Senhoras e Senhores Deputados,

Transcrição

1 DISCURSO PROFERIDO PELO DEPUTADO MÁRIO HERINGER (PDT/MG), NA SESSÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, EM 26/01/2006. Senhor Presidente Senhoras e Senhores Deputados, O governo está concedendo crédito, por intermédio de financiamento pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal, com garantia do Proger (Programa de Geração de Emprego e Renda) para que os professores do ensino fundamental ou médio das redes pública e privada possam investir em equipamento de informática, até agora ainda um sonho e um luxo para a maioria dos docentes do Brasil. O limite de crédito é de até R$ 3 mil, com taxa de juros de 3% ao ano mais a correção da TJLP e prazo de financiamento de 36 meses, sem carência. Essa é uma medida louvável que eu já venho defendendo há muito tempo no interesse da educação 1

2 pública. Tenho instado com o Ministério da Educação e outros órgãos do governo para que tomassem essa iniciativa, porque acredito no potencial do professor como agente impulsionador do progresso e do desenvolvimento. O computador é hoje uma ferramenta de trabalho indispensável para o professor. Com ele o professor pode pesquisar, acessar informações, contactar a escola, os alunos, os pais, elaborar seus trabalhos e passar informações à secretaria, com grande economia de tempo, podendo então dedicar-se à pesquisa e estudos. Não só o computador, mas também os periféricos como impressora, scanner e também uma linha telefônica para o acesso à internet. E é de suma importância que o governo não só financie esses dispositivos, mas também que possibilite sua renovação com freqüência, para que os mestres possam atualizar suas máquinas que estão em constante evolução. Nesse momento, o financiamento da Caixa Econômica Federal pode chegar a 90% do valor do equipamento, limitado a R$ 3 mil, com prazo para pagamento de até 18 meses, sem carência. Infelizmente a Caixa está exigindo que o professor tenha renda de até R$ 2 mil mensais. Esse é um critério meio surrealista, uma vez que a maioria dos 2

3 professores das escolas públicas têm proventos muito abaixo dessa faixa. Existem mesmo professores que necessitam de complementação em seus salários para não ficar abaixo do salário mínimo. E essa faixa enorme de professores com baixa renda vai ficar fora mais uma vez da possibilidade de adquirir seu primeiro computador. Também é um pouco exorbitante a exigência de ser correntista do Banco do Brasil para obter o financiamento. Imagine, Senhor Presidente, o professor tendo de abrir conta no Banco do Brasil, tendo de se submeter a critérios ainda mais exorbitantes para abrir conta. Se o benefício é para professor da escola pública, é muito fácil para a Caixa e o Banco do Brasil cobrar as prestações direto na folha de pagamento, possibilitando ainda mais a diminuição da taxa de juros, não importando o banco com o qual a instituição trabalhe. Só isso já vai eliminar muitos professores desse programa. Infelizmente, quem planejou esse financiamento não está conhecendo a realidade de nossos professores, o transtorno que é ter de abrir uma conta no Banco do Brasil, submeter-se a novos critérios, nem sempre racionais e nos quais, muito raramente um professor de escola pública se encaixa. 3

4 De qualquer maneira, essa é uma medida inteligente, que merece elogio. É ainda um pouco tímida, mas é muito bom ver que o professor, geralmente tão esquecido e cada vez mais desprezado, está sendo lembrado nas políticas públicas de incentivo. Não há como valorizar a educação sem valorizar o professor. Todo investimento feito nesse profissional certamente redundará em melhoria no ensino das crianças e jovens do nosso país. Por outro lado, Senhor Presidente, sob o pretexto de se adequarem a determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB, que exige que pelo menos um terço dos professores tenham regime integral, muitas instituições de ensino superior estão demitindo professores ou exigindo que eles assinem termo em que consentem com a redução de seus salários. A PUC de São Paulo deve demitir 87 professores em fevereiro; a Universidade Luterana do Brasil, no Rio Grande do Sul exige que os professores concordem com a redução da ordem de 16% no salário para não demitir; a Universidade Paulista do DF demitiu 70 docentes de dezembro para cá e a Universidade Católica de Brasília mandou para a rua 82 professores; a Faculdade Ibirapuera mandou embora 250 de 720 professores; a Unicor, de Três Corações (MG) demitiu

5 Senhor Presidente, seria bom refletirmos: em que pensam os donos das instituições de ensino superior no Brasil? Eles demitem professores com o pretexto de cumprir a lei, para contratar outros pela metade do salário sem se preocupar com a qualidade do ensino. As mensalidades não param de aumentar, os protestos dos alunos são constantes, como vemos a cada dia na imprensa anunciado para toda a nação. Embora a procura pelas instituições particulares tenha crescido 97% nos últimos anos, sobram demissões de professores. Em vez de contratar, as instituições estão demitindo. Isso sem falar nos constantes atrasos no pagamento que muitas faculdades e universidades vêm praticando. Ora, Senhor Presidente, nesse momento em que a maior necessidade do Brasil é de educação para os jovens, com um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo. Estamos vivendo num momento em que precisamos formar mão-de-obra qualificada para atrair investimentos. No entanto estamos vendo os donos das escolas demitir professores, o principal motor do processo de ensino-aprendizagem. Alguma coisa está errada nessa lógica. Alguma coisa tem de ser feita para impedir esse derrame de professores praticado pelas universidades 5

6 particulares, bem como a diminuição ilegal de rendimentos. De que valem estruturas portentosas, prédios majestosos e imponentes como esses que nós vemos cada dia espalhados pelas cidades. Vamos apelar para os mantenedores dessas instituições tão importantes para a educação no Brasil para que se sensibilizem. Existe como aproveitar os professores sem demiti-los, mesmo com a adequação à exigência da LDB de ter pelo menos um terço em regime integral. É possível dividir turmas, pois existem salas lotadas de alunos. Além disso, sempre é possível abrir novas turmas, oferecer monitoria, acompanhamento e tantas outras alternativas melhores do que a demissão simplesmente. Sempre será oportuno e necessário oferecer melhor atendimento em laboratório ou outras atividades de pesquisa e extensão. Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente. Sala das Sessões, em de janeiro de Deputado MÁRIO HERINGER PDT/MG 6