TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 3ª REGIÃO MINAS GERAIS. Detalhe de Acórdão

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1 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 3ª REGIÃO MINAS GERAIS Detalhe de Acórdão Processo : RO Data de Publicação : 22/07/2009 Órgão Julgador : Segunda Turma Juiz Relator : Juiza Convocada Sabrina de Faria F.Leao Juiz Revisor : Juiz Convocado Ricardo Marcelo Silva RECORRENTE: PLANTAR S/A. PLANEJAMENTO TÉNICA E ADMINISTRAÇÃO DE REFLORESTAMENTOS RECORRIDA: MARIA DE LOURDES DA SILVA PEREIRA EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE CONDIÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE. A preocupação com a saúde e segurança do trabalhador no Brasil, motivou o legislador constituinte a alçar em nível constitucional as normas de saúde, higiene e segurança do trabalho, obrigando o empregador a adotar medidas tendentes a garantir a execução dessas normas. Comprovado o erro de conduta do empregador ao permitir que não fossem instalados sanitários nos acampamentos rurais em que a reclamante laborava, demonstrando que não havia preocupação com os princípios básicos de higiene que deveria proporcionar, o deferimento da indenização por danos morais é medida que se impõe. Vistos, relatados e discutidos, DECIDE-SE RELATÓRIO O Juízo da 4ª Vara do Trabalho de Uberlândia, pela sentença de fls. 358/362, complementada pelos embargos de declaração de fls.367/368, cujo relatório adoto e a este incorporo, julgou procedentes, em parte, os pedidos formulados por MARIA DE LOURDES DA SILVA PEREIRA em face de PLANTAR S/A PLANEJAMENTO TÉCNICA E ADMINISTRAÇÃO DE REFLORESTAMENTOS. O reclamado apresentou recurso ordinário às fls. 369/386.

2 Contrarrazões às fls. 392/397. Dispensada a remessa dos autos à Procuradoria Regional do Trabalho por força do art. 82 do Regimento Interno deste Regional. É o relatório. VOTO ADMISSIBILIDADE Satisfeitos os requisitos legais de admissibilidade, conheço do recurso. MÉRITO INÉPCIA DO PEDIDO DA MULTA DO ARTIGO 477 DA CLT Insurge-se a recorrente contra o deferimento da multa do art. 477 da CLT, ao argumento de que o pedido é inepto, já que a parte não disse se houve atraso no pagamento ou na homologação e não pugnou pelo comprovante de pagamento, fatores que dificultaram a defesa. Ressalta que na fl. 03 da inicial, a autora reclama de uma incorreção no pagamento firmado no TRCT, mas não de atraso ou falta de entrega de documento, concluindo-se que o valor fora pago tempestivamente. Na contestação ao tratar do tema, a ré alegou que o acerto rescisório foi realizado dentro do prazo legal, não tendo erigido qualquer dificuldade para apresentar defesa em relação à multa do artigo 477 da CLT, em obediência ao artigo 301, III, do CPC, de aplicação subsidiária no Processo do Trabalho, segundo o disposto no artigo 769 da CLT. Não obstante, a inépcia da inicial trata-se de matéria de ordem pública, que pode ser examinada de ofício pelo julgador.

3 No entanto a pretensão não pode ser acolhida. Como salientado pela própria recorrente nas razões recursais, a autora, na inicial, à fl.03, apontou incorreção no pagamento das verbas rescisórias. Desse modo, imperioso concluir que o pedido de aplicação da multa do artigo 477 da CLT teve como causa de pedir tal incorreção, não havendo que se falar em inépcia. Se os fundamentos apresentados pela parte para embasar o pedido da multa do artigo 477 da CLT não estiverem em consonância com a determinação legal, não conduz à inépcia do pedido, mas à sua improcedência. Rejeito. DIFERENÇAS DE HORAS IN ITINERE Insurge-se a recorrente contra o deferimento do pagamento das horas "in itinere" como extras, alegando que não houve labor neste interstício, mas, sim, tempo de deslocamento. De acordo com o artigo 58, 2 da CLT, não será computado na jornada de trabalho o tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e seu retorno, apenas quando o local for de difícil acesso ou não servido por transporte público. Como se observa, as horas "in itinere" são consideradas como jornada de trabalho pelo legislador, de modo que inócuas as argumentações da ré. Comprovado pela prova oral que a empresa pagava a menor o tempo gasto pela autora no trajeto não serviço por transporte público regular, são devidas as diferenças de horas in itinere, acrescidas do adicional de 50%, como deferido na sentença. Nego provimento. DANOS MORAIS A reclamada afirma que, ao contrário do que disse o autor, havia banheiros e barracas para refeição, fato demonstrado pela prova testemunhal.

4 Afirma que condições hipotéticas não são suficientes para deferir indenização por danos morais, devendo o dano ser real, efetivo e também atual. Alega que não foi alegado na inicial que em determinado período havia banheiros e barracas para alimentação, como entendeu o julgador, mas apenas foi sustentado a sua inexistência, de modo que a decisão recorrida extrapola os limites da lide. Alega que já foi visitada pela Delegacia Regional do Trabalho com total aprovação do seu aparato. A reparação por danos morais decorrentes do contrato de trabalho pressupõe um ato ilícito ou erro de conduta do empregador, além do prejuízo suportado pelo trabalhador, e do nexo de causalidade entre a conduta injurídica do primeiro e o dano experimentado pelo último, regendose, portanto, pela responsabilidade inserta no rol de obrigações contratuais do empregador pelo artigo 7o, inciso XXVIII, da Constituição da República. Verifica-se que a reclamante trabalhou na empresa de a As fotos de fls. 227/251, demonstram a existência de acampamento no meio de uma área rural, com banheiros, feminino e masculino, que poderiam ser montados e desmontados, assim como os locais destinados à refeição. Todavia, conforme se vê nas notas fiscais de fls. 252/255, o material adquirido para a montagem dos banheiros está com data a partir de junho de Ainda que se considere a existência de tais equipamentos antes de 2006, o uso na zona rural não era contínuo, de acordo com as informações prestadas pela testemunha Maria Aparecida de Souza e Silva, ouvida por indicação da reclamante ao afirmar "que trabalhou para a reclamada de 10/12/2005 até 23/09/2007, na função de serviços gerais; que exerceu a mesma função que a reclamante; que residiam em Monte Alegre de Minas e trabalhavam em uma propriedade rural;... que às vezes havia banheiros instalados nas lavouras e outras vezes, não; que isto ocorria porque às vezes o local de trabalho era alterado e os banheiros não eram levados para o outro local, ocasião em que tinham fazer suas necessidade fisiológicas "no mato"; que o mesmo ocorria com as barracas montadas para local de alimentação, podendo ocorrer também de nem todos ficarem acomodados nas referidas barracas; que as barracas não forneciam proteção adequada em casos de poeira e chuvas." (fls grifei) Insta salientar que a preocupação com a saúde e segurança do trabalhador no Brasil, motivou o legislador constituinte a alçar em nível constitucional as normas de saúde, higiene e segurança do trabalho, obrigando o patrão a adotar medidas tendentes a garantir a execução dessas

5 normas. Na situação presente, não há dúvidas de que a reclamante sofria constrangimentos quando necessitava fazer as suas necessidades fisiológicas "no mato" e que tal situação fere a dignidade humana. Não se trata de julgamento por presunção, como afirma a reclamada. Deve ser rechaçada, ainda, a alegação de que o julgador de origem não observou os limites da lide. Na inicial a autora disse que a reclamada não fornecia banheiros e barracas para alimentação nas zonas de trabalho. No decorrer da instrução, comprovou-se que nem sempre referidos equipamentos era desmontados e levados para as novas áreas de trabalho. E mais, a reclamada comprovou que adquiriu equipamentos através das notas fiscais supramencionadas somente a partir de junho de Assim, o deferimento da indenização por danos morais, considerando o período de 6 meses sem fornecimento de condições de higiene e saúde para o trabalhador, não extrapola os limites da lide. Assim, comprovado o erro de conduta do empregador ao permitir tal situação vexatória, sem qualquer preocupação com os princípios básicos de higiene que deveria proporcionar, o deferimento da indenização por danos morais é medida que se impõe. Nego provimento. CESTAS BÁSICAS Argumenta a recorrente que é induvidoso na prova colhida o fato de que os cartões representam os comparecimentos e faltas da obreira e correção dos descontos das cestas básicas. Salienta que os atestados apresentados pela autora ou foram entregues com atraso ou não continham o CID da doença, o que os descaracteriza para o fim que se destina. Alega que a reclamante não apontou em quais momentos lhe foram negadas as cestas, razão maior para o indeferimento. Afirma que na própria relação de entrega das cestas básicas se encontra consignado ao trabalhador as condições para a entrega das cestas.

6 Na sentença foi deferida a indenização no valor de R$80,00 pela cesta básica não fornecida no mês de junho de 2007, tendo considerado o julgador primevo que as duas faltas lançadas nos cartões de ponto foram justificadas através dos atestados de fls.148/149. Nota-se que a empresa descontou da autora dois dias no aludido mês a título de faltas, bem como o valor de R$12,00 relativos à cesta básica (fl.199). No entanto, verifica-se que a reclamada juntou os recibos de entrega das cestas básicas, não impugnados pela autora, nos quais consta o nome da reclamante de maio de 2006 a julho de 2007, ou seja, a reclamante assinou ter recebido a referida cesta no mês de junho de 2007 (fl. 225). Vale o registro que consta do recibo de entrega de junho de 2007, a autorização do trabalhador para efetuar o desconto de R$12,00 na hipótese de duas faltas "...e nenhum atestado médico". Como o pedido não foi de devolução do valor descontado a título de cestas básicas indevidamente, mas de pagamento pelo não fornecimento (inicial, letra "g", fl.27), não há como prosperar a condenação neste pertinente. Dou provimento ao recurso para excluir da condenação a indenização pela cesta básica de junho de 2007 no valor de R$80,00. MULTA DO ART. 477 DA CLT Alega a recorrente que o pagamento das verbas rescisórias foi feito dentro do prazo legal. Aduz que a reclamante se insurge contra o valor pago sem, contudo, apontar qualquer incorreção. Por argumentar, sustenta que a lei preceitua o atraso no pagamento e não na homologação. A reclamante foi pré-avisada de sua dispensa em , conforme comunicação à fl. 210 e o aviso foi trabalhado. As verbas rescisórias foram quitadas mediante depósito bancário na conta corrente da autor, no valor constante do TRCT de fl. 209, em , conforme comprovante à fl. 214.

7 Como o aviso prévio foi trabalhado, as parcelas rescisórias foram quitadas com observância do prazo previsto no art. 477, parágrafo 6º, alínea "a", da CLT. A homologação da rescisão contratual se deu somente no dia Sabe-se, entretanto, ser a quitação rescisória um ato complexo, que envolve, também, a entrega das guias do TRCT para levantamento do FGTS depositado, bem como das guias CD/SD, para fins de obtenção do benefício do seguro-desemprego. Portanto, a homologação da rescisão contratual é parte integrante da quitação final do contrato de trabalho e deve ser feita dentro do prazo previsto no parágrafo 6º do art. 477 da CLT. Assim, ainda que a quitação das verbas resilitórias tenha ocorrido dentro do prazo legal, mas sem a correspondente homologação do termo rescisório, o que veio a acontecer somente em 08/12/2008 e, ainda, não logrando a reclamada comprovar que tal atraso se dera por agendamento unilateral do sindicato profissional, devida se torna a multa pleiteada. Nego provimento. CONCLUSÃO Pelo exposto, conheço do recurso e, no mérito, DOU-LHE PROVIMENTO PARCIAL para excluir da condenação a indenização pela cesta básica de junho de 2007 no valor de R$80,00. Reduzo o valor da condenação para R$3.900,00 com custas de R$78,00. Fundamentos pelos quais, O Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região, por sua Segunda Turma, unanimemente, conheceu do recurso; por maioria de votos, vencido, em parte, o Exmo. Juiz Revisor, deu-lhe provimento parcial para excluir da condenação a indenização pela cesta básica de junho de 2007, no valor de R$80,00. Reduzido o valor da condenação para R$3.900,00, com custas de R$78,00.

8 Belo Horizonte, 07 de julho de SABRINA DE FARIA FRÓES LEÃO Juíza Relatora Convocada