TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DORIO DE JANEIRO DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº FERDINALDO NASCIMENTO

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DORIO DE JANEIRO DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº AGRAVANTE: ESCOLA TECNICA DINASTIA LTDA AGRAVADO: ADIR ABREU DOS SANTOS E OUTROS RELATOR: DES. FERDINALDO NASCIMENTO AGRAVO DE INSTRUMENTO. DESPEJO. LIMINAR. INSTITUIÇÃO DE ENSINO. Recurso interposto contra decisão que deferiu liminar de despejo. Preliminar de não conhecimento do recurso que se afasta. Atos constitutivos da pessoa jurídica que não constituem documento obrigatório à formação do instrumento, salvo se houver fundada dúvida acerca dos poderes do outorgante do mandato. Precedentes do E. STJ. Ação de despejo, com fundamento no art. 59, 1º, I da Lei nº 8.245/91. Regramento especial aplicável às instituições de ensino autorizadas pelo Poder Público, diante da relevância do interesse social da atividade desenvolvida, a fim apenas possibilitar a desocupação do bem em sede de cognição exauriente, com um prazo extenso, de seis meses a um ano. Art. 63, 2º da Lei 8.245/91. No entanto, essa não é a hipótese dos autos. Da análise da documentação, extraise que essa autorização refere-se aos cursos técnicos profissionalizantes. Estabelecimento de ensino agravante que não se alinha à exceção legal, na qual somente se inserem aqueles que detenham currículo oficial, ordinário ou supletivo, ministrado conforme critérios legalmente estabelecidos. Agiu com acerto o magistrado de primeiro grau, porquanto o caso dos autos não se enquadra na regra especial direcionada às instituições de ensino. Precedentes desta Corte de Justiça e do E. STJ. RECURSO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO, revogando-se o efeito suspensivo concedido.

2 DECISÃO MONOCRÁTICA Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo, interposto contra a r. decisão monocrática, oriunda do 1º Cartório Unificado Cível de Niterói, que concedeu a liminar para a desocupação do imóvel no prazo de 15 dias. Irresignada, a recorrente alega se tratar de escola técnica, autorizada pelo Poder Público, atuante desde 1996 e que o imóvel, utilizado como salas de aula e laboratórios técnicos, encontra-se locado por tempo indeterminado. Afirma que possui mais de 400 alunos e que a efetivação do despejo traria prejuízos imensuráveis a alunos e professores. Sustenta que, em razão do interesse social das instituições de ensino, a legislação excepciona o prazo para desocupação, estabelecendo o prazo mínimo de seis meses, nos termos do art. 63, 2º, da Lei 8.245/91. A fls. 12/13 foi deferido o efeito suspensivo pleiteado. O MM. Juízo a quo, a fls. 46/47, prestou informações, ressaltando o cumprimento do art. 526 do CPC, bem como ratificando a r. decisão agravada. Contrarrazões do agravado a fls. 17/40, preliminarmente, requer o não conhecimento do recurso, em razão da ausência dos atos constitutivos da empresa. No mérito, pede o desprovimento do recurso. É O RELATÓRIO. PASSO A DECIDIR.

3 Inicialmente, afasto a preliminar de não conhecimento do recurso. Os atos constitutivos da pessoa jurídica não constituem documento obrigatório à formação do instrumento, salvo se houver fundada dúvida acerca dos poderes do outorgante do mandato. Confira-se o precedente do E. STJ sobre o tema: PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. IMPUGNAÇÃO DOS CÁLCULOS. ATUALIZAÇÃO DE VALORES PARA FINS DE DEFINIÇÃO DO EXCESSO. VIOLAÇÃO AO ART. 535, II, DO CPC. INOCORRÊNCIA. ATOS CONSTITUTIVOS. EXIGÍVEL SOMENTE NO CASO DE DÚVIDA ACERCA DOS PODERES DO OUTORGANTE. INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA. MATÉRIA NÃO ACOBERTADA PELA PRECLUSÃO. 1. A Corte de origem dirimiu a controvérsia de forma clara e fundamentada, embora de maneira desfavorável à pretensão do recorrente. Não é possível se falar, assim, em maltrato ao art. 535, II, do Código de Processo Civil. 2. É suficiente ao conhecimento do agravo de instrumento a juntada das procurações outorgadas aos advogados das partes, com a respectiva cadeia de substabelecimentos, sendo dispensável a juntada dos atos constitutivos da pessoa jurídica, salvo se houver fundada dúvida acerca dos poderes do outorgante do mandato. 3. Havendo determinação em julgado anterior para que incidissem juros de mora na forma da sentença, não é possível concluir ser permitida somente a correção monetária dos cálculos. Afastada a tese de preclusão. 4. Recurso especial não provido. (REsp /RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 17/09/2013) Grifei

4 Assim, conheço do presente agravo de instrumento. Insta destacar, prima face, que se tratando de instituição ordinária de ensino, a concessão de liminar para desocupação do imóvel pode acarretar danos graves à instituição locatária, aos alunos, bem como ao corpo docente diante de um imediato desalijo. Por essa razão, há regramento especial aplicável à espécie, art. 63, 2º da Lei 8.245/91, in verbis: Art. 63. Julgada procedente a ação de despejo, o juiz determinará a expedição de mandado de despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação voluntária, ressalvado o disposto nos parágrafos seguintes. 2 Tratando-se de estabelecimento de ensino autorizado e fiscalizado pelo Poder Público, respeitado o prazo mínimo de seis meses e o máximo de um ano, o juiz disporá de modo que a desocupação coincida com o período de férias escolares. No entanto, essa não é a hipótese dos autos. Cuida-se de ação de despejo, com fundamento no art. 59, 1º, I da Lei nº 8.245/91. No imóvel objeto da presente demanda, funciona Escola Técnica autorizada pelo Poder Público, na forma dos Pareceres nº 90/2002, 217/2002 e 1.021/2002, expedidos pelo Conselho Estadual de Educação, conforme se infere dos documentos carreados. Da análise da documentação, extrai-se que essa autorização refere-se aos cursos: Técnico de Radiologia em Diagnóstico, Técnico em

5 Enfermagem, Técnico em Prótese Dentária, Técnico em Higiene Dental, Técnico em Segurança do Trabalho, Técnico em Óptico e Lentes de Contato. Trata-se, portanto, de cursos técnicos profissionalizantes. Ocorre que a o estabelecimento de ensino agravante não se alinha à exceção legal, na qual somente se inserem aqueles que detenham currículo oficial, ordinário ou supletivo, ministrado conforme critérios legalmente estabelecidos. Capanema: Nesse sentido, com propriedade enfatiza o professor Silvio Estabelecimentos de ensino autorizados e fiscalizados pelo Poder Público são apenas os de currículo oficial, ordinário ou supletivo, nos quais se ministra instrução em períodos determinados, com férias em épocas próprias, subordinandose os alunos a critérios de aproveitamento aferidos através de provas ou outros métodos previstos em lei. Daí se infere que estão fora da proteção especial do art. 53, o ensino das mais variadas artes, línguas ou especializações culturais, isentas de autorização ou fiscalização, academias de ballet, ginástica, patinação, natação, artes marciais, cursos de idiomas, de datilografia, taquigrafia, ou de computação, de programação de computadores ou digitação, auto-escolas, cursos de corte e costura, de culinária, de enfermagem, além dos chamados pré-vestibulares ou cursos de ensino livre.. (Sylvio Capanema de Souza, in Da Locação do Imóvel Urbano Direito e Processo, Ed. Forense, RJ, 2001, p. 356). Assim, agiu com acerto o magistrado de primeiro grau, porquanto o caso dos autos não se enquadra na regra especial direcionada às instituições de ensino.

6 Nesse sentido, confira-se a jurisprudência desta Corte de Justiça sobre o tema: AGRAVO INOMINADO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DESPEJO. DECISÃO QUE, EM LIMINARMENTE, DETERMINOU A DESOCUPAÇÃO DO IMÓVEL LOCADO NO PRAZO DE 15 DIAS. CURSO DE INFORMÁTICA E DE IDIOMAS. NÃO ENQUADRAMENTO NA HIPÓTESE DO ART. 53 DA LEI 8.245/91. A norma inserta no artigo 53 da Lei n 8.245/91 tem por escopo proteger estabelecimento de ensino autorizado e fiscalizado pelo Poder Público, assim entendidos apenas aqueles de currículo oficial, ordinário ou supletivo, nos quais se ministra instrução em períodos determinados, com férias em épocas próprias, subordinando-se os alunos a critérios de aproveitamento aferidos através de provas ou outros métodos previstos em lei. Precedentes do STJ e desta Corte. PROVIMENTO DO AGRAVO INOMINADO. ( AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. LEILA MARIANO - Julgamento: 13/06/ SEGUNDA CAMARA CIVEL) AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO. LOCAÇÃO. CRECHE. PRAZO ESPECIAL PARA A DESOCUPAÇÃO VOLUNTÁRIA. ART. 63, 2º DA LEI DE LOCAÇÕES. INAPLICABILIDADE. O art. 63, 2º da Lei 8.245/91 aplicase tão-somente aos estabelecimentos de ensino autorizados e fiscalizados pelo Poder Público. A agravada é uma Creche e, portanto, não faz jus ao prazo especial para desocupação, fixado no artigo supracitado. Ademais, a Creche não possui período letivo regular, logo, não há que se falar em coincidência com o período de férias escolares para a desocupação do imóvel. Recurso provido para fixar o prazo de 15 (quinze) dias para a desocupação voluntária. ( ( ) - AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. CLAUDIO DE MELLO TAVARES -

7 Julgamento: 13/05/ DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL) Confira-se o precedente do E. STJ sobre o tema: CIVIL. LOCAÇÃO. ESTABELECIMENTO DE ENSINO. O REGIME DA LEI 6239/75 SOMENTE SE APLICA A ESTABELECIMENTO DE ENSINO ORDINARIO. (REsp 12662/SP, Rel. Ministro DIAS TRINDADE, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/09/1991, DJ 30/09/1991, p ) Face ao exposto, nego seguimento ao recurso, na forma do art. 557, caput, do CPC, diante de sua manifesta improcedência, revogando-se o efeito suspensivo. Rio de Janeiro, 05 de dezembro de DES. FERDINALDO NASCIMENTO RELATOR