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1 PARECER Nº.: 86/CT/ Exmo. Sr. Conselheiro: Os autos em exame tratam da consulta enunciada pela Ordenadora de Despesas do Fundo Municipal de Previdência Social dos Servidores de Água Boa-MT/AGUAPREV, Sra. Ivania Cezira Volpi Scherer, que solicita manifestação deste Tribunal sobre a legalidade da realização de convênios entre o referido Fundo e o Banco do Brasil, a Associação dos Servidores Públicos de Água Boa-MT/ASPM e a Prefeitura Municipal de Água Boa, para consignação em folha de pagamento de despesas, imputadas ou assumidas pelos servidores ativos, aposentados e pensionistas, oriundas de: contribuições previdenciárias; compras organizadas, via ASPM (mercado, farmácia, posto de combustíveis, etc.) e contribuições de melhoria, taxas e impostos municipais (asfalto, IPTU, entre outras). Às fls. 02-TC consta o Ofício nº 072/2007-ÁGUA PREVI, formalizando a solicitação supra-exposta. Destaca-se que o quesito legitimidade observa o disposto no art. 49, inc. II, da Lei Orgânica do TCE-MT (Lei Complementar nº 269, de 22 de janeiro de 2007), entretanto, a consulta não foi elaborada como preceituam o caput do art. 48 da referida Lei e o art. 216 do Regimento Interno do Tribunal de Contas do Estado/MT (Resolução nº 02/2002), que admitem consultas em tese, caso abstrato. Porém, considerando o parágrafo único do supracitado art. 48, por ser a matéria em tela de relevante interesse público, dos questionamentos formulados, abstrai-se, em tese, o seguinte: 1 - É legal a celebração de convênios sendo uma das partes entidade do Poder Público e a outra instituição financeira, instituto privado ou ente da Administração Direta ou Indireta para realização de consignações compulsórias e facultativas em folha de pagamento de servidores ativos, aposentados e pensionistas, oriundas de: contribuições previdenciárias, compras organizadas, via associação ou sindicato e contribuições de melhoria, taxas e impostos? Ressalta-se que, conforme art. 50 da Lei Complementar deste Tribunal, a decisão em processo de consulta, tomada por maioria de votos, terá força normativa, constituindo prejulgamento de tese a partir de sua publicação e vinculando o exame de feitos sobre o mesmo tema. Assim, destaca-se que este egrégio Tribunal de Contas manifestou-se sobre um prisma da matéria no Acórdão n 260/2004, como segue:

2 - 2 - Pessoal. Convênio. Consignação. Folha de pagamento. Empréstimos pessoais. Possibilidade de celebração, observadas as condições. É possível a celebração de convênio entre o Município e instituições financeiras visando à concessão de empréstimos consignados a servidores efetivos e estáveis, ainda que o parcelamento ultrapasse o término de mandato do gestor, uma vez que não acarreta qualquer ônus financeiro ao Município. No entanto, o Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina em suas Decisões n 2.459/2002 e n 3.280/2002, afirma que: Não encontra amparo legal nem atende ao interesse da coletividade, o Município, por seus Poderes, celebrar convênio com a Caixa Econômica Federal visando à concessão de empréstimos pessoais a servidores públicos municipais com consignação em folha, onde a Prefeitura ou Câmara atua como agente intermediário e desempenha tarefas de entreposto bancário, e especialmente quando o Poder Público municipal assume obrigações de liquidação de empréstimos inadimplidos pelos servidores tomadores de empréstimo, em atentado aos princípios da gestão fiscal responsável preconizados no art. 1º da Lei Complementar nº 101/00. Para reflexão sobre o tema controverso, faz-se necessária a abordagem de alguns conceitos como segue: Para o Direito Administrativo, consignação de vencimentos ou consignação em folha é o ato pelo qual se faz o desconto de determinada importância na folha mensal de pagamento do servidor público civil ou militar, devido a obrigações contraídas com a Administração ou terceiros habilitados. No âmbito federal, o Decreto nº 4.961, de 20 de janeiro de 2004, regulamenta o art. 45 da Lei n 8.112, de 11 de dez embro de 1990, dispondo sobre as consignações em folha de pagamento dos servidores públicos civis, dos aposentados e dos pensionistas da administração direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo da União, dando outras providências. Na esfera estadual, a Lei Complementar n 04, de 15 de outubro de 1990, que dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Públicos da Administração Direta, das Autarquias e das Fundações Públicas do Estado de Mato Grosso, refere-se ao assunto nos seguintes termos: Art. 65 Salvo por imposição legal, ou mandado judicial, nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou provento.

3 - 3-1 Mediante autorização do servidor poderá haver consignação em folha de pagamento a favor de terceiros, ou seja, instituições de previdências, associações, sindicatos, pecúlio, seguros e os demais na forma definida em regulamento instituído pelas associações e sindicatos dos servidores. Regulamentando o supracitado artigo, o Decreto nº de 16 de dezembro de 2004 (DOE: ) e sua alteração, Decreto n de 05 de setembro de 2006 (DOE: ), disciplinam as consignações em folha de pagamento no âmbito da Administração Pública Direta, Autárquica e Fundacional do Poder Executivo do Estado de Mato Grosso, como segue: Art. 2 Somente incidirão descontos na remuneração do servidor por imposição legal, judicial ou administrativa ou, ainda, por sua autorização prévia e formal. Art. 3 Considera-se, para fins deste Decreto: I- consignatária: destinatária dos créditos resultantes das consignações; II- consignante: órgão ou entidade que efetua os descontos em favor da consignatária; III - consignação compulsória: desconto incidente sobre a remuneração do servidor por imposição legal, judicial ou administrativa; IV - consignação facultativa: desconto incidente sobre a remuneração do servidor, mediante sua autorização prévia e formal, e anuência da Administração. Art. 4 Poderão ser consignatárias das consignações facultativas, para fins e efeitos deste Decreto: I- entidade de classes de servidores; II- cooperativas; III- entidades de previdência privada; IV- instituições financeiras; V- instituições de ensino superior; VI- serviços sociais autônomos; VII- entidades administradoras de cartão de crédito; VIII- comércio varegista, exclusivamente do ramo supermercadista. 1 As consignatárias mencionadas no inciso I some nte poderão ser destinatárias de consignações relativas à mensalidades instituídas para seu custeio e à quitação de convênios disponibilizados aos servidores, para aquisição de bens e serviços. 2 As consignatárias mencionadas nos incisos II, III e IV deste artigo somente poderão ser destinatárias de consignações relativas à contribuição para planos de saúde, pecúlio, seguro de vida, renda mensal e previdência complementar e à amortização de empréstimos e financiamentos. [...] Art. 9 As consignações facultativas em folha de pa gamento não poderão exercer na sua totalidade a 30% (trinta por cento) da remuneração líquida do servidor nem ultrapassar o parcelamento de 48 (quarenta e oito) meses.

4 - 4 - Frisa-se que a Constituição Federal confere aos Municípios autonomia para legislar sobre vários assuntos e, nesta perspectiva, as consignações facultativas em folha de pagamento de entidades do Poder Público, referentes a contribuições de melhoria, taxas e impostos municipais, não previstas no art. 4 do Decreto nº 4.708/2004, supr acitado, poderão estar disciplinadas em legislação do Município, beneficiando a Prefeitura como consignatária de consignações facultativas: Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. [...] Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; Considerando o supra-exposto, conclui-se que é legal a realização de convênios onde uma das partes é entidade do Poder Público e a outra instituição financeira, instituto privado ou ente da Administração Direta ou Indireta para efetuação de consignações compulsórias e facultativas em folha de pagamento de servidores ativos, aposentados e pensionistas, oriundas de: contribuições previdenciárias, compras organizadas, via associação ou sindicato e contribuições de melhoria, taxas e impostos, dentre outras, desde que expressamente previsto em Lei Municipal. A consignação em folha apresenta como benefícios a obtenção de financiamentos com menores taxas de juros, dispensa de apresentação de garantias suplementares, prazos mais elásticos, redução de cada parcela, estímulo à atividade econômica, dentre outros. Apesar de facilitar o crédito para os mais variados usos, com pouca burocracia e a juros menores, a consignação em folha é uma ferramenta que deve ser utilizada com responsabilidade, parcimônia e criteriosamente de acordo com a legislação, sob pena de transformar-se, pelo mau uso, num instrumento que facilita a ampliação dos abismos sócio-econômicofinanceiros nos quais os devedores pouco disciplinados ou compulsivos precipitam-se arrastando consigo familiares, colegas de trabalho, dentre outros cidadãos, tanto em função de situações inesperadas, como em decorrência do habitual descontrole nos gastos alimentado pelos vícios morais. A Administração, primando pelo bem-estar social, deve considerar a possibilidade de maior endividamento dos servidores subseqüente aos empréstimos, haja vista o supra-mencionado e o padrão consumista

5 - 5 - imposto socialmente. Assim, além da estrita observância legal, o Poder Público deve atentar para os cuidados com a manutenção e melhoria da boa disposição moral, mental e física dos cidadãos, sensibilizando-os e instruindo-os quanto à melhor gestão dos recursos próprios e, inclusive, facilitando ou possibilitando o acesso ao tratamento indicado aos casos patológicos. Posto isso, ao julgar o presente processo e em comungando este Egrégio Tribunal Pleno deste entendimento, sugere-se que determine a atualização da Consolidação de Entendimentos, para fazer constar o verbete da decisão colegiada, como segue: Acórdão n. /2007. Pessoal. Convênio. Consignação. Folha de pagamento. Empréstimos pessoais. Possibilidade de celebração, observadas as condições. É possível a celebração de convênio entre pessoa jurídica do Poder Público e instituições financeiras, institutos privados ou com entes da Administração Direta e Indireta para realização de consignações compulsórias e facultativas em folha de pagamento de servidores ativos, aposentados e pensionistas, desde que expressamente previsto em Lei Municipal, ainda que os possíveis parcelamentos ultrapassem o término de mandato do gestor, uma vez que este procedimento não acarreta qualquer ônus financeiro ao Município. É o parecer que, S.M.J., se submete à apreciação superior. Cuiabá-MT, 03 de julho de Risodalva Beata de Castro Secretária-Chefe da Consultoria Técnica Narda Consuelo Vitório Neiva Silva Consultora de Estudos, Normas e Avaliação Renato Marçal de Mendonça Técnico Instrutivo e de Controle

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