Gabinete do Desembargador Gilberto Marques Filho AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) R E L A T Ó R I O

Transcrição

1 AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) Comarca : GOIÂNIA Agravante : ESTADO DE GOIÁS Agravado : BV FINANCEIRA S/A Relator : Des. Gilberto Marques Filho R E L A T Ó R I O ESTADO DE GOIÁS, inconformado com a decisão prolatada por ocasião do julgamento do recurso de apelação por ele interposto em face da sentença proferida nos autos da Ação Anulatória proposta em seu desfavor por BV FINANCEIRA S/A, interpõe Agravo Regimental. se dado monocraticamente. De início, questiona o fato de o julgamento do apelo ter Em seguida, repete os argumentos invocados por ocasião do recurso originário, quais sejam: a nulidade da sentença por afronta aos artigos 128 c/c 267, IV á VI e 3º, 282, III e 460 do CPC, a correta motivação da decisão via da qual a multa foi imposta, a ilegalidade da imputação da tarifa de emissão do boleto ao consumidor, e a proporcionalidade da penalidade. Ao final, pede que seja reconsiderado o decisum

2 2 agravado e, em não sendo possível, que o regimental seja submetido à apreciação pelo órgão colegiado, a fim de que seja provido, com o consequente julgamento da matéria de fundo da apelação. Pugna ainda pelo prequestionamento dos dispositivos legais invocados no recurso. É o relatório. V O T O admissibilidade do recurso, dele conheço. Presentes os pressupostos objetivos e subjetivos de Busca o insurgente a reforma da decisão que, por ocasião do julgamento do recurso de apelação por ele interposto, deu parcial provimento ao mesmo. Inicialmente, irresigna-se com o fato de o apelo ter sido julgado monocraticamente. Aduz que a matéria em debate não se adequa ao disposto no caput e 1º-A do art. 557 do CPC. Razão não assiste a ele. Como bem delineado na decisão combatida, as matérias defendidas pelo recorrente em sede de apelação, que foram julgadas improcedentes, assim o foram, uma vez que divergem do entendimento jurisprudencial dominante do nosso Egrégio Tribunal de Justiça. Relativamente aos demais argumentos invocados pelo agravante, reiteração dos alegados no apelo, inadmissível a acolhida da pretensão recursal, devendo ser mantida a decisão ora agravada, por seus fundamentos, os quais são adotados como razão de decidir, pelo que seguem adiante transcritos:

3 3 Preliminarmente, o apelante argui a nulidade do decisum guerreado, sob o argumento de que, ao reconhecer, de ofício, a incompetência dos agentes públicos que proferiram as decisões no processo administrativo, o julgador extrapolou os limites da lide, em manifesta afronta aos artigos 128 e 460 do CPC. Isto porque, segundo ele, a questão envolvida nos autos é de cunho eminentemente patrimonial, pelo que deve prevalecer o princípio do dispositivo, cabendo apenas às partes suscitar a questão reconhecida oficiosamente pelo magistrado. Razão não assiste a ele. Explico. O processo administrativo é regido por princípios comuns ao processo judicial, bem assim, por princípios próprios. Dentre aqueles, pode-se mencionar o do devido processo legal, previsto no art. 5º, LIV da CF, do qual extraem-se vários outros. A exemplo, o princípio do juiz natural, disposto no inciso LIII do mencionado dispositivo, segundo o qual ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Do exposto, conclui-se que a competência figura dentre os requisitos necessários ao ato administrativo, sendo que a sua inobservância pode levar à invalidação, ilegalidade ou à possibilidade de sua anulação pelo Poder Judiciário. É o que se deu no caso dos autos, porquanto, como bem observou o julgador da instância singela, as decisões exaradas no processo administrativo foram proferidas por agentes incompetentes para o ato, pois, consoante tem entendido a Corte de Justiça goiana, a competência para decidir recurso administrativo é indelegável, cabendo ao ilustre Secretário da Segurança Pública e Justiça do Estado de Goiás, e não ao Superintendente do órgão, como se deu no caso em apreço. Ilustro: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA. MULTA DO PROCON. PROCESSO ADMINISTRATIVO. RECURSO. DELEGAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. INCOMPETÊNCIA DA AUTORIDADE JULGADORA. MANUTENÇÃO DOS HONORÁRIOS. INEXISTÊNCIA DE EXCESSO. I - IMPERIOSA A ANULAÇÃO DE MULTA PECUNIÁRIA IMPOSTA PELO PROCON QUANDO INFRINGIDO O DEVIDO PROCESSO LEGAL EM FACE DA INCOMPETÊNCIA DA AUTORIDADE QUE PROFERIU A DECISÃO NO RECURSO ADMINISTRATIVO. II - A COMPETÊNCIA PARA DECIDIR RECURSO ADMINISTRATIVO É INDELEGÁVEL, NOS TERMOS DO ART. 13, II DA LEI N /2001, PORTANTO, CABIA AO SECRETÁRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA E JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS, O JULGAMENTO DO RECURSO ADMINISTRATIVO. III - MANTÉM-SE A FIXAÇÃO DO VALOR ATRIBUÍDO À VERBA HONORÁRIA QUANDO OBSERVADAS AS DISPOSICÕES DO 4, ART. 20 DO CPC. APELO CONHECIDO E IMPROVIDO. (AC /188,

4 4 DES. WALTER CARLOS LEMES, DJ 579 de 17/05/2010) Grifei A despeito da ausência de fundamentação e de pedido dos litigantes no sentido de se reconhecer o mencionado vício, impende anotar que se trata de incompetência absoluta, cognoscível de ofício, dado seu caráter de norma cogente que visa resguardar o interesse público. À propósito, colaciono o seguinte precedente: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. IMÓVEL. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. COMPETÊNCIA ABSOLUTA. 1. Versando o feito sobre reintegração de posse decorrente de aventado descumprimento contratual, o foro competente é o do local onde se encontra o imóvel, em conformidade com o disposto no art. 95 do Código de Processo Civil. 2. A incompetência absoluta, por ser matéria de ordem pública, pode ser reconhecida de ofício em qualquer grau de jurisdição, ficando anulados todos os atos praticados pelo juízo incompetente. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA RECONHECIDA DE OFÍCIO. DECISÃO CASSADA. RECURSO PREJUDICADO. (AI , DES. LEOBINO VALENTE CHAVES, DJ 749 de 31/01/2011) Grifei Desta feita, agiu bem o magistrado a quo em reconhecer a nulidade do processo administrativo em tela e, consequentemente, da multa aplicada, não merecendo reparos o decisum, quanto a este aspecto. Por consectário, resta prejudicada a análise das questões de mérito invocadas pelo recorrente. Apenas no que tange à insurgência relativa à minoração do quantum arbitrado a título de honorários advocatícios é exitosa a pretensão do apelante. De fato, a quantia de R$ 1.800,00 (um mil e oitocentos reais) não atende ao disposto no art. 20, 4º do CPC, tampouco ao que preceituam os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, pelo que entendo necessária a sua redução, e fixo-a em R$ 850,00 (oitocentos e cinquenta reais). Por fim, quanto ao pretendido prequestionamento, registre-se que o julgador não tem o dever de abordar especificamente todos os argumentos delineados pelas partes, tampouco os dispositivos legais e constitucionais invocados como alicerce do direito que alegam, mas, tão-somente, julgar a causa, compondo a lide. Inquestionável, portanto, que o prequestionamento necessário ao ingresso nas instâncias especial e extraordinária não exige que o acórdão recorrido mencione expressamente os artigos indicados pelas partes, sendo certo que a exigência refere-se ao conteúdo, não à forma. ANTE O EXPOSTO, nos termos do disposto no art. 557, caput e 1º-A,

5 5 do Código de Processo Civil, dou parcial provimento ao recurso, apenas para, em reforma à sentença, reduzir o quantum arbitrado a título de honorários advocatícios, fixando-o em R$ 850,00 (oitocentos e cinquenta reais), mantendo-a incólume em seus ulteriores termos, pelos fatos e fundamentos acima delineados. Com efeito, não merece censura a decisão recorrida, posto que se encontra em perfeita sintonia com os entendimentos jurisprudenciais acima declinados, devendo, pois, ser mantida, sobretudo ante a ausência de fatos novos a ensejar sua modificação. Por fim, quanto ao pretendido prequestionamento, registre-se que o julgador não tem o dever de abordar especificamente todos os argumentos delineados pelas partes, tampouco os dispositivos legais e constitucionais invocados como alicerce do direito que alegam, mas, tão-somente, julgar a causa, compondo a lide. Inquestionável, portanto, que o prequestionamento necessário ao ingresso nas instâncias especial e extraordinária não exige que o acórdão recorrido mencione expressamente os artigos indicados pelas partes, sendo certo que a exigência refere-se ao conteúdo, não à forma. PELO EXPOSTO, conheço do recurso, e nego-lhe provimento, para manter a decisão agravada, e submetê-lo à apreciação do órgão colegiado. É o voto. Goiânia, 01º de março de GILBERTO MARQUES FILHO Relator

6 6 AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) Comarca : GOIÂNIA Agravante : ESTADO DE GOIÁS Agravado : BV FINANCEIRA S/A Relator : Des. Gilberto Marques Filho EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA. MULTA PROCON. PROCESSO ADMINISTRATIVO. RECURSO. DELEGAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. COGNOSCÍVEL DE OFÍCIO. AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO QUE DÁ PARCIAL PROVIMENTO A RECURSO DE APELAÇÃO. JULGAMENTO COM BASE NO ART. 557, CAPUT, CPC. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS NOVOS. DECISÃO MANTIDA. 1- A competência figura dentre os requisitos necessários ao ato administrativo, sendo que a sua inobservância pode levar à invalidação, ilegalidade ou à possibilidade de sua anulação pelo Poder Judiciário. In casu, as decisões exaradas no processo administrativo foram proferidas por agentes incompetentes para o ato, posto que a competência para decidir recurso administrativo é indelegável, cabendo ao ilustre Secretário da Segurança Pública e Justiça do Estado de Goiás, e não ao Superintendente do Procon. 2- A incompetência absoluta é matéria cognoscível de ofício. Tem caráter de norma

7 7 cogente que visa resguardar o interesse público. 3- É perfeitamente admissível o julgamento monocrático, quando o recurso estiver em confronto com jurisprudência dominante do respectivo Tribunal, como ocorreu na espécie. 4- Impõe-se o desprovimento do agravo regimental que, preocupando-se, tão somente, em renovar a discussão ocorrida por intermédio do recurso de apelação, deixa de trazer novos fundamentos, não logrando êxito em modificar a convicção do julgador. Agravo Regimental conhecido e desprovido. A C Ó R D Ã O VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Agravo Regimental na Apelação Cível nº , da Comarca de Goiânia. ACORDA o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, em sessão pelos integrantes da Primeira Turma Julgadora da Quarta Câmara Cível, à unanimidade de votos, em conhecer e desprover o recurso, nos termos do voto do relator. VOTARAM com o relator o Des. Carlos Escher e o Des. Kisleu Dias Maciel Filho. Presidiu a sessão o Des. Kisleu Dias Maciel Filho. Presente o Dr. Wellington de Oliveira Costa, Procurador de Justiça. Goiânia, 01º de março de GILBERTO MARQUES FILHO Relator