SÍNDROME DA RESPIRAÇÃO BUCAL EM ADOLESCENTES: ESTUDO SÉRIE DE CASOS.
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- Ana Beatriz Guimarães Jardim
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1 INSTITUTO MATERNO-INFANTIL DE PERNAMBUCO (IMIP) PROGRAMA DE MESTRADO EM SAÚDE MATERNO INFANTIL SÍNDROME DA RESPIRAÇÃO BUCAL EM ADOLESCENTES: ESTUDO SÉRIE DE CASOS. CONCIANA DUARTE MONTE RECIFE
2 SÍNDROME DA RESPIRAÇÃO BUCAL EM ADOLESCENTES: ESTUDO SÉRIE DE CASOS. DISSERTAÇÃO APRESENTADA BANCA EXAMINADORA DO CURSO DE MESTRADO EM SAÚDE MATERNO INFANTIL DO INSTITUTO MATERNO- INFANTIL DE PERNAMBUCO COMO PARTE DOS REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DE GRAU DE MESTRE EM SAÚDE MATERNO INFANTIL. ORIENTADOR: Prof. Dr. JOSÉ EULÁLIO CABRAL FILHO CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. CARLOS MURILO AMORIM DE BRITTO RECIFE 2004
3 DEDICATÓRIA Esta dissertação é dedicada a: A essência da minha família, meus pais Fausto Duarte Cabral e Mireile de O Guedes Cabral, minhas irmãs Ceres Almeida e Cecile Cabral, meu marido Bruno Monte, meu cunhado Brivaldo Almeida e meu filho Bruno. Cada um deles com sua contribuição valiosa: Meus pais, meus ídolos e grandes amigos, procurando incentivar a busca do conhecimento através do aperfeiçoamento da profissão. Minha irmã, Ceres minha grande amiga, por fazer despertar a importância do mestrado na minha carreira acadêmica. E pela contribuição através dos seus conhecimentos como mestra e apoio incondicional em tudo da minha vida. Minha irmã, Cecile, pelos conhecimentos na área de fisioterapia e por estar presente em minha vida. Meu marido, Bruno, por ter contribuído para mais esta etapa de minha vida e entender a minha ausência em alguns momentos.
4 Meu cunhado, Brivaldo, pelo seu temperamento prestativo e amigo. Meu querido, Bruno Filho, que esteve presente no período mais importante da minha vida, proporcionando alegrias na conclusão desta pesquisa.
5 AGRADECIMENTOS
6 AGRADECIMENTOS A Deus, por ser um espírito de luz na minha vida. Ao IMIP pela viabilidade da realização deste sonho profissional ser alcançado. Ao meu Orientador, Prof. José Eulálio Cabral Filho, por acreditar nesse estudo e com seus sábios conhecimentos ter contribuído para sua finalização. Ao meu co-orientador, Prof. Murilo Amorim Britto, por contribuir com grandes sugestões na metodologia. Aos pacientes e responsáveis, pois a sua participação foi imprescindível. A Dra. Tânia Moísa Marinho, por ter contribuído de forma substancial, encaminhado os indivíduos com SRB para o ambulatório de fonoaudiologia. A minha amiga Lúcia Salerno pela alegria e atuação especialmente recebidas, o que me fez sentir uma profunda admiração revertida em amizade verdadeira. A minha amiga e colega de trabalho Cleide Teixeira pelo incentivo e apoio na realização deste curso. As estagiárias Taciana, Mirella, Bábara e Márcia por suprir a minha ausência nas avaliações auditivas.
7 A funcionária do Ambulatório Especializado Marlene Rosendo pela colaboração na marcação dos adolescentes. A secretária do mestrado Odimeres Oliveira da Silva, pela paciência e compreensão nos momentos difíceis. Ao Prof. Manoel Costa, por permitir a realização deste estudo no laboratório de ed.física da UPE. A Profa. Terezinha Lima, por contribuir com seus conhecimentos. Aos secretários do Laboratório de Educação Física da UPE, Nídia e Eduardo, pela paciência com os adolescentes ao realizarem os exames. A Dra. Dione do Valle, pelas discussões durante a elaboração dos primórdios objetivos deste estudo. A Dra. Niedje Fiqueira de Lima, pelo esforço para servir, nos momentos difíceis, comprovando o grande valor do seu caráter. Aos estatísticos Prof. Natal Figuerôa e Prof Edimilson Mazza pelas análises estatísticas. Aos colegas de turma e ao corpo docente do Mestrado em Saúde Materno Infantil do IMIP, pelo companheirismo e conhecimentos transmitidos.
8 SUMÁRIO Página LISTA DE TABELAS LISTA DAS ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS RESUMO ABSTRACT I. INTRODUÇÃO 02 II. OBJETIVOS Geral Específicos 14 III. MÉTODOS Local do estudo Desenho do estudo População do estudo Período do estudo Critérios e procedimentos para a seleção de sujeitos Variáveis estudadas Definição dos termos e variáveis Técnicas, testes, exames e procedimentos Processamento e análise de dados Revisão bibliográfica Aspectos éticos 27 IV. RESULTADOS 29 V. DISCUSSÃO 37 VI. RECOMENDAÇÕES 45 VII. CONCLUSÕES 47 VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 49 ANEXOS 60
9
10 viii LISTA DE TABELAS Página Tabela 1. Distribuição de adolescentes com SRB de acordo com 29 avaliações espirométricas, telerradiográficas e postural. Tabela 2. Distribuição de adolescentes com SRB segundo discrepância 30 do padrão facial avaliado pela altura facial ântero-inferior. Tabela 3. Distribuição dos adolescentes com SRB conforme alterações 31 posturais. Tabela 4. Valores percentuais médios em relação ao padrão das medidas 32 espirométricas e telerradiográficas dos adolescentes com SRB. Tabela 5. Valores percentuais médios com relação ao padrão da 32 Capacidade Vital Forçada e Volume Expiratório Forçado conforme altura facial ântero-inferior (leve/moderada e acentuada). Tabela 6. Valores percentuais médios em relação ao padrão da 33 Capacidade Vital Forçada e Volume Expiratório Forçado dos adolescentes com SRB conforme alterações posturais.
11 ix Tabela 7. Valores percentuais médios em relação ao padrão da 34 Capacidade Vital Forçada e do Volume Expiratório Forçado dos adolescentes com SRB conforme a presença de uma ou mais alterações posturais. Tabela 8. Coeficiente de correlação de Pearson entre comprimento 35 efetivo da maxila (Co-A), comprimento efetivo da mandíbula (Co-Gn) e altura facial ântero-inferior (AFAI) com Capacidade Vital Forçada e Volume Expiratório Forçado.
12 ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS x
13 xi ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS SRB CVF VEF AFAI Co-A Síndrome da Respiração Bucal Capacidade Vital Forçada Volume Expiratório Forçado Altura da face ântero-inferior Distância entre os pontos Côndilo (Co) e o ponto mais profundo da concavidade da maxila (A) Co-Gn Distância entre o côndilo (Co) e o gnátio (Gn)
14 xii RESUMO
15 xiii RESUMO OBJETIVOS: Investigar as alterações faciais, posturais e a Capacidade Vital Forçada e Volume Expiratório Forçado em adolescentes com Síndrome da Respiração Bucal (SRB). SUJEITOS E MÉTODOS: foi realizado um estudo descritivo do tipo série de casos com 31 adolescentes apresentando Síndrome da Respiração Bucal (SRB) na faixa etária de 13 a 18 anos. Realizaram avaliação telerradiográficas e espirométrica para a obtenção dos valores das seguintes variáveis Altura da face ântero-inferior (AFAI), Comprimento efetivo da maxila (Co-A) e Comprimento efetivo da mandíbula (Co-Gn), Capacidade Vital Forçada (CVF), Volume Expiratório Forçado (VEF), bem como a avaliação postural por computador. RESULTADOS: Dos 31 adolescentes iniciais, 24 realizaram a avaliação telerradiográfica, 26 a avaliação espirométrica e 20 a avaliação postural. Na telerradiografia 16 apresentaram alteração da AFAI de grau acentuado, sete de grau leve/moderado e um foi normal. Todos os pacientes tinham alteração postural (hipercifose, hiperlordose, escoliose e protusão abdominal). A maior incidência foi de protusão abdominal. Não foi observada diferença nos dados espirométricos (CVF e VEF) entre os padrões de AFAI nem em relação à postura.
16 xiv CONCLUSÕES: 1. Adolescentes com SRB apresentam alterações posturais, tipo protusão abdominal, escoliose, hipercifose e hiperlordose, em geral múltiplas; 2. A função respiratória não está comprometida no respirador bucal em esforço leve; 3. Não há relação entre alteração do padrão facial com a capacidade vital forçada ou com o volume expiratório forçado; 4. Não há relação entre alterações posturais com a capacidade vital forçada ou com o volume expiratório forçado. PALAVRAS-CHAVES: respiração bucal, postura, adolescentes, espirometria, face.
17 xv ABSTRACT
18 xvi ABSTRACT OBJECTIVE: The investigate alterations in the face, posture, forced vital capacity and forced expiratory volume of adolescents. SUBJECTS AND METHODS: This is a case series study including 31 adolescents suffering Breathing Mouth Syndrome (BMS) aged 13 to 18 years. Telerradiography, spirometric, lower anterior facial height and posture evaluation by computer were performed. RESULTS: Although 31 patients have been included at begin of the study, only 24 were submitted to teleradiographic examination, 26 to spirometric evaluation and 20 to posture evaluation. Twenty-three patients presented lower anterior facial height alterations (16 intense, 7 light/moderate degree). Twenty patients presented posture alterations (abdomen protusion, scoliosis, hipercyphosis and hiperlordosis), abdomen protusion being the more frequent. There was no difference in spirometric values between upper anterior facial height degrees (light and light/moderate). There was no difference in spirometric values of forced vital capacity or forced breathing volume among postures as well. CONCLUSIONS: 1. Adolescents suffering mouth-breathing syndrome have posture alteration such as abdomen protusion, scoliosis, hipercyphosis and
19 xvii hiperlordosis. As a rule they are multiple. 2. In mouth breathing individuals, respiratory function is not disturbed. 3. There is no a relationship between face alterations and forced vital capacity or forced breathing volume. 4. There is no relationship among posture alterations and forced vital capacity or forced breathing volume. Key words: mouth breathing; posture; adolescents; spirometry; face.
20 1 INTRODUÇÃO
21 2 I. INTRODUÇÃO Considera-se atualmente, que a normalidade da função nasorespiratória é um importante estímulo, entre outros, do crescimento e desenvolvimento facial normal. Caso esta função seja prejudicada, poderão acontecer desequilíbrios entre vários componentes morfo-funcionais e neuro-musculares provocando conseqüentemente alterações faciais e posturais. Uma das situações nas quais a função respiratória é prejudicada é Síndrome da Respiração Bucal. Pode-se afirmar que, dentre as patologias respiratórias, a Síndrome da Respiração Bucal (SRB) figura como de grande importância não só pelas perturbações funcionais do sistema respiratório que causam ao indivíduo, como pelas conseqüências deletérias para outros sistemas orgânicos (estruturas ósseas da face e do tronco) (Freitas et al., 2001). Trata-se de uma condição patológica crônica na qual o indivíduo respira predominantemente pela boca e que provoca alterações morfofuncionais no organismo (Petrelli, 1992; Carvalho, 1996). Ainda que importante devido à natureza dos sintomas que provocam no indivíduo não existem ao nosso conhecimento, informações sobre prevalência desta síndrome em populações de adolescentes conforme revisão em várias bases de dados.
22 3 Normalmente, esta síndrome ocorre devido a processos obstrutivos na região das vias aéreas superiores que pode instalar-se por vários motivos como, edema da mucosa nasal, pólipos nasais, hipertrofia de cornetos, rinite alérgica, hipertrofia de adenóide, aumento das amígdalas palatinas e desvio de septo (Marchesan, 1998; Prates, 1997 e Freitas et al., 2001). No entanto, considera-se que a hipertrofia de adenóide é a principal causa da respiração bucal (Freitas et al., 2001; Prates et al., 1997). Evidências de muitos estudos, indicam que pessoas com este modo respiratório inadequado apresentam características estruturais e funcionais específicas, tais como: lábios entreabertos, protusão da arcada dentária superior, mordida cruzada, mordida aberta anterior, respiração oral crônica, deglutição atípica, infecções repetitivas das vias aéreas superiores, olhos inclinados para baixo e olheiras (dando-lhes um aspecto facial de tristeza) (Carvalho, 1996; Ricketts, 1968; Prates et al., 1997; Petrelli, 1992 e Faria et al., 2002). Além destas, podemos citar alterações de comportamento como irritação, desatenção, ansiedade, impaciência, medo de realizar tarefas, depressão, sono agitado e claustrofóbico (Queluz, 2000). Vários autores concordam que a respiração bucal isolada é muito rara sendo mais freqüentemente encontrada a respiração mista: bucal e nasal (Carvalho, 1996 e Segóvia, 1979).
23 4 Para que se possa entender como estas alterações da respiração podem comprometer outros órgãos e estruturas, é importante rever sucintamente a anatomia e a fisiologia do sistema respiratório. Este sistema é um conjunto de órgãos tubulares e alveolares situado na cabeça, pescoço e cavidade torácica. Durante a inspiração o ar entra por sucção, circula pela cavidade nasal, seios paranasais, faringe, laringe, traquéia e brônquios antes de chegar aos pulmões. Um adulto inspira em média 7 litros de ar por minuto e, quando em exercícios físicos intensos, pode inspirar até 100 litros por minuto. O recém-nascido faz 40 inspirações por minuto, a criança de um ano, 24 e o adulto apenas 14. Enquanto a inspiração é um processo ativo, sendo o efeito da ação muscular voluntária e reflexa, a expiração é um processo passivo. A respiração predominantemente nasal além do seu papel fisiológico em relação às trocas gasosas, permite a olfação, condiciona o direcionamento e filtra o ar, auxilia a fala e tem extrema importância no adequado crescimento e desenvolvimento crânio-facial (Queluz, 2000). Em contrapartida, a respiração predominantemente bucal perturba o desenvolvimento normal, não somente da face como também do tronco (Prates et al., 1997). Para o bom funcionamento da respiração nasal é necessário que a boca se feche em algum ponto, anteriormente pelo selamento dos lábios, na
24 5 porção média com o dorso da língua em contato com o palato duro e, posteriormente, pela base da língua com o palato mole. Quando não há o selamento de pelo menos um destes pontos, ocorre flacidez dos músculos da face, o que pode levar a boca a se abrir durante o ato inspiratório, originando assim a respiração bucal (Marchesan, 1998). O hábito deste tipo de respiração, impede que a língua pressione o palato, ocasionando compressão externa da maxila pelo desenvolvimento dos sistemas ósseo e muscular da face. Nesta situação o palato duro apresenta-se ogival e a arcada dentária superior tende a deslocar-se para frente e para dentro, provocando mordida cruzada e outras alterações oclusivas, o que leva à modificação da altura da face ântero-inferior (AFAI) (Cintra et al., 2000). Esta medida corresponde a região que vai do ponto referente a concavidade máxima da maxila até o ponto anterior do mento (McNamara Jr, 1984). Weider et al. (2003), Faria et al. (2002), Bresolin et al. (1983) e Yang et al. (2002) mostraram que a persistência da respiração bucal interfere no padrão de oclusão dentária, por causa do posicionamento errôneo da língua e da mandíbula. Alterações estruturais foram também encontradas por Faria et al. (2002) que em estudo realizado com crianças na faixa etária de sete a 10 anos apresentando respiração bucal verificaram retrusão maxilo-mandibular em relação à base do crânio.
25 6 Em conseqüência da falta de aeração nasal, as pressões e distensões das estruturas que asseguram a correção dos seios maxilares deixam de ocorrer, isto é, o vedamento labial é executado de forma inadequada. Com isso são utilizadas intensamente as partes laterais do músculo orbicular dos lábios, dando a estes uma curvatura para baixo que compromete os grupos musculares do mento, e acarreta constantemente dores no pescoço ou na nuca, bem como alterações osteomusculares da região (Aragão, 1988). Quando há obstrução das vias aéreas superiores por longo período, agravase a mecânica ventilatória e ocorre um desequilíbrio das forças de distensão e contração dos músculos da porção inferior da face (principalmente o orbicular e o bucinador), provocando disfunções temporomandibulares. Para que o padrão respiratório aconteça de modo funcionalmente apropriado, é imprescindível que durante a infância sejam eliminados hábitos errôneos, adquiridos, os quais estão diretamente relacionados com sucção de chupeta, de mamadeira, do dedo polegar e da falta de aleitamento materno e, contribuem para deformações do palato, com o conseqüente desencadeamento da respiração bucal (Prates et al., 1997). Devido à forma anatômica do bico da mamadeira, a criança apresenta dificuldade para respirar pelo nariz, o que difere do ato da amamentação, pois nesta a sucção do leite ocorre quando o mamilo encontra-se entre os rebordos gengivais. De fato, ao realizar a sucção no peito, a mandíbula é posicionada para
26 7 frente, função esta auxiliada pelos músculos pterigóideos externos, exercendo estimulação dos côndilos mandibulares e levando à estimulação da musculatura da face. Isto proporciona o desenvolvimento adequado das estruturas do sistema estomatognático e favorece a respiração nasal (Aragão, 1988). Devido às alterações citadas, a musculatura e as estruturas esqueléticas faciais apresentam também modificações. É preciso salientar que, mesmo após tratamento cirúrgico que desobstrua as vias aéreas superiores, faz-se necessário um tratamento fisioterápico para reeducação muscular e postural, um tratamento ortodôntico e ortopédico bem como, paralelamente, terapia fonoaudiológica a fim de estabelecer padrões ideais do sistema estomatognático, recuperando suas funções e evitando recidiva. Além das assimetrias faciais citadas, a respiração inadequada acarreta prejuízos posturais bastante perceptíveis (Marchesan, 1998). É bem conhecido que na ontogênese a formação inicial da coluna vertebral é uma cifose a qual dura todo o período embrionário. Por outro lado a sustentação do corpo surge desde antes do nascimento e continua até os 2 anos de idade, ocorrendo neste período todo um desenvolvimento postural sendo no recém nascido uma lordose cervical, é uma extensão do pescoço aos 3 ou 4 meses e uma lordose lombar entre 12 e 18 meses (Lima, 2001). Durante o desenvolvimento dos indivíduos com respiração normal os
27 8 movimentos da flexão e extensão do tronco garantem a harmonia e o equilíbrio das cadeias musculares antero-posterior e ântero-medial do corpo. Nos casos em que surgem modificações do padrão postural normal, como nos respiradores bucais, a sinergia entre a primeira cadeia e a segunda se desfaz, por causa da inversão do ponto de inserção de alguns músculos, provocando assim uma lordose cervical. Esta desarmonia propicia uma má postura, pois a respiração bucal determina também uma anteriorização da cabeça proveniente das modificações no movimento de flexão que impedem a criação do espaço necessário para articulação entre as duas primeiras vértebras cervicais (Marins, 2001). Conhecendo melhor o desenvolvimento corporal é possível entender as seqüelas possíveis de ocorrer devido à obstrução nasal. Crianças com respiração bucal permanecem com a postura semelhante a menores de 8 anos enquanto que aquelas com respiração nasal, melhoram sua postura corporal após esta idade (Krakauer & Guilherme, 2000). Aragão (1988) e Gomes (1999), mostraram que, os respiradores bucais, a fim de facilitar a chegada do ar aos pulmões, sofrem distorções na postura tais como, flexão do pescoço para frente perdendo a sinuosidade natural. É interessante notar que esta alteração está conjugada a elevação das omoplatas e a depressão da região anterior do tórax, o que produz um perfil muito típico desta síndrome.
28 9 As alterações posturais têm sido fartamente descritas pela literatura, sendo relacionadas a diversas causas, entre elas a SRB. Segundo Lima (2001), tais alterações se originam de hipotonias musculares, distúrbios emocionais e hábitos nocivos adquiridos pela prática de posições corporais (estáticas e dinâmicas) inadequadas. Vários estudos verificaram que crianças ou adultos com respiração bucal apresentam, dentre as alterações posturais mais freqüentes, ombros anteriorizados, escápulas salientes, assimetria torácica, coluna cervical flexionada, hiperlordose, hipercifose e compressão do tórax (Köhler et al., 1995 e Felício, 1999). Devido a tais modificações, o movimento do diafragma se altera, os músculos abdominais tornam-se flácidos e os membros tanto inferiores como superiores assumem uma posição não anatômica comprometendo sua funcionalidade (Krakauer & Guilherme, 2000). Conforme indicam esses autores a harmonia morfo-funcional entre crânio, coluna cervical e sistema estomatognático garante a estabilidade da posição ereta do crânio (ortostática) através de um complexo mecanismo muscular do pescoço e da escápula. O equilíbrio da cabeça depende da sua porção posterior, dos músculos cervicais e suboccipitais, que relacionam o crânio com a coluna vertebral e a cintura escapular (Rahal & Krakauer, 2001). Os demais sistemas, isto é, o sensorial e o dentário também necessitam de uma relação sinérgica da anatomia do tronco em relação ao pescoço (Rolf, 1990). No
29 10 caso de distúrbios do padrão respiratório, esta sinergia é comprometida por causa das transformações das estruturas envolvidas a fim de o organismo se adaptar às exigências do padrão respiratório alterado. Assim, Weber et al. (1981), Bresolin et al. (1983), Kumar et al. (1995) e Wenzel et al. (1983) indicam que o modo respiratório (nasal e/ou oral), pode influenciar indiretamente a morfologia crânio-facial, através da mudança da posição da cabeça, sendo a extensão desta uma das características mais freqüentemente encontradas. A possibilidade desta Síndrome não ser detectada durante a infância, transformando os referidos sintomas em danos permanentes na adolescência, exige uma investigação melhor desta faixa etária. Segundo a OMS, a adolescência é definida cronologicamente pela idade dos 10 aos 20 anos. Nesta faixa etária observa-se que o pico de velocidade do crescimento segue a desaceleração gradual do ganho estatural até a parada de crescimento ao redor dos 15 a 16 anos para meninas e 17 a 18 para os meninos (Marcondes et al., 2002). No presente trabalho a população estudada foi composta por adolescentes. O motivo de escolha da faixa etária de 13 a 18 anos deu-se com o intuito de investigar as alterações posturais já instaladas decorrente da SRB. Se a respiração bucal não for diagnosticada e tratada precocemente os prejuízos posturais poderão transformar-se em deformidade esquelética
30 11 degenerativa provocando graves conseqüências na adolescência (Marins, 2001). Rahal & Krakauer (2001) constataram que a análise de postura corporal é fundamental para que a avaliação das conseqüências provocadas pela respiração bucal seja completa e com isso, se obtenha o diagnóstico preciso. As técnicas usualmente empregadas por fonoaudiólogos e outros profissionais que atuam com esta patologia, são observacionais através de exames clínicos, fotografias e filmagens posicionando o indivíduo em pé e avaliando-o nos planos frontal, sagital e dorsal. Entretanto análise da postura pode ser feita métodos computacionais (Costa et al., 1998). Diante desta apreciação verifica-se que em crianças, há abundante literatura da associação entre problemas estruturais, funcionais e emocionais com a respiração bucal (Bresolin et al., 1983; Faria et al., 2002; Weider et al., 2003). Para solução deste modo respiratório inadequado é necessária não só a remoção dos fatores que a produziram como também a sua reeducação e readaptação da musculatura envolvida visando uma melhor qualidade de vida (Araújo, 1988). O tratamento deverá ser iniciado na infância, pois é nesta fase que a prevenção evitará seqüelas, para os adolescentes com SRB, quando somente a cirurgia ortognática poderá recuperar as estruturas ósseas da face (Bresolin et al. 1983). Embora exista uma vasta literatura abordando separadamente os três grupos de alterações, isto é, alterações faciais, posturais e respiratórias
31 12 produzidas pela respiração bucal, são poucos estudos que investigaram as relações funcionais entre estes fatores, exceto alguns em crianças. Após extensa revisão da literatura nos bancos de dados (VIDE Métodos - item 3.10) entretanto não encontramos trabalhos buscando determinar estas possíveis associações em adolescentes. Em virtude da carência de dados, a relação da função respiratória com essas alterações nos adolescentes com a SRB, precisam ser melhor investigadas. De fato, é possível que nesta população as modificações faciais e posturais associam-se em variações respiratórias. Esta foi à razão que nos levou a investigar as modificações faciais, posturais e funcionais do aparelho respiratório em adolescentes com SRB.
32 13 OBJETIVOS
33 14 II. OBJETIVOS 2.1 GERAL Descrever as alterações faciais, posturais e a expirométricas em adolescentes com Síndrome da Respiração Bucal (SRB). 2.2 ESPECÍFICOS Em adolescentes com Síndrome da Respiração Bucal verificar a associação entre valores espirométricos com: Altura facial ântero-inferior (AFAI) Comprimento efetivo da mandíbula (Co-Gn) Comprimento efetivo da maxila (Co-A) Alterações posturais
34 15 MÉTODOS
35 16 III. MÉTODOS 3.1. LOCAL DO ESTUDO O estudo foi realizado no ambulatório de Adolescente do Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP), localizado na cidade do Recife - Pernambuco. O IMIP é uma instituição de referência Nacional do Ministério da Saúde, no que diz respeito à assistência materno-infantil, e reconhecida pelo Ministério de Educação como Hospital de Ensino. Dispõe de diversas especialidades, entre elas otorrinolaringologia e fonoaudiologia (audiologia, motricidade oral, linguagem e voz). No ambulatório de otorrinolaringologia são realizadas mensalmente cerca de 170 consultas. Quanto às cirurgias de hipertrofia de adenóide, hipertrofia de tonsilas palatinas e desvio de septo, no período de 2001 a 2004 foram realizadas 505 adenoidectomias, 215 amigdalectomias e 119 e septoplastias DESENHO DO ESTUDO Estudo descritivo do tipo série de casos, indicado para esta pesquisa pela disponibilidade apenas de um grupo pequeno de indivíduos portadores de SRB que freqüentaram o ambulatório de pediatria da Instituição.
36 POPULAÇÃO DO ESTUDO Participaram desse estudo 31 adolescentes de ambos os sexos, na faixa etária de 13 a 18 anos apresentando características da SRB. Deste total 24 avaliação telerradiográfica, 26 realizaram avaliação espirométrica e 20 avaliação postural PERÍODO DO ESTUDO O estudo desenvolveu-se durante os meses de janeiro a julho de 3.5. CRITÉRIOS E PROCEDIMENTOS PARA SELEÇÃO DOS SUJEITOS Critérios de Inclusão Síndrome da Respiração Bucal. Faixa etária de 13 a 18 anos. Sexos masculino e feminino Critérios de Exclusão Doenças genéticas, endócrinas e cardiovasculares que interfiram no crescimento e desenvolvimento. Fissuras labiais, palatinas, lábio-palatinas.
37 18 Doenças neurológicas que afetem o crescimento e desenvolvimento. Asma. Doenças ortopédicas congênitas ou traumáticas Procedimentos para a seleção dos sujeitos: Identificação por médico pediatra do indivíduo com SRB, a partir do diagnóstico de distúrbios de vias aéreas superiores e seu encaminhamento ao ambulatório de Fonoaudiologia. Realização da anamnese e avaliação fonoaudiológica (pela pesquisadora) a fim de complementar o diagnóstico da SRB. Esclarecimento aos responsáveis quanto ao objetivo e procedimentos do estudo e solicitação da participação do menor mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO III). Após concordância os pacientes eram encaminhados para realização dos exames específicos desta pesquisa VARIÁVEIS ESTUDADAS Medidas telerradiográficas (mm): Altura facial ântero-inferior (AFAI), Comprimento efetivo da maxila (Co-A) e Comprimento efetivo da mandíbula (Co-Gn).
38 19 Medidas Espirométricas (cm 3 ): Capacidade Vital Forçada (CVF) e Volume Expiratório Forçado (VEF). Alterações Posturais: Hiperlordose, Hipercifose, escoliose e protusão abdominal DEFINIÇÃO DE TERMOS E VARIÁVEIS 1) Síndrome da Respiração Bucal: presença de qualquer obstáculo no sistema respiratório, especialmente na região nasal e/ou faríngea, que ocasiona obstrução nasal, obrigando o indivíduo a utilizar a cavidade bucal como um conduto passivo na respiração caracterizando-se por: face alongada, base do nariz alargada, olheiras (aspecto cansado), estreitamento da arcada superior, do palato e das narinas, alteração de tônus na musculatura dos lábios, aumento das infecções próprias do aparelho respiratório, músculos abdominais flácidos (Marchesan, 1997). 2) Doenças genéticas: são doenças que ocorrem como conseqüência de anomalias hereditárias da estrutura genética e que interfiram no crescimento e desenvolvimento ósseo do indivíduo, tais como, nanismo e Síndrome de Pierre Rubin.
39 20 3) Fissuras labiais, palatinas, lábio-palatina: são fendas decorrentes de malformações congênitas que ocorrem no período embriológico e provocam diversas seqüelas, podendo ocorrer isoladamente (labiais ou palatinas) ou associadas (lábio-palatina) (Lofiego, 1992 e Cardim, 1992). 4) Doenças neurológicas: as que atingem o sistema nervoso central alterando o mecanismo motor ou postural. 5) Asma: condição que se caracteriza por acessos recorrentes de dispnéia, tosse e sensação de constrição por efeito da contração espasmódica dos brônquios. 6) Doenças Ortopédicas Congênitas: doenças caracterizadas por defeitos ósseos ou das articulações adquiridas intra-útero, tais como, pé torto eqüinovaro congênito; pé plano/pé chato; escoliose congênita; joelho varo (genu varum); joelho valgo (genu valgum); torcicolo muscular congênito; luxação congênita do quadril; coxa valga; coxa vara; pé escavado ou pé cavo.
40 21 7) Altura Facial Ântero-inferior - AFAI: (relação maxilo-mandibular) sendo classificada como leve (até 2 mm), moderada (2 5 mm) e acentuada (>5 mm). 8) Comprimento efetivo da maxila - Co-A: distância entre os pontos côndilo (Co) e o ponto mais profundo da concavidade da maxila (A). 9) Comprimento efetivo da mandíbula - Co-Gn: distância entre o côndilo (Co) e o gnátio (Gn). 10) Alterações Posturais: Hiperlordose: aumento do ângulo de inclinação pélvica entre a superfície superior do sacro e a horizontal, ultrapassando 55 0 (Lima, 2001). Hipercifose: aumento anormal da concavidade posterior da região torácica da coluna vertebral. A deformidade pode tomar a forma de uma curva longa com o eixo em T7-T9, de uma cifose com o ápice em T11-T12 ou uma angulação posterior aguda localizada (Lima, 2001).
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