cerimonias tinham suas particularidades de ritos e expressões que eram conhecidas apenas por aqueles que tinham acesso à cultura erudita, dada a dificuldade com a língua, com o entendimento dos dogmas teológicos cabia ao povo buscar práticas que correspondessem as suas necessidades sociais cotidianas. Não podemos afirmar que os fiéis ficavam apenas a receber migalha daquilo que caia dos altares romanizados ficando assim a mercê de sua própria interpretação e conhecimento popular, é justamente nessa conjuntura que o conceito de circularidade cultural mais faz sentido. Ao mesmo tempo não é possível ignorar que esse distanciamento dos fiéis com as estruturas oficiais sem dúvida alguma é um dos fatores que proporcionou a explanação e o fortalecimento de piedosas orações populares e crenças diversas. Os exercícios de devoções populares demonstram como a experiência individual da fé adquirem um potencial emancipador do ser humano em relação a códigos religiosos colocados institucionalmente. A catequese doutrinária e o processo de romanização que pontuamos é um conflito que imbrica a religiosidade oficial e a devoção popular. Conforme já citamos anteriormente o campo da cultura é o campo das lutas e conflitos. Nessa perspectiva assinala Stuart Hall: Há uma luta contínua e necessariamente irregular e desigual, por parte da cultura dominante, no sentido de desorganizar e reorganizar constantemente a cultura popular; para cercá-la e confiar suas definições e formas dentro de uma gama mais abrangente de formas dominantes. Há pontos de resistência e também momentos de superação. Esta é a dialética da luta cultural. Na atualidade, essa luta é contínua e ocorre nas linhas complexas da resistência e da aceitação, da recusa e da capitulação, que transformam o campo da cultura em uma espécie de campo de batalha permanente, onde não se obtém vitórias definitivas, mas onde há sempre posições estratégicas a serem conquistadas e perdidas. (HALL, 2003, p.254).

130 128 Neste recorte diversificado entre devoção popular e o poder religioso institucional cabe questionarmos: Qual a maneira que a experiência da crença se faz presente? Que ideias podem orientar o pensamento crítico que relaciona os fatores religiosos e políticos da complexidade humana? Nesta perspectiva compreendemos que a experiência mística se torna um fator importante na afirmação de uma identidade cultural e essa batalha permanente e paralela entre culturas ocasiona um enriquecimento das mesmas, pois, é justamente nessas ações que as narrativas em torno das práticas devocionais são atualizadas e reafirmadas. A Imagem de Nossa Senhora Aparecida sem dúvida alguma é um ícone das resistências das práticas de devoção popular do Brasil, está devoção como podemos entender a partir dos estudos apresentados extrapola sejam ideias políticas do campo religioso ou do campo governamental institucional. Ambas expressam de forma clara o que é sempre feito pelos grupos de elite do nosso país: a tentativa de um mito de unificação nacional, que é obvio acontecer apenas no mundo das ideias e do imaginário. Não há exercício de devoção que possa apagar classes sociais e nem diferenças históricas gritantes, pois essas diferenças fazem parte do mundo material e que mesmo resinificadas através de exercícios religiosos contestam a ordem apenas para aqueles que se propõem a observar essa história de uma ótica a contrapelo, pois, as narrativas místicas perpassam aquilo que existe de real nas relações sociais das comunidades. Ao tratar de uma necessidade constante do historiador da cultura em analisar e problematizar essas relações sociais, salienta Benjamin: A luta de classes, que um historiador educado por Marx jamais perde de vista, é uma luta pelas coisas brutas e materiais, sem as quais não existem as refinadas e espirituais. Mas na luta de classes essas coisas espirituais não podem ser representadas como despojos atribuídos ao vencedor. Elas se manifestam nessa luta sob a forma da confiança, da coragem, do humor, da astúcia, da firmeza, e agem de longe, do fundo dos tempos. Elas questionarão sempre cada vitória dos dominadores. Assim como as flores dirigem sua corola para o sol, o passado, graças a um misterioso heliotropismo, tenta dirigir-se para o sol que se levanta no céu da história. O materialismo histórico deve ficar atento a essa transformação, a mais imperceptível de todas. (BENJAMIN,1987, p ). A celebração que ocorreu no ano de 1931 que objetivamos de uma certa maneira questionar nesta pesquisa refletem as considerações de causa e efeito nos jogos de poder e reforçam a utilização do imaginário e da crença como instrumentos de dominação social,

131 129 cultural e política, e ao mesmo tempo enfatizam que existem muitas resistências que se perpetuam mesmo sendo de maneira velada dentro das instituições religiosas. Assim, entendemos que é difícil separar mística e cultura apenas como dimensões subjetivas, pois, essas duas dimensões fazem parte da vida do ser humano. E são espaços de questionamentos e problematizações pertencentes a conjuntura histórica em que esses sujeitos se encontram inseridos. A devoção mariana no Brasil foi intensificada pela devoção ao título da Senhora Aparecida iniciada por aqueles três pescadores no ano de 1717, narrativa essa que reafirma a memória e sua transmissão como um elemento questionador da ordem e da normatização: uma senhora que aparece das águas para socorrer os mais pobres e os negros injustiçados, que supostamente toma a cor negra em auxílio destas minorias vai atravessar o final do governo monárquico e chegar ao governo republicano com uma força que transcende a força política: o poder de reunir uma diversidade de pessoas em torno da mesma crença. Essa ideia passou a ser reafirmada até os dias de hoje, por aqueles que se utilizam da mística e da crença como espaço de questionamento político plural. De acordo com Fenelon (1993) o campo social da cultura só pode ser pensado em vista da pluralidade que ele abarca, acarretando que não utilizemos o conceito no singular e sim no plural Culturas. Partindo desse pressuposto, consideremos que problematizar aspectos da institucionalização dessa devoção nas páginas de um jornal religioso como o Santuário D Apparecida, reforçam metodologicamente a necessidade de ultrapassar barreiras possibilitando problemáticas que indagam agoras atualizando os espaços historiográficos que ocupamos e repensem culturas, levantando novas hipóteses em relação aos objetos de pesquisa. Ao finalizarmos esse texto com o intuito de levantarmos hipóteses em torno das problemáticas sugeridas não podemos deixar de apontar como a dimensão da cultura popular, conceitualmente aqui assimilada ao termo devoção popular possui um aspecto questionador e autônomo em relação as normatizações institucionais, pois, essas memórias estão circulando nesses espaços diversificados que tendem a reafirmar suas narrativas de questionamentos de uma ordem que antes já existia. Conforme pontuamos anteriormente a necessidade que a Igreja demonstra através das fontes analisadas é justamente de normatização dessa devoção buscando afirmar em suas publicações como este espaço místico é definido por ela enquanto instituição, seja nos

132 130 discursos ou nas fotografias quem irá trazer agora a imagem de Nossa Senhora Aparecida para o centro das celebrações são as figuras do clero: padres, bispos e cardeais. Essa percepção é a chave de leitura que melhor ilustra a dimensão que essa devoção tomou dentro da instituição: não é mais o povo (no sentido genérico do termo) que traz a imagem milagrosa e sim os líderes da instituição que de alguma maneira se esforçar para se apropriar dessa imagem e das narrativas em torno da mesma, hipótese que indagamos ao tratar do imaginário social e suas ações. Na introdução desse trabalho de pesquisa pontuamos a relevância dessas abordagens para levantarmos hipóteses em relação a dimensão que essa devoção considerada popular tomou ao ser institucionalizada no país. Dados divulgados pelo Santuário recentemente mostram que no ano de 2018 mais de 12,6 milhões de pessoas visitaram o Santuário dedicado a Nossa Senhora Aparecida, no município de Aparecida SP. Esses números ilustram a potencialidade que a narrativa registrada a partir dos relatos daqueles ribeirinhos do Vale do Paraíba Paulista ganhou. Ainda hoje a devoção a Nossa Senhora Aparecida pode ser percebida nas duas vertentes: devoção popular e devoção institucionalizada. Sem dúvida alguma é nessa perspectiva que podemos compreender que o espaço da cultura é o espaço da circularidade, do hibridismo, das tensões e conflitos, conceitos que nos estimulam a problematizar a pluralidade cultural, rompendo com a perspectiva fria empregada pela palavra cultura no singular. Para Benjamin (1987) o dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. A partir dessa colocação, permitamos que as hipóteses aqui levantadas em relação a problemática proposta possam ser centelhas de esperança na sobrevivência de nossas narrativas, mesmo quando outros discursos as atravessem durante a jornada.

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139 137 ANEXOS Imagem 1- Primeira Publicação do Decreto de Proclamação de N.S.A como Padroeira do Brasil. Almanak de Aparecida, 1931, p.35. Fonte: CDM.

140 Imagem 2 - Relato da passagem da imagem de N.S.A pelas cidades cortadas pela FCB de Aparecida ao Rio de Janeiro - RJ, Almanak de Aparecida1932,p.32. Fonte: CDM 138

141 Imagem 3-- Relato da celebração de consagração de N.S.A realizada na Esplanada do castelo no Rio de Janeiro - RJ, Almanak de Aparecida 1932,p.50. Fonte: CDM. 139

142 Figura 4- Jornal Santuário de 13/06/1931, relata detalhes da festa no Rio de Janeiro - DF. 140

143 Imagem 5 - Jornal "A Noite". Publicado em 01/06/1931 com detalhes da festa a N.S.A. 141

144 Imagem 6 - Frente da Igreja S. Francisco de Paula no Largo de mesmo nome localizada na região central da cidade do Rio de Janeiro - RJ, onde oficialmente foi celebrada a missa de Proclamação de N.S.A. como Padroeira do Brasil 31/05/1931. Almanak de Aparecida, Fonte: CDM. 142

145 143 Imagem 7- Tribuna da Esplanada do Castelo, onde aconteceu a Consagração do Brasil a nova Padroeira. No centro da imagem o Presidente Getúlio Vargas e sua esposa. Almanak de Fonte: CDM. Imagem 8 - Crianças vestidas de anjos que participaram da consagração realizada na Esplanada do castelo no Rio de Janeiro - RJ. Almanak de Fonte: CDM.

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