Comércio em Loteamentos de Baixa Renda: uma forma de inclusão social
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- Domingos Custódio Borja
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1 Comércio em Loteamentos de Baixa Renda: uma forma de inclusão social
2 O Departamento Municipal de Habitação da Prefeitura de Porto Alegre DEMHAB, é o órgão executor da política habitacional voltada para a população de baixa renda na cidade. Foi inaugurado em 1965 com a função de construir habitações de interesse social em substituição às sub-habitações existentes. Até hoje, o DEMHAB já resolveu o problema de moradia de mais de 50 mil famílias em Porto Alegre, entre reassentamentos, regularizações fundiárias, cooperativas habitacionais e mutirões.
3 Várias foram as políticas habitacionais aplicadas, sempre visando propiciar o acesso à moradia digna e ao solo urbano regularizado. O DEMHAB conta com um corpo técnico multidisciplinar, cujo empenho e integração com outros órgãos da Prefeitura permitem um profundo conhecimento da realidade habitacional de Porto Alegre.
4 Tendo a inclusão social das populações de baixa renda como meta, as estratégias para a sua conquista desdobram-se em diretrizes que, além da construção de casas, passam pela saúde pública, infra-estrutura dos locais, solução para pessoas que vivem em áreas de risco, projetos de educação ambiental e por programas de geração de emprego e renda.
5 A geração de emprego e renda é um dos eixos de Promoção da Moradia constantes do Plano Municipal de Habitação de Interesse Social PMHIS. Dentre as formas de geração de emprego e renda podemos destacar a construção de Usinas de Reciclagem de Resíduos Sólidos, os Cursos de Capacitação Profissional, Oficinas de Arte- Educação, parcerias com o empresariado local e as Unidades de Comércio e Serviço (UCS)
6 Em 1970, o DEMHAB iniciou a construção do Loteamento da Nova Restinga, com recursos do BNH, a cerca de 25 km do centro de Porto Alegre. Era um enorme conjunto habitacional a ser construído em 5 etapas. No final de 1975, contava com quase 20 mil residências. Neste loteamento, além das habitações, foram edificados Centros Comerciais no interior de grandes quarteirões, os chamados Campi Comunitários, nos quais havia outros equipamentos urbanos, como escolas, postos de saúde e de polícia.
7 Até 2001, esta experiência dos anos 70 foi praticamente a única deste tipo. Centros comerciais organizados, como este, não mais se repetiram. A política nestes anos era a de suprir a demanda por comércios de forma pontual. Dava-se ênfase à habitação, até porque a construção de comércios era atribuição de outras secretarias. Geralmente destinavase ao comerciante um lote de esquina, que tinha espaço residual para a construção de seu comércio. A execução ficava a cargo do próprio morador.
8 Desta maneira, permanecia a lógica do puxadinho. A atividade comercial era apenas de subsistência. No máximo, mantinha a renda do morador, porém, sem darlhe a oportunidade de interagir com a cidade formal. Geralmente estas construções, executadas sem projeto, careciam de qualidade e às vezes ameaçavam a própria integridade física do morador.
9 Em 2001, é implantado em Porto Alegre o PIEC Programa Integrado da Entrada da Cidade, com investimentos obtidos pela Prefeitura junto a organismos e bancos internacionais. O Programa é um conjunto de ações sócio-espaciais integradas com outros órgãos da Prefeitura para o redesenho urbanístico de grande parte da Zona Norte da cidade, incluindo abertura de vias, infra-estrutura, habitação, programas sociais, diversos equipamentos urbanos além de geração de emprego e renda.
10 Dentro do PIEC, a partir de 2001, o DEMHAB passa a adotar a UNIDADE DE COMÉRCIO E SERVIÇO (UCS) em quase todos os loteamentos. Trata-se de um equipamento urbano construído segundo as leis e normas pertinentes, e projetado especificamente para este fim.
11 As principais características de seu projeto arquitetônico são: 1. Localização estratégica em locais que possibilitem a sua projeção como comércio com a cidade formal. A intenção é gerar inclusão social atraindo o público tanto do loteamento como do entorno imediato com pequeno comércio e serviços como mini-mercado, lancheria, consertos em geral, serralheria, fruteira, barbeiro, manicure, sapataria, agenciamento de serviços como encanador, eletricista ou empregada doméstica, etc. O comércio deve funcionar como elo entre dois tecidos urbanos ajudando a diminuir a tensão sócio-cultural entre os dois lados.
12 2. Pequenos centros comerciais com salas de cerca de 22 m² e pé direito alto, sem forro, para permitir maior armazenamento economizando área; 3. Laje de cobertura inclinada, para impedir a ampliação de um segundo piso. Este tipo de autoconstrução seria perigoso e descaracterizaria o conjunto; 5. Acesso com cortina de aço; 6. Espaço para letreiro na fachada; 7. WC sem chuveiro para desestimular o uso como residência; 8. Recuo frontal generoso para permitir reunião e circulação; 9. Estacionamento; 10. Pequeno pátio nos fundos. 4. Volumetria e linguagem arquitetônica unificadas e diferenciadas das residências;
13 A distribuição aos moradores é feita a partir do Cadastro Sócio- Econômico da vila a ser reassentada. O comerciante a quem é concedida a licença não mora necessariamente ao lado, pois isto geraria sentimento de injustiça nos demais. No caso de o comerciante desistir do local, a loja é redistribuída. O comerciante paga um pequeno aluguel à prefeitura, de acordo com a sua renda.
14 A EXPERIÊNCIA COM COMÉRCIOS DENTRO DO PIEC EXEMPLO 1: LOTEAMENTO ARCO-ÍRIS Neste loteamento, construído em 2005, foram implantadas 11 Unidades de Comércio e Serviço na testada da gleba, junto à via principal, em A implantação em fita resguarda o interior residencial do ruído e poluição da grande avenida, ao mesmo tempo que concentra e organiza a atividade comercial.
15 O conjunto tornou-se referência para a comunidade, além de facilitar o controle da população que entra e sai. Neste exemplo, a cor diferenciada e a implantação dois a dois chamam a atenção.
16 EXEMPLO 2: LOTEAMENTO PROGRESSO Obra executada em 2002 Implantação das Unidades nas esquinas das ruas do Loteamento com a avenida principal. É uma tentativa de resgatar o boteco de esquina. Intuitivamente o morador usa determinada loja como referência para seu endereço ( moro na rua da padaria, por ex.). Isto ajuda na construção de sua identidade.
17 As proporções, os materiais utilizados e as cores fazem a marcação da esquina, e favorecem a transição da volumetria. São características que não são encontradas com frequência em habitação popular.
18 EXEMPLO 3: LOTEAMENTO JARDIM NAVEGANTES Neste exemplo, duas fitas de comércios marcam o acesso principal do loteamento (fotos tiradas pouco antes da inauguração). Obra de 2006.
19
20 O mini-mercado é a tipologia mais frequente neste conjunto. Nota-se o bom aproveitamento na maioria dos casos.
21 CONCLUSÃO A adoção de comércios inteligentes em loteamentos representa mais um tijolo na construção da tão aclamada inclusão social. Hoje, praticamente todos os conjuntos habitacionais do DEMHAB são projetados com comércios deste tipo. A inclusão social feita de maneira responsável e consciente é talvez o único remédio para recuperar a dignidade humana.
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