Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 13ª Câmara Cível

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1 13ª Câmara Cível APELAÇÃO CÍVEL N.º: APELANTES: CARLOS ALBERTO DA SILVA COSTA E OUTRO APELADO 1: VILLAGE RECREIO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S.A. APELADO 2: PATRIMÓVEL CONSULTORIA IMOBILIÁRIA S.A. RELATOR: Desembargador Fernando Fernandy Fernandes APELAÇÃO CÍVEL. VENDA DE BEM IMÓVEL. COMISSÃO DE CORRETAGEM. ACEITAÇÃO, POR PARTE DOS COMPRADORES, DA OBRIGAÇÃO DE PAGAMENTO. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO DEVER DE INFORMAÇÃO, ANTE O PRÉVIO CONHECIMENTO DE REFERIDA OBRIGAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE. DIREITO PATRIMONIAL DISPONÍVEL. NEGÓCIO JURÍDICO VALIDAMENTE CELEBRADO ENTRE AGENTES CAPAZES. AUTONOMIA DA VONTADE. ONEROSIDADE EXCESSIVA NÃO CARACTERIZADA. PRECEDENTES DESTA E. CORTE DE JUSTIÇA. VALOR DOS HONORÁRIOS QUE, NO ENTANTO, MERECE REDUÇÃO, EIS QUE FIXADOS EM DISSONÂNCIA COM OS POSTULADOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. APELAÇÃO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO. DECISÃO Trata-se de ação de conhecimento, com processo pelo rito comum ordinário, proposta por CARLOS ALBERTO DA SILVA COSTA E OUTRA em face de VILLAGE RECREIO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S.A. E PATRIMÓVEL CONSULTORIA IMOBILIÁRIA S.A., por meio da qual pretendem seja judicialmente reconhecida a abusividade da cobrança de comissão de corretagem no valor de R$ ,00, condenando-se os réus à devolução em

2 dobro de referida quantia e, ainda, ao pagamento de indenização a título de danos morais em valor a ser estipulado pelo Juízo. Aduzem os requerentes, em síntese, que adquiriram imóvel da primeira ré (incorporadora), empresa que celebrou contrato de corretagem com a segunda demandada. Salientam que referida avença possuía como objeto o pagamento da comissão de 5% sobre o valor da venda realizada com a intermediação do corretor. Destacam que não celebraram qualquer contrato de corretagem com a segunda ré, de forma que, em havendo a venda do apartamento em questão, deveria a primeira ré pagar a comissão de corretagem diretamente à segunda demandada. Sublinham que ambas as rés procederam à cobrança da comissão de corretagem (no valor de R$ ,00) aos autores, em total desrespeito às normas do CDC, fato que lhes causou danos de ordem extrapatrimonial. Finalmente, alegam ter restado caracterizada a venda casada, eis que a incorporadora ré incluiu, no documento que consubstanciou a compra e venda do bem, cláusula acerca da responsabilidade dos compradores pelo pagamento da taxa de corretagem, o que se afigura ilícito. Em sentença de fls , o D. Juízo a quo julgou improcedentes os pleitos formulados, condenando aos demandantes ao pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor dado à causa, em favor de cada ré. Inconformados, apelaram os demandantes nas fls , aduzindo, em síntese, que: (i) em momento algum, afirmaram terem aceitado a obrigação de pagamento da taxa de corretagem à segunda ré, o que lhes foi imposto; (ii) o pagamento da taxa de corretagem é obrigação do proprietário/vendedor do imóvel, como determinam as normas legais; (iii) os demandados violaram seu dever de informação, devendo ser levado em consideração, ainda, se trata de contrato de adesão; (iv) a transferência dos custos de comissão aos compradores significa onerá-los excessivamente; (v) o preposto da segunda ré lhes informou erroneamente o preço do bem, nele já incluindo sua comissão; (vi) exigir que o autor faça prova de que não celebrou o contrato é o mesmo que determinar a realização de prova impossível ou diabólica; (vii) os honorários devem ser fixados para ambos os demandados, e não para cada um dele separadamente. A primeira ré ofertou contrarrazões nas fls , ao passo que a segunda demandada o fez nas fls /5,

3 Relatados, decide-se. A apelação é tempestiva e estão presentes os demais requisitos de admissibilidade. Inicialmente, cumpre destacar que restou configurada a aceitação, por parte dos demandantes, da obrigação de pagamento da taxa de corretagem. Isso porque no documento de fl. 70 (o qual, frise-se, foi acostado ao bojo dos presentes autos pelos próprios autores) consta planilha onde perfeitamente se pode vislumbrar a separação dos valores atinentes à compra do imóvel (R$ ,00) e comissão (R$ ,00), de forma que a posterior concretização do negócio (prova da celebração do contrato fls ) traduz, por si só, o prévio conhecimento e aceitação - de referida obrigação. Rechaça-se, portanto, a alegação de que o preposto da segunda ré lhes informou erroneamente o preço do bem, nele já incluindo sua comissão, eis que, como acima relatado, na planilha de fl. 70 consta clara separação entre o que seria o valor do bem e o valor da comissão. Não se há de falar, dessa forma, em violação do dever de informação, eis que a obrigação de pagamento do valor da corretagem consta da própria proposta entregue aos requerentes. Note-se, ademais, que a natureza do contrato de adesão, por si só, não traduz qualquer ilegalidade. Ainda, saliente-se que, como notório, para fazer jus à comissão, basta que o corretor tenha aproximado as partes e concretizado a venda, fato que restou comprovado. Como muito bem salientado pelo I. Juízo a quo na fl. 261, embora, em regra, a responsabilidade de remunerar o corretor seja do comitente (apesar da falta de previsão legal sobre tal responsabilidade), as partes podem pactuar em sentido diverso, justamente por se tratar de direito patrimonial disponível em âmbito de negócio jurídico válido e realizado entre agentes capazes. Vigora, nessa seara, o princípio da autonomia da vontade, não se traduzindo como onerosidade excessiva aos compradores a transferência dos custos de comissão. 3/5,

4 Nesse sentido: APELACAO DES. ANDRE RIBEIRO - Julgamento: 23/02/ VIGESIMA CAMARA CIVEL AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO CIVEL. DECISÃO MONOCRÁTICA EM APELAÇÃO CÍVEL QUE MANTEVE A SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE A PRETENSÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO. INEXISTÊNCIA DE ABUSIVIDADE DA COBRANÇA, UMA VEZ QUE O PAGAMENTO DA COMISSÃO E DA ASSESSORIA TÉCNICO- IMOBILIÁRIA FOI AJUSTADO COMO PARTE INTEGRANTE DO VALOR DO IMÓVEL. COMPRADORA QUE TEVE PLENA CIÊNCIA DE QUE LHE SERIA COBRADA A COMISSÃO DE CORRETAGEM. EM QUE PESE A OBRIGAÇÃO PELO PAGAMENTO DA REFERIDA COMISSÃO SER, A PRINCÍPIO, DO VENDEDOR, NADA OBSTA QUE AS PARTES CONVENCIONEM QUE O PAGAMENTO SEJA REALIZADO PELO COMPRADOR, CIRCUNSTÂNCIA QUE FICOU EVIDENCIADA NOS AUTOS ATRAVÉS DOS RECIBOS DE PAGAMENTO. COMPRADORA QUE EFETIVOU O PAGAMENTO DA COMISSÃO DE CORRETAGEM DIRETAMENTE AOS CORRETORES, DE FORMA LIVRE, VOLUNTÁRIA E CONSCIENTE. PRAXE IMOBILIÁRIA NO SENTIDO DE QUE, AO INVÉS DE A CONSTRUTORA RECEBER DOS ADQUIRENTES O VALOR E REPASSÁ-LO À CORRETORA, O ADQUIRENTE PAGA DIRETAMENTE À CORRETORA. PRECEDENTES DO TJRJ. PORTANTO, COMO A COMISSÃO JÁ INTEGRAVA O VALOR TOTAL DE VENDA ACEITO PELA COMPRADORA, NÃO HÁ COBRANÇA INDEVIDA. DESPROVIMENTO DO RECURSO APELACAO DES. CELIA MELIGA PESSOA - Julgamento: 16/12/ DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL APELAÇÃO CIVEL. COMPRA E VENDA DE UNIDADE IMOBI- LIÁRIA. COMISSÃO DE CORRETAGEM. PAGAMENTO PELO ADQUIRENTE. PREVISÃO CONTATUAL NÃO ABUSIVA.Sentença que julgou improcedente a pretensão de repetição de indébito. Inexistência de abusividade da cobrança, uma vez que o pagamento da comissão e da assessoria técnicoimobiliária foi ajustado no contrato celebrado entre os autores e construtora, como parte integrante do valor do imóvel. Compradores que tiveram plena ciência de que lhes seria cobrada a comissão de corretagem. Em que pese a obrigação pelo pagamento da referida comissão ser, a princípio, do vendedor, nada obsta que as partes convencionem que o pagamento seja realizado pelo comprador, circunstância que 4/5,

5 ficou evidenciada nos autos através dos recibos de pagamento. Corretora que efetivamente cumpriu seu papel de intermediadora em relação à venda da unidade do empreendimento. Compradores que efetivaram o pagamento da co-missão de corretagem diretamente aos corretores, de forma livre, voluntária e consciente. Praxe imobiliária no sentido de que, ao invés de a construtora receber dos adquirentes o valor e repassá-lo à corretora, o adquirente paga diretamente à corretora. Precedentes do TJRJ. Portanto, como a comissão já integrava o valor total de venda aceito pelos compradores, não há cobrança indevida, venda casada ou qualquer abusividade na cláusula contratual. Recurso manifestamente improcedente e em confronto com jurisprudência dominante desta Corte Estadual. Artigo 557, caput, do CPC. NEGATIVA DE SEGUIMENTO O valor fixado a título de honorários advocatícios, entretanto, merece reforma, eis que destoante dos postulados da razoabilidade/proporcionalidade (total de R$ ,00 10% do valor da causa para cada réu). Frise-se que a presente causa não se revestiu de natureza complexa e foi ajuizada em Entende-se como razoável o valor de R$ 2.000,00 em favor dos patronos de cada réu, quantia compatível com a razoável remuneração dos serviços profissionais prestados, nos termos do art. 20 4º do CPC. Por tais fundamentos, conhece-se da apelação interposta para, com fulcro no art º-A do CPC, dar-lhe parcial provimento, a fim de reduzir a condenação em honorários advocatícios para a quantia de R$ 2.000,00, em favor dos patronos de cada réu. Rio de Janeiro, 14 de abril de FERNANDO FERNADY FERNANDES DESEMBARGADOR RELATOR 5/5, Certificado por DES. FERNANDO FERNANDY FERNANDES A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 15/04/ :19:47Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: Tot. Pag.: 5