CAPÍTULO 1 Mestre Cereja, um carpinteiro, encontra um pedaço de madeira que chora e ri como uma criança.

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3 Prefácio Este livro não deve ser lido por crianças, mas sim para as crianças (por seus pais ou por outros adultos). Mesmo que elas já estejam alfabetizadas, vou citar dois excelentes motivos para ler este livro para elas. O primeiro é que a leitura só será suficientemente prazerosa quando ela se tornar um processo inconsciente ou automático e crianças de até 12 anos (na maior parte dos casos) ainda não são capazes disso. Dirigir, por exemplo, é um processo inconsciente: em determinado momento o motorista pensa em aumentar a velocidade e todo o processo de acelerar, pisar na embreagem, trocar a marcha e acelerar novamente é realizado de modo inconsciente. Esse é o motivo pelo qual é possível realizar várias atividades (muito bem) enquanto estamos dirigindo. A leitura prazerosa só ocorre quando não exige nossa atenção, ou seja, é como se outra pessoa estivesse lendo e nossa preocupação consciente fica voltada apenas para a criação de imagens mentais referentes à história que está sendo contada. Portanto uma criança que está preocupada em decodificar os signos lingüísticos, não será capaz de imaginar adequadamente as cenas que a leitura está descrevendo

4 É muito importante que as crianças treinem a leitura, mas ler livros para elas faz parte deste processo. Quando assistimos um filme vemos imagens e sons que são uma interpretação que o diretor de cinema fez sobre determinada história, mas quando ouvimos uma história (ou lemos uma história) nós é que montamos esta interpretação. O mais importante é que várias pessoas se dão conta de que uma interpretação customizada dificilmente será superada por uma interpretação genérica. Pessoas capazes de desfrutar disso serão leitores para o resto de suas vidas. O segundo motivo é que a versão original abre a oportunidade de discutir vários assuntos, que são verdadeiramente relevantes e que nos dão oportunidade para reflexão com as crianças. A história mais difundida atualmente é apenas uma versão adocicada da original e para que isso fosse possível foram retirados elementos fundamentais, o que fez com que perdesse em profundidade. Embora seja carismático, o Pinóquio desta versão assemelha-se a um bebê e quase tudo que lhe acontece depende mais dos outros do que dele mesmo, dando a impressão de ser mais vítima do que protagonista de sua vida. A versão original, que você lerá nas próximas páginas, embora seja mais dura, é também muito mais rica e pedagógica. Trata-se de uma verdadeira história de evolução humana, pois nela Pinóquio é realmente o protagonista, recebe conselhos (que geralmente não utiliza), faz as suas escolhas e depois responde por seus erros e acertos, assim como ocorre ou ocorrerá com qualquer um de nós. Eu acredito que Carlo Collodi foi muito iluminado ao escrever esta bela história e desejo contribuir, ajudando a perpetuá-la

5 CAPÍTULO 1 Mestre Cereja, um carpinteiro, encontra um pedaço de madeira que chora e ri como uma criança. Séculos atrás, vivia... Um rei! Meus pequenos leitores dirão imediatamente. Não crianças, vocês estão enganadas... Era uma vez um pedaço de madeira. Não era uma madeira cara ou especial, nada disso, era apenas um pedaço comum de madeira. Uma daquelas grossas e pesadas toras de madeira, que são colocadas para queimar na lareira durante o inverno para manter o interior das casas em uma temperatura acolhedora e agradável. Eu não sei como isso realmente aconteceu, mas o fato é que um belo dia esse pedaço de madeira encontravase na loja de um velho carpinteiro. Como era um especialista em carpintaria era chamado de mestre e seu verdadeiro nome era Antônio, mas todos o chamavam de Mestre Cereja, pois a ponta de seu nariz era tão redonda, vermelha e brilhante que parecia uma cereja madura. Assim que viu este pedaço de madeira, Mestre Cereja ficou muito contente. Esfregando as mãos, murmurou para si mesmo: - 5 -

6 Esse pedaço de madeira chegou na hora certa, vou utilizá-lo para fazer uma perna de mesa. Ele segurou o machado a fim de descolar a casca e começar a dar forma à madeira, mas quando estava prestes a dar-lhe o primeiro golpe, parou com o braço acima do corpo, pois tinha ouvido uma vozinha a lhe dizer em tom de súplica: Por favor, tenha cuidado! Não me bata tão forte! Um olhar de surpresa brilhou no rosto de Mestre Cereja e este tornou-se ainda mais engraçado do que de costume. Ele movimentou os olhos arregalados e assustados procurando descobrir de qual lugar vinha aquela vozinha, mas não viu ninguém! Ele olhou sob o banco... Ninguém! Ele espiou dentro do armário... Ninguém! Ele procurou entre as aparas de madeira... Ninguém! Ele abriu a porta, olhou para o lado de cima, depois para o lado de baixo da rua e ainda assim... Ninguém! Oh, eu entendo! disse a si mesmo, rindo e coçando a peruca Agora posso entender facilmente, eu só pensei ter ouvido uma vozinha dizer estas palavras! Na verdade nada disso aconteceu! Bem, bem, vou voltar ao trabalho mais uma vez. E desferiu um golpe mais forte sobre o pedaço de madeira. Oh, oh! Você me machucou! gritou a mesma vozinha. Mestre Cereja ficou em estado de choque. Seus olhos ficaram arregalados, sua boca ficou aberta e sua língua pendia em seu queixo. Assim que se recuperou um pouco do susto, disse, tremendo e gaguejando de medo: De onde foi que veio esta voz, se não há ninguém por perto? Poderia ser possível que este pedaço de madeira tenha aprendido a - 6 -

7 falar e chorar como uma criança? Eu não posso acreditar! Aqui está um pedaço de lenha comum, do tipo que utilizamos para queimar no fogão, igual a qualquer outro. Será possível que tenha alguém escondido nele? Se assim for, pior para ele. Eu vou dar um jeito nisso! Com estas palavras, ele agarrou o pedaço de madeira com as duas mãos e começou a batê-lo impiedosamente. Jogou-o no chão, depois contra as paredes da sala e até mesmo contra o teto. A madeira sentiu e até gostaria de reclamar, mas ficou quietinha o tempo todo. Ele persistiu neste procedimento por uns dois minutos: nada. Cinco minutos: nada. Dez minutos: nada. Oh, agora eu entendo. disse por fim, tentando bravamente rir, esfregando a sua peruca com a mão Isso pode ser facilmente entendido, eu só estava imaginando ouvir uma vozinha! Bem, bem, vou voltar ao trabalho mais uma vez! O coitado estava morrendo de medo, então para descontrair, ele tentou cantar uma canção alegre e assim ganhar um pouco de coragem. Deixou de lado o machado e pegou a plaina para alisar a madeira. Passou-a para lá e para cá, ao fazer isso ele ouviu a mesma vozinha. Desta vez ela riu enquanto falava: Ora, ora, pare com isso! Pare com isso! Ha, ha, ha! Você está fazendo cócegas em meu estômago. Desta vez o pobre Mestre Cereja caiu como se tivesse sido atingido por uma pancada na cabeça. Quando recuperou os sentidos, abriu os olhos e percebeu que se encontrava no chão. Seu rosto tinha mudado; a queda fez com que seu nariz batesse diretamente no chão, achatando-o e fazendo com que a sua cor passasse de vermelho para um roxo escuro

8 CAPÍTULO 2 Mestre Cereja dá o pedaço de madeira ao seu amigo Gepeto, que o utilizará para fazer uma marionete. Nesse mesmo instante, uma batida forte soou na porta. Entre. disse o carpinteiro sem se mover, pois estava completamente exausto. Com estas palavras, a porta se abriu e um homenzinho ágil, embora já de certa idade, entrou. Seu nome era Gepeto, mas para os meninos de seu bairro ele era o "Polentinha" por causa da cor da peruca, amarela como milho, que ele costumava utilizar. Gepeto também era rabugento e coitado daquele que o chamasse de Polentinha! Ele tornava-se tão selvagem quanto uma fera e era difícil acalmá-lo. Bom dia, Mestre Antonio disse Gepeto O que você está fazendo no chão? Eu estou ensinando as formigas a escrever. Boa sorte para você! O que o trouxe aqui, amigo Gepeto? - 8 -

9 Minhas pernas... falou Gepeto, devolvendo o deboche, mas depois de algum tempo prosseguiu Mestre Antonio, eu vim para lhe pedir um favor. Estou à sua inteira disposição. Esta manhã, eu tive uma grande idéia! Muito bom, diga-me qual foi. Pensei em fazer uma bela marionete de madeira. Ela deve ser maravilhosa, capaz de dançar, lutar esgrima e dar cambalhotas. Com ela eu tenho a intenção de viajar ao redor do mundo e ganhar a minha vida. Ela será meu pão e meu vinho. O que você acha disso? Bravo, Polentinha! gritou a mesma vozinha que veio, ninguém sabe de onde. Ao ouvir ser chamado de Polentinha, Mestre Gepeto ficou da cor de um pimentão vermelho e, de frente para o carpinteiro, disse-lhe com raiva: Por que você está me insultando? Quem está insultando você? Não se faça de bobo, você me chamou Polentinha. Eu não! Eu suponho que você pense que EU mesmo fiz isso! Mas eu sei que foi você. Não! Sim! Não! Sim! E a irritação foi aumentando a cada momento, passaram para os insultos e finalmente começaram a brigar, o que resultou em arranhões e mordidas de parte a parte. Quando a luta terminou, Mestre Antonio tinha a peruca amarela de Gepeto em suas mãos e Gepeto deparou-se com a do carpinteiro, uma peruca marrom, em sua boca

10 Devolva a minha peruca! mestre Antonio gritou com voz rude. Vamos fazer a troca e seremos amigos novamente. Os dois velhinhos, cada um com sua própria peruca de volta em sua cabeça, apertaram as mãos e juraram ser bons amigos para o resto de suas vidas. Bem, então, Mestre Gepeto, o que é que você quer mesmo? disse o carpinteiro, para mostrar que não estava de má vontade. Eu quero um pedaço de madeira para fazer uma marionete. Você pode me arrumar isso? Mestre Antonio, muito contente de fato, lhe ofereceu o pedaço de madeira que lhe havia assustado tanto. Mas quando ele estava prestes a dá-lo ao seu amigo, em um puxão violento a madeira escapou de suas mãos e bateu nas canelas finas do pobre Gepeto. Ai, ai! Isso lá é jeito de se dar um presente? Você quase me deixou coxo! Eu juro que não fiz isso! Pois se não foi você, então deve ter sido EU, é claro! Não! A culpa é deste pedaço de madeira. Você está certo, foi a madeira que bateu em minhas pernas, mas lembre-se de que foi você quem a jogou nelas. Eu não joguei! Mentiroso! Gepeto, não me insulte ou vou chamá-lo de Polentinha. Idiota. Polentinha! Burro! Polentinha! Macaco babão! Polentinha!

11 Ao ouvir ser chamado de Polentinha pela terceira vez, Gepeto perdeu a cabeça e atirou-se com raiva sobre o carpinteiro, iniciando nova briga. Depois de uns minutos Mestre Antonio tinha mais dois arranhões no nariz e Gepeto tinha dois botões faltando em seu casaco. Assim, tendo liquidado suas contas, eles apertaram as mãos e juraram ser bons amigos para o resto de suas vidas. Gepeto recolheu o belo pedaço de madeira, agradeceu Mestre Antonio e voltou mancando para casa

12 CAPÍTULO 3 Tão logo chega em casa, Gepeto talha a marionete e lhe dá o nome de Pinóquio. A casa de Gepeto era muito pequena, porém limpa e agradável. Era composta por um pequeno cômodo no andar térreo, com uma pequena janela sob a escada e no andar superior um quarto. O mobiliário não poderia ser mais simples: uma cadeira muito antiga, uma cama velha, já bastante decadente e uma mesa dobrável. Uma lareira cheia de toras queimando foi pintada na parede oposta à porta. Sobre o fogo, foi pintada uma panela cheia de algo que fervia e da qual saiam nuvens de vapor que pareciam ser reais. Assim que chegou em casa, Gepeto pegou suas ferramentas e começou a cortar a madeira para dar forma à sua marionete. Como devo chamá-la? perguntou a si mesmo Acho que vou fazer um boneco e seu nome será Pinóquio. Este nome é muito afortunado e vai lhe cair bem. Eu conheci uma família inteira de Pinóquios uma vez: Pinóquio, o pai, Pinóquia, a mãe e Pinóqui, o filho. E todos eles tiveram muita sorte

13 Depois de escolher um nome para a sua marionete, Gepeto começou a trabalhar seriamente nela. O inicio foi pelo cabelo, depois a testa e os olhos. Neste momento ele teve uma surpresa quando percebeu que os olhos se moveram e olharam fixamente para ele. Gepeto, vendo isso, sentiu-se insultado e disse em um tom triste: Indiscretos olhos de madeira, por que me encaram assim? Não houve resposta. Depois dos olhos, Gepeto fez o nariz, no entanto ele começou a aumentar sozinho, logo após ser concluído. Ele esticou, esticou e esticou até que se tornou demasiadamente grande para o seu gosto. O pobre Gepeto cortou, cortou e cortou repetidamente, mas sempre que ele cortava, em pouco tempo o impertinente nariz voltava ao mesmo tamanho de antes. Em desespero, ele deixou-o da forma como estava. Em seguida, ele fez a boca. Tão logo terminou, ela começou a rir e a zombar dele. Pare de rir! falou Gepeto com firmeza, mas ele teria mais sucesso se tivesse falado com as paredes, pois não foi obedecido, o que lhe fez repetir com voz de trovão Pare de rir, eu estou mandando! A boca parou de rir, mas dela saiu uma língua comprida que tremulou fazendo birra. Não querendo começar uma discussão, Gepeto fez que não viu nada e continuou o seu trabalho. Após a boca, ele fez o queixo, em seguida, o pescoço, os ombros, o estômago, os braços e as mãos. Quando ele estava prestes a terminar os últimos retoques das pontas dos dedos, Gepeto sentiu sua peruca sendo puxada de sua cabeça. Ele olhou para cima e o que ele viu? Sua peruca amarela foi parar na mão do Marionete

14 Pinóquio, devolva a minha peruca! Mas, em vez de devolvê-la, Pinóquio colocou-a em sua própria cabeça, que ficou engolida por ela. Depois deste truque inesperado, Gepeto ficou muito triste com Pinóquio. Pinóquio, você é um menino mau! Ainda nem está terminado e já começa a ser insolente com o seu pobre pai. Isso é muito ruim meu filho, muito ruim! e enxugou uma lágrima. As pernas e os pés ainda estavam por fazer. Assim que eles foram terminados, Gepeto sentiu um pontapé na ponta do nariz. Eu mereço! disse para si mesmo Eu deveria ter pensado nisso antes de tê-lo feito. Agora é tarde demais! Ele pegou o Marionete em seus braços e colocou-o no chão para ensiná-lo a andar. As pernas de Pinóquio estavam tão duras que ele mal conseguia movê-las. Gepeto segurou a sua mão, lhe mostrou como colocar um pé após o outro e dar os primeiros passos. Quando as articulações de suas pernas estavam mais moles, Pinóquio começou a caminhar por si mesmo e depois correu por todo o quarto. Por fim, ele foi em direção à porta aberta, com um salto atingiu a rua e disparou em uma corrida alucinante! O pobre Gepeto correu atrás dele, mas foi incapaz de alcançá-lo. Pinóquio corria a trancos e barrancos. Seus dois pés de madeira, ao baterem nas pedras do calçamento da rua, faziam tanto barulho quanto vinte camponeses com sapatos de madeira correndo juntos. Segurem-no! Peguem-no! Gepeto gritava. Mas as pessoas na rua, vendo uma marionete de madeira correndo tanto quanto o vento e sendo perseguida por um velho, ficaram sem ação. Limitaram-se a olhar a inusitada cena e riram até chorar

15 Enfim, por pura sorte, apareceu um policial que, ouvindo todo aquele barulho provocado pelos pés de madeira, pensou que se tratasse de um jumentinho em fuga. Ele posicionou-se bravamente no meio da rua, com as pernas abertas, firmemente decidido a pará-lo, evitando qualquer problema. Pinóquio viu o policial e fez de tudo para escapar passando rapidamente entre suas pernas, mas não teve sucesso. O policial agarrou-o pelo nariz (que era extremamente longo e parecia ter sido feito de propósito para aquilo) e devolveu-o à Mestre Gepeto. O velhinho queria puxar as orelhas de Pinóquio, mas pense como ele se sentiu frustrado quando percebeu, ao procurá-las, que havia esquecido de fazê-las. Tudo o que lhe restava era aproveitar a parte de trás do pescoço de Pinóquio para agarrá-lo e levá-lo para casa. Enquanto ele estava fazendo isso, chacoalhou o boneco duas ou três vezes e lhe disse com raiva: Nós estamos indo para casa, quando chegarmos lá iremos resolver este assunto! Após ouvir isto, Pinóquio aproveitou um momento de distração, escapuliu, atirou-se ao chão e recusou-se a dar um passo sequer. Uma pessoa após outra, foram se reunindo em torno dos dois. Alguns davam palpites. Pobre marionete! Eu não estou surpreso de que ele não queira ir para casa. Gepeto, sem dúvida, vai bater nele impiedosamente. Ele é muito cruel! gritou um. Gepeto parece um bom homem, mas com os meninos ele é realmente um tirano. Se deixarmos a pobre marionete em suas mãos, ele poderá fazê-lo em pedaços! acrescentou outro. Eles falaram tanto que finalmente o policial terminou decidindo colocar Pinóquio em liberdade e arrastou Gepeto para a prisão

16 O velho e pobre Gepeto não sabia como se defender, chorou e gemeu como uma criança. Por fim disse entre soluços: Menino Ingrato! Em pensar que eu lhe fiz com tanto trabalho e acreditei que serias bem comportado! Eu mereço! Eu deveria ter pensado melhor neste assunto

17 CAPÍTULO 4 Pinóquio encontra o Grilo Falante e veremos que crianças malvadas não gostam de serem corrigidas. Pinóquio não precisou de muito tempo para colocar o velho e pobre Gepeto na prisão. Após isso, o patife ficou livre das garras do policial e aproveitou para correr loucamente por campos e prados, fazendo pequenas e curtas passagens por sua casa. Neste período de liberdade ele percorreu os matagais, riachos e lagoas dos arredores como se fosse uma cabra ou uma lebre perseguida por cães. Ao chegar em casa, encontrou a porta entreaberta. Ele escorregou para dentro, trancou a porta e se jogou no chão, feliz com sua escapada pelos bosques. Mas a sua felicidade durou pouco tempo, porque logo ele ouviu alguém dizendo: Cri-cri-cri! Quem está me chamando? perguntou Pinóquio, muito assustado. Sou eu! Pinóquio se virou e viu um enorme grilo rastejando lentamente perto da parede

18 Diga-me grilo, quem é você? Eu sou o Grilo Falante e tenho vivido neste local a mais de cem anos. Pode ser, mas hoje este quarto é meu e se você deseja me fazer um favor, saia agora e não volte mais. Eu me recuso a deixar este lugar até tenha lhe dito uma grande verdade. Diga-me então e dê o fora! Coitados dos meninos que se recusam a obedecer seus pais e fogem de casa! Eles nunca serão felizes neste mundo. Quando forem mais velhos irão se arrepender e a lembrança destes fatos será muito triste para eles. Fale o que quiser meu grilo. O que eu sei é que amanhã de madrugada eu deixarei este lugar para sempre. Se eu ficar aqui acontecerá a mim a mesma coisa que acontece a todos os outros meninos e meninas: eles são enviados para a escola, queiram ou não e são obrigados a estudar. Quanto a mim, deixe-me dizer-lhe: eu odeio estudar! É muito mais divertido perseguir borboletas, subir em árvores e roubar ninhos de pássaros. Pobre marionete irresponsável! Você não sabe que se continuar assim crescerá, se tornará um burro perfeito e será motivo de piada para todos? Fique quieto, Grilo feio! Mas o Grilo, que era na verdade um sábio e velho filósofo, em vez de ficar ofendido com o descaramento de Pinóquio, continuou no mesmo tom: Se você não gosta de ir à escola, porque então você não aprende uma ocupação mais simples, de modo que você possa ter uma vida honesta? Posso lhe dizer uma coisa? perguntou Pinóquio, que estava começando a perder a paciência De todas as ocupações que existem no mundo, existem apenas algumas que realmente combinam comigo, que são as de

19 comer, beber, dormir, brincar e passear de manhã até a noite. Deixe-me dizer-lhe para seu próprio bem Pinóquio, que aqueles que seguem este caminho, de que falastes a pouco, sempre acabam no hospital ou na prisão. disse o Grilo Falante com sua voz calma. Vá com cuidado Grilo Feio! Se você me deixar com raiva, irá se arrepender! Pobre Pinóquio, eu lamento por você. Por quê? Porque você é uma marionete e isso significa que possui um cérebro de madeira, o que é muito pior. Ao ouvir estas últimas palavras, Pinóquio ficou furioso, deu um pulo, pegou um martelo que estava sobre o banco e jogou-o com toda força no Grilo Falante. Talvez ele não tivesse a intenção de acertá-lo, mas o triste fato minhas queridas crianças é que o martelo foi direto na cabeça do Grilo Falante e com um último e fraco Cri-cri-cri o pobre caiu da parede, morto!

20 CAPÍTULO 5 Pinóquio faminto encontra um ovo e decide fazer uma omelete, mas para a sua surpresa, a omelete voa pela janela. Se a morte do Grilo Falante amedrontou Pinóquio, isso só ocorreu por alguns momentos. Pois quando a noite chegou, um sentimento estranho, um vazio no fundo de seu estômago, lembrou o marionete de que ele não havia comido nada até aquele momento. O apetite do pequeno aumentou rapidamente e em alguns momentos esse sentimento de vazio converteu-se em fome, que cresceu mais e mais, até que ele se tornou faminto como um urso. O pobre Pinóquio correu para a lareira, onde a panela estava fervendo e estendeu a mão para tirar a tampa, mas para sua surpresa a panela era somente uma pintura. Pense como ele ficou triste com isso. Ele procurou pela casa inteira, abriu todas as caixas e gavetas, olhou até debaixo da cama em busca de qualquer coisa. Um pedaço de pão duro poderia servir, ou um biscoito, ou talvez um pedacinho de peixe. Um osso

21 esquecido por um cão teria sido bom! Mas não encontrou nada. E, entretanto, sua fome cresceu e cresceu. O único alívio que o pobre Pinóquio tinha era o de bocejar e isso ele certamente fez. Deu um bocejo tão grande que sua boca estendeu-se até onde deveriam estar suas orelhas. Logo ele ficou tonto e desmaiou. Ao acordar, ele chorou e lamentou-se: O grilo falante tinha razão, foi errado desobedecer meu pai e fugir de casa. Se ele estivesse aqui neste momento, eu não estaria com tanta fome! Oh, como é horrível estar com fome! De repente ele viu entre o cesto de lixo e o canto da parede algo redondo e branco que se parecia muito com um ovo de galinha. Em um instante ele chegou mais próximo e percebeu que realmente era um ovo. A alegria de Pinóquio não tinha limites. É impossível descrevê-la. Talvez você possa fazer uma idéia por si mesmo. Certo de que estava sonhando, rolou o ovo em suas mãos, acariciou-o, beijou-o e conversou com ele: E agora, como poderei cozinhar você? Devo fazer uma omelete?... Não, seria melhor fritá-lo! Ou devo beber você?... Não, a melhor solução é fritar você em uma panela. Você terá um sabor melhor. Dito e feito. Ele colocou uma pequena panela sobre um fogareiro cheio de brasas e em vez de óleo ou manteiga, derramou um pouco de água. Assim que a água começou a ferver Tac! a casca do ovo se quebrou. Mas no lugar da clara e da gema, um pequeno pintinho amarelo, fofo e alegre saiu sorridente das cascas. Curvando-se educadamente para Pinóquio, disse-lhe: Muito, muito obrigado mesmo sr. Pinóquio por ter me livrado do problema de ter que quebrar a minha casca! Boa sorte e até qualquer dia. ao fim destas palavras, ele

22 bateu suas asas e correndo para a abertura da janela, voou pelo céu até que ficou fora de vista. O pobre marionete manteve-se como se tivesse sido transformado em pedra, com as metades vazias da casca de ovo nas mãos, os olhos arregalados e a boca aberta. Quando ele voltou a si, começou a chorar e a gritar a plenos pulmões batendo os pés no chão, lamentando o tempo todo: O grilo falante tinha razão! Se eu não tivesse fugido de casa e se meu pai estivesse aqui agora, eu não estaria morrendo de fome. Oh, é realmente horrível estar com fome! O seu estômago mantinha-se resmungando, agora mais do que nunca e ele não dispunha de nada para aquietá-lo. Pensou então em sair para um passeio até à próxima aldeia, na esperança de encontrar alguma pessoa caridosa que pudesse lhe dar um pedaço de pão

23 CAPÍTULO 6 Pinóquio adormece com os pés sobre um aquecedor e seus pés são totalmente queimados. Pinóquio odiava a escuridão, mas estava com tanta fome que, apesar disso, correu para fora de casa. A noite estava muito escura. Flashes de relâmpagos brilharam neste momento, depois ele ouviu trovões que foram seguidos por outros relâmpagos em todo o céu, transformando-o em um mar de fogo. Soprava um vento frio e furioso que levantou densas nuvens de poeira, enquanto as árvores balançavam e gemiam de maneira estranha. Pinóquio tinha muito medo de relâmpagos e trovões, mas a fome que sentia era muito maior que o medo e colocou-se em movimento. Após algumas dúzias de saltos ele alcançou a aldeia, cansado, ofegante e com a língua de fora. A aldeia inteira estava escura e deserta. As lojas estavam fechadas, assim como todas as portas e janelas das residências. Nas ruas, nem mesmo um cachorro podia ser visto. A aldeia parecia estar morta

24 Pinóquio, em desespero, correu para uma porta, atirou-se sobre uma campainha de sino e puxou a corda violentamente, dizendo para si mesmo: Certamente alguém irá responder! Ele estava certo. Um velho de pijamas abriu uma janela no andar superior, olhou para fora e gritou com raiva: O que você quer a essa hora da noite? Eu estou morrendo de fome, você poderia me dar um pedaço de pão? Espere um minutinho que eu já volto. respondeu o velho, pensando que estava lidando com um daqueles garotos que gostam de tocar a campanhinha da casa das pessoas enquanto estas dormem pacificamente, apenas com o objetivo de importuná-las. Depois de um minuto ou dois, a mesma voz gritou: Fique sob a janela e estenda o seu chapéu! Pinóquio não tinha chapéu, mas ele se posicionou sob a janela bem a tempo de sentir uma ducha de água gelada ser derramada sobre a sua pobre cabeça de madeira. Ele voltou para casa tão molhado quanto um trapo, morrendo de cansaço e fome. Como ele não tinha mais força para ficar em pé, sentou-se em um banquinho e colocou seus dois pés em cima do fogão para secá-los. Assim, ele adormeceu e enquanto dormia seus pés de madeira começaram a queimar. Lentamente, muito lentamente, eles foram ficando enegrecidos e transformaram-se em cinzas. Pinóquio roncava alegremente como se os pés, que estavam a queimar, não fossem seus. Ao amanhecer uma forte pancada soou na porta e ele abriu os olhos imediatamente. Quem é? ele perguntou, bocejando e esfregando os olhos

25 Sou eu! respondeu uma voz impaciente. Era a voz de Gepeto

26 CAPÍTULO 7 Gepeto dá o seu café da manhã à marionete. O pobre marionete, que ainda estava um pouco adormecido, também não havia descoberto que seus dois pés tinham sido queimados e já não existiam mais. Assim que ele ouviu a voz de seu pai, saltou de sua cadeira para abrir a porta, mas quando fez isso cambaleou e caiu de cabeça no chão. Na queda, ele fez tanto barulho quanto um saco de madeira atirado do quinto andar de uma casa. Abra a porta! Gepeto gritou da rua. Pai, querido pai, eu não posso. respondeu Pinóquio em desespero, chorando e rolando pelo chão. Por que não pode? Porque alguém comeu os meus pés. Quem comeu os seus pés? O Gato. respondeu Pinóquio, vendo o animal que brincava com algumas lascas no canto da sala. Abra! Eu ordeno! Ou vou lhe dar fortes palmadas quando entrar. Pai, acredite em mim, eu não posso ficar em pé. Oh, que má sorte! Terei que andar de joelhos pelo resto de minha vida

27 Gepeto entrou através da janela, na lateral da casa. No começo, ele estava muito irritado, pois pensava que todas essas lamentações e gritos eram apenas novas brincadeiras do marionete, mas ao ver Pinóquio estirado no chão e realmente sem os pés, isso fez com que ficasse com dó do coitado. Ele recolheu-o do chão, acariciou-o e falou ao mesmo tempo em que suas lágrimas corriam pelas suas bochechas: Meu pequeno Pinóquio, meu querido Pinóquio! Como você queimou os seus pés? Eu não sei pai, mas acredite em mim, a noite foi terrível e eu vou me lembrar dela enquanto eu viver. O relâmpago foi tão brilhante e o trovão muito barulhento. E eu estava com fome. E, em seguida, o Grilo-falante disseme: 'você merece, você foi ruim' e eu disse-lhe: cuidado Grilo e ele me disse: 'você é uma marionete que tem cabeça de madeira' e eu joguei o martelo nele e ele morreu. A culpa foi dele, porque eu não queria matá-lo. E eu coloquei a panela sobre as brasas, mas o pintinho voou para longe e disse: 'muito obrigado!' E minha fome aumentou e eu fui para fora de casa e o velho de pijamas olhou para fora da janela e jogou água em mim e eu cheguei em casa e coloquei meus pés no fogão para secálos, porque eu ainda estava com fome e eu adormeci e agora os meus pés já se foram, mas minha fome ainda não! Oh! Oh! Oh! E o pobre Pinóquio começou a gritar e chorar tão alto que poderia ser ouvido a quilômetros de distância. Gepeto, que não tinha entendido nada de toda aquela confusa história, exceto que o marionete estava com fome, sentiu pena dele e puxando três peras do bolso lhe ofereceu, dizendo:

28 Estas três pêras eram para o meu café da manhã, mas eu vou dá-las a você com prazer. Coma-as e pare de chorar. Se você quer que eu as coma, por favor, descasqueas para mim. Descascá-las? perguntou Gepeto, muito surpreso Eu nunca pensei que você fosse um menino tão enjoado e exigente sobre comida. Isso é muito ruim, muito ruim! Neste mundo, quando somos crianças, devemos nos acostumar a comer de tudo, pois nunca sabemos o que a vida irá nos reservar! Você pode estar certo, mas eu não vou comer as peras se elas não estiverem descascadas. Eu não gosto de peras com casca. Sendo assim, o bom e velho Gepeto pegou uma faca, descascou as três pêras e colocou-as juntamente com as cascas sobre a mesa. Pinóquio comeu uma pêra num piscar de olhos e ia jogar a parte central com as sementes fora, mas Gepeto segurou sua mão. Oh, não! Não jogue fora! Tudo neste mundo pode ter alguma serventia! Mas o núcleo eu não vou comer! disse Pinóquio em um tom choroso e irritado. Quem sabe? disse Gepeto calmamente. Desta forma, mais tarde os três núcleos estavam na mesa ao lado das cascas. Pinóquio tinha comido as três peras, ou melhor, as tinha devorado. Então bocejou profundamente e lamentou: Eu ainda estou com fome. Mas eu não tenho mais nada para lhe dar. Nada? Eu só tenho esses três núcleos e cascas. Muito bem, então, se não há mais nada, eu vou comer isso mesmo

29 No começo, ele fez uma careta, no entanto as cascas e os núcleos desapareceram, um após outro. Ah! Agora eu me sinto bem! ele disse após comer o último núcleo. Você percebe que eu estava certo quando lhe disse que não se deve ser muito exigente ou muito enjoado sobre comida. Nós nunca sabemos o que a vida nos reserva!

30 CAPÍTULO 8 Gepeto faz um novo par de pés para Pinóquio e vende seu casaco para comprar uma cartilha de ABC. Tão logo Pinóquio teve sua fome apaziguada, começou a resmungar e a chorar alegando que queria um novo par de pés, mas mestre Gepeto, a fim de puni-lo por suas travessuras, não atendeu o seu pedido imediatamente e o deixou sozinho o dia inteiro. Depois do jantar disselhe: Por que eu deveria lhe fazer um novo par de pés? Para ver você fugir de casa mais uma vez? Eu prometo a você que de agora em diante eu vou ser bom. As crianças sempre fazem promessas quando querem alguma coisa. Eu prometo ir à escola todos os dias, vou estudar muito e vou ser bem sucedido. Crianças sempre dizem isso quando querem obter algum favor. Mas eu não sou como as outras crianças! Eu sou melhor do que todas elas e sempre digo a verdade. Eu prometo a você, pai, que eu vou ser bom

31 Gepeto tentou ser severo, mas sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e seu coração amolecer quando viu Pinóquio tão infeliz. Não agüentando mais, pegou suas ferramentas, dois pedaços de madeira e começou a trabalhar diligentemente. Em menos de uma hora os novos pés estavam prontos. Ele optou por fazê-los mais delgados, ágeis, fortes e rápidos. No final, os pés pareciam terem sido modelados pelas mãos de um artista. Gepeto então disse ao marionete: Feche os olhos e durma! Pinóquio fechou os olhos e fingiu estar dormindo, enquanto Gepeto unia os dois pés nas pernas utilizando um pouco de cola derretida em uma casca de ovo. Fez seu trabalho tão bem que a emenda dificilmente poderia ser vista. Assim que o marionete sentiu seus novos pés, deu um salto da mesa e começou a pular e saltar ao redor, como se estivesse louco de tanta alegria. Para mostrar como sou grato a você, pai, eu vou para a escola amanhã mesmo, mas para ir à escola preciso de uma roupa nova. Gepeto não tinha um centavo no bolso, então fez um casaco para o seu filho de uma folha de papel florido, um par de sapatos a partir da casca de uma árvore e um chapéu a partir de uma tampa usada. Pinóquio correu para admirar-se em uma bacia de água e se sentiu tão feliz que disse com orgulho: Agora eu pareço um cavalheiro. É verdade, mas lembre-se de que roupas finas não fazem um homem. É necessário que ele seja puro e limpo de coração. É verdade, mas para ir à escola, eu ainda preciso de algo muito importante. E o que seria isso?

32 Uma cartilha de ABC, para que eu aprenda a ler e a escrever. Você está certo! Mas como iremos consegui-la? Isso é fácil. Nós vamos a uma livraria e a compramos. E o dinheiro? Eu não tenho nenhum. Infelizmente, nem eu. disse o velho. Pinóquio, apesar de ter sido sempre alegre, ficou triste e abatido ao ouvir estas palavras. Quando a pobreza se manifesta, mesmo os meninos travessos entendem o que isso significa. Apesar disso a noite passou tranqüila, mas o velho acordou incomodado no dia seguinte. O que isso importa isso afinal? gritou Gepeto para si mesmo, saltando de sua cadeira. Vestiu seu velho casaco cheio de furos e remendos e saiu de casa sem dizer mais nada. Retornou depois de um tempo e em suas mãos estava uma cartilha de ABC para o seu filho, mas o velho casaco se foi. O pobre velho estava em mangas de camisa e o dia estava frio. Onde está o seu casaco, pai? Eu o vendi. Por que você vendeu seu casaco? Porque está muito quente e não vou mais precisar dele. Pinóquio entendeu a resposta em um piscar de olhos e foi incapaz de conter suas lágrimas. Pulou no pescoço de seu pai e beijou-o

33 CAPÍTULO 9 Pinóquio vende sua cartilha de ABC para pagar sua entrada no Teatro de marionetes. Pinóquio estava indo para a escola com o seu novo livro de ABC sob o braço! À medida que caminhava, seu cérebro estava ocupado trabalhando em centenas de planos maravilhosos. Era a construção de centenas de castelos no ar. Conversando com si mesmo em voz alta, dizia: Na escola, hoje eu vou aprender a ler. Amanhã a escrever. E depois de amanhã eu vou aprender a fazer contas. Então, inteligente como sou, posso ganhar muito dinheiro. Com os primeiros tostões que ganhar eu vou comprar um novo casaco de pano para meu pai. Pano??? Foi o que eu disse??? Não! O casaco deve ser tecido com fios de ouro e com botões de diamante. Aquele pobre homem certamente merece, pois afinal de contas ficou em casa, em mangas de camisa neste dia frio. Ele não foi bom o suficiente para comprar um livro para mim? Pais são realmente bons para os seus filhos! Enquanto ele falava para si mesmo, pensou ter ouvido sons de flautas e tambores vindos de algum lugar distante:

34 pi-pi-pi, pi-pi-pi... Zum, zum, zum, zum. Ele parou para escutar. Os sons vinham de uma estrada que levava a uma pequena aldeia à beira mar. O que pode ser esse barulho? O que me incomoda é que eu tenho que ir para a escola! Se fosse de outra forma... Então ele parou sentindo-se indeciso. Era necessário fazer uma escolha, ele iria para a escola ou seguiria aquele som intrigante? Hoje eu vou seguir o som intrigante, mas amanhã eu vou para a escola. Afinal sempre existe tempo de sobra para ir à escola. decidiu o patife depois de bem pouco tempo. Dito e feito. Ele começou a descer a estrada, tão rápido quanto o vento. Quanto mais corria, mais alto ficavam os sons dos instrumentos de sopro, tambores e pratos: Pi-pi-pi, pi-pi-pi, pi-pi-pi... Zum, zum, zum, zum. De repente, ele chegou a uma grande praça, repleta de pessoas em pé na frente de um pequeno prédio de madeira pintado com cores brilhantes. O que é essa construção? Pinóquio perguntou a um menino próximo a ele. Leia o letreiro e você saberá. Eu gostaria de ler, mas infelizmente eu não posso hoje. Oh, não pode mesmo? Então eu vou ler para você, saiba que naquelas letras desenhadas como se fossem labaredas estão escritas as palavras: GRANDE TEATRO DE MARIONETES. E quando o show irá começar? Ele está começando agora. E quanto é que se paga para entrar? Quatro centavos

35 Pinóquio, que estava possuído por uma curiosidade devastadora para saber o que estava acontecendo no interior daquele prédio, perdeu todo o seu orgulho e vergonha. Pensou por alguns instantes e finalmente disse para o garoto: Você poderia me emprestar quatro centavos até amanhã? Eu daria a você com prazer, mas agora eu não posso. respondeu o garoto, zombando dele. Então, pelo preço de quatro centavos, eu posso lhe vender este meu casaco. Um casaco de papel? Mas se chover, o que eu poderia fazer com um casaco de papel florido? Certamente ele colaria em meu corpo e só sairia em pedaços. Então... Você quer comprar meus sapatos? Esses sapatos só servem para acender uma fogueira! Não, obrigado. E o meu chapéu? É realmente uma pechincha! É uma linda tampa! No entanto, os ratos poderiam vir roê-lo na minha cabeça! Pinóquio estava quase em lágrimas. Na verdade estava prestes a fazer a última oferta, mas faltava-lhe coragem. Ele hesitou um pouco, mas por fim disse: Você me daria quatro centavos por esta cartilha de ABC? Eu sou um menino e não compro nada de meninos. disse o menino, encerrando o assunto. Eu vou lhe dar quatro centavos pelo seu livro de ABC. disse outro menino, que estava próximo e ouviu a tentativa de negociação. Então foi assim que o livro mudou de mãos. E pensar que o pobre e velho Gepeto estava sentado em casa, em mangas de camisa, tremendo de frio porque vendeu seu casaco para comprar esse livro para seu filho!

36 CAPÍTULO 10 As marionetes reconheceram seu irmão Pinóquio e o cumprimentaram calorosamente, mas o diretor do teatro apareceu e o pobre Pinóquio quase perdeu sua vida. Rápido como um flash, Pinóquio entrou no teatro de marionetes. E então aconteceu algo que quase causou um tumulto. A cortina do palco subiu e o espetáculo começou. Harlequin e Pulcinella estavam recitando no palco e, como de costume, eles estavam ameaçando um ao outro com paus e socos. O teatro estava cheio de pessoas, apreciando o espetáculo e rindo das palhaçadas das duas marionetes. A apresentação continuou por alguns minutos, e, de repente, sem qualquer aviso, Harlequin parou de falar. Voltando-se para a audiência, ele apontou para a parte traseira da orquestra e começou a pular descontroladamente, ao mesmo tempo em que gritava: Olhe, olhe! Estou dormindo ou acordado? Aquele que vejo lá não é o Pinóquio? Sim, sim! É o Pinóquio! gritou Pulcinella. É! É! gritou a senhora Rosaura, espiando a partir dos bastidores

37 É o Pinóquio! É o Pinóquio! gritaram todas as marionetes Aquele é o nosso irmão Pinóquio! Hurrah Pinóquio! Pinoquio, venha até aqui! gritou Harlequin Venha para os braços de seus irmãos de madeira! Depois de um convite tão caloroso, Pinóquio com um salto passou da parte de trás para a primeira fila de cadeiras da audiência. Com mais um salto, ele estava na frente do regente da orquestra. Com um terceiro, ele desembarcou no palco. É impossível descrever os gritos de alegria, os abraços calorosos e as saudações de amizade com a qual essa estranha sociedade de atores e atrizes recebeu Pinóquio. Foi uma cena emocionante, mas o público, vendo que o espetáculo havia parado, ficou furioso e começou a gritar: Queremos o espetáculo! Queremos o espetáculo! Queremos o espetáculo! A gritaria não fez efeito sobre as marionetes, pois em vez de continuarem o espetáculo fizeram ainda mais festa do que antes e levantando Pinóquio sobre os seus ombros, levaram-no ao redor do palco em triunfo. A barulheira não fez efeito sobre as marionetes, mas o diretor ouviu e foi conferir o que estava ocorrendo no palco. Ele tinha uma aparência de dar medo e bastaria um olhar dele para que qualquer um se enchesse de horror. Sua barba era negra como breu e era tão longa que ia até os pés. Sua boca era tão grande quanto a boca de um forno. Os dentes eram pontiagudos e amarelos. Seus olhos eram como duas brasas brilhantes. Em uma de suas grandes e peludas mãos estava um longo chicote feito de couro de cobras verdes e rabos de gatos pretos trançados entre si, que ele estalava no ar de forma assustadora e perigosa

38 Depois dessa aparição inesperada, ninguém ousava sequer respirar. Seria possível ouvir o vôo de uma mosca. Todas aquelas pobres marionetes tremeram como folhas verdes em uma tempestade. Por que você trouxe tumulto ao meu teatro? o diretor perguntou à Pinóquio, com uma voz de urso sofrendo com resfriado. Acredite em mim, honrado diretor, a culpa não foi minha. Basta! Fique quieto! Eu vou cuidar de você depois. Que prossiga o espetáculo! Foi assim que tudo se normalizou, sob o olhar atento do diretor, que acompanhou o restante da apresentação. Após o fim do espetáculo ele foi para a cozinha, onde um cordeiro bem grande estava girando lentamente no espeto. Era necessário mais lenha para terminar de assá-lo. Ele chamou Harlequin e Pulcinella e disse-lhes: Tragam-me o novo Marionete! Ele parece ser feito de um bom tipo de madeira, tenho certeza que irá queimar muito bem neste fogão. Harlequin e Pulcinella hesitaram um pouco, mas sua inatividade foi quebrada por um olhar assustador de seu mestre. Então, deixaram a cozinha, obedecendo as suas ordens. Poucos minutos depois eles voltaram carregando o pobre Pinóquio, que estava se contorcendo como uma enguia e chorando miseravelmente: Pai, salve-me! Eu não quero morrer! Eu não quero morrer!

39 CAPÍTULO 11 Come Fogo espirra e perdoa Pinóquio, que por sua vez, salva seu amigo Harlequin da morte. A companhia de teatro estava passando por um momento de grande emoção. Come Fogo (esse era o apelido do diretor) era muito feio, mas estava longe de ser tão mau quanto parecia. Prova disso é que quando viu o pobre marionete sendo trazido, lutando contra o medo, chorando e dizendo: Eu não quero morrer! Eu não quero morrer! Ele sentiu pena. Começou primeiro a vacilar, depois a enfraquecer sua convicção, finalmente não foi capaz de manter o controle e deu um espirro alto. Após esse espirro, Harlequim, que até então tinha estado muito triste, sorriu aliviado e inclinando-se para Pinóquio, sussurrou: Boas notícias meu irmão! Come Fogo já espirrou e este é um sinal de que ele sente pena de você. Não se preocupe porque não há mais perigo! Enquanto as outras pessoas choram quando estão tristes, Come Fogo tem o estranho hábito de espirrar. É diferente, mas serve para indicar que há bondade em seu coração

40 Após espirrar, Come Fogo, feio como sempre, gritou para Pinóquio: Pare de chorar! Seu choro me dá uma sensação estranha aqui no meu estômago e... E... Tchee! E... Tchee! dois espirros altos selaram o seu discurso. Deus o abençoe! disse Pinóquio. Obrigado! O seu pai e sua mãe ainda estão vivos? perguntou o diretor. Meu pai, sim. Minha mãe eu nunca conheci. Seu pobre pai sofreria terrivelmente se eu lhe usasse como lenha. Pobre velho! Eu sinto muito por ele! E... Tchee! E... Tchee! E... Tchee! os últimos três espirros soaram ainda mais alto que os anteriores. Deus o abençoe! Pinóquio repetiu. Obrigado! No entanto, eu também deveria ter pena de mim mesmo. Assim meu bom jantar será estragado. Não tenho mais lenha para o fogo e o cordeiro está apenas meio assado. Isso não pode ficar assim! Em seu lugar vou ter que queimar alguma outra marionete. Ei vocês, oficiais, venham aqui! Após a chamada, dois oficiais de madeira apareceram, longos e finos como espetos, com chapéus estranhos em suas cabeças e espadas em suas mãos. Come Fogo gritou para eles em voz rouca: Peguem Harlequin, amarrem e joguem no fogo. Eu quero o meu cordeiro bem assado! Imagine como o pobre Harlequin se sentiu! Ele estava tão assustado que suas pernas vacilaram e ele caiu no chão. Pinóquio, com esta visão de partir o coração, se jogou aos pés de Come Fogo e chorando amargamente disse com uma voz triste e queixosa: Tenha piedade, eu lhe peço, Signore! Não há Signore aqui!

41 Tenha piedade gentil senhor! Não há senhor aqui! Tenha piedade, Excelência! Ao ouvir-se tratado como Excelência, o diretor do teatro de marionetes acariciou sua longa barba e tornandose bondoso e compassivo, sorriu orgulhosamente quando falou para Pinóquio: Bem, o que você quer de mim agora, marionete? Eu imploro por misericórdia para o meu pobre amigo Harlequin, que nunca fez mal a ninguém. Não há misericórdia aqui, Pinóquio. Já poupei você, então Harlequin deve queimar em seu lugar. Estou com fome e meu jantar deve ser bem assado. Nesse caso..." disse Pinóquio orgulhosamente, levantando-se e arremessando para longe seu chapéu. Nesse caso o meu dever é claro... Venham oficiais! Me amarrem e me atirem nessas chamas, pois não é justo que o pobre Harlequin, o melhor amigo que possuo no mundo, morra em meu lugar! Ele disse estas palavras valentes com uma voz penetrante que emocionou todas as marionetes. Mesmo os oficiais, que também eram feitos de madeira, choraram como dois bebês. Come Fogo em primeiro lugar ficou frio e duro como um pedaço de gelo, mas, em seguida, pouco a pouco, sensibilizou-se e começou a espirrar. E depois de quatro ou cinco espirros, ele abriu os braços e disse a Pinóquio: Você é um menino corajoso! Venha para meus braços e me beije! Pinóquio correu para ele e lhe deu um caloroso beijo na ponta de seu nariz. Você me concede seu perdão? quis saber o pobre Harlequim, com uma voz sumida quase sem fôlego

42 Sim, você foi perdoado! respondeu Come Fogo. Suspirando e balançando a cabeça acrescentou: Bem, esta noite eu terei de comer o meu cordeiro mal passado, mas tenham cuidado da próxima vez marionetes. A notícia de que o perdão havia sido concedido fez com que as marionetes corressem para o palco, acendessem todas as luzes, dançassem e cantassem até o amanhecer

43 CAPÍTULO 12 Come Fogo dá cinco moedas de ouro à Pinóquio por causa de seu pai Gepeto, mas o Marionete encontra uma Raposa e um Gato e os segue. No dia seguinte quando Pinóquio estava indo embora, Come Fogo conversou com ele: Qual é o nome do seu pai? Gepeto. E qual é a profissão dele? Ele é um marceneiro. E ele ganha muito dinheiro? Ele ganha tanto que nunca tem um centavo no bolso. Basta pensar que, a fim de comprar-me um livro de ABC, ele teve que vender o único casaco que possuía. Um casaco muito velho, cheio de buracos e remendos, que fazia pena a quem olhasse. Coitado! Eu sinto pena dele, sendo assim tome estas cinco moedas de ouro e lhe dê com as minhas mais gentis saudações. Pinóquio agradeceu mil vezes. Por fim beijou todas as marionetes, mesmo os sérios oficiais e, com imensa alegria, partiu em sua viagem de volta para casa

44 Ele tinha andando apenas pouco mais de um quilômetro quando encontrou uma Raposa com uma pata machucada e um Gato cego, caminhando juntos como dois bons amigos. A Raposa se apoiava no Gato e o Gato cego utilizava a Raposa como guia. Bom dia, Pinóquio. disse a Raposa cumprimentando-o com cortesia. Como você sabe meu nome? perguntou o marionete. Eu lhe conheço de vista e ao seu pai também. Onde você viu o meu pai? Eu o vi ontem, em pé na porta de sua casa. E o que ele estava fazendo? Ele estava em mangas de camisa, tremendo de frio. Pobre pai! Mas, depois de hoje, se tudo der certo, ele não vai mais sofrer. Por quê? Porque eu me tornei um homem rico. Você, um homem rico? disse que a Raposa começando a rir alto. O Gato também estava rindo, mas tentou esconder fingindo acariciar seus longos bigodes. Não há motivo para rir. gritou Pinóquio com raiva Eu lamento muito em deixá-los desapontados, mas possuo cinco novas moedas de ouro, como podem ver. e exibiu as moedas de ouro que estavam guardadas em seu bolso. No tilintar alegre do ouro, a Raposa, inconscientemente, estendeu a pata que era supostamente a doente e o Gato abriu seus dois olhos que pareciam duas brasas, mas ele fechou-os novamente tão rapidamente que Pinóquio não percebeu. E posso lhe perguntar o que você vai fazer com todo esse dinheiro? indagou a Raposa

45 A primeira coisa que farei é comprar um novo casaco para o meu pai. Um casaco fino com fios de ouro e prata e botões de diamantes. Após isso, vou comprar um livro de A-B-C para que possa ir à escola. Para você mesmo? Para mim mesmo. Eu quero ir para a escola e estudar muito. Não faça isso! Olhe para mim, pela simples razão de querer estudar, eu perdi o movimento em uma pata. disse a Raposa. Olhe para mim. Pelo mesmo motivo tolo, eu perdi a visão de ambos os olhos. disse o Gato. Naquele momento um melro, empoleirado em cima de um muro, ao lado da estrada, falou: Pinóquio, não ouça conselhos ruins. Se você fizer isso, você vai se arrepender! Pobre melro! Num piscar de olhos o Gato saltou sobre ele e o comeu com penas e tudo. Se ele tivesse ficado quieto isso não teria acontecido! Depois de comer o pássaro, o Gato limpou os bigodes, fechou os olhos e ficou cego novamente. Pobre melro! disse Pinóquio ao Gato Por que você o matou? Eu o matei para lhe ensinar uma lição. Ele falava demais. Da próxima vez ele irá manter as suas palavras para si mesmo. A essa altura os três companheiros tinham andado uma longa distância. De repente, a Raposa parou e voltando-se para o marionete, disse Você quer multiplicar suas moedas de ouro? O que você quer dizer? Você quer cem, quinhentas, duas mil, em lugar de suas cinco miseráveis moedas de ouro? Sim, gostaria muito, mas como?

46 Isso é muito fácil. Em vez de voltar para casa, venha conosco. E onde nós iremos? Para a cidade dos Tolos. Pinóquio pensou um pouco e depois disse com firmeza Não, eu não quero ir. Meu pai está esperando por mim e eu vou para casa. Ele deve estar infeliz e preocupado porque eu saí para ir à escola ontem e ainda não voltei! Tenho sido um filho desobediente e o grilo falante tinha razão quando disse que um menino assim não pode ser feliz neste mundo. Aprendi isso às minhas custas na noite passada, no teatro, quando Come Fogo... Brrrr!!!!! Ele quase acabou comigo... Só de lembrar isso já fico tremendo de medo. Bem, então se você realmente quer ir para casa, vá em frente, mas você vai se arrepender. disse a Raposa. Vai se arrepender. repetiu o Gato. Pense bem, Pinóquio, você está virando as costas para a fortuna. Para a fortuna. repetiu o Gato. Amanhã suas cinco peças de ouro serão mais de duas mil! Mais de duas mil! Mas como elas poderiam se multiplicar assim? Pinóquio perguntou com interesse. Eu vou explicar. disse a Raposa Você deve saber que nas proximidades da Cidade dos Tolos existe um campo mágico chamado Campo das Maravilhas. Neste campo basta cavar um buraco, enterrar um pedaço de ouro, cobrir o buraco com terra, regar com água e está pronto! A partir deste momento você pode ir para a cama. Durante a noite, os brotos nascidos das peças de ouro crescerão, florescerão e na manhã seguinte você

47 encontrará uma bela árvore, uma videira, que estará carregada com peças de ouro. Carregada com peças de ouro. repetiu o Gato. Então quer dizer que vou enterrar minhas cinco moedas de ouro e na manhã seguinte eu encontrarei uma árvore carregada? Pinóquio perguntou com crescente empolgação Quantas moedas encontrarei? É muito simples descobrir! O cálculo baseia-se em um método científico! respondeu a Raposa Você pode utilizar os seus dedos para fazer a conta! Admitindo-se que cada peça lhe dará quinhentas, multiplique 500 por cinco e teremos o resultado. Veja através de minha mão que, na manhã seguinte, você irá encontrar duas mil e quinhentas novas peças de ouro. Ótimo! Ótimo! gritou Pinóquio, dançando com alegria E tão logo eu as tenha, vou ficar com duas mil e as outras quinhentas vou dar a vocês dois. Um presente para nós? exclamou a Raposa, fingindo-se insultada Por que??? Claro que não! Claro que não! repetiu o Gato. Nós não trabalhamos para ganhar. Trabalhamos apenas para enriquecer os outros. Enriquecer os outros! Que gente boa! Pensou Pinóquio. E esquecendo-se de seu pai, do casaco novo, do livro de ABC e todas as outras boas resoluções, ele disse para a Raposa e o Gato: A riqueza que me aguarde, pois lá vamos nós

48 CAPÍTULO 13 Na pensão da Lagosta Vermelha. O Gato, a Raposa e o Marionete andaram, andaram e andaram. Finalmente ao cair da noite, mortos de cansaço, eles chegaram na pensão da Lagosta Vermelha. Vamos parar aqui por enquanto. Vamos jantar e descansar por algumas horas. À meia-noite retomaremos nossa marcha e na madrugada já deveremos estar no campo das Maravilhas. disse a Raposa. Entraram na pensão e ocuparam uma mesa. O Gato e a Raposa disseram que não estavam com muita fome. O pobre Gato sentia-se muito fraco e foi capaz de comer apenas trinta e cinco tainhas com molho de tomate e quatro porções de tripas com queijo. Além disso, como ele estava um pouco carente de força, comeu mais quatro porções de salame e queijo. A Raposa, depois de uma grande dose de persuasão, fez de tudo para se alimentar um pouco. O médico colocou-a numa dieta e ela teve que se contentar com uma lebre pequena guarnecida com uma dúzia de galinhas. Depois da lebre ela pediu mais alguns acompanhamentos: algumas perdizes, faisões, um par de coelhos e uma dúzia

49 de sapos e lagartos. Isso era tudo. Sentiu-se doente, disse que infelizmente não podia comer mais. Pinóquio era o único que disse estar com um pouco de fome, mas pediu um pedaço de pão e algumas nozes e, em seguida, quase não os tocou. O pobre rapaz estava com sua mente no Campo das Maravilhas. Estava sofrendo de indigestão antecipada de moedas de ouro. Depois do jantar a Raposa disse para a dona da pensão Dêem-nos dois bons quartos, um para o Sr. Pinóquio e outro para mim e meu amigo. Antes de partir vamos tirar um cochilo. Lembre-se de nos chamar à meianoite em ponto, pois temos de continuar a nossa jornada. Sim, senhor. respondeu a dona da pensão, piscando para a Raposa e o Gato, como se dissesse que estava entendendo. Assim que Pinóquio caiu na cama, adormeceu e começou a sonhar. Sonhou que estava no meio de um campo. O campo estava cheio de videiras com uvas, mas ao chegar mais perto notou que as uvas eram nada menos que moedas de ouro a tilintarem alegremente enquanto balançavam ao vento. Elas pareciam dizer: permitam que ele nos leve! Mas assim que Pinóquio estendeu a mão para pegar um punhado delas, foi despertado por três fortes batidas na porta. Era a dona da pensão que vinha dizer-lhe que já era meia-noite. Os meus amigos já estão prontos? perguntou Pinóquio. Na verdade, sim! Eles partiram duas horas atrás. Por que tanta pressa? Infelizmente, o Gato recebeu um telegrama informando que seu primogênito estava sofrendo de frieiras e estava à beira da morte. Como a Raposa não poderia abandoná-lo em uma hora tão triste, os dois partiram sem esperar para lhe dizer adeus

50 Eles já pagaram as despesas do jantar e hospedagem? Como poderiam fazer uma coisa dessas? São pessoas de grande requinte. Eles não gostariam de ofendêlo tão profundamente e deixaram para o senhor a honra de pagar a conta. É uma pena! Essa ofensa teria sido mais agradável para mim do que ter que arcar com a conta. disse Pinóquio, coçando a cabeça. Onde foi que meus bons amigos disseram que irão esperar por mim? No campo das Maravilhas, amanhã de manhã, ao nascer do sol. Pinóquio pagou uma moeda de ouro pelas despesas e retomou o caminho para o campo que iria fazer dele um homem rico. Seguiu em frente, sem saber para onde estava indo, porque estava escuro, tão escuro que não era possível ver nada. Ao redor dele, nem mesmo uma folha se mexia. Uma vez ou outra alguns morcegos quase bateram em seu nariz, o que o deixou morto de medo. Algumas vezes também ele gritou: Quem está aí? e a sua voz ecoou nas colinas distantes e chegou de volta Quem está aí? Quem está aí? Quem... Enquanto caminhava, Pinóquio notou um pequeno inseto brilhando em um tronco de uma árvore, um pequeno ser que brilhava com uma luz pálida. Quem é você? ele perguntou. Eu sou o fantasma do Grilo Falante. respondeu o pequeno ser com uma voz fraca que soou como se viesse de um mundo distante. O que você quer? Eu quero lhe dar algumas palavras de bom conselho. Volte para casa e dê as quatro moedas de ouro,

51 que ainda lhe restam, ao seu pobre e velho pai que está chorando a sua ausência. Amanhã meu pai será um homem rico, porque essas quatro moedas de ouro serão duas mil. Não ouça aqueles que prometem riqueza durante a noite, meu rapaz. Geralmente eles são tolos ou vigaristas! Escute-me e vá para casa. Mas eu quero ir para o Campo das Maravilhas! Agora é tarde da noite! Eu quero ir em frente. A noite está muito escura. Eu quero ir em frente. A estrada é perigosa. Eu quero ir em frente. Lembre-se de que os meninos que insistem em fazer tudo à sua maneira, mais cedo ou mais tarde conhecerão a tristeza. Que absurdo! Adeus Grilo Falante! Tenha uma Boa noite Pinóquio e espero que os céus te guardem dos assassinos. Houve silêncio por alguns instantes e a luz do Grilo Falante desapareceu de repente, como se alguém o tivesse apagado. Mais uma vez a estrada foi mergulhada na escuridão

52 CAPÍTULO 14 Pinóquio, por não ter escutado os bons conselhos do Grilo Falante, cai nas mãos dos assassinos. Assim não dá! Quanto mais rezo, mais assombração me aparece! disse Pinóquio a si mesmo, enquanto retomava a sua viagem Nós, os meninos, somos realmente muito azarados. Todos nos repreendem, todos nos dão conselhos, todos nos advertem. Se nós permitirmos isso, todos agirão como nossos pais e mães, até mesmo o Grilo Falante. Veja o meu exemplo: só porque eu não quis ouvir o incômodo Grilo Falante, quem sabe quantas desgraças podem estar me aguardando! Assassinos de fato! Pelo menos eu nunca acreditei neles, nem nunca acreditarei. Para falar de forma sensata, acho que assassinos foram inventados por pais e mães para assustar crianças que querem fugir à noite. E mesmo que eu os encontrasse na estrada, o que importaria? Eu correria até eles e diria: 'bem, senhores, o que vocês querem? Lembrem-se de que vocês não podem me enganar! Vão embora e cuidem de suas vidas.' Após tal discurso, quase posso ver aqueles pobres coitados correndo como o vento

53 Na pior das hipóteses, caso eles não fujam eu poderei fugir deles... Pinóquio não teve tempo de filosofar mais, pois ele pensou ter ouvido um pequeno ruído entre as folhas atrás de si. Ele se virou e viu na penumbra dois grandes vultos escuros, envoltos dos pés às cabeças em sacos pretos. As duas sinistras figuras saltavam em direção a ele tão suavemente como se fossem fantasmas. Lá vêm eles! Pinóquio disse para si mesmo, e, não sabendo onde esconder as moedas de ouro, enfiou as quatro na boca, debaixo da sua língua. Ele tentou fugir, mas dificilmente teria dado um passo se quer, pois quando pensou nisso dois horríveis braços o agarraram e uma voz profunda lhe disse: Seu dinheiro, ou a sua vida! Por conta das peças de ouro em sua boca, Pinóquio não poderia dizer uma palavra. Então tentou mostrar com a cabeça e as mãos, o melhor possível, que ele era apenas uma pobre marionete sem um tostão no bolso. Não estamos de brincadeira, nos dê o seu dinheiro! gritou um deles com voz ameaçadora. O seu dinheiro! repetiu o outro. Mais uma vez, a cabeça e as mãos de Pinóquio disseram: Eu não tenho um centavo. Coloque o dinheiro para fora ou você será um homem morto! disse o mais alto dos dois assassinos. Um homem morto! repetiu o outro. E depois de ter matado você, vamos matar o seu pai também. Seu pai também! Não, não, não matem o meu Pai! gritou Pinóquio, bastante apavorado com esta última ameaça, mas quando ele gritou, as peças de ouro tilintaram em sua boca

54 Ah, seu malandro! Então esse é o jogo! O dinheiro está escondido debaixo de sua língua. Cuspa-o fora! Mas Pinóquio era muito teimoso. Você é surdo homem? Espere então que iremos resolver, vamos retirá-las de você em um piscar de olhos! Um deles agarrou o Marionete pelo nariz e o outro pelo queixo. Puxaram cada um para o seu lado e depois o sacudiram sem piedade, a fim de fazê-lo abrir a boca, mas tudo foi inútil. Os lábios do Marionete pareciam terem sido pregados. Eles não se abririam facilmente. Em desespero, o menor dos dois assassinos puxou uma faca longa do bolso e com ela tentou forçar a abertura da boca de Pinóquio. Rápido como um raio o Marionete afundou seus dentes tão profundamente na mão do assassino que arrancou um pequeno pedaço e o cuspiu fora. Qual não foi sua surpresa quando percebeu que não se tratava de uma mão, mas sim da pata de um Gato. Encorajado por esta pequena vitória, ele se libertou das garras de seus agressores e saltando sobre os arbustos ao lado da estrada, correu rapidamente através dos campos. Seus perseguidores foram atrás, como dois cães perseguindo uma lebre. Depois de correr uns dez quilômetros, ou algo assim, Pinóquio estava quase esgotado. Vendo-se perdido, ele subiu em um pinheiro gigante e sentou-se para tentar pensar em alguma possibilidade de fuga. Os assassinos tentaram subir também, mas escorregaram e caíram. Longe de desistirem da perseguição, isto só os estimulou. Eles reuniram um feixe de lenha ao pé do pinheiro e atearam fogo. Em um piscar de olhos a árvore começou a ranger e a queimar. Pinóquio viu as chamas subirem mais e mais, até que, não querendo terminar seus dias como uma marionete

55 assada, ele pulou rapidamente para o chão e saiu em disparada com os assassinos bem perto, como antes. Amanhecia quando, sem qualquer aviso, Pinóquio encontrou seu caminho obstruído por um poço cheio de água lamacenta. O que poderia ser feito? Ele deu um pulo certeiro que o fez aterrissar do outro lado, mas os assassinos não mediram a distância tão bem e Tibum caíram bem no meio do buraco. Pinóquio ouviu o barulho da queda e até sentiu os respingos. Isso o fez gritar: Que seja um banho agradável para vocês, senhores! mas não diminuiu o seu ritmo de corrida. Ele pensou que os assaltantes tivessem se afogado, mas ao virar a cabeça para conferir, percebeu que as duas figuras sombrias ainda estavam a persegui-lo, embora as suas roupas pretas estivessem encharcadas e pingando água

56 CAPÍTULO 15 Os assassinos finalmente capturam Pinóquio e o enforcam em um galho de um carvalho gigante. Enquanto corria, Pinóquio sentia que mais cedo ou mais tarde ele iria cair nas mãos de seus perseguidores. De repente ele viu em um relance uma pequena casa distante, branca como a neve, entre as árvores da floresta. Se eu tiver fôlego suficiente vou conseguir chegar naquela pequena casa e estarei salvo. disse para si mesmo e disparou com ânimo redobrado. Depois de uma dura esticada, cansado e quase sem fôlego, Pinóquio finalmente chegou à porta da casa e bateu. Ninguém respondeu. Ele bateu novamente, desta vez mais forte do que antes. O mesmo silêncio se seguiu. Como bater não tinha tido efeito, em desespero, começou a chutar e esmurrar a porta, como se quisesse quebrá-la. Em resposta a isso, sem nenhum ruído, uma janela se abriu e uma linda mocinha olhou para fora. Ela tinha cabelos azuis e uma pele branca como cera. Seus olhos estavam fechados e as mãos cruzadas sobre o peito. Com uma voz tão fraca que mal podia ser ouvida, ela sussurrou: Ninguém vive nesta casa. Todo mundo está morto

57 Você não vai, pelo menos, abrir a porta para mim? Se você não fizer isso eu serei morto! Pinóquio choramingou. Eu também estou morta. Morta?! O que você está fazendo na janela, então? Estou esperando o caixão para me levar embora. depois destas palavras, a menina desapareceu e a janela foi violentamente fechada, mas sem nenhum som. Oh, senhorita bonita de cabelo azul, abra a porta! Tenha pena de um pobre rapaz que está sendo perseguido por dois assassin... Ele não terminou, duas mãos poderosas agarraramno pelo pescoço e as mesmas duas vozes horríveis de antes rosnaram ameaçadoramente: Agora nós pegamos você! A marionete, vendo a morte diante de si, tremia tanto que as moedas tilintavam debaixo de sua língua. Bem, você vai abrir a boca ou não? Pinóquio não esboçou nenhuma ação Ah! Você não responde! Muito bem, desta vez você irá abri-la! Com uma faca afiada ele desferiu dois golpes terríveis no Marionete, mas felizmente para Pinóquio a faca se rompeu em pedaços, pois ele havia sido construído com um tipo de madeira muito dura. Os assassinos entreolharam-se com desânimo. Eu entendo, não há nada melhor a fazer agora do que enforcá-lo. disse um deles ao outro. Do que enforcá-lo! repetiu o outro. Eles amarraram as mãos de Pinóquio para trás de seu corpo e enfiaram um laço em torno de seu pescoço. O levaram até um carvalho gigante, não muito distante, jogaram a corda sobre um galho alto e puxaram até a pobre marionete ficar pendurada longe do chão

58 Satisfeitos com seu trabalho, eles se sentaram na grama esperando pelo último suspiro de Pinóquio, mas o tempo passou... Passou... E depois de três horas os olhos da marionete ainda estavam abertos, a boca continuava fechada, só as pernas é que estavam diferentes, pois chutavam mais do que nunca. Cansados de esperar, os assassinos falaram ironicamente: Bons sonhos e até amanhã! Quando voltamos de manhã, nós esperamos que você esteja suficientemente educado ou suficientemente morto, mas com a boca aberta. após estas palavras, eles se foram. Alguns minutos se passaram e um vento selvagem começou a soprar. Pinóquio gritou e gemeu, mas continuou lá, balançando para frente e para trás como um badalo de sino. O balanço fez com que o laço da corda se apertasse mais e mais, o que foi lhe sufocando e pouco a pouco, era como se um manto lhe cobrisse os olhos. A morte foi rastejando cada vez mais perto e Pinóquio ainda esperava que alguma boa alma viesse em seu socorro, mas ninguém apareceu. Quando ele estava prestes a morrer, pensou em seu pobre pai e murmurou para si mesmo: Oh Pai! Pai querido! Se você estivesse aqui... Estas foram suas últimas palavras. Ele fechou os olhos, abriu a boca, esticou as pernas e ficou pendurado lá como se estivesse morto

59 CAPÍTULO 16 A senhorita bonita de cabelo azul resgata a pobre marionete e chama três médicos para diagnosticar se ele está morto ou vivo. Se a pobre marionete tivesse ficado pendurada muito mais tempo, toda a esperança estaria perdida. Felizmente a senhorita bonita de cabelo azul olhou para fora de sua janela e ficou com dó de ver o coitadinho ser batido pelo vento. Ela bateu palmas vigorosamente três vezes. Após este sinal, um barulho alto de asas em vôo rápido foi ouvido e um grande falcão pousou no parapeito da janela. O que desejas minha fada encantadora? perguntou o falcão, dobrando seu bico em reverência profunda A encantadora senhorita de cabelos azuis era uma fada que vivia a mais de mil anos nas proximidades daquela floresta. Você viu uma marionete pendurada no galho do carvalho gigante? Sim, eu a vi

60 Muito bem. Voe imediatamente ao seu encontro, com o seu bico forte, quebre o nó da corda que mantém o boneco pendurado, leve-o para baixo e o coloque suavemente sobre a grama aos pés do carvalho. O falcão voou e depois de dois minutos voltou, dizendo: Eu fiz o que me foi ordenado. Como você o encontrou? Vivo ou morto? À primeira vista, pensei que ele estivesse morto, mas descobri que havia me enganado, pois assim que o nó em seu pescoço foi afrouxado ele deu um longo suspiro e murmurou com uma voz fraca: 'agora me sinto melhor!' A fada agradeceu ao falcão e novamente bateu palmas. Desta vez um magnífico poodle apareceu. Ele andava sobre as patas traseiras como um homem, estava vestido como se estivesse em um tribunal, usando uma peruca de cachos brancos que caiam até a cintura. Ele também vestia um casaco de veludo cor de chocolate, com botões de diamantes e dois bolsos enormes. Calças de seda escarlate, meias de lã e chinelos com fivelas de prata completavam o seu traje. Sua cauda estava envolta em uma capa de seda azul, cuja função era protegê-la da chuva. A Fada disse a ele: Pegue a minha melhor carruagem, entre na floresta e ao chegar ao carvalho gigante, você vai encontrar um marionete quase morto estendido sobre a grama. Pegue-o com ternura, coloque-o nas almofadas de seda da carruagem e traga-o aqui. O poodle abanou o rabo coberto de seda duas ou três vezes para mostrar que havia entendido. Entrou no estábulo e em poucos minutos, uma pequena e encantadora carruagem feita de vidro, decorada com penas de canário, equipada com bancos tão macios quanto pudim

61 de chocolate, foi puxada para fora por cem pares de ratos brancos. Sentado no banco do cocheiro, o poodle estalava o chicote alegremente no ar, demonstrando ser um cocheiro experiente. Partiu rápido, pois estava com pressa de cumprir sua tarefa. Em um quarto de hora a carruagem estava de volta. A fada, que estava esperando na porta da casa, carregou a pobre marionete em seus braços e a colocou na cama. Solicitou uma visita imediata dos melhores e mais famosos médicos da região. Um após o outro os médicos foram chegando: um corvo, uma coruja e um grilo falante. Eu gostaria de saber, senhores, se esta pobre marionete está viva ou morta. disse a Fada, voltando-se para os três médicos reunidos em torno da cama de Pinóquio. Ouvindo este convite, o corvo sentiu o pulso de Pinóquio, examinou o seu nariz e seu dedo mínimo. Então ele solenemente pronunciou as seguintes palavras: Para mim este marionete está morto, mas se, por qualquer motivo ele não estiver, então isso seria um sinal claro de que ele ainda está vivo! A coruja examinou as canelas do boneco e disse: Eu sinto muito em contradizer meu amigo e famoso colega de profissão, o corvo. No entanto, a minha conclusão é que este marionete está vivo, mas se, por qualquer motivo ele não estiver, então isso seria um sinal claro de que ele ainda está morto! E qual é a sua opinião? a fada perguntou ao grilo falante. Eu digo que um sábio médico, quando não sabe o que falar, deveria manter sua boca fechada. No entanto, esse marionete não é um estranho para mim. Eu o conheço há muito tempo!

62 Pinóquio, que até então tinha se mantido imóvel, estremeceu com tanta força que a cama tremeu. Esse marionete é um patife da pior espécie! continuou o grilo falante. Pinóquio abriu os olhos e os fechou novamente. Ele é rude, preguiçoso e um fugitivo de casa. Pinóquio escondeu o rosto sob os lençóis. Esse marionete é um filho desobediente, que está maltratando o coração de seu pai! Longos soluços e profundos suspiros foram ouvidos. Quando levantaram os lençóis descobriram que Pinóquio estava se debulhando em lágrimas! Quando os mortos choram isso significa que eles estão começando a se recuperar. disse o corvo solenemente. Lamento contradizer meu amigo e famoso colega, o corvo, mas quando os mortos choram, isso significa que eles não querem morrer. disse a coruja

63 CAPÍTULO 17 Pinóquio se recusa a tomar remédio e só faz isso quando a funerária chega para levá-lo. Depois disso ele mente e, em punição, o seu nariz cresce muito. Assim que os três médicos saíram, a fada tocando-o na testa percebeu que ele estava ardendo em febre. Ela pegou um copo com água, colocou um pó branco dentro dele e o entregou à marionete, dizendo carinhosamente: Beba este remédio e em poucos dias você ficará bom. Pinóquio olhou para o vidro, fez uma careta e perguntou com voz dengosa: Isso é doce ou amargo? É amargo, mas é bom para você. Se é amargo, eu não quero. Beba! Eu não gosto de nada amargo. Beba e vou lhe dar um torrão de açúcar para tirar o gosto amargo de sua boca. Onde está o açúcar? Está aqui. disse a fada, tomando um torrão de um açucareiro de ouro

64 Eu quero o açúcar primeiro, depois eu tomarei o remédio amargo. Você promete? Sim. A Fada deu-lhe o açúcar e Pinóquio, depois de engoli-lo em um piscar de olhos, disse, estalando os lábios: Se os remédios fossem doces como o açúcar, eu os tomaria todos os dias. Agora mantenha sua promessa e beba o remédio. Ele vai lhe fazer bem. Pinóquio pegou o copo com as duas mãos e enfiou o nariz nele. Levou-o aos lábios, mas não o bebeu. E mais uma vez o cheirou. É muito amargo! Muito amargo! Eu não posso beber isso! Como você sabe se nem sequer o provou? Eu posso imaginar o gosto através de seu cheiro. Quero mais um torrão de açúcar, então eu vou beber. A fada, com toda a paciência de uma boa mãe, deulhe mais açúcar e de novo entregou-lhe o copo com remédio. Eu não posso beber desse jeito. disse Pinóquio, tornando mais irônico seu rosto. Por quê? Porque o travesseiro de penas, que está no meu pé, me incomoda. A Fada retirou o travesseiro. Não adianta. Eu não posso beber. Qual é o problema agora? Eu não gosto da maneira como a porta está. Ela está semi-aberta. A Fada fechou a porta

65 Eu não vou beber! gritou Pinóquio, irrompendo em lágrimas Eu não beberei esta água horrível. Eu não vou. Eu não vou! Não, não, não! Meu rapaz, você vai se arrepender. Eu não me importo. Você está muito doente. Eu não me importo. Em poucas horas, a febre vai levá-lo para longe, para outro mundo. Eu não me importo. Você não tem medo da morte? Nem um pouco. Prefiro a morte a beber este remédio horrível. Naquele momento, a porta se abriu e entraram quatro coelhos, pretos como carvão, carregando um pequeno caixão preto sobre os ombros. O que vocês querem de mim? perguntou Pinóquio. Viemos por sua causa. disse o maior dos coelhos. Por mim? Mas eu ainda não estou morto! Realmente a sua morte não chegou ainda, mas como você se recusou a tomar o medicamento, que teria lhe feito bem, ela chegará em alguns momentos. Oh, Fada, minha Fada! gritou o marionete Por favor me dê o copo! Rápido, por favor! Eu não quero morrer! Não, não, ainda não! e segurando o copo com as duas mãos, engoliu o medicamento em um gole. Bem... disseram os quatro coelhos Dessa vez fizemos a viagem por nada. e virando-se em seus calcanhares, marcharam solenemente para fora da sala carregando seu pequeno caixão preto, murmurando e resmungando entre dentes. Em um piscar de olhos, Pinóquio se sentiu bem. Com um salto ele estava fora da cama e em suas roupas. A

66 fada, vendo-o correr e saltar ao redor da sala alegremente como um pássaro, disse-lhe: O meu remédio foi bom para você, não foi? Excelente! Ele me deu uma nova vida. Por que então, eu preciso implorar tanto para que você beba um remédio necessário? Eu sou uma criança, você sabe, e todas as crianças odeiam remédios mais do que a própria doença. Que vergonha! Crianças deveriam saber que os remédios quando tomados a tempo, podem salvá-los de muita dor e até mesmo da morte. Da próxima vez não será tão difícil. Vou me lembrar dos coelhos com o caixão preto a caminhar em minha direção e vou engolir o remédio de uma só vez! Agora que tudo passou, me conte como você caiu nas mãos dos Assassinos. Aconteceu que, Come Fogo deu-me cinco moedas de ouro para dar ao meu pai, mas no caminho, encontrei uma raposa e um gato, que me perguntaram: 'você quer que as cinco moedas se transformem em mais de duas mil?' E eu disse: 'sim.' E eles disseram: 'venha conosco para o campo das maravilhas.' E eu disse: 'vamos logo.' Então eles disseram: 'vamos parar na pensão da Lagosta Vermelha para jantar e depois da meia noite nós vamos continuar novamente.' Comemos e fomos dormir. Quando acordei eles tinham ido embora e eu retomei sozinho o caminho na escuridão. Na estrada eu encontrei dois assassinos vestidos com roupas pretas como carvão, que me disseram: 'seu dinheiro ou sua vida!' E eu disse: 'eu não tenho nenhum dinheiro.' Eu tinha colocado o dinheiro embaixo de minha língua. Um deles tentou colocar a mão na minha boca e eu a mordi tão forte que arrancou um pedaço, mas quando cuspi fora percebi que não era um pedaço de mão, mas sim um pedaço de pata de gato. Eu

67 corri e eles correram atrás de mim, até que finalmente me pegaram. Amarraram uma corda em meu pescoço e me enforcaram em uma árvore, dizendo: 'amanhã vamos voltar, você vai estar morto, com a boca aberta e então nós vamos levar as moedas de ouro que estão escondidas sob sua língua.' E onde estão as moedas de ouro agora? perguntou a fada. Eu as perdi. respondeu Pinóquio. Mas era mentira porque elas estavam em seu bolso. Após ele falar isso seu nariz dobrou de tamanho. E onde você as perdeu? Dentro da floresta, nas imediações de onde me enforcaram. Após esta segunda mentira, seu nariz dobrou de tamanho novamente. Se você perdeu aqui perto vamos procurar e tenho certeza que iremos encontrar, porque tudo que está perdido, em algum momento será encontrado. Ah, agora me lembro! respondeu o marionete, tornando-se cada vez mais confuso Eu não perdi as moedas de ouro, eu as engoli quando bebi o remédio. Após esta terceira mentira, seu nariz tornou-se maior ainda, como nunca estivera, tanto que ele nem sequer conseguia se virar. Quando tentava se virar para a direita, batia o nariz contra a cama ou nas vidraças, ao tentar se virar para a esquerda, ele atingia a parede ou a porta. A fada ficou olhando para ele e rindo. Por que você ri? Pinóquio perguntou, já bastante preocupado com o nariz que não parava de crescer. Eu estou rindo de suas mentiras. Como você sabe que eu estou mentindo? Mentiras são reconhecidas no mesmo momento em que são ditas. Existem dois tipos de mentiras: as de pernas

68 curtas e as de narizes compridos. As suas são de nariz comprido. Pinóquio, não sabendo como esconder sua vergonha, tentou fugir para outro lugar qualquer, mas seu nariz havia se tornado tão grande que não conseguia

69 CAPÍTULO 18 Pinóquio encontra a Raposa e o Gato novamente e vai com eles semear moedas de ouro no Campo das Maravilhas. Chorando como se seu coração fosse explodir, o marionete lamentou por horas a fio o comprimento de seu nariz. Não importava o quanto ele tentasse, não era possível passar através da porta. A fada não mostrou piedade, pois estava tentando lhe ensinar uma boa lição, para que ele parasse de mentir, que é o pior hábito que qualquer criança pode ter. Deixou-o assim o tempo necessário, mas quando o viu realmente arrependido, começou a sentir pena dele e bateu palmas. Após isso entraram mil pica-paus na casa e sentaram no nariz de Pinóquio. Bastou um gesto de sua mão e eles bicaram tanto o enorme nariz, que ele foi diminuído em alguns minutos para o tamanho original. Como você é boa, minha Fada! disse Pinóquio, enxugando os olhos E como eu te amo! Eu também te amo. respondeu a fada Se você desejar ficar comigo, poderá ser meu irmãozinho e eu serei sua boa irmãzinha

70 Eu gostaria de ficar, mas o que será de meu pobre pai? Eu já pensei em tudo. Seu pai está preocupado com seu sumiço, está lhe procurando, mas já está a caminho e antes do anoitecer estará aqui. Sério? gritou Pinóquio com alegria Então, minha boa fada, se você me permitir, eu gostaria de ir ao encontro dele. Eu não posso esperar para beijar meu querido velho, que tanto sofreu por minha causa. Ok, vá em frente, mas tome cuidado para não se perder. Pegue o caminho através da floresta, não saia dele e com certeza você irá encontrá-lo. Pinóquio concordou e assim que entrou na floresta correu como uma lebre. Quando chegou ao carvalho gigante parou, pois pensou ter ouvido um barulho no mato. Ele estava certo. Ali estavam a Raposa e o Gato, os seus dois companheiros de viagem. Aqui está o nosso querido Pinóquio! exclamou a Raposa, abraçando e beijando-o Que bom encontrá-lo! O que você faz aqui? O que você faz aqui? repetiu o Gato. É uma longa história. respondeu Pinóquio Deixe-me lhes contar: após vocês me deixarem sozinho na pensão, eu saí e encontrei assassinos na estrada. Assassinos? Oh, meu pobre amigo! E o que eles queriam? Eles queriam minhas moedas de ouro. Essas estradas estão cheias de todo tipo de patifes! disse a Raposa. Todo tipo de patifes! repetiu o Gato. Eu consegui correr e eles correram atrás até que me alcançaram e me enforcaram em um galho daquele carvalho. disse Pinóquio apontando para o carvalho gigante

71 Isso não poderia ser pior! disse a Raposa Que mundo terrível para se viver! Onde vamos encontrar um lugar seguro para pessoas como nós? Enquanto a Raposa falava, Pinóquio percebeu que o Gato levava sua pata direita em uma tipóia e perguntou: O que aconteceu com a sua pata? O Gato tentou responder, mas sua resposta foi tão confusa, que a Raposa teve que ajudá-lo. Meu amigo é muito modesto para responder, então vou fazer isso por ele. Cerca de uma hora atrás, encontramos um velho lobo na estrada. Ele estava faminto e pediu ajuda. Não tendo nada para lhe dar, o que você acha meu amigo fez? Com toda bondade que existe em seu coração, ele arrancou um pequeno pedaço de sua pata e o ofereceu ao pobre animal para que pudesse ter algo para comer. após falar, a Raposa enxugou uma lágrima que escorria de seus olhos. Pinóquio, quase em lágrimas também, sussurrou no ouvido do Gato: Se todos os gatos fossem como você, quanta sorte os ratos teriam! E o que você está fazendo aqui? a Raposa perguntou. Eu estou indo ao encontro de meu pai, que estará aqui a qualquer momento. E as suas moedas de ouro? Eu ainda as tenho em meu bolso, exceto uma que gastei na pensão da Lagosta Vermelha. E pensar que essas quatro moedas de ouro poderiam se tornar duas mil amanhã. Vamos plantá-las no Campo das Maravilhas? Hoje é impossível. Eu vou com você outro dia. Mais um dia e será tarde demais. disse a Raposa. Por quê?

72 Porque o Campo das Maravilhas foi comprado por um homem muito rico e hoje será o último dia que ele estará aberto ao público. E estamos longe do Campo das Maravilhas? Estamos a apenas a dois quilômetros de distância. Será que você vem conosco? Estaremos de volta em meia hora. Você pode semear o dinheiro, e, após alguns minutos, você vai reunir suas duas mil moedas e voltar para casa, mas será um homem rico. Você vem? Pinóquio hesitou um momento antes de responder, pois ele lembrou-se da boa fada, de Gepeto e dos conselhos do grilo falante. Então acabou fazendo o que os meninos de cérebro pequeno e sem coração fazem, ele deu de ombros e disse à Raposa e ao Gato: Vamos! Eu estou com vocês. E eles foram. Caminharam, caminharam e caminharam, por mais de meio dia até que finalmente chegaram na Cidade dos Tolos. Assim que eles entraram na cidade, Pinóquio notou que as ruas estavam cheias de cães sem pêlo, bocejando de fome. De ovelhas tosquiadas, tremendo de frio. De galinhas sem crista, implorando por um grão de milho. De grandes borboletas cinzentas incapazes de encontrar outras de sua espécie, porque tinham vendido suas belas cores. De pavões sem cauda, envergonhados demais para se exibirem. De faisões decadentes, chorando suas penas brilhantes que foram perdidas para sempre. Em meio a essa multidão de indigentes e mendigos, uma bela e brilhante carruagem desfilava com uma raposa e um abutre sentados confortavelmente em seu interior. Onde está o Campo das Maravilhas? perguntou Pinóquio, cansado da demora para chegar. Seja paciente. O campo está a apenas mais alguns passos de distância. disse a Raposa

73 Atravessaram a cidade e, fora das muralhas, chegaram a um campo afastado que não se diferenciava de qualquer outro campo. Aqui estamos nós! disse a Raposa Cave um buraco e coloque as moedas de ouro dentro dele. A Marionete obedeceu, cavou um buraco de pouco mais de um palmo de profundidade, colocou as quatro moedas de ouro em seu interior e as cobriu com muito cuidado. Agora vá até aquele pequeno riacho, traga um balde cheio de água e regue as moedas. completou a Raposa. Pinóquio seguiu as instruções meticulosamente, mas, como ele não dispunha de balde, tirou um dos sapatos, encheu de água e regou a cova que cobria as moedas de ouro. Após isso perguntou: Mais alguma coisa? Nada mais. Agora está tudo pronto e já podemos ir. Volte aqui após vinte minutos, você vai encontrar uma videira com os ramos já crescidos e carregados de peças de ouro. Pinóquio, fora de si de tanta alegria, agradeceu imensamente à Raposa e ao Gato muitas vezes e prometeu um belo e valioso presente a cada um. Nós não queremos presentes. responderam os dois bandidos É suficiente para nós a certeza de termos ajudado nosso grande amigo Pinóquio a tornar-se rico, com pouco ou nenhum trabalho. Isso nos deixa felizes como reis. Eles disseram adeus a Pinóquio e, desejando-lhe boa sorte, tomaram um caminho diferente do de Pinóquio

74 CAPÍTULO 19 Pinóquio descobre que suas moedas de ouro foram furtadas e, em punição, é condenado à prisão. Se Pinóquio tivesse que esperar um dia, em vez de vinte minutos, talvez o tempo teria passado mais rápido, porque ele demorou muito a passar. Ele andou impacientemente para lá e para cá diversas vezes, até que finalmente virou o nariz para o Campo das Maravilhas e retornou. Enquanto caminhava, com passos rápidos, seu coração batia um animado Tic, tac, tic, tac, tic, tac como se fosse um relógio de parede apressado e seu cérebro se mantinha ocupado pensando: E se, em vez de duas mil, eu encontrar três mil? Ou se, em vez de três mil, eu encontrar cinco mil? E se aquela parte do campo estiver muito fértil, poderão ser cem mil! Eu vou construir um belo palácio, com mil estábulos onde estarão mil cavalos de madeira com os quais poderei brincar quando quiser. Uma adega com diversos tonéis transbordando de refrigerante. Uma fábrica de sorvetes e uma biblioteca de doces, salgadinhos, bolos e biscoitos. Assim, divertindo-se com fantasias, ele avistou o campo. Procurou de um lado e de outro uma videira cheia

75 de moedas de ouro, no entanto por mais que olhasse não conseguiu ver nada! Ele deu alguns passos para frente e ainda não conseguiu ver nada! Ele entrou no campo, foi até o lugar onde tinha enterrado as moedas e mais uma vez nada! Pinóquio ficou pensando, analisando as possibilidades e finalmente, esquecendo as boas maneiras, puxou a mão que estava no bolso e deu um belo soco no topo de sua cabeça. O que fez um ruído alto e provocou um arranhão. Quando ele fez isso, ouviu uma gargalhada atrás de si. Ele virou-se bruscamente e logo acima viu no galho de uma árvore um enorme papagaio que se ocupava em alisar e limpar suas penas. Do que você está rindo? Pinóquio perguntou irritado. Estou rindo porque quando aliso minhas penas eu sinto cócegas. Pinóquio não respondeu, caminhou até o riacho, encheu o sapato com água e, mais uma vez, regou o chão onde havia enterrado as moedas de ouro. Outra gargalhada, ainda mais impertinente do que a primeira, foi ouvida no campo tranqüilo. Bem que eu gostaria de saber o motivo pelo qual o amigo papagaio se diverte tanto! gritou Pinóquio com sinais de raiva. Estou rindo desses tolos que acreditam em tudo que ouvem e que se deixam enganar facilmente. Você, talvez, possa explicar melhor para que eu também seja capaz de rir. Eu certamente vou ter que explicar melhor, porque se eu não fizer isso muito bem, você, pobre Pinóquio, não será capaz de entender. Afinal de contas você foi suficientemente tolo para acreditar que o ouro pode ser

76 semeado em um campo como se fosse feijão ou milho. Esse é um velho truque. Confesso que uma vez também cheguei a acreditar nisso, fui enganado e fiquei muito triste por saber que minha ambição e preguiça me levaram ao erro. Hoje, depois de sofrer bastante, aprendi que só vale a pena o dinheiro ganho honestamente através do trabalho. Eu não sei do que você está falando. disse Pinóquio, não querendo aceitar, mas inconscientemente já começando a tremer de medo. É uma pena! No entanto, vou explicar-lhe ainda melhor. disse o papagaio Enquanto você estava longe, a Raposa e o Gato voltaram aqui com muita pressa, desenterraram as quatro moedas de ouro e fugiram o mais rápido que puderam. Se você for capaz de pegá-los eu lhe considerarei um bravo! O queixo de Pinóquio ficou caído, não queria acreditar nas palavras do papagaio e começou a cavar furiosamente a terra. Ele cavou, cavou e cavou até que o buraco ficou quase tão grande quanto si mesmo, mas não encontrou o dinheiro. Em desespero Pinóquio correu para a cidade e foi direto para o tribunal relatar o furto ao magistrado. O juiz era um macaco, um grande gorila na verdade, já um pouco idoso, o que lhe conferia um aspecto venerável. Tinha uma barba branca e comprida que cobria seu peito. Ele usava óculos de ouro porque sua visão foi enfraquecida pelo intenso trabalho de muitos anos. Pinóquio, de pé diante dele, contou sua história lamentável, palavra por palavra. Ele deu os nomes, as descrições dos assaltantes e pediu justiça. O Juiz ouviu-o com grande paciência. Ele ficou muito interessado na história, sentiu-se comovido e quase chorou. Um olhar carinhoso brilhou em seus olhos

77 Quando o Marionete não tinha mais nada a dizer, o juiz solenemente esticou o braço e tocou uma sineta. Em resposta ao som, dois grandes cães vestidos com uniformes militares apareceram e o magistrado, apontando para Pinóquio, disse em uma voz muito solene: Este pobre tolo foi furtado, o que lhe causou prejuízo de quatro moedas de ouro. Levem-no e joguemno na prisão, onde deverá aprender a não errar mais. Ao ouvir esta sentença pronunciada contra ele, Pinóquio ficou completamente atordoado. Tentou protestar, mas os dois cães o amordaçaram e o recolheram antes disso. Ele ficou na prisão por quatro longos meses e, se não tivesse tido bastante sorte, provavelmente teria que ficar lá por um período bem maior. A sorte dele foi que o jovem imperador, que governava a Cidade dos Tolos naquela época, obteve uma grande vitória sobre um inimigo notável e para a celebração deste acontecimento ordenou grandes festividades com queimas de fogos de artifício, shows de todos os tipos, e, o melhor de todos, a abertura das portas das prisões. Se os outros vão, eu também vou. dizendo isso, Pinóquio correu para fora da cidade e só diminuiu o ritmo quando já estava longe, mesmo assim nem mesmo pensou em olhar para trás

78 CAPÍTULO 20 Libertado da prisão, Pinóquio pretende voltar para a casa da Fada, mas no caminho ele encontra uma serpente e depois é capturado em uma armadilha. Sentindo a felicidade da liberdade, Pinóquio seguiu pela estrada que o levaria de volta para a casa da Fada. Havia chovido por muitos dias e a estrada estava tão enlameada que algumas vezes Pinóquio afundava até quase os joelhos, mas mesmo assim continuava bravamente. Atormentado pelo desejo de ver seu pai e sua irmã, a Fada de cabelos azuis, ele correu como o vento. Correu tanto que ficou salpicado de lama até no chapéu. Enquanto corria, falava para si mesmo. Como tenho sido infeliz. E o pior é que mereço tudo isso, porque tenho sido muito teimoso e estúpido! Eu sempre faço tudo à minha própria maneira. Eu não ouço aqueles que me amam e que possuem mais juízo do que eu, mas de agora em diante, vou ser diferente, vou tentar ser um menino mais obediente. Eu descobri, da pior forma, que meninos desobedientes estão certamente longe do caminho da felicidade e sempre saem perdendo no final das contas

79 Será que meu pai está sentindo minha falta? Já se passou muito tempo, mas eu gostaria que ele estivesse aqui para que pudesse abraçá-lo e beijá-lo. E a Fada, será que ela será capaz de me perdoar pelo que fiz? Ela, que tem sido muito boa para mim e devo a ela a minha vida! Será que pode existir um menino pior ou mais cruel do que eu em algum lugar? Enquanto falava, de repente, parou congelado de terror. Qual era o problema? Uma imensa serpente que estava esticada de um lado a outro da estrada impedindo a passagem. Ela possuía uma pele verde-clara. Grandes olhos de fogo, que brilhavam e queimavam. E uma cauda pontiaguda que esfumaçava como se fosse uma chaminé. Pinóquio tremeu de medo! Ele correu para trás, até um local em que se sentiu seguro, no topo de um monte de pedras. Ele esperou a serpente seguir o seu caminho. Esperou uma hora, duas horas, três horas, mas a serpente não se movia e mesmo de longe era possível ver a luz de seus olhos vermelhos e a coluna de fumaça que subia de sua cauda longa e pontiaguda. Por fim foi reunindo coragem, andou até ela e disse com voz doce e suave: Peço perdão senhora serpente, mas você faria a gentileza de se afastar para que eu pudesse continuar minha viagem? Ele poderia muito bem ter falado a uma parede. A serpente não se moveu. Mais uma vez, no mesmo tom doce, ele falou: Talvez você não saiba, mas gostaria muito que soubesse, que estou indo para casa de meu pai e ele está esperando por mim. Faz muito tempo que não o vejo. Você se importaria se eu passasse? Ele esperou por algum sinal de resposta para suas perguntas, mas nada aconteceu. Pelo contrário, a serpente verde que parecia até então desperta e cheia de vida,

80 tornou-se subitamente muito quieta e imóvel. Seus olhos se fecharam e parou de sair fumaça de sua cauda. Será que ela morreu? falou Pinóquio a si mesmo, esfregando as mãos alegremente. Sem um momento de hesitação, começou a passar por cima da serpente. Porém ele tinha apenas acabado de levantar uma perna quando ela se moveu rápida como uma mola. Pinóquio se assustou tanto que caiu com a cabeça enfiada na lama. Assim ele ficou por um tempo, entalado na lama até os ombros e com as pernas para cima, balançando no ar. Ao ver a marionete chutando o ar e se contorcendo na lama, a serpente riu tanto, com tamanha satisfação e por tanto tempo, que terminou por estourar uma de suas artérias e morreu. Pinóquio livrou-se de sua incômoda posição, passou sobre a serpente e mais uma vez retomou sua caminhada. Estava determinado a chegar na casa da Fada antes do anoitecer, mas enquanto ele caminhava a fome foi aumentando, aumentando, até que ela se tornou tão forte que ele foi incapaz de resistir e invadiu uma propriedade para comer algumas uvas. Pulou uma cerca à beira da estrada, porém antes de chegar na videira... Crack! o pobre Marionete foi pego em uma armadilha. Ela tinha sido colocada pelo fazendeiro para capturar umas doninhas que costumavam comer as galinhas de sua propriedade

81 CAPÍTULO 21 Pinóquio é capturado por um fazendeiro, que o usa como cão de guarda para o seu galinheiro. Pinóquio, como você bem pode imaginar, começou a gritar, chorar e implorar, mas foi tudo inútil, porque não havia nenhuma casa perto e ninguém passou pela estrada. A noite chegou. Um pouco por causa da forte dor nas pernas e um pouco por causa do susto, ao se encontrar sozinho na escuridão do campo, Pinóquio estava prestes a desmaiar quando viu um pequeno vaga-lume piscando. Ele o chamou dizendo: Querido vaga-lume, você pode me libertar? Coitadinho! respondeu o vaga-lume, com piedade Como você se deixou apanhar nessa armadilha? Eu entrei nesse campo só para pegar algumas uvas e... São suas as uvas? Não. Quem te ensinou a levar as coisas que não pertencem a você? Eu estava com fome

82 A fome, meu rapaz, não é motivo para tomar alguma coisa que não lhe pertence. É verdade, é verdade! Eu não vou fazer isso novamente. Pinóquio chorava. Mas neste momento a conversa foi interrompida por passos que se aproximavam. Era o dono do campo, que vinha na ponta dos pés para conferir se havia apanhado uma das doninhas que costumavam comer as suas galinhas. Teve uma grande surpresa quando o foco de sua lanterna iluminou, não uma doninha ou outro animal deste tipo, mas sim um menino! Ladrão! Então é você que está roubando as minhas galinhas! Eu não! Não, não! Eu vim aqui só para pegar algumas uvas! Ora, ora, ora, mas aquele que rouba uvas, poderia muito facilmente roubar galinhas também, no entanto pode ter certeza de que vou lhe dar uma lição que fará você se lembre disso por muito tempo. Ele abriu a armadilha, pegou o Marionete pelo colarinho e o levou para casa como se fosse um cachorro. Quando chegou ao quintal, em frente à sua casa, atirou-o ao chão, colocou um pé em seu pescoço e disse-lhe: Já é tarde e agora é hora de dormir. Amanhã nós vamos resolver esse assunto. Nesse meio tempo, como o meu cão de guarda morreu hoje, você irá tomar o seu lugar e guardará o meu galinheiro. Dito isto, ele pegou uma coleira de cachorro, a colocou no pescoço de Pinóquio e a apertou para que não escapasse por acidente. Prendeu a ponta de uma longa corrente de ferro na coleira e a outra extremidade na parede. Se hoje à noite chover, você pode dormir na casa do cachorro, onde você vai encontrar palha suficiente para

83 fazer uma cama macia. Ela foi a casa de Melampo por três anos, e, se era boa o suficiente para ele, será também para você. E se qualquer tipo de ladrão aparecer, espero que você seja capaz de latir! Após este último aviso, o fazendeiro entrou na casa e fechou a porta. O pobre Pinóquio entrou na casa do cachorro, mais morto do que vivo, passando frio, fome, medo e, de vez em quando, era quase sufocado pela coleira apertada. Falou em voz fraca: Eu mereço isso! Sim, eu mereço! Não tenho sido nada mais que um preguiçoso, um vagabundo. Eu nunca obedeci a ninguém e sempre fiz o que bem entendia. Se eu fosse bom, como muitos outros, teria ido para a escola, teria sido obediente e neste momento não estaria aqui trabalhando como cão de guarda. Oh, se eu pudesse começar tudo de novo! Mas o que está feito não pode ser desfeito, agora só me resta ser paciente! Após este pequeno sermão, que veio das profundezas do seu coração, Pinóquio entrou na casinha do cachorro e adormeceu

84 CAPÍTULO 22 Pinóquio descobre os verdadeiros ladrões e recupera sua liberdade. Mesmo quando um garoto está muito infeliz, ele raramente perde o sono por causa de suas preocupações. Pinóquio, não sendo exceção a esta regra, dormiu tranquilamente por algumas horas até bem depois da meianoite, quando foi acordado por sussurros e outros sons estranhos vindos do quintal. Ele colocou a cabeça para fora da casinha e viu quatro delgados e peludos animais, que eram as doninhas. Elas são pequenos animais que gostam muito de ovos e galinhas. Um deles deixou seus companheiros e, chegando perto da porta da casinha de cachorro, disse em uma voz doce: Boa noite, Melampo. Meu nome não é Melampo. respondeu Pinóquio. Quem é você, então? Eu sou Pinóquio. E o que você está fazendo aqui? Eu sou o cão de guarda

85 Mas onde está Melampo? O velho cão que vivia neste casa? Ele morreu esta manhã. Morreu? Pobre animal! Ele era tão bom! Ainda assim, a julgar pela sua cara, eu acho que você também é um cão de boa índole. Me perdoe, mas eu não sou um cachorro! O que você é, então? Eu sou uma marionete. Você está tomando o lugar do cão de guarda? Eu sinto muito em dizer que sim, na verdade estou sendo punido. Bem, então vou fazer com você o mesmo acordo que tínhamos com o finado Melampo. Tenho certeza que você ficará feliz. E quais são os termos? Este é o nosso plano: nós vamos, de vez em quando, assim como no passado, fazer uma visita a este galinheiro e a cada visita retiraremos oito galinhas. Destas, sete são para nós e uma é para você, desde que, é claro, você faça de conta que está dormindo e não acorde o fazendeiro. Melampo fazia isso? perguntou Pinóquio. De fato sim e por isso sempre fomos os melhores amigos. Agora durma tranquilamente e lembre-se de que antes de irmos vamos deixar-lhe uma gorda galinha para o seu café da manhã. Está tudo compreendido? Está tudo muito bem compreendido! respondeu Pinóquio. E balançando a cabeça de forma ameaçadora, ele mais parecia dizer: tudo compreendido, mas não está aceito. Aguarde-me! Após esta conversa, a doninha voltou para perto das outras, que estavam ocupadas cavando com garras e

86 dentes um buraco em uma das laterais do galinheiro. Conseguiram finalmente uma passagem e entraram todas. Logo que acabaram de entrar ouviram um estrondo incomum: Pinóquio fechou o buraco com uma tábua e ainda arrastou uma pedra pesada, que foi colocada sobre ela. Após isso, Pinóquio começou a latir. E latiu como se fosse um cão mesmo. Au, au, au, au! O fazendeiro ouviu os latidos e pulou da cama. Pegou sua arma, colocou meio corpo para fora da janela e gritou: Qual é o problema? Os ladrões estão aqui. respondeu Pinóquio. Onde eles estão? No galinheiro. Vou descer em um segundo. E, de fato, ele chegou em um piscar de olhos. Abriu a porta e retirou as doninhas uma por uma, colocando-as em um saco. Ao final desta operação, disse-lhes com alegria: Finalmente vocês estão em minhas mãos! Eu sonhei muito com este momento! Amanhã conversaremos melhor. Então ele foi até Pinóquio e começou a acariciá-lo e falou: Como é que você conseguiu encontrá-las tão rapidamente? E pensar que Melampo, meu Melampo fiel, nunca as viu em todos esses anos! O Marionete poderia ter dito tudo o que havia descoberto sobre o contrato vergonhoso entre o cão e as doninhas, mas de que adiantaria? Pensou consigo mesmo: Melampo está morto, de que me valeria acusá-lo? Os mortos se foram e não podem se defender. A melhor coisa a fazer é deixá-lo em paz!

87 Você estava acordado ou dormindo quando eles chegaram? continuou o fazendeiro. Eu estava dormindo, mas despertei com os sussurros. Uma delas veio até a porta da casinha de cachorro e me disse: 'se você não latir vamos lhe dar uma das galinhas para o seu café da manhã.' Você ouviu isso? Elas tiveram a audácia de fazer uma proposta dessas para mim! Eu tenho muitas falhas, mas nunca fui e, espero nunca ser, um corrupto. Ótimo, garoto! falou o fazendeiro, batendo-lhe no ombro de forma amistosa Você deveria estar orgulhoso de si mesmo. E para mostrar o quanto lhe sou grato, você está livre a partir deste instante! E retirou a coleira do pescoço de Pinóquio

88 CAPÍTULO 23 Pinóquio chora ao saber que a Fada de cabelos azuis está morta e conhece um pombo, que lhe ajuda a encontrar seu pai. Assim que Pinóquio deixou de sentir a vergonhosa pressão da coleira de cão em seu pescoço, começou a correr e não parou até chegar à estrada principal que iria levá-lo para a casa da Fada. Quando ele estava se aproximando reconheceu o vale e depois o carvalho gigante onde havia sido enforcado, porém por mais que procurasse não conseguiu ver a casa da Fada. Ficou bastante assustado com isso e correu o mais rápido que foi capaz. Quando chegou ao exato lugar onde a casa estivera, comprou que era realmente aquele o lugar, mas a casa não existia mais. Em seu lugar existia apenas uma pequena laje de mármore, onde estava escrito: AQUI JAZ A LINDA FADA DE CABELOS AZUIS. MORREU DE DESGOSTO POR TER SIDO ABANDONADA POR SEU INGRATO IRMÃOZINHO PINÓQUIO

89 O pobre Marionete ficou inconsolável, pois apesar de não saber ler, sabia que aquela pedra de mármore fria significava que sua Fada estava morta. Ele chorou o restante do dia e a noite inteira. Os primeiros raios do amanhecer ainda lhe encontraram em suas lamentações, as lágrimas já haviam secado e só os soluços secos podiam ser ouvidos. Eles eram tão altos que poderiam ser ouvidos nas colinas em redor. Enquanto ele soluçava, disse para si mesmo: Oh, minha Fada, minha querida Fada, por que você morreu? Por que eu não morri em seu lugar? E meu pai? Onde ele estará? Por favor, querida fada, diga-me onde ele está e eu nunca, nunca vou deixá-lo de novo! Você não está realmente morta, não é? Você não sente pena de mim? Eu estou tão solitário. Se os dois assassinos me encontrarem novamente vão me pendurar no carvalho gigante mais uma vez e eu realmente vou morrer. O que farei sozinho no mundo? Onde irei dormir? Sim, eu quero morrer! Oh, oh, oh! Pobre Pinóquio! Ele até tentou arrancar seus cabelos, mas como eles foram pintados na sua cabeça de madeira, nem isso ele podia fazer. Neste momento um grande pombo voava muito alto no céu e vendo o Marionete, gritou-lhe: Diga-me menino, o que você está fazendo aí? Você não vê? Eu estou chorando. gritou Pinóquio, levantando a cabeça em direção da voz e esfregando os olhos. Diga-me, você por acaso conhece um marionete chamado Pinóquio? Pinóquio! Você disse Pinóquio! respondeu saltando Eu sou Pinóquio!

90 Após essa resposta, o Pombo voou rapidamente para a terra. Ele era muito maior do que um peru e perguntou: Você conhece um homem chamado Gepeto também? Se eu o conheço? Ele é meu pai, meu querido pai! Ele ainda está vivo? Onde ele está? Deixei-o há três dias em uma praia do grande oceano. O que ele estava fazendo? Ele estava construindo um pequeno barco com o qual pretende cruzar o oceano, porque nos últimos quatro meses aquele pobre homem percorreu toda a Europa procurando por você e como não lhe encontrou, pensou que você estava no Novo Mundo, do outro lado do oceano. Qual é a distância daqui até essa praia? Pinóquio perguntou ansiosamente. Mais de oitenta quilômetros. Oitenta quilômetros? Oh, querido pombo, como eu gostaria de ter suas asas! Se você quiser vir, eu posso levá-lo comigo. Como? Suba em minhas costas. Você é muito pesado? Não, eu sou leve como uma pena. Muito bem, então venha. Sem dizer mais nada, Pinóquio pulou nas costas do pombo, acomodou-se e gritou alegremente: Vamos cortar o ar, galope meu cavalo bonito! Galope! Eu estou com muita pressa. O pombo levantou vôo e em poucos minutos alcançou as nuvens. O Marionete olhou para baixo para ver como eram as coisas daquele ponto de vista, mas ficou tão assustado com o que viu, que se agarrou violentamente ao pescoço do Pombo para não cair. Eles voaram e depois de bastante tempo o Pombo disse:

91 Estou com muita sede! E eu estou com muita fome! disse Pinóquio. Vamos parar e descansar naquele pombal lá embaixo e depois poderemos continuar. Entraram em um pombal vazio e lá não havia muito mais do que uma tigela de água e uma pequena cesta cheia de grão de bico. Pinóquio sempre odiou grão-de-bico. Era coisa de gente doente dizia, mas naquela noite ele comeu com satisfação. Quando terminou, se virou para o Pombo e disse: Eu nunca imaginei que grão de bico poderia ser tão bom! Você deve se lembrar, meu filho, de que a fome é o melhor tempero! respondeu o pombo. Depois de descansarem bastante, eles partiram e chegaram ao destino final. Pinóquio pulou das costas do pombo e antes que tivesse oportunidade de agradecer, o pombo alçou vôo novamente e desapareceu. A praia estava cheia de gente olhando para o mar, gritando e arrancando os cabelos de preocupação. O que aconteceu? Pinóquio perguntou a um velhinho. Um pobre pai perdeu seu único filho há algum tempo, hoje finalizou um pequeno barco para si e se lançou no oceano em busca do filho perdido. No entanto hoje o mar está muito mexido e estamos com medo de que ele se afogue. Onde está o barco? Lá, naquela direção. respondeu o velhinho, apontando para uma sombra minúscula, do tamanho de uma casca de noz, flutuando sobre o mar. Pinóquio olhou atentamente por alguns minutos e depois deu um grito agudo: É meu pai! É o meu pai!

92 Enquanto isso, o pequeno barco, agitado pelas águas enfurecidas, aparecia e desaparecia nas ondas. Pinóquio, de pé sobre uma rocha alta, acenou-lhe com a mão, com o chapéu e até mesmo com o seu nariz. Parecia que Gepeto, embora longe da costa, chegou a reconhecer o seu filho, pois também tirou o chapéu e acenou. Ele parecia estar tentando dizer que voltaria se fosse capaz, mas o mar estava tão agitado que não podia fazer nada com seus remos. De repente, uma enorme onda atingiu o barco e ele desapareceu. As pessoas na praia esperaram, esperaram e esperaram por algum tempo, mas o barco não foi mais visto. Pobre homem! disseram os pescadores na praia, sussurrando uma oração antes de irem para casa. Só então um grito desesperado foi ouvido. Ao se virarem os pescadores viram Pinóquio mergulhar no mar e o ouviram gritar: Eu vou salvá-lo pai! Eu vou te salvar! O Marionete, como era feito de madeira, flutuava facilmente e nadava como se fosse um peixe, mesmo com a água agitada. De vez em quando ele desaparecia e voltava a reaparecer novamente. Em um piscar de olhos, ele estava longe da terra. Por fim, ele saiu completamente do campo de visão de quem estava na praia. Coitadinho! exclamaram os pescadores na praia e, novamente, resmungaram algumas orações antes de voltarem para casa

93 CAPÍTULO 24 Pinóquio chega à Ilha das Abelhas e encontra a Fada mais uma vez. Pinóquio, estimulado pela esperança de encontrar seu pai e de salvá-lo, nadou durante toda a noite. E foi uma noite horrível! Choveu o tempo todo, trovejou e os relâmpagos eram tão brilhantes que transformavam a noite em dia. Ao amanhecer, ele viu, não muito longe, uma longa extensão de areia. Era uma ilha no meio do mar. Pinóquio deu o seu melhor para chegar lá, mas não conseguiu. As ondas brincavam com ele como se fosse um galho ou um feixe de palha. Quando ele já estava achando impossível chegar, por pura sorte, uma enorme onda jogou-o exatamente no local que queria. O golpe da onda foi tão forte que ele foi atirado na areia com tanta força que suas juntas rangeram e quase quebraram, mas nada muito sério. Pouco a pouco, o céu ficou mais claro, o sol saiu em pleno esplendor e o mar tornou-se tão calmo como um lago. Parecia até que era ele que estava enfurecendo o mar. Colocou suas roupas para secar sobre a areia. Ficou observando o mar para tentar encontrar o pequeno barco

94 de Gepeto. Ele procurou por bastante tempo, mas não viu nada, exceto as ondas, o céu e algumas velas ao longe, que eram tão pequenas que bem poderiam ter sido pássaros. Se pelo menos eu soubesse o nome desta ilha! disse para si mesmo Bem, nem mesmo sei que tipo de pessoas irei encontrar aqui! Mas a quem poderia perguntar, se não há ninguém? A idéia de estar em um local tão solitário fez com que ele ficasse triste e estava prestes a chorar, mas viu um grande peixe com a cabeça fora da água próximo da praia. Sem saber como chamá-lo, Pinóquio lhe disse: Olá senhor peixe, posso ter uma palavrinha com o senhor? Até duas! Pergunte o que quiser! respondeu o peixe, que na verdade era um golfinho muito educado. Por favor, me diga se existem lugares nesta ilha onde se possa comer? Certamente há e na verdade você não está muito distante dele. respondeu o golfinho. E como eu chego lá? Tome o caminho à sua esquerda e siga seu nariz. Não há como errar. Diga-me outra coisa. Você, que viaja dia e noite através desse mar, talvez tenha visto um pequeno barco com meu pai dentro? E quem é o seu pai? Ele é o melhor pai do mundo, assim como eu sou o pior filho que poderia ser encontrado. Ok, entendo. Bem, mas na tempestade de ontem à noite um barquinho como o que você citou poderia ter sido inundado e neste momento estaria no fundo do mar. Ou poderia ter sido engolido pelo terrível tubarão, que nestes últimos dias, tem trazido terror a essas águas

95 Este tubarão é muito grande? Pinóquio quis saber, demonstrando um pouco de medo. Se ele é grande? respondeu o golfinho Só para se ter uma idéia do seu tamanho, ele é mais alto do que um edifício de cinco andares e tão longo que facilmente poderia engolir um trem de carga inteiro. Minha mãe! gritou o Marionete, morrendo de medo. Vestiu-se o mais rápido possível, virou-se para o Golfinho e disse: Adeus, senhor peixe, perdoe o incômodo e muito obrigado pela sua ajuda. Em seguida ele tomou o caminho indicado pelo golfinho tão rápido que parecia voar. E a cada pequeno som que ouvia, virava-se com medo e conferia se era o terrível tubarão (de cinco andares de altura e um trem na boca) que o estava perseguindo. Depois de caminhar uma hora e meia, ele chegou num pequeno país chamado Terra das Abelhas Ocupadas. As ruas estavam cheias de pessoas que corriam daqui para lá e de lá para cá, ocupadas em suas tarefas. Todos trabalhavam, todos tinham algo para fazer. Mesmo se alguém procurasse com uma lupa, não seria capaz de encontrar um único homem ocioso ou um vagabundo no meio de toda aquela agitação. Eu já entendi! Esse não é lugar para mim! Eu não nasci para o trabalho. falou o malandro, que ficou cansado só de vê-los trabalhar. Entretanto, começou a sentir fome, porque já fazia quase um dia que não comia. O que poderia ser feito? Só lhe restavam duas opções para conseguir comida: ou trabalhar ou mendigar. Ele tinha vergonha de pedir, porque seu pai sempre lhe ensinou que pedir só era para pessoas doentes ou velhas demais para trabalhar. Estava pensando nisso, quando um homem, cansado e molhado de suor, passou puxando com dificuldade duas

96 carroças cheias de carvão. Pinóquio olhou para ele e, julgando-o por sua aparência, que era a de um homem gentil, lhe dirigiu a palavra, com os olhos baixos de vergonha: O senhor me daria um centavo? Eu estou fraco e com fome. Não apenas um centavo, eu vou dar-lhe quatro se me ajudar a puxar estes dois vagões de carvão. respondeu o homem. Saiba que eu nunca fui jumento de carga e nunca puxei carroça. respondeu Pinóquio, muito ofendido. Melhor para você! Então, meu rapaz, se você está realmente fraco, com fome, experimente comer duas fatias de seu orgulho e espero que não sofra de indigestão. e foi-se embora. Poucos minutos depois, um pedreiro passou, carregando um balde cheio de gesso em seu ombro. Bom homem, você faria a gentileza de dar um centavo para um pobre rapaz que está bocejando de fome? Com satisfação! Venha comigo, me ajude a levar este balde e em vez de um centavo, vou dar-lhe cinco. Mas o gesso é pesado e este trabalho é muito duro para mim. Se este trabalho é muito duro para você, meu rapaz, desfrute de seus bocejos e espero que eles possam lhe trazer sorte! Em menos de meia hora, pelo menos vinte pessoas passaram e Pinóquio pediu a todos, mas as respostas foram sempre as mesmas: Você não tem vergonha? Em vez de ficar pedindo nas ruas, por que não trabalha e ganha seu próprio sustento? Finalmente uma pequena mulher passou carregando dois jarros de água

97 Boa senhora, estou com sede, poderia me dar um pouco de água? perguntou Pinóquio, que estava morrendo de sede. Com muito prazer, meu rapaz! ela respondeu, descansando os dois jarros no chão, diante dele. Pinóquio saciou a sede e disse depois de limpar a boca disse: Minha sede desapareceu, só resta agora me livrar da fome! Ao ouvir estas palavras, a boa mulher disse imediatamente: Se você me ajudar a levar estes jarros para casa, vou lhe dar uma fatia de pão. Pinóquio olhou para os jarros e não disse nem sim, nem não. E com o pão, eu vou lhe dar um belo prato de macarrão com molho branco. Pinóquio olhou para os jarros novamente, mas mesmo assim não disse nem sim, nem não. E depois do macarrão, um pedaço de bolo com geléia. Depois desta última oferta, ele não conseguiu mais resistir e disse com firmeza: Muito bem. Vou lhe ajudar levando um dos jarros para sua casa. O jarro era muito pesado e Pinóquio, não sendo forte o suficiente para carregá-lo com as mãos, teve que colocálo na cabeça. Quando chegaram na casa, a mulher colocou em uma pequena mesa o pão, o macarrão com molho e o bolo com geléia. Pinóquio não comeu, ele devorou. Seu estômago parecia um saco sem fundo. Com a fome aplacada, ele levantou a cabeça para agradecer a sua benfeitora. Até aquele momento ele não

98 havia reparado nela por muito tempo e foi aí que ele deu um grito de surpresa. Ele ficou paralisado, com os olhos arregalados, o garfo no ar e a boca aberta, cheia de pão e macarrão. Qual é o problema? perguntou a boa mulher, rindo. Porque... Pinóquio respondeu, gaguejando Porque... Você parece... Você me lembra... Sim, sim, sim, a mesma voz, os mesmos olhos, o mesmo cabelo... Sim, sim, sim, você também tem o mesmo cabelo azul que ela tinha! Oh, minha Fadinha, minha Fadinha! Diga-me que é você! Não me faça chorar por mais tempo! Se você soubesse! Eu chorei tanto! Pinóquio se jogou no chão e beijou os pés da pequena mulher misteriosa

99 CAPÍTULO 25 Pinóquio prometeu que seria bom e iria estudar, porque estava cansado de ser uma marionete e desejava ser um menino de verdade. Pinóquio chorou bastante, a pequena mulher pensou que ele iria derreter. Somente depois de um bom tempo é que ela, finalmente, admitiu que era a Fada e perguntou rindo: Você é menino muito esperto! Como soube que era eu? Meu amor por você me revelou quem você era. Então você ainda se lembra de mim? Você desapareceu quando eu era uma menina e agora sou uma mulher adulta. Deste momento para frente terei que ser sua mãe e não sua irmã! Eu ficaria muito feliz com isso, pois sempre quis uma mãe, assim como qualquer menino. Mas como você cresceu tão rapidamente? Isso é um segredo! Me ensine como, eu também quero crescer. Mas você não pode crescer. respondeu a Fada. E por que não?

100 Porque marionetes não são capazes de crescer. Nascem como marionetes, vivem como marionetes e finalmente morrem como marionetes. Ah, mas estou cansado de ser uma marionete! Quero crescer como qualquer menino. Você só irá crescer se merecer isso. Sério? Então tenho uma chance! O que devo fazer para crescer? É muito simples: tente agir como uma criança bem comportada. Meninos bons são obedientes, mas você... Eu nunca obedeço. Os bons meninos amam estudar e ajudam seus pais, mas... Eu, pelo contrário, não gosto de ir à escola e sou preguiçoso. Os bons meninos sempre dizem a verdade. E eu muitas vezes minto. Você promete que irá mudar? Eu prometo. Quero me tornar um bom menino e ser um orgulho para o meu pai. Falando nisso, onde está o meu pobre pai agora? Eu não sei. Será que eu vou ter a sorte de encontrá-lo e abraçálo mais uma vez? Eu acho que sim. Na verdade, tenho quase certeza disso. Após essa resposta, Pinóquio ficou muito feliz. Ele agarrou as mãos da Fada e as beijou emocionado. Ele olhou para ela com carinho e perguntou: Diga-me, mãezinha, é mentira que você está morta, não é? Eu pareço uma morta? Claro que não! respondeu a Fada, sorrindo

101 Se você soubesse como eu sofri e como chorei quando vi aquela sepultura mentirosa. Eu sei e por isso te perdoei. A profundidade de sua tristeza me fez ver que, apesar de seu comportamento, você tem um coração gentil. Há sempre esperança para os meninos que possuem um coração como o seu, mesmo que sejam travessos. Esta é a razão pela qual eu vim de tão longe para cuidar de você. A partir de agora, Eu serei a sua mãe. Oh! Que bom! Que bom! Pinóquio chorava e pulava de alegria. Você vai me obedecer e fazer o que lhe pedir? Vou sim, com muito prazer, mais do que prazer, com alegria! Vamos começar com a escola, a partir de amanhã você irá todos os dias. disse a Fada. A cara de Pinóquio ficou tristonha. O que você está resmungando para si mesmo? perguntou a Fada. Eu só estava pensando que é tarde demais para isso. Não, claro que não. Lembre-se que nunca é tarde para aprender. Mas eu não quero ter uma ocupação ou profissão. Por quê? Porque o trabalho me cansa! Meu caro, as pessoas que pensam como você geralmente acabam seus dias numa prisão ou num hospital. Um homem, rico ou pobre, deve fazer alguma coisa neste mundo. Ninguém pode encontrar a felicidade sem fazer nada. Ai de quem é preguiçoso! A preguiça é uma doença grave e é preciso curá-la desde o início da infância. Se isso não acontecer, ela irá lhe matar no final

102 Estas palavras tocaram o coração de Pinóquio. Ele levantou os olhos para a sua Fada e disse sério: Eu vou estudar e vou fazer tudo que você me disser. Afinal, a vida de uma marionete que não cresce é muito cansativa, quero me tornar um menino e não importa o que eu tenha que fazer para que isso aconteça

103 CAPÍTULO 26 Pinóquio vai para a praia com seus amigos para ver o terrível tubarão. Na manhã seguinte Pinóquio foi para a escola. Imagine o que os meninos disseram quando viram uma marionete entrar na sala de aula! Eles riram até chorar. Todo mundo começou a fazer traquinagens com ele. Um puxou seu chapéu, outro puxou seu casaco, um terceiro tentou pintar um bigode debaixo do seu nariz. Um deles até tentou amarrar cordas em suas mãos e pés para fazê-lo dançar. Por um tempo Pinóquio não ligou para isso, mas depois ele perdeu a paciência e se voltando para seus perseguidores, disse ameaçadoramente: Cuidado, meninos, eu não vim aqui para ser ridicularizado. Eu vou respeitá-los e espero que vocês também me respeitem. Hurrah para o doutor sabe-tudo! Você falou como um adulto agora! caçoaram os meninos, rindo. Um deles, mais atrevido que os demais, estendeu a mão para puxar o nariz da marionete, mas não foi rápido o

104 suficiente, porque Pinóquio esticou a perna debaixo da mesa e meteu-lhe um chute com força na perna. Oh, oh, oh, que pé duro! gritou o menino, esfregando o local onde a marionete tinha lhe chutado. E os cotovelos! Eles são ainda mais duros do que os pés! gritou outro que, por causa de alguma brincadeira, tinha recebido um golpe no estômago. E foi assim, revidando, que Pinóquio ganhou o respeito de seus colegas. Com o passar dos dias e semanas, mesmo o professor elogiou-o, pois ele estava sempre se esforçando, era atento e participativo na aula. Sempre o primeiro a entrar na sala pela manhã e um dos últimos a sair, quando as aulas acabavam. Ele era também um bom colega de classe, a única falha de Pinóquio era que ele tinha muitos amigos, tanto os bons como os ruins. Não se deve ser antipático com ninguém, mas não se pode estar próximo dos malandros, baderneiros e preguiçosos. Eles sempre existem nesses lugares e é necessário manter uma distância. O professor sempre lhe aconselhava e até mesmo a Fada repetiu muitas vezes: Pinóquio, tome cuidado com as más companhias, mais cedo ou mais tarde, eles irão fazer você perder o seu amor ao estudo, ou farão com que você cometa atos errados. Lembre-se do ditado que diz me diga com quem você anda, que lhe direi quem você é. Não há esse perigo. respondia o Marionete, encolhendo os ombros e apontando para a testa como se dissesse: eu sou muito esperto. No entanto, um dia, quando ele estava indo para a escola, alguns de seus maus colegas lhe disseram: Você já ouviu a notícia? Não!

105 Um tubarão tão grande quanto uma montanha foi visto na praia. Sério? Este deve ser o mesmo de que ouvi falar. Nós vamos vê-lo, você vem? Não, eu tenho que ir para a escola. Por que você se preocupa tanto com a escola? Podemos ir lá amanhã, que diferença faz uma aula a mais ou a menos, somos sempre os mesmos burros! E o que o professor dirá? Deixe-o falar, quem se importa com o que ele pensa? Ele já é pago para reclamar o dia inteiro. E a minha mãe? As mães não sabem nada! Sabe o que vou fazer? disse Pinóquio Eu também quero ver esse tubarão, mas eu vou depois da aula. Que moleque burro! gritou um dos meninos Você acha que um peixe daquele tamanho vai ficar lá esperando por você? Ele se vira, vai embora e acabou-se, ninguém nunca mais irá vê-lo. Quanto tempo leva daqui até a praia? Uma hora dá para ir, ver e voltar. Muito bem, então vamos ver quem chega lá primeiro! gritou Pinóquio. Saíram todos correndo com os livros debaixo do braço, levantando poeira pelos caminhos. Pinóquio liderou o tempo todo, correndo como o vento, os outros o seguiam o mais rápido que podiam. De vez em quando, ele olhava para trás e notava que seus seguidores estavam cansados e com a língua de fora. Ele ria com vontade. Menino infeliz! Se soubesse as coisas terríveis que iriam acontecer com ele por conta de sua desobediência

106 CAPÍTULO 27 A grande batalha entre Pinóquio e seus companheiros. Um deles é ferido e Pinóquio é preso. Rápido como o vento, Pinóquio, levou pouco tempo para chegar à praia. Ele olhou para todos os lados, mas não havia sinal do tubarão. O mar estava liso como uma piscina. Ei meninos! Onde está aquele tubarão? perguntou voltando-se para seus colegas. Ele deve ter saído para tomar o seu café da manhã. disse um deles, rindo. Ou, talvez, ele tenha voltado para a cama, para tirar mais um cochilo. disse outro, rindo também. A partir dessas respostas e dos risos que se seguiram, Pinóquio entendeu que os meninos estavam caçoando dele. E essa agora? Pinóquio disse com raiva Qual é a piada? Oh, você é a piada! gritaram os seus algozes, rindo ainda mais do que antes e dançando alegremente ao redor da marionete. Então é isso, vocês me enganaram?

107 Isso mesmo! Nós fizemos você cabular aula para vir com a gente. Você não está cansado de ser bonzinho e de estudar tanto? Aproveite e tire um tempo para se divertir. E o que lhes importa se eu gosto estudar? Você não vê? Se você estudar e nós não, nós pagaremos por isso. Afinal de contas, não é bom que outros alunos sejam melhores que nós. O que vocês querem que eu faça? Odeie a escola, livros e professores, como nós fazemos. Eles são os seus piores inimigos e querem fazer de sua vida a mais infeliz possível. E se eu continuar estudando, o que vocês farão comigo? Você vai pagar por isso! Realmente, vocês me divertem! respondeu Pinóquio, balançando a cabeça. Ei Pinóquio! gritou o mais alto de todos eles Estamos cansados de ouvir você se vangloriando. Você é um franguinho! Pode ser que você não tenha medo de nós, mas nós também não temos medo de você! Afinal de contas não há ninguém do seu lado e nós somos sete. Como os sete pecados capitais. disse Pinóquio rindo. Vocês ouviuram isso? Ele insultou a todos nós. Ele nos chamou de pecados. Pinóquio, peça desculpas por isso ou vai se arrepender! Cuco! disse a marionete zombando deles com o polegar em seu nariz e imitando o som do relógio que possui uma janelinha de onde sai um passarinho de hora em hora. Você vai se arrepender! Cuco! Nós vamos lhe dar uma surra!

108 Cuco! Você vai voltar para casa com um nariz quebrado! Cuco! Muito bem, então! Tome isso! disse o mais ousado dos seus algozes e com estas palavras, ele deu um terrível golpe na cabeça de Pinóquio. Pinóquio respondeu com outro golpe e isso foi o sinal para o início da briga. Em alguns momentos, a luta estava quente e pesada para ambos os lados. Pinóquio, embora sozinho, defendeu-se bravamente. Com os seus dois pés de madeira, batia tão rápido que seus adversários eram mantidos a uma distância respeitosa. Onde quer que eles atingissem, deixavam uma marca dolorosa e só restava aos meninos gritar e fugir. Enfurecidos por não serem capazes de combater a marionete de perto, eles começaram a jogar todos os livros sobre ele. Livros de literatura, geografia, história e gramática voaram de todas as direções. Mas Pinóquio se movimentava rapidamente. Os livros só passavam sobre sua cabeça e caiam no mar, desaparecendo em seguida. Os peixes, pensando que os livros poderiam ser bons para comer, ficaram no topo da água em grande número. Alguns deram uma leve mordidela enquanto outros deram uma boa mordida, mas assim que provaram uma ou duas páginas cuspiram fora com uma cara de desaprovação como se dissessem: que gosto horrível! Nossa comida é muito melhor que esta! Enquanto isso a batalha se acirrava ficando mais e mais furiosa. A fim de acabar com tamanho barulho, um grande caranguejo se arrastou lentamente para fora da água e, com uma voz que soava como um trombone sofrendo de resfriado, gritou: Parem de lutar patifes! Estas batalhas entre meninos raramente terminam bem!

109 Pobre caranguejo, ele poderia muito bem ter falado com o vento! Em vez de ouvir seus conselhos, Pinóquio se virou para ele e disse: Fique quieto, caranguejo feio! Seria melhor que você tomasse um xarope para lhe curar dessa sua gripe. Vá para a cama e durma! Você irá se sentir melhor amanhã. Nesse meio tempo, os meninos, tendo utilizado todos os seus livros, olharam em volta para procurar por nova munição. Vendo o pacote de livros de Pinóquio próximo a eles, se apossaram dos mesmos. Um dos livros, o de aritmética, era um volume muito grande, encadernado em couro. Era o orgulho de Pinóquio e entre todos, o que ele mais gostava. Pensando que este daria um bom míssil, um dos rapazes o pegou e o atirou, com toda sua força, na cabeça de Pinóquio. No entanto, em vez de acertar a marionete, o livro atingiu um dos meninos em cheio, que, pálido como um fantasma, exclamou baixinho: Oh, Mãe, me ajude que estou morrendo! e caiu sem sentidos no chão. Com a visão deste corpo pálido, os meninos ficaram tão assustados que cada um correu para um lado. Em alguns momentos, todos tinham desaparecido. Todos, exceto Pinóquio, que, embora morto de medo pelo horror da situação, correu para o mar, molhou um lenço na água fria e com ele banhou a cabeça do seu pobre colega de escola. Soluçando amargamente, ele o chamou, dizendo: Eugene! Meu pobre Eugene! Abra seus olhos e olhe para mim! Por que você não responde? Eu não fui o único a bater em você. Acredite, eu não queria que isso acontecesse. Abra seus olhos, Eugene! Se você mantê-los assim, eu irei morrer também. Oh, meu Deus, como voltarei para casa agora? Como serei capaz de olhar para a minha mãe, mais uma vez? O que vai acontecer comigo?

110 Para onde irei? Onde devo me esconder? Oh, teria sido mil vezes melhor se eu tivesse ido para a escola! Por que eu fui escutar aqueles meninos? Eles sempre foram uma má influência! E pensar que o professor e minha mãe já haviam me alertado! 'Cuidado com as más companhias!' Isso foi o que minha mãe me disse, mas eu sou teimoso e orgulhoso. Eu escuto, mas não aprendo e agora terei que pagar. Eu nunca tive um momento de paz desde que eu nasci! O que será de mim? O que será de mim? Pinóquio continuou chorando, gemendo e batendo sua cabeça. Continuou a chamar seu colega até que de repente ouviu passos pesados a se aproximarem. Ele olhou para cima e viu dois altos policiais perto dele. O que você está fazendo? eles perguntaram à Pinóquio. Eu estou ajudando meu colega de escola. Será que ele desmaiou? Eu é que deveria perguntar isso! disse um dos policiais se inclinando para olhar Eugene mais de perto Este menino foi ferido na cabeça. Quem o machucou? Não fui eu! gaguejou Pinóquio perdendo o fôlego. Se não foi você, quem foi então? Não fui eu. E como você explica o ferimento que ele possui? Foi com este livro. a marionete pegou o livro de aritmética para mostrá-lo ao oficial. E de quem é esse livro? É meu. Basta, nem mais uma palavra! Levante-se e venha conosco. Mas eu... Venha com a gente! Mas eu sou inocente

111 Venha com a gente! Antes de sair, os policiais chamaram alguns pescadores que estavam passando em um barco e lhes ordenou: Cuidem deste menino que está ferido. Levem ele para casa e cuidem de suas feridas. Amanhã voltaremos para ver como ele está. Eles então se voltaram para Pinóquio e, colocando-o entre eles, disseram-lhe com voz áspera: Nos acompanhe ou será pior para você! Não foi necessário repetir as ordens. A marionete caminhou rapidamente ao longo da estrada até a aldeia. Mas o coitado mal sabia o que estava fazendo. Ele pensava estar em um pesadelo, se sentiu mal, seus olhos viam tudo em dobro, suas pernas estavam trêmulas, sua língua seca e não conseguia pronunciar uma única palavra. No entanto, apesar desta dormência de sentimentos, ele sofreu profundamente com o pensamento de passar embaixo da janela da casa de sua fada. O que ela diria ao vê-lo entre dois policiais? Eles tinham acabado de chegar da aldeia, quando uma súbita rajada de vento soprou e fez com que o chapéu de Pinóquio voasse para longe. Os senhores me permitem que eu recupere o meu chapéu que voou com o vento? ele pediu aos policiais. Ok, mas seja rápido. disse um deles. A marionete correu, pegou o chapéu, mas em vez de colocá-lo em sua cabeça, colocou-o entre os dentes e em seguida correu em direção ao mar. Ele estava tão rápido quanto um foguete. Os policiais, julgando que seria muito difícil pegálo, enviaram um grande cão da raça Mastiff atrás dele, que tinha obtido o primeiro prêmio em todos os concursos de corridas de cães. Pinóquio corria rápido, mas o cão corria

112 mais rápido ainda. Com tanto barulho, as pessoas colocaram suas cabeças para fora das janelas ou saíram para a rua, ansiosas por ver o fim da competição, mas elas ficaram desapontadas porque os dois levantaram tanta poeira na estrada que depois de alguns momentos era impossível vê-los

113 CAPÍTULO 28 Pinóquio corre o risco de ser frito em uma panela como se fosse um peixe. Durante essa perseguição selvagem, Pinóquio passou por um momento terrível quando quase se perdeu. Foi quando Alidoro (este era o nome do cão Mastiff) chegou tão perto que estava a ponto de alcançá-lo, Pinóquio até sentiu o calor de sua respiração. Felizmente neste momento ele estava muito perto da costa, pois o mar estava apenas a poucos passos de distância. Pinóquio deu um pulo e caiu dentro d'água. Alidoro até tentou parar, mas como estava correndo muito rápido não conseguiu e também foi parar dentro do mar. Por mais estranho que possa parecer, o cão não sabia nadar. Ele bateu as patas na água para tentar se manter flutuando, mas quanto mais tentava, mais afundava. Quando conseguiu colocar a cabeça para fora mais uma vez, os olhos do coitado estavam esbugalhados e ele latiu desesperadamente: Eu vou me afogar! Eu vou me afogar! Não me incomode! respondeu Pinóquio de longe, feliz em sua fuga

114 Me ajude Pinóquio! Por favor salve-me da morte! Ouvindo aqueles gritos de sofrimento, o marionete, que no fundo tinha um bom coração, teve compaixão e voltando-se para o pobre animal, disse: Mas se eu te ajudar, você promete que não irá mais me perseguir? Eu prometo! Eu prometo! Mas seja rápido, pois se você demorar, eu irei morrer! Pinóquio ainda hesitou um pouco, mas lembrou-se de que seu pai muitas vezes lhe disse que uma boa ação nunca é perdida. Sendo assim, ele nadou na direção de Alidoro, pegou sua cauda e o arrastou para a praia. O pobre cão estava tão fraco que não era capaz de se manter sobre as patas. Ele tinha engolido tanta água salgada que estava inchado como um balão. No entanto Pinóquio, que não tinha confiança nele, jogou-se novamente ao mar e nadou para longe. Quando estava em segurança gritou: Adeus Alidoro, boa sorte! Adeus querido Pinóquio. respondeu o cão Agradeço mil vezes por me salvar da morte. Você fez uma boa ação e neste mundo aquilo que se dá, algum dia se recebe. Se houver uma chance eu irei lhe pagar. Pinóquio nadou bastante, por fim pensou que tivesse chegado a um local seguro e decidiu se aproximar de terra firme. Existiam muitas pedras, olhou para os dois lados e não viu ninguém. No meio das rochas existia uma caverna da qual subia uma espiral de fumaça. Naquela caverna deve haver uma fogueira e seria ótimo para secar minhas roupas e me aquecer. disse para si mesmo. Decidido a fazer isso, nadou até bem próximo das pedras, mas antes de chegar a uma delas, começou a sentir algo embaixo de si que levantava mais e mais. Tentou

115 escapar, mas já era tarde. Ele teve uma grande surpresa quando viu que se encontrava em uma grande rede e cercado de um monte de peixes, de todos os tipos e tamanhos, que também lutavam desesperadamente para se libertar. Ao mesmo tempo, viu um pescador sair da caverna, que era tão feio que mais parecia um monstro marinho. No lugar de cabelo, sua cabeça era coberta por algo que parecia grama. A pele que cobria o corpo, os olhos, assim como a barba espessa (que era tão longa que chegava aos seus pés) tudo isso também era da cor verde. Ele era tão estranho que mais parecia um lagarto gigante com pernas e braços. Quando o pescador puxou a rede para fora do mar, gritou alegremente: Muito bom! Muito bom! Mais uma vez eu vou ter uma boa refeição de peixe! Graças aos céus, eu não sou um peixe! Pinóquio disse para si mesmo, tentando reunir um pouco de coragem com estas palavras. O pescador levou a rede carregada de peixes para a caverna, que era um local escuro, sombrio e esfumaçado. No meio dela existia uma panela cheia de óleo que esfumaçava e chiava no fogo, enchendo o ambiente com um odor repugnante de sebo, que dificultava a respiração. Agora vou ver quais peixes peguei hoje. disse o pescador verde. Ele enfiou sua mão, enorme como uma pá, dentro da rede e retirou um punhado de tainhas. Tainhas deliciosas! disse depois de olhá-las e cheirá-las com prazer. Depois disso, jogou-as em uma grande e vazia bacia. Ele repetiu este processo muitas vezes. Para cada peixe que ele retirava da rede, sua boca se enchia de água com o pensamento da boa refeição que cada um renderia

116 Eu adoro peixe espada! Essas pescadas brancas são muito saborosas! Que caranguejos esplêndidos! E estas pequenas anchovas! Estão excelentes! Como você pode imaginar, todos eles foram parar na bacia, fazendo companhia às primeiras tainhas. O último a ser recolhido foi Pinóquio. Assim que o pescador o puxou para fora da rede, seus olhos verdes se arregalaram com tamanha surpresa e ele falou com admiração: Que tipo de peixe é esse? Eu não me lembro de ter comido qualquer coisa como esta. Ele o observou mais de perto e depois de algum tempo chegou à uma conclusão: Eu entendo. Ele deve ser um caranguejo! Pinóquio, morto de medo por ter sido confundido com um caranguejo, disse ressentido: Que absurdo! Eu não sou um caranguejo! Tenha respeito ao lidar comigo! Quero que você saiba que eu sou uma marionete! Uma marionete? perguntou o pescador Devo admitir que um peixe marionete é um tipo inteiramente novo de peixe para mim. Tanto melhor assim, eu vou comê-lo com o maior prazer. Me comer? Mas você não entende que eu não sou um peixe? Você não percebe que eu falo e penso assim como você? É verdade e agora que vi que você é um peixe capaz de falar e pensar, assim como eu, faço questão de lhe tratar com mais consideração. Eu não entendo, o que isso significa? Isso quer dizer que, como sinal de minha grande estima, eu deixarei que você mesmo escolha a forma como será preparado. Você deseja ser frito ou prefere ser cozido em molho de tomate?

117 Para dizer a verdade, eu acho que é muito melhor ficar livre e voltar para casa! Você está enganado! Pensa que irei perder a oportunidade de provar um peixe tão raro? Um peixe marionete não é comum nestes mares. Deixe isso comigo! Vou fritar você na panela assim como os outros. Eu sei que você vai gostar. A azarada marionete, ouvindo isto, começou a chorar e implorar. Com as lágrimas escorrendo pelo rosto, ele pensou: agora estou perdido! Teria sido muito melhor ter ido para a escola! Fui ouvir meus colegas e agora estou pagando por isso! O pescador amarrou os pés e mãos de Pinóquio utilizando um cordão e o jogou na bacia junto com os outros peixes. Então o pescador retirou uma tigela de madeira de um armário, que estava cheia de farinha, começou a rolar os peixes sobre a farinha, um por um e quando estavam completamente brancos, eles eram jogados na panela de óleo quente. As primeiras a serem fritas foram as tainhas, seguidas pelos peixes espada, pelas pescadas brancas e anchovas. Pinóquio era o próximo da lista e vendo-se tão perto da morte (de uma morte horrível) começou a tremer de medo e não tinha mais voz para implorar por sua vida. O pobre menino implorou com os olhos, mas o pescador verde nem mesmo percebeu e passou ele mais e mais na farinha até que ele mais se assemelhava a uma marionete feita de giz. Então, ele pegou-o pela cabeça e

118 CAPÍTULO 29 Pinóquio retorna para casa e está pronto para se transformar em um menino. Ciente do que o pescador queria, Pinóquio sabia que toda a esperança estava perdida. Ele fechou os olhos e esperou pelo momento final. De repente, um grande cão, atraído pelo cheiro do óleo fervente, entrou correndo na caverna. Vá embora! gritou o pescador segurando a marionete, que estava todo coberto de farinha. Mas o pobre cão estava com muita fome e abanando o rabo disse: Dê-me um pedacinho de peixe, que eu vou em paz. Saia, eu já disse! repetiu o pescador e recuou o pé para dar um chute no cão. No entanto o cão, que estava realmente com muita fome, não aceitaria nenhuma recusa de seu pedido e se voltou com raiva em direção ao pescador, rosnando e mostrando seus dentes terríveis. Naquele momento foi ouvida uma voz de lamento, bem baixinho, que dizia:

119 Salve-me Alidoro, se você não me ajudar eu vou acabar frito! O cão reconheceu imediatamente a voz de Pinóquio, mas ficou muito surpreso ao descobrir que a voz era proveniente de um pequeno objeto coberto de farinha que o pescador segurava em uma de suas mãos. E o que ele fez? Com um rápido salto, agarrou esse objeto com a boca, segurando-o delicadamente entre os dentes, correu para fora da caverna e desapareceu como um flash! O pescador ficou enfurecido ao ver sua refeição ser retirada de suas mãos. Correu atrás do cão, mas teve um acesso de tosse que o fez parar e desistir. O jeito foi voltar para casa. Quando Alidoro percebeu que estava em segurança, parou e colocou Pinóquio suavemente no chão. Eu não tenho palavras para lhe agradecer! Muito, muito obrigado! disse Pinóquio. Não é necessário. respondeu o cão Você me salvou uma vez e o que se dá, sempre se recebe. Estamos neste mundo para ajudar uns aos outros. Mas como você conseguiu chegar naquela caverna? Eu estava deitado na areia, mais morto que vivo, quando um apetitoso cheiro de peixe frito veio até mim. Esse cheiro despertou a minha fome e eu o segui. Ah, se eu tivesse chegado um momento mais tarde! Nem fale sobre isso! lamentou Pinóquio, ainda tremendo de medo Se você tivesse chegado um momento depois, eu estaria no mínimo frito. Comido e digerido na pior das hipóteses. Brrrrrr! Eu tremo só de pensar nisso. Alidoro rindo estendeu a pata para o marionete, que apertou-a e sentiu que agora eram bons amigos. Em

120 seguida, eles novamente se despediram e o cão foi para casa. Pinóquio, sozinho novamente, caminhou bastante tempo e chegou em uma pequena cabana, onde um homem idoso estava sentado à porta. Pinóquio perguntou-lhe: Diga-me, bom homem, você ouviu alguma coisa a respeito de um pobre rapaz que foi ferido na cabeça, cujo nome é Eugene? O menino foi trazido para este barraco e agora... Agora ele está morto? Pinóquio interrompeu tristemente. Não, ele está vivo e agora já voltou para casa. Sério? Sério? gritou o marionete, pulando de alegria Então o ferimento não era grave? Não era, mas poderia ter sido mortal. Pois um livro pesado foi jogado em sua cabeça. E quem o jogou? Um colega dele, um certo Pinóquio. E quem é esse Pinóquio? perguntou a marionete, fingindo ignorância. Dizem que ele é malvado, vagabundo, um menino de rua... Calúnias! São todas calúnias! Você conhece este Pinóquio? De vista! E o que você acha dele? quis saber o velho. Acho que ele é um menino muito bom, que gosta de estudar, obediente, amável com o seu pai e com toda sua família... Como ele estava dizendo enormes mentiras sobre si mesmo, percebeu que seu nariz estava o dobro do tamanho normal. Assustado com isso, ele gritou: Não me escute bom homem! Todas essas coisas maravilhosas que estou lhe dizendo não são

121 completamente verdadeiras. Eu conheço bem Pinóquio e ele é realmente um menino muito mau, preguiçoso e desobediente, que em vez de ir para a escola, foge com seus companheiros para brincar e se divertir. Após dizer isso, seu nariz voltou ao tamanho correto. Por que você está tão branco? o velho perguntou de repente. Fui descuidado e sem querer me esfreguei em uma parede recém-pintada de cal. ele mentiu, envergonhado de dizer que tinha sido preparado para ser frito em uma frigideira. O que você fez com o seu casaco e sua calça? Eu fui roubado. Diga-me, meu bom homem, você não teria alguma roupa para me dar, para que eu pudesse ir para casa? Meu garoto, algo que sirva como roupa, eu só tenho um saco que utilizo para guardar lúpulo. Se você o quiser, leve-o. Ele está ali. Pinóquio não esperou que a oferta fosse repetida, pegou o saco, esvaziou, cortou um grande buraco na parte superior e dois nas laterais. Vestiu o saco furado como se fosse uma camisa e tomou o caminho da aldeia. Ao longo do caminho ele se sentiu muito contrariado, de forma que dava dois passos para frente e um para trás. Ele dizia para si mesmo: Como eu vou encarar minha fada? O que ela vai dizer quando me vir? Será que ela vai me perdoar por esta última traquinagem? Tenho certeza de que ela não vai me perdoar e eu merecerei isso como de costume, afinal sou um patife! Sou bom para fazer promessas que nunca cumpro! Quando ele chegou à aldeia já era noite. Estava tão escuro que não era possível ver nada e começou a chover

122 torrencialmente. Pinóquio foi direto para a casa da fada, firmemente decidido a tocar a campainhinha. Quando chegou lá, perdeu a coragem e deu alguns passos para trás. Fez uma segunda tentativa, mas aconteceu a mesma coisa. Na terceira vez, antes que perdesse a coragem, puxou a corda da sineta da campanhinha tão delicadamente que ela mal poderia ser ouvida. Ele esperou, esperou e esperou. Finalmente, depois de meia hora, uma janela no quarto piso foi aberta (a casa tinha quatro andares) e um grande caracol olhou para baixo. Uma pequena luz brilhava no topo de sua cabeça. Quem bate a esta hora tardia? ele disse. Sou eu. Eu quem? Pinóquio. Quem é Pinóquio? Sou o marionete, que vive aqui, na casa da Fada. Oh, eu entendo. disse o caracol Espere por mim. Vou descer para abrir a porta para você. Por favor seja rápido, eu lhe peço, pois estou morrendo de frio. Meu filho, eu sou um caracol e caracóis nunca têm pressa. Uma, duas horas se passaram e a porta continuava fechada. Pinóquio, que tremia de frio, levando chuva em suas costas, tocou a campainhinha pela segunda vez. Desta vez mais alto do que antes. Após isso uma janela no terceiro andar se abriu e o mesmo caracol olhou para fora. Amigo caracol. gritou Pinóquio da rua Eu estou esperando duas horas por você! E duas horas em uma noite terrível como esta, são tão longas quanto dois anos. Por favor tenha pressa!

123 Meu caro rapaz... respondeu o caracol com uma voz calma e pacífica Eu sou um caracol e caracóis nunca têm pressa. e a janela foi fechada. Passou mais uma hora, duas horas e a porta continuava fechada. Pinóquio perdeu a paciência que lhe restava, agarrou a cordinha da sineta com as duas mãos e estava determinado a puxá-la com tanta força que iria fazer barulho suficiente para despertar todos na casa e também os vizinhos. No entanto, quando ia fazer isso, a cordinha se transformou em uma cobra e deslizou para longe na escuridão. Assim não dá!!! gritou Pinóquio, cego de raiva. A cordinha se foi, mas ainda posso usar os meus pés. Ele recuou e deu um grande chute na porta, mas tratava-se de uma porta mágica (assim como tudo nesta casa) e algo estranho ocorreu: seu pé e parte de sua perna foram engolidos pela porta até quase o joelho. Não importava o quanto ele tentasse, ele não era capaz de se soltar. Pobre Pinóquio! Passou o restante da noite com uma perna presa na porta. Ao amanhecer a porta finalmente se abriu. Esse animal rápido, o caracol, levou exatamente nove horas para vir do quarto andar até a porta da rua. Como ele deve ter corrido! O que você está fazendo com o pé preso na porta? ele perguntou rindo. Aconteceu um acidente. Por favor me liberte desta terrível tortura. Meu menino, precisamos chamar um carpinteiro, pois eu não conheço este ofício. Se você não sabe como, pergunte à fada, que ela poderá me ajudar! A fada está dormindo e não pode ser incomodada

124 Mas o que você quer que eu faça, se estou preso na porta? Divirta-se contando as formigas que estão passando. Então, traga-me algo para comer, porque estou morrendo de fome. Imediatamente! Na verdade, depois de três horas e meia, o caracol regressou com uma bandeja de prata na cabeça. Na bandeja havia pão, frango assado e frutas. Aqui está o café da manhã que a Fada lhe envia. disse o caracol. Ao ver todas essas coisas boas, o marionete sentiu-se muito melhor, mas qual não foi o seu desgosto quando, ao tentar comer os alimentos, percebeu que o pão era feito de giz, o frango de papelão e as brilhantes frutas eram de plástico! Ele se desesperou, queria chorar, gritar, jogar a bandeja para o alto, mas em vez disso, provavelmente por fraqueza, seu corpo foi subitamente ao chão. Ele simplesmente desmaiou. Quando recuperou os sentidos, se viu estendido sobre um sofá e a Fada estava à sua frente. Mais uma vez, eu te perdôo. disse a fada Mas cuide para que isso não ocorra novamente. Pinóquio prometeu estudar e se comportar. Os meses foram passando e ele manteve sua palavra durante todo o restante do ano. Ele passou em primeiro lugar em todos os exames e seus resultados foram tão bons que a fada lhe disse: Amanhã seu desejo se tornará realidade. O quê? Amanhã você vai deixar de ser uma marionete e vai se tornar um menino de verdade

125 Pinóquio estava fora de si de tanta alegria. Todos os seus amigos e colegas de escola deviam ser convidados para comemorar o grande evento! A fada prometeu preparar uma festa com doces, bolos, sucos e algodão doce. O dia prometia ser inesquecível, mas... Infelizmente, na vida desta marionete há sempre um MAS que está prestes a estragar tudo

126 CAPÍTULO 30 Pinóquio perde a oportunidade de se tornar um menino e foge para a Terra dos Brinquedos com seu amigo Lamparina. Pinóquio pediu permissão à Fada para convidar seus amigos de escola para a sua festa. Ok, não há problema, mas lembre-se de voltar para casa antes do anoitecer. Você promete? Nem será necessário todo esse tempo, estarei de volta em uma hora, sem falta. Tome cuidado, Pinóquio! Meninos costumam fazer promessas, mas se esquecem de honrá-las com bastante facilidade. Mas eu não sou como os outros. Quando dou minha palavra está garantido! Vamos ver se você está dizendo a verdade. Sem dizer mais nada, Pinóquio saiu de casa cantando e dançando alegremente. Correu para convidar seus amigos e, em pouco mais de uma hora, quase todos estavam convidados. Alguns aceitaram facilmente, mas outros, que ficaram mais indecisos, tiveram que ser

127 persuadidos e só quando ouviam dizer que haveria até mesmo algodão doce, é que acabavam por aceitar. No entanto, entre todos os amigos, existia um de quem Pinóquio gostava mais, o nome dele era Romeu, mas todos o chamavam de Lamparina, porque seus cabelos eram da cor de fogo. Esse era o mais preguiçoso e bagunceiro garoto da escola, mas Pinóquio, embora estivesse bastante comportado nestes últimos tempos, não se distanciava dele. Quando Pinóquio saiu para fazer os convites, sua primeira parada foi na casa de Lamparina, mas ele não estava lá. Pinóquio passou uma segunda vez e novamente uma terceira, mas nada de encontrá-lo! Onde ele poderia estar? Pensava consigo mesmo, mas procurou aqui, ali, em toda parte e estava bastante difícil. Fez todos os outros convites até que finalmente o encontrou escondido, quase por acaso, próximo a uma carroça abandonada em uma estrada, ao lado de uma porteira de fazenda. O que você está fazendo aí? perguntou Pinóquio, correndo até ele. Estou escondido, esperando até a meia-noite porque vou fugir de casa. Para onde? Para longe, muito longe! Eu já lhe procurei três vezes em sua casa! E o quê é que você quer de mim? Você não soube da notícia? Amanhã eu deixarei de ser uma marionete, me tornarei um menino de verdade e para comemorar vim lhe convidar para uma festa amanhã, com algodão doce e tudo mais. Você irá? Se estou lhe dizendo que vou embora hoje à noite, como poderia ir em sua festa amanhã? disse isso batendo a mão na testa, como se faz para indicar alguém estúpido

128 E para onde você está indo? disse Pinóquio, ignorando o insulto. Para o melhor país do mundo, um lugar maravilhoso! Como se chama? A Terra dos Brinquedos. Por que você não vem também? Eu? Oh, não! Você está cometendo um grande erro Pinóquio. Acredite, se você não vier, vai se arrepender. Onde poderia encontrar um lugar que combine melhor conosco? Não há nenhuma escola, nenhum professor, nenhum livro! Lá não há essa coisa chamada estudo. Aqui, só temos os sábados e domingos para descansar, na Terra dos Brinquedos, todos os dias, exceto o domingo, são sábados. Portanto a semana é de seis sábados e um domingo. As férias começam dia primeiro de janeiro e terminam em trinta e um de dezembro. Só não sei se existe algum feriado, mas caso não existam, acredito que serei capaz de viver sem eles. Esse é o lugar certo para mim e, como conheço você, acredito que também irá gostar! Todos os países deveriam ser assim! Mas o que há para se fazer lá? Os dias são gastos em brincadeiras e jogos, de manhã até a noite. Depois disso, cama e tudo começa novamente na manhã do dia seguinte. O que você acha disso? Hum, isso é muito bom! Você quer vir comigo, então? Sim ou não? Você deve fazer a sua escolha. Não, não, não posso. Prometi para a minha Fada que voltaria antes do por do sol e quero manter minha palavra. Boa sorte Lamparina, tudo de bom pra você! Espere mais dois minutos

129 É muito tarde! Apenas dois minutos. E se a Fada me repreender? Deixe-a falar. Depois de um pouquinho ela vai se cansar e vai parar de falar! Você vai sozinho? quis saber Pinóquio. Sozinho!? Para um lugar bom como esse, haverá mais de uma centena de nós! E vocês vão caminhar daqui até a Terra dos Brinquedos? Não, nada disso. À meia-noite passará uma carroça que nos levará a esse país maravilhoso. Eu gostaria muito de ver isso. Fique mais um tempinho e você nos verá! Não, não. Quero voltar para casa. Espere mais dois minutos. Já esperei muito tempo, a Fada irá se preocupar. Fada boba! Será que ela tem medo de que os morcegos te comam? Ouça Lamparina, você está realmente certo de que não há escolas na Terra dos Brinquedos e nem mesmo professores? Nem mesmo para remédio! E não é preciso estudar? Nunca, nunca, nunca! Que terra boa! Eu nunca estive lá, mas bem posso imaginar como deve ser. Por que você não vem também? É inútil você me tentar! Eu prometi para a minha Fada que iria me comportar e vou manter minha palavra. Adeus Lamparina. Tenha uma boa viagem, divirta-se e lembre-se de seus amigos de vez em quando

130 Após dizer estas palavras, Pinóquio virou-se para ir para casa, no entanto depois de alguns passos voltou a perguntar: Mas você tem certeza de que, naquele país, cada semana é composta de seis sábados e um domingo? Certeza absoluta! E que as férias começam no dia primeiro de janeiro e terminam em trinta e um de dezembro? Sem sombra de dúvida! Que país maravilhoso! repetiu Pinóquio, ainda em dúvida sobre o que fazer Nesse momento eu já estou atrasado e umas horas a mais ou a menos não farão muita diferença, então vou esperar até sua partida. E o tempo foi passando, passando, a noite se tornou mais escura até que uma pequena luz começou a ser vista ao longe, que tremulando, tremulando, foi aumentando. Um som estranho começou a ser ouvido. Era suave, algumas vezes tilintava levemente como um sino pequeno e em outras lembrava o zumbido de um mosquito. Lá estão eles! gritou Lamparina, levantando-se com um salto. O quê? sussurrou Pinóquio, que estava quase adormecido, após ficar cansado de tanto esperar. A carroça! A carroça que está vindo para me pegar. Você virá comigo ou não? Mas é verdade verdadeira que nunca é necessário estudar? Nunca, nunca, nunca! Que país maravilhoso!

131 CAPÍTULO 31 Cinco meses de brincadeiras e diversão. Finalmente a tão aguardada carroça chegou e para grande surpresa ela não fazia nenhum barulho. Suas rodas eram envolvidas em palha e trapos. Era puxada por doze pares de burros, todos do mesmo tamanho, mas estranhamente, de diferentes cores. Alguns eram cinzentos, outros brancos e outros eram vermelhos. Esses eram os mais comuns, mas aqui e ali alguns tinham grandes partes amarelas, outros possuíam listras azuis e até mesmo partes e listras rosas. Porém, o mais estranho era que todos os vinte e quatro burros, em lugar de utilizarem ferraduras, como outros animais de carga, estavam calçados com tênis dos mesmos tipos que meninos e meninas utilizam normalmente. E o condutor da carroça? Imagine um pequeno homem gordo, um gordinho como se diz, mais largo do que alto, o que lhe fazia parecer como uma bola de manteiga, como se vê no café da manhã dos hotéis. Um rosto radiante como uma maçã corada, uma boca pequena que sempre sorria e uma voz mancinha e sedutora como a de um gato pedindo comida. Qualquer criança que olhasse

132 para ele logo se encantaria, de tão sedutora que era a sua imagem. A carroça estava tão lotada com meninos e meninas de todas as idades, que mais parecia uma lata de sardinhas. Era possível notar que todos estavam desconfortáveis, empilhados uns sobre os outros, tão apertados que mal podiam respirar, no entanto, apesar de tudo isso não se ouvia uma única palavra de reclamação. O pensamento de todos era que em poucas horas eles iriam chegar a um lugar onde não havia escolas, nem livros e nem professores. Isso fazia com que eles se sentissem tão felizes que mesmo fome, sede, sono e desconforto não eram capazes de desanimá-los. Tão logo a carroça parou, o pequeno homem virouse para Lamparina e perguntou-lhe em tom insinuante: Diga-me, meu bom rapaz, você também quer vir ao meu maravilhoso país? Claro que sim! Mas eu devo avisá-lo, meu querido, de que não há mais espaço na carroça e a única opção disponível é sentar-se ao meu lado. Não importa, vou assim mesmo. respondeu Lamparina, que com um salto, empoleirou-se lá. E quanto a você, meu amiguinho? perguntou educadamente para Pinóquio O que você vai fazer? Vem conosco, ou vai ficar aqui? Eu vou ficar aqui mesmo. Quero voltar para casa, vou estudar e vencer na vida. Mais que menino esforçado! disse o condutor. Pinóquio, não seja bobo! Venha conosco, nós seremos felizes para sempre. falou Lamparina. Não, não, não! Venha conosco, nós seremos felizes para sempre! gritaram quatro vozes de dentro da carroça

133 Venha conosco, nós seremos felizes para sempre! repetiram mais de cem vozes de dentro da carroça. Se eu for com vocês, minha fada ficará com saudades de mim. O que ela irá pensar? perguntou Pinóquio, que estava começando a vacilar. Não se preocupe tanto, logo ela lhe esquecerá, além de tudo as mães sempre querem a felicidade dos filhos e não há lugar em que poderemos ser mais felizes do que na Terra dos Brinquedos. disse Lamparina. Pinóquio não respondeu prontamente, mas suspirou uma vez, duas vezes, uma terceira vez e finalmente disse: Arrumem um lugarzinho para mim, que eu quero ir também! Hurra! Muito bem! gritaram muitas vozes. Tudo está muito difícil hoje, mas para mostrar-lhe o quanto eu me importo com você, tome o meu lugar como cocheiro que eu irei a pé. Não, isso não! Eu não poderia aceitar uma coisa dessas, prefiro montar em um desses burros. Dito e feito. Ele se aproximou do primeiro burro e tentou montá-lo, mas o pequeno animal virou-se de repente e deu-lhe um rápido pontapé no estômago, tão terrível que Pinóquio foi jogado no chão de pernas para o ar. Com esse inesperado entretenimento, todos riram ruidosamente. Ou melhor, todos, menos o cocheiro, que calmamente subiu no animal rebelde e o acariciou. Fez tudo isso sorrindo, inclinou-se sobre a cabeça do animal e deu-lhe uma terrível mordida na orelha direita, mas de tal forma que ninguém percebeu. Você pode montar agora, meu rapaz! ele disse desmontando do animal Não tenha medo. O burro estava preocupado com alguma coisa, mas conversei um pouco com ele e agora está tudo calmo e seguro

134 Pinóquio montou no burro e a carroça se colocou em marcha, no entanto ele parecia ouvir uma voz, quase um sussurro, que lhe dizia: Pobre tolo! Agora você faz o que deseja, mas dentro de pouco tempo irá se arrepender. Pinóquio, muito assustado, olhou ao seu redor para descobrir de onde vinham estas palavras, mas não conseguiu. A viagem prosseguiu. Os burros seguiam seu passo habitual, a carroça se deslocava sem grandes sobressaltos, a maioria das crianças estava dormindo, assim como Lamparina, que se destacava por roncar. E o cocheiro cantava uma canção baixa e sonolenta entre os dentes. Depois de uma hora, ou algo assim, Pinóquio ouviu novamente a mesma voz fraca sussurrando: Lembre-se, meninos tolos que param de estudar, virando as costas para os livros, escolas e professores, a fim de desfrutarem apenas de brincadeiras e jogos, mais cedo ou mais tarde vão se arrepender. Oh! Como eu sei dessas coisas! Agora eu sou a prova viva disso! Algum dia você irá chorar amargamente, assim como eu estou chorando neste momento, mas aí será tarde demais! Após ouvir estas palavras sussurradas, Pinóquio saltou e se surpreendeu ao notar que o burro estava chorando como se fosse um menino! Ei senhor condutor, você sabe de uma coisa estranha? Esse burro chora! Deixe-o chorar. Quando ele se casar isso passa, aí ele terá tempo para rir. Ok... Mas de vez em quando ele parece que fala alguma coisa. Pode ser que ele saiba uma palavra ou outra porque viveu por três anos com um bando de cães treinados. Pobre animal!

135 Monte neste aqui mais próximo de mim, que tenho certeza que este não fala e não perca tempo com um burro bobinho que fica chorando e falando palavras sem sentido. A noite está fria e ainda temos bastante estrada pela frente. Pinóquio obedeceu sem mais uma palavra. A carroça andou novamente e na aurora da manhã, eles finalmente chegaram a esse tão desejado país: a Terra dos Brinquedos. Este majestoso lugar era totalmente diferente de qualquer outro em todo o mundo, sua população era composta somente de meninos e meninas. Os mais novos com sete e os mais velhos com cerca de quatorze anos de idade. Em cada rua, havia tanto barulho e gritaria que era quase ensurdecedor. Em toda parte existiam grupos que jogavam bola e brincavam de pega-pega, cabra-cega e amarelinha. Outros preferiam andar de bicicleta ou em cavalos de madeira e outros ainda se divertiam caminhando de ponta cabeça, sacudindo os pés no ar. Um imitava uma galinha, no outro lado alguém respondia como um galo e um terceiro imitava um leão. As praças estavam cheias de pequenos teatros de madeira, transbordando de crianças de manhã até a noite e nos muros era possível ver frases pichadas como estas: VIVA A TERRA DOS BRINQUEDOS! ABAIXO A MATEMÁTICA! ESCOLA NUNCA MAIS! Logo que pisaram naquela terra, Pinóquio, Lamparina e todos os outros que tinham viajado juntos, começaram a brincar o tempo todo, todos os dias, todas as semanas e meses. Quem poderia ser mais feliz do que eles? Tudo era tão bom que o tempo passou como um relâmpago. Oh, que bela vida é esta! dizia Pinóquio

136 Eu estava certo ou errado? perguntava Lamparina E pensar que você não queria vir! Se hoje você está livre das canetas, lápis, livros e escola, não se esqueça de que você deve isso a mim. Só um amigo verdadeiro poderia fazer isso! É verdade, Lamparina, é verdade. Se hoje eu sou muito feliz, devo isso a você. E pensar que o professor, quando falava de você, costumava dizer: evite o Lamparina! Ele é um preguiçoso, uma má companhia e algum dia vai lhe levar ao erro. Pobre professor! Ele não gostava de mim, na verdade devia ter inveja, mas eu sou de natureza generosa e o perdôo por isso. Grande alma! falou Pinóquio batendo nas costas de seu amigo. Cinco meses se passaram, nos quais brincaram e se divertiram de manhã até a noite, sem nunca ler um livro, sem escrever e sem ir à escola. No entanto chegou uma manhã na qual Pinóquio teve uma grande surpresa ao acordar. Na verdade uma surpresa que o fez se sentir muito infeliz, como você verá

137 CAPÍTULO 32 As orelhas de Pinóquio cresceram e ficaram como as de um burro. Todos, em um momento ou outro, já tiveram surpresas na vida, mas como a que ocorreu com Pinóquio, acredito que tenham sido poucos. Ele descobriu que, durante a noite, suas orelhas tinham crescido e estavam enormes. Lembre-se de que quando Gepeto o fez, havia se esquecido das orelhas, mas agora elas eram maiores que a cabeça dele. Ele procurou um espelho, mas como não encontrou nenhum, colocou água em uma bacia e se olhou. Lá estavam elas! Algo que ele nunca teria desejado ver: seu rosto agora estava adornado com um enorme par de orelhas de burro. Pense na vergonha, no desespero e sofrimento que se abateu sobre ele. Sua reação foi a de começar a chorar, gritar, bater a cabeça contra a parede, no entanto quanto mais ele se descontrolava, mais bonitas e peludas as orelhas ficavam. Ouvindo aquela barulheira toda, um ratinho que morava nas redondezas e passava próximo entrou na sala e vendo Pinóquio tão aflito, lhe perguntou atenciosamente:

138 Qual é o problema, caro vizinho? Estou doente! Estou muito, muito doente! E de uma doença que me assusta muito! Você entende sobre doenças? Um pouco. Então por favor me examine e diga o que tenho. O ratinho tomou o pulso de Pinóquio entre as patas e após alguns minutos, olhou para ele tristemente e disse: Meu amigo, lamento, mas devo dar-lhe uma notícia muito triste. O que eu tenho? Não me esconda nada! Você tem uma febre muito ruim. Febre! Mas que febre é essa? A febre do burro. Eu não sei nada sobre essa doença, por favor me explique melhor. Então eu vou lhe contar tudo que sei sobre isso. disse o prestativo ratinho Saiba que, dentro de duas ou três horas, você deixará de ser uma marionete ou um menino e se transformará em um burro real, igualzinho aos que puxam carroças nas fazendas e mercados. Oh, o que foi que eu fiz? O que eu fiz para merecer isso? Pinóquio chorava, segurando suas duas longas orelhas e puxando-as com raiva, tentando arranca-las. Meu caro amigo, agora não há mais nada a fazer, afinal, como você sabe, o que está feito não pode ser desfeito. Todos somos livres para plantar, mas a colheita de nossos atos é obrigatória. Crianças preguiçosas que odeiam os livros, escolas e professores devem, cedo ou tarde, se transformarem em burros. Mas não há alternativa? Lamento dizer que não. E as lágrimas agora são inúteis. Você devia ter pensamento nisso antes

139 Mas a culpa não é minha. Acredite em mim ratinho, a culpa é de Lamparina, que insistiu para que eu viesse. Eu queria estudar e ser bem sucedido na escola, mas ele me disse: 'Por que você quer desperdiçar seu tempo estudando? Venha comigo para a Terra dos Brinquedos. Lá podemos nos divertir e seremos felizes para sempre. E por que você seguiu um mau conselho? Por quê? Porque, meu querido ratinho, eu sou preguiçoso e bobo, se não tivesse fugido de casa agora eu não seria uma marionete, mas sim um menino de verdade, como todos os meus amigos! Ah, se eu encontro Lamparina agora, eu iria lhe dizer poucas e boas! Após esse discurso, Pinóquio foi até a porta, determinado a sair, mas se lembrou das orelhas e sentiu vergonha de se mostrar em público. Voltou, pegou um saco de algodão e o colocou sobre elas, cobrindo-as completamente. Disfarçado desta forma, ele saiu. Procurou por Lamparina em todos os lugares que costumavam freqüentar: nas ruas, praças, no teatro, mas ele não foi encontrado. Ele perguntava a todos que o conheciam, mas ninguém o tinha visto. Desesperado, ele resolveu procuralo em um local em que Lamparina nunca estava: em sua própria casa. Ao chegar lá, bateu na porta. Quem é? perguntou Lamparina, sem abrir a porta. Sou eu, Pinóquio! Espere um minuto. Depois de meia hora a porta se abriu e, para surpresa de Pinóquio, seu amigo estava com um grande saco de algodão na cabeça, assim como ele. Com esta visão do saco, Pinóquio até se sentiu um pouco mais feliz porque pensou: meu amigo deve estar sofrendo da mesma doença

140 que eu: a febre do burro! Mas fingiu que não tinha reparado em nada e perguntou com um sorriso: Como vai você, meu caro Lamparina? Muito bem, obrigado. Se isso é verdade, por que você está usando um saco sobre a cabeça? O médico me recomendou porque estou com dor de ouvido. E você? Por que está com um saco sobre a cabeça? O médico me recomendou porque eu sofro de vento no ouvido. Ah, meu pobre Pinóquio! Ah, meu pobre Lamparina! Um embaraçoso silêncio seguiu essas palavras, mas acabaram por se olhar de forma mais desconfiada e zombeteira. Finalmente, o Marionete, com uma voz doce como mel e suave como uma flauta, disse ao seu companheiro: Diga-me Lamparina, você já havia sofrido alguma outra vez de dor de ouvido? Nunca! E você já havia sofrido de vento no ouvido? Nunca! Mas há sempre uma primeira vez. No entanto o que eu gostaria mesmo era que você retirasse o saco. Vamos entrar então e após você retirar o seu, eu retirarei o meu. E entraram na casa, mas Pinóquio disse: Vamos fazer diferente, contamos até três e tiramos os sacos ao mesmo tempo. Ok? Está bem. Um, dois e três! Na palavra três os dois puxaram os sacos e os jogaram para o alto. A cena que ocorreu é difícil de acreditar, mas quando viram que os dois foram atingidos

141 pela mesma infelicidade, ao invés de se sentirem tristes e envergonhados começaram a rir sem parar. Eles riram, riram e riram, suas barrigas até começaram a doer, mas de repente Lamparina parou de rir. É que ele se desequilibrou e caiu. Não havia nada de muito estranho nisso, mas ele gritou para Pinóquio: Socorro, socorro, Pinóquio! Qual é o problema? Oh, me ajude! Eu não posso mais ficar em pé. Quando Pinóquio tentou ajudar, também caiu de quatro no chão e gritou: Eu também não posso. E o riso dos dois se transformou em lamento. Estranhamente deu uma vontade de correr e enquanto faziam isso os braços se transformaram em pernas, seus rostos se alongaram em focinhos e as costas tornaram-se cobertas de pelos longos. Isso já era bastante humilhante, mas o momento mais horrível foi quando as duas pobres criaturas sentiram suas caudas aparecem. Isso foi demais em termos de vergonha e sofrimento. Eles choraram e lamentar sua sorte, mas em vez de gemidos e gritos o que ouviram foram altas zurradas, algo como: Haw! Haw! Haw! Após alguns minutos uma forte pancada foi ouvida na porta e uma voz ordenou a eles: Abram! Eu sou o cocheiro que lhes trouxe aqui!

142 CAPÍTULO 33 Após se transformar em burro, Pinóquio é vendido para um circo. Os dois estavam muito tristes e abatidos. Mesmo que quisessem não conseguiriam abrir a porta porque agora não possuíam mais mãos, apenas patas. Do lado de fora o cocheiro começou a ficar impaciente e por fim deu um chute tão violento na porta que ela se abriu. Com seu habitual e doce sorriso nos lábios, ele olhou para Pinóquio e Lamparina e disse-lhes: Bom trabalho rapazes! Vocês zurraram tão alto e tão bem que imediatamente eu reconheci as suas vozes e aqui estou. Ao ouvirem isso, os dois burros baixaram suas cabeças, orelhas e o rabo foi para dentro das pernas. O pequeno homem os acariciou, confortando-os. Os escovou cuidadosamente até que seus pelos ficassem brilhantes e lustrosos. Satisfeito com a aparência dos dois animais, ele colocou um freio na boca de cada um e os levou para um mercado, bem distante da Terra dos Brinquedos, na esperança de vendê-los a um bom preço

143 Na verdade, ele não precisou esperar muito tempo. Lamparina foi comprado por um agricultor cujo burro havia morrido recentemente e Pinóquio foi comprado pelo proprietário de um circo, que queria ensiná-lo a fazer truques e se apresentar no picadeiro. E agora meus leitores, vocês entenderam qual era a profissão do pequeno homem? Isso é terrível, mas por baixo daquela aparência de bondade, a verdadeira ocupação dele era correr o mundo à procura de crianças. Meninos e meninas que não obedeciam seus pais, que eram preguiçosos, que odiavam livros, que odiavam a escola, ou que simplesmente queriam fugir de casa. Todas essas crianças faziam a sua fortuna, por isso sempre devemos desconfiar de pessoas estranhas, pois apesar da imensa maioria ser composta de boas pessoas, devemos estar atentos. As crianças eram levadas para a Terra dos Brinquedos para se divertirem à vontade, mas depois de alguns meses tornavam-se burros. Então o homenzinho os recolhia e os vendia no mercado de uma cidade distante. Em poucos anos, ele se tornou um milionário. Pinóquio foi colocado em um estábulo e seu novo mestre o encheu com palha, mas depois de provar um pouquinho, o gosto era tão ruim que ele cuspiu fora. Então o homem retirou um pouco da palha e completou com feno, mas Pinóquio não achou muito melhor e também cuspiu o pouco que havia provado. Ah, você também não gosta de feno?! ele gritou com raiva Espere, meu lindo burrinho que eu vou te ensinar como se faz! Sem mais delongas, ele pegou um chicote e deu no burrinho umas boas chicotadas. Pinóquio gritava de dor, ou melhor, zurrava de dor: Haw! Haw! Haw! Eu não consigo digerir palha!

144 Então, coma o feno! respondeu o seu mestre, que compreendeu o burro perfeitamente. Haw! Haw! Haw! Haw! Me dá dor de cabeça! Você pensa que eu vou lhe alimentar com pudim e batatas fritas? perguntou o homem mais irritado do que antes, que fechando a porta foi-se embora. Para não apanhar novamente, Pinóquio não disse mais nada. O tempo foi passando e a fome foi aumentando, seu estômago já estava nas costas e como não havia mais nada a fazer, decidiu experimentar o feno novamente, mastigou bem, fechou os olhos e engoliu. Este feno não é ruim. disse para si mesmo No entanto eu seria mais feliz se estivesse em casa! Agora, em vez de feno, eu provavelmente estaria comendo um bom pão com manteiga. Paciência! Na manhã seguinte, quando acordou, Pinóquio reparou que não havia mais feno na manjedoura, ele havia comido tudo durante a noite. Tentou então mastigar a palha e, para sua decepção, reparou que o sabor não era como o do arroz, nem como o do macarrão, mas já não era tão repugnante. Paciência! disse enquanto mastigava Se meu infortúnio pudesse servir de alerta para as crianças desobedientes, pelo menos eu ficaria mais confortado, mas... Paciência! Tenho que ter paciência! Paciência de fato! falou seu mestre, que entrava no estábulo naquele momento Você não está pensando que eu lhe trouxe aqui só para lhe dar água e comida? Oh, não! Você irá me ajudar a ganhar umas boas moedas de ouro! E para que isso aconteça venha comigo que irei lhe ensinar a dançar valsa, polca, saltar através de arcos e muito mais. Temos muito trabalho pela frente! Pobre Pinóquio, se gostou ou não, não importa, o fato é que ele teve que aprender uma porção de truques e

145 danças. Era necessário treinar com dedicação todos os dias e mesmo assim até que sua performance fosse considerada perfeita se passaram três longos meses. Finalmente o grande dia da estréia chegou. O dono do circo havia anunciado Pinóquio como algo extraordinário e distribuído panfletos por toda a cidade, nos quais se lia em letras bem desenhadas: ESTA NOITE TEREMOS A MAIOR ESTRÉIA DO ANO! PRIMEIRA APARIÇÃO PÚBLICA NESTE PAÍS DO CONSAGRADO E INSUPERÁVEL BURRO DANÇARINO PINÓQUIO - O MESTRE DA DANÇA!!!!!!! Atendendo a este caloroso anúncio, o teatro estava cheio, quase transbordando de gente. Quando se olhava na arquibancada viam-se meninos e meninas de todas as idades e tamanhos, todos impacientes para verem o famoso burro dançarino. O proprietário e gerente do circo, vestido em um elegante traje de gala preto com algumas partes e detalhes em vermelho, dirigiu-se ao público em voz alta e pomposa dizendo: Respeitável público, é com enorme prazer e satisfação que eu lhes trago esta, que é sem dúvida alguma a maior atração que já presenciei em minha longa carreira circense. Trata-se do burro mais famoso deste mundo, que teve a grande honra de excursionar pelas maiores e mais poderosas cortes da Europa, deleitando reis, rainhas e imperadores com sua graciosidade e habilidade incomparáveis. Este discurso foi coroado com muitos risos e aplausos. E os aplausos aumentaram como um rugido quando Pinóquio apareceu para o público. Ele estava

146 muito bem vestido. Um freio novo de couro com brilhantes fivelas de latão polido que refletiam a luz de formas diferentes conforme ele se movimentava. Duas camélias brancas amarradas em suas orelhas. Fitas de seda vermelha em seu dorso. Uma grande faixa dourada presa em sua cintura de forma que se assemelhava a uma cela. A sua cauda estava decorada com fitas coloridas e brilhantes. Ele estava realmente muito bonito! Para terminar a sua fala, o gerente acrescentou estas palavras: Senhoras e senhores, eu não desejo tomar seu tempo esta noite, mas não posso deixar de dividir com vocês as grandes dificuldades que encontrei para domar este animal. Observem, eu lhes imploro, estes olhos selvagens, que nunca dantes haviam vislumbrado a civilização. Todos os meios utilizados por séculos para subjugar as feras falhou neste caso e eu tive que recorrer à linguagem suave do chicote, a fim de faze-lo obedecer a minha vontade. Apesar de conviver com ele por anos, nunca consegui ganhar a sua confiança e tenho certeza que ele ainda me odeia. Desde que o encontrei nos confins da África tenho gasto muita energia para tentar diminuir sua ferocidade, mas esta faz dele um excelente dançarino. Então, sem mais delongas apresento-lhes PINÓQUIO, O BURRO DANÇARINO! O apresentador curvou-se, saudando o público. Em seguida virou-se para Pinóquio e disse: Pronto, Pinóquio! Antes de iniciar a sua apresentação, cumprimente o seu público! Pinóquio obedeceu dobrando seus dois joelhos no chão, assim permanecendo até que o apresentador estalou o chicote no ar e ordenou: Ande! o burrinho levantou-se e andou ao redor do picadeiro

147 Alguns minutos se passaram e novamente a voz do apresentador interrompeu: Passo rápido! e Pinóquio obedecendo mudou seu passo. Galope! e Pinóquio galopou. Velocidade máxima! e Pinóquio correu o mais rápido que podia. Enquanto corria o mestre levantou o braço e disparou um tiro de pistola para o ar. Ao ouvir o tiro, o burrinho desabou no chão como se tivesse realmente sido morto pelo disparo. Ele permaneceu assim por alguns instantes e depois se levantou elegantemente, demonstrando que aquilo fazia parte do espetáculo. Uma chuva de aplausos saudou o burrinho, gritos e assobios foram ouvidos por todos os lados. Ao olhar para o público, Pinóquio percebeu que na primeira fila estava uma linda mulher, em torno de seu pescoço, ela usava uma longa corrente de ouro da qual pendia um grande medalhão e neste estava pintado o retrato de uma marionete. Essa foto é a minha foto e aquela mulher é a minha Fada! Pensou Pinóquio, reconhecendo-a. Ele se sentiu tão feliz que tentou gritar para ela: Oh, minha Fada! Minha querida Fada! mas em vez de palavras foi um alto zurrar que as pessoas ouviram. E devido ao inusitado deste acontecimento, homens, mulheres e crianças, principalmente as crianças, caíram na gargalhada. Muitas pessoas estavam rindo, mas não o apresentador, que considerava que zurrar não era uma demonstração de boas maneiras perante o público e para corrigir isso, golpeou o nariz do burrinho com o punho do chicote

148 Isso fez com que ele ficasse em silêncio, porque doeu tanto que o obrigou a estender a sua língua comprida e lamber a ponta de seu nariz por um bom tempo, num esforço para diminuir a dor. E qual não foi a sua tristeza quando voltando a olhar para a platéia percebeu que a Fada havia desaparecido! Ele sentiu-se desmaiar e ficou com os olhos cheios de lágrimas. Ninguém percebeu isso e o apresentador, estalando o chicote, gritou, dando prosseguimento ao espetáculo: Bravo, Pinóquio! Agora nos mostre sua habilidade de saltar graciosamente através dos anéis. Pinóquio tentou prosseguir, mas como estava desatento e desconcentrado por ter perdido contato com sua Fada, ao saltar o primeiro anel, uma de suas patas se enganchou, ele caiu no chão de mau jeito. Quando se levantou ele só era capaz de andar mancando. Pinóquio! Queremos Pinóquio! Queremos o burrinho! gritaram as crianças, tristes com o acidente. Mas o público não viu mais Pinóquio naquela noite, ele foi levado ao estábulo e lá ficou até que na manhã seguinte o veterinário declarou que ele mancaria para o resto de sua vida. E de que me serve um burro manco? perguntou o dono do circo a si mesmo. Ele levou Pinóquio ao mercado para vende-lo e quando chegou lá, um comprador logo foi encontrado. Quanto você está pedindo por este burro manco? perguntou o comprador. Quatro dólares. Eu lhe dou quatro centavos e não pense que eu estou comprando ele para o trabalho, porque ele não serve mais para isso. Quero apenas a pele dele. Eu pertenço a

149 uma banda musical e acredito que essa pele bem esticada irá servir em meu tambor. Assim que o comprador pagou quatro centavos, o burro mudou de mãos. Pensem como Pinóquio deve ter ficado satisfeito ao saber que iria se tornar parte de um tambor! Seu novo proprietário o levou para um penhasco com uma linda vista para o mar. Amarrou uma pedra em seu pescoço, uma corda em uma das patas e por fim deulhe um empurrão, jogando-o na água. Pinóquio afundou imediatamente. E seu novo mestre sentou-se na beira do precipício e ficou esperando ele se afogar

150 CAPÍTULO 34 Pinóquio volta a ser um marionete novamente, mas é engolido por um tubarão terrível. Após o burro desaparecer em direção ao fundo do mar, o homem esperou por uns cinqüenta minutos e então pensou: a essa altura o meu pobre burro já deve estar bem afogado e eu já posso começar a trabalhar no meu belo tambor. Ele puxou, puxou e puxou a corda de volta e, para sua surpresa, em lugar do burro, o que encontrou foi uma marionete viva, se contorcendo como uma enguia. Diante desta cena, o pobre homem pensou que estava sonhando. Sentou-se com a boca aberta, os olhos esbugalhados e disse tentando assimilar o que estava acontecendo: E onde está o burro que eu joguei no mar? Eu sou o burro! respondeu Pinóquio rindo. Você? Sim, eu mesmo. Ah, você está zombando de mim? Zombando de você? Não, caro Mestre. Eu estou falando sério

151 Mas então como é que você, que há poucos minutos era um burro, se transformou em uma marionete de madeira? Bem, se quiser saber a minha história, desate esta corda de minha perna que lhe contarei tudo. O homem, curioso para saber a história desatou a corda. Pinóquio sentindo-se livre como um pássaro, começou seu conto: Saiba que eu sempre fui uma marionete de madeira, assim como sou hoje. Um dia eu estava prestes a me tornar um menino, um menino de verdade, mas por conta de minha preguiça e por me envolver com más companhias, fugi de casa. Uma bela manhã me transformei em burro com orelhas compridas, pelos cinzentos e até mesmo um rabo! Que dia vergonhoso para mim! Espero que você nunca experimente algo como isso. Fui levado para a feira e vendido a um proprietário de circo que tentou me fazer dançar e saltar através de arcos, mas durante a apresentação eu tive uma queda feia e fiquei coxo. Não sabendo o que fazer com um burro manco, o dono do circo me levou ao mercado e você me comprou. Essa última parte eu conheço! E paguei quatro centavos por você. E agora quem vai devolver o meu dinheiro? Onde poderei encontrar outra pele? Não se preocupe, querido Mestre. Há muitos burros neste mundo. Diga-me, boneco insolente e sua história já terminou? Ainda não. Você amarrou uma pedra em meu pescoço, me jogou no mar e se não fosse minha Fada, eu teria morrido. Sua Fada? Quem é ela? Ela é minha mãe e como todas as mães que amam seus filhos, ela nunca me abandona, mesmo quando eu não

152 mereço isso. E hoje, assim que ela me viu no fundo do mar, enviou milhares de peixes para o local em que eu estava. Eles pensaram que eu realmente estava morto e começaram a me comer. Um comeu minhas orelhas, outro o nariz, outros minha barriga e assim por diante. Houve até um peixe que foi muito gentil e fez o grande favor de comer a minha cauda. Ai, ai, ai, de agora em diante eu juro que nunca mais vou comer peixe na minha vida! Eu sempre adorei uma tainha ou uma pescada branca, mas só em pensar que eu posso estar comendo rabo de burro, isso me embrulha o estômago! Acho que é uma boa idéia. respondeu Pinóquio rindo Depois que eles comeram toda a carne, chegaram nos ossos, ou melhor, na madeira dura no meu caso. Depois das primeiras mordidas eles descobriram que a madeira não é boa para os dentes e me deixaram em paz. Pois então, caro Mestre, esta é a minha história. Agora você sabe porque encontrou uma marionete e não um burro morto quando me puxou para fora da água. É uma história bastante diferente essa sua, mas eu gastei quatro centavos e quero eles de volta, então acredito que o melhor a fazer é leva-lo de volta ao mercado e lhe vender como lenha seca para lareira. Muito bem, não tenho nada contra isso, mas só se você conseguir me pegar. Pinóquio disse isso e em seguida saltou rapidamente no mar. Depois de nadar para uma posição segura, virou-se e disse rindo: Adeus, Mestre. Quando precisar de uma pele para o seu tambor, lembre-se de mim. Em pouco tempo ele estava tão longe que mal podia ser visto, era apenas um pequeno ponto preto que se movia rapidamente na superfície azul da água

153 Depois de nadar por bastante tempo, Pinóquio viu uma grande pedra no meio do mar, uma rocha branca como mármore. No alto da rocha existia uma pessoa que lhe acenava, parecendo chamar o marionete para si. Ele ainda estava distante para ter certeza do que se tratava, mas havia algo de muito estranho nisso porque o pequeno vulto que lhe acenava era azul e brilhante, assim como a sua Fada. Foi então que a ficha caiu e ele teve certeza de que era a sua Fada a lhe chamar. O coração de Pinóquio se acelerou e ele redobrou seus esforços, nadando o mais rápido que era capaz. Ele já havia vencido quase a metade da distância faltante, mas de repente um monstro marinho colossal emergiu do fundo do mar e abriu sua boca gigantesca na qual se viam três fileiras de dentes brilhantes. Bastaria esta simples visão que amedrontar qualquer um, mas além disso ele se dirigia para Pinóquio. E você seria capaz de adivinhar que monstro era esse? Bem, qual monstro do mar poderia ser, senão o enorme tubarão que muitas vezes foi mencionado nesta história e que, por causa da sua crueldade, foi apelidado de "Átila do Mar" por peixes e pescadores. Pobre Pinóquio! A visão daquele tubarão o assustou muito e ele tentou escapar nadando para longe, mas não teve tempo porque o monstro foi mais rápido e o alcançou. Foi abocanhado em um instante e quando se deu conta estava em um local escuro. Uma escuridão tão profunda que ele pensou que havia colocado a cabeça em um tinteiro. De vez em quando um vento frio soprava em seu rosto, no começo ele não entendia de onde vinha isso, mas depois de um tempo descobriu que a corrente de ar era produzida pelos pulmões do monstro

154 No início Pinóquio tentou ser corajoso, mas assim que ele se deu conta de que estava no estômago do tubarão, explodiu em soluços e lágrimas, gritando: Socorro! Socorro! Alguém me ajude! Quem poderia lhe ajudar garoto? perguntou uma voz áspera, como uma guitarra desafinada. Quem está falando? Sou eu, um pobre atum engolido pelo tubarão, ao mesmo tempo que você. E qual tipo de peixe você é? Eu não tenho nada a ver com peixes, sou Pinóquio, uma marionete. Se você não é um peixe, o que é que você estava fazendo no mar? É uma longa história. Acredito mesmo é que estava no lugar errado, na hora errada, mas o que vamos fazer agora? Vamos esperar até o tubarão nos digerir, eu suponho. Mas eu não quero ser digerido. gritou Pinóquio, começando a chorar. Nem eu! disse o atum Mas já que sou um peixe, é mais digno morrer debaixo da água do que em uma frigideira. Que absurdo! É a minha opinião! E opiniões devem ser respeitadas. Mas eu quero sair deste lugar. Eu quero escapar. Todos nós queremos, mas acredito que não seremos capazes disso! Qual é o tamanho deste tubarão? Seu corpo, sem contar a cauda, possui mil e quinhentos metros de comprimento

155 Mas enquanto ouvia esta última informação, Pinóquio pensou ter visto uma luz fraca na direção da cauda do tubarão. O que pode será aquilo? perguntou ao atum. Deve ser algum pobre peixe, aguardando pacientemente para ser digerido pelo Tubarão, assim como nós. Eu quero vê-lo. Pode ser que ele seja um peixe sábio e saiba alguma forma de escapar. Desejo-lhe boa sorte, querido Pinóquio. Tchau amigo Atum

156 CAPÍTULO 35 Pinóquio encontra uma pessoa importante dentro do tubarão. Assim que disse adeus ao seu bom amigo, o atum, Pinóquio andou na direção da fraca luz que brilhava no horizonte. Seus pés entraram em contato com uma água gordurosa e escorregadia, que lhe molhava as canelas e tinha um cheiro tão forte de peixe frito, que ele logo se lembrou da sexta-feira santa. Quanto mais caminhava, mais brilhante e clara ficava a pequena luz. Ele andou, andou e andou, escorregando um pouco é verdade, mas finalmente chegou. Ele encontrou uma pequena mesa de madeira, sobre a qual estava a vela que brilhava. Ao lado, sentado em uma cadeira, estava um homem velho com cabelos brancos como a neve, ocupado em limpar seus óculos. Adivinhem quem era ele... A princípio Pinóquio não acreditou no que via, mas chegando mais perto confirmou e sua felicidade foi tão grande que quase desmaiou. Ele queria rir, chorar, dizer mil e uma coisas, mas o máximo que conseguiu foi se manter em pé. Só depois de alguns instantes soltou um grito de alegria e correu para o velho:

157 Oh, Pai! Pai querido! Finalmente encontrei você! Eu juro que nunca mais irei deixá-lo! Gepeto colocou os óculos e só então foi capaz de ver seu filho. Os meus olhos realmente estão me dizendo a verdade? Dê um abraço no seu velho pai! Os dois se abraçaram fortemente e Pinóquio desembestou a falar: Você me perdoa? Oh, meu querido Pai, como você é bom! E pensar que eu... Oh, mas se você soubesse quantas desgraças e problemas aconteceram comigo! Basta pensar que no dia em que você vendeu o seu antigo casaco para me comprar um livro ABC, para que eu pudesse ir à escola, eu fugi para o teatro de marionetes e o proprietário quase me queimou no forno! Mas ele se arrependeu e para compensar me deu cinco moedas de ouro, mas eu conheci a Raposa e o Gato, que me enforcaram em um carvalho gigante. Então a Fada do cabelo azul me salvou. Mas eu novamente fui enganado pela Raposa e o Gato, que me levaram ao Campo das Maravilhas e enterrei minhas moedas de ouro. O papagaio riu de mim e descobri que em lugar de milhares de moedas de ouro, eu havia sido furtado. Depois do juiz ouvir a minha história, me enviou para a prisão e quando saí tentei furtar um cacho de uvas que estava pendurado em uma videira, mas fiquei preso em uma armadilha. O fazendeiro me fez de cão de guarda, mas eu fui honesto e ele me deixou ir. Quando cheguei na casa da Fada, ela não estava e o pombo me disse: 'Eu vi o seu pai construindo um pequeno barco para lhe procurar na América' e me levou até a praia, onde lhe vi no mar e lhe acenei... Eu me recordo, mas o mar estava muito bravio e não consegui retornar à praia. Logo se formou uma tempestade, este terrível tubarão me viu na água, nadou

158 rapidamente em minha direção, abriu sua boca e me engoliu como se eu fosse um bombom de chocolate. E a quanto tempo você está aqui? Desde aquele dia até hoje, dois longos anos se passaram. E como você tem vivido? Onde você achou esta vela? Logo após eu ser engolido, o tubarão engoliu também um grande navio que havia acabado de naufragar. Os marinheiros foram todos salvos com botes, mas o tubarão por ser guloso decidiu engolir o navio. O quê! Este tubarão engoliu um navio inteiro? De uma só bocada. A única coisa que ele cuspiu fora foi o mastro, pois havia ficado preso em seus dentes. Isso na verdade foi uma grande sorte para mim, pois o navio estava carregado com carne, conservas, bolachas, pão, garrafas de vinho, passas, queijo, café, açúcar, velas de cera, e caixas de fósforos. Com todas estas bênçãos, eu fui capaz de sobreviver por dois anos inteiros, mas agora eu estou nas últimas migalhas. Hoje não há mais nada no armário da despensa e esta vela que você vê aqui é a última que eu tenho. E depois? Depois vamos ficar na escuridão. Então, meu querido pai não há tempo a perder. Nós devemos tentar escapar agora. Escapar como? Nós podemos correr para fora da boca do tubarão e nadar até a costa. Não é tão fácil assim, eu não sei nadar! Não se preocupe! Você pode subir nas minhas costas, eu sou um bom nadador e posso levar você até a praia. após dizer isso, Pinóquio pegou a vela e avançou para a saída, dizendo ao pai: Siga-me e não tenha medo

159 Eles caminharam uma longa distância através do estômago e de todo o corpo do Tubarão. Quando chegaram à garganta do monstro, eles pararam e aguardaram o momento certo para fugir. É necessário dizer que o tubarão já era bastante velho e sofria de asma e problemas cardíacos, devido a isso, o pobre era obrigado a dormir com a boca aberta, tão aberta que era possível ver o céu pontilhado de estrelas, da posição em que os dois estavam. Este é o momento certo para escaparmos. sussurrou Pinóquio, virando-se para o seu pai O tubarão está dormindo, o mar está calmo e a noite está iluminada pela lua. Siga-me de perto e logo estaremos salvos. Dito e feito. Chegaram na imensa boca aberta e começaram a andar na ponta dos pés para evitar que ele despertasse, pois estavam na língua do mostro, que era larga como uma estrada. Os dois fugitivos estavam prestes a mergulhar no mar, quando o tubarão espirrou repentinamente. Talvez até tenha sido a fumaça da vela que tenha feito cócegas no nariz do bicho. No final foi bom porque isso fez com que eles fossem atirados para fora, no meio do mar, que estava calmo como uma piscina. A lua cheia brilhava com todo o seu esplendor e o tubarão continuou a dormir tão profundamente, que nem mesmo um tiro de canhão teria sido capaz de acordá-lo

160 CAPÍTULO 36 Pinóquio finalmente se transforma em um menino Estamos salvos! O que temos que fazer agora é chegar à costa. Pinóquio nadou rapidamente para mais longe do monstro, com Gepeto em suas costas. O desejo dele era chegar em terra firme o mais rápido possível. Ele notou que Gepeto tremia como se estivesse com febre alta. Será que ele está tremendo de medo ou de frio? Pensou. Talvez um pouco de ambos. Mas tentou lhe consolar dizendo: Coragem, Pai! Em algumas horas estaremos salvos em terra. Mas onde é que está a terra firme? perguntou o velhinho, ficando cada vez mais preocupado. Eu acredito que seja nesta direção e se eu estiver certo, logo a veremos. Apesar de ter falado isso, Pinóquio tentava animar seu pai, mas não tinha certeza de nada e só queria transmitir segurança. No entanto foi nesse exato momento

161 que ele ouviu uma voz de guitarra desafinada, que não lhe era estranha: Vocês querem ir para a praia mais próxima? Sim, nós queremos muito! Sua voz me é familiar, mas não consigo lhe reconhecer. Eu sou o atum, seu companheiro no estômago do tubarão. Estava escuro lá e por isso você nunca me viu. E como você escapou? Eu imitei vocês e consegui escapar. Amigo atum, você chegou no momento certo! Gostaríamos muito que você nos ajudasse a chegar na praia. Com grande prazer. Subam em minhas costas que logo vocês estarão seguros em terra firme. Gepeto e Pinóquio montaram no atum e rapidamente chegaram em terra firme, pois além de nadar rápido o atum era morador das redondezas e realmente conhecia muito bem aquele local. Pinóquio foi o primeiro a saltar para ajudar seu velho pai. Após fazer isso, virou-se para o peixe e disse: Caro amigo, você me salvou e a meu pai, não conheço palavras suficientemente adequadas para lhe agradecer! Permita-me abraçar-te como um sinal da minha eterna gratidão. O atum enfiou o nariz para fora da água. Pinóquio ajoelhou-se na areia, abraçou e beijou-o carinhosamente em seu rosto. O atum surpreendeu-se com tanta ternura e sentiu o quanto é importante e gostoso praticar boas ações, mas no final ficou tão encabulado que se virou rapidamente, mergulhou no mar e desapareceu. Enquanto isso, o dia estava amanhecendo. Pinóquio ofereceu seu braço para Gepeto, que estava tão fraco que mal podia se manter em pé e disse-lhe:

162 Apóie-se em meu braço querido pai e vamos caminhando lentamente. E para onde vamos? perguntou Gepeto. Vamos procurar alguém, uma casa, ou uma cabana, onde possam nos dar um pedaço de pão e um pouco de palha para descansarmos. Eles não tinham caminhado muito quando viram dois indivíduos sentados em uma pedra pedindo esmolas. Eram a Raposa e o Gato. No entanto era difícil reconhecêlos, pois realmente estavam com uma aparência lastimável. O Gato, que havia fingido tanto tempo ser cego, agora realmente havia perdido a visão de ambos os olhos. E a Raposa estava velha, magra, quase sem pêlos e sem rabo, pois o havia vendido para comprar um pouco de comida. Oh, Pinoquio, nos dê uma esmola! Pois estamos velhos, cansados e doentes. disse a Raposa com voz chorosa. E doentes! repetiu o Gato. Adeus falsos amigos! Vocês já me enganaram uma vez, mas não irão me pegar novamente! Acredite em nós! Hoje somos verdadeiramente pobres e famintos. E famintos! repetiu o Gato. Adeus falsos amigos! Lembrem-se do velho provérbio que diz: dinheiro roubado nunca dá frutos. Tenha misericórdia de nós! De nós. Adeus falsos amigos! Lembrem-se do velho provérbio que diz: só se colhe aquilo que foi semeado. acenando adeus, Pinóquio calmamente continuou seu caminho, amparando seu pai

163 Depois de mais algum tempo, viram, no final de uma longa estrada perto de algumas árvores, uma pequena casa de palha. Alguém deve viver naquela cabana. Vamos perguntar. disse Pinóquio. Chegando lá Pinóquio bateu na porta. Quem é? perguntou uma voz fininha lá de dentro. Dois pobres viajantes, um pai e seu filho, que desejam um teto para descansar um pouco. respondeu o marionete. Gire a maçaneta, que a porta será aberta. disse a mesma voz. Pinóquio e seu pai entraram na casa, mas não viram ninguém. Olá! Onde está o dono desta cabana? perguntou Pinóquio, achando tudo aquilo muito estranho. Eu estou aqui em cima! Eles olharam para o alto e em uma das vigas do telhado estava o Grilo Falante. Oh, meu querido Grilo Falante, que surpresa vê-lo aqui! disse Pinóquio, curvando-se educadamente. Quanta mudança! Agora você me chama de querido Grilo Falante, mas você se recorda de quando você me jogou um martelo para me matar? Você está certo, querido Grilo! Por favor jogue um martelo em mim agora, pois eu mereço, mas poupe meu pobre pai. Eu vou poupar o pai e o filho. Eu só queria lembrálo da traquinagem que você me fez para ensinar-lhe que precisamos agir com gentileza e cordialidade com as pessoas que encontramos em nossa vida, se desejamos que nos tratem assim no futuro

164 Está certo Grilo, você está mais que certo, eu vou lembrar desta lição que você me ensinou. Mas me diga, como você conseguiu comprar esta bonita casa? Ganhei esta casa de presente da Fada de cabelo azul. E você sabe onde eu posso encontrar a minha Fada? perguntou Pinóquio. Eu não sei. E será que algum dia ela irá voltar? Ela nunca irá voltar, isso é certeza, porque ela me disse: Pobre Pinóquio, eu nunca o verei novamente. Ele encontrou seu fim na barriga do tubarão. Então, certamente ela pensa que você está morto. Pinóquio chorou amargamente, mas depois pensou: O que está feito não pode ser desfeito! Tenho que me concentrar no momento atual. Se acalmou, enxugou as lágrimas, fez uma cama de palha para o velho Gepeto e o ajudou a deitar. Depois olhou para o Grilo Falante e lhe perguntou: Diga-me, amigo Grilo, onde eu poderia encontrar um copo de leite para o meu pobre Pai? Nesta mesma estrada, depois de uns dois quilômetros procure o fazendeiro John, que possui algumas vacas e acredito que poderá lhe ajudar. Pinóquio correu até a casa do fazendeiro John, que lhe perguntou: Quanto leite você quer? Eu quero um copo cheio. Um copo cheio custa um centavo. Me dê o dinheiro que lhe darei o leite. Eu não tenho um centavo. respondeu Pinóquio, triste e envergonhado

165 Isso não é bom... Mas pensando bem... Talvez possamos chegar a um acordo. Você sabe como tirar água de um poço? Eu posso tentar. Então se você me tirar dez baldes de água e colocálos nos bebedouros das vacas, eu lhe darei um copo de leite. Ok, então estamos combinados. O agricultor mostrou como se fazia o serviço. Isso era novo para Pinóquio, mas ele fez o seu melhor. Depois que terminou seu trabalho, ele estava cansado e pingando suor, pois nunca havia trabalhado tão duro em sua vida. Até hoje o meu burro fazia este serviço, mas agora o pobre animal está morrendo. Que pena! Eu poderia vê-lo? Claro que sim! Venha comigo. Assim que Pinóquio entrou no estábulo, viu um burrinho deitado em uma cama de palha em um canto. Ele estava cansado de trabalhar, mas o que mais abatia o animal era a tristeza. Depois de olhar para ele um longo tempo, Pinóquio disse para si mesmo em voz alta: Eu conheço esse burro! Eu já o vi antes! E o burro também pareceu reconhecer a voz de Pinóquio, pois fez um grande esforço para abrir seus olhos e disse com um olhar moribundo: Eu sou Lamparina. após isso, ele fechou os olhos e morreu. Pinóquio chorou sobre o corpo de seu amigo. O fazendeiro, ao ver esta cena, ficou confuso porque Pinóquio estava bem mais triste que ele. É muito amável de sua parte, se preocupar com um burro que não lhe pertence. É que ele era meu amigo de escola

166 O quê? falou o fazendeiro, que não conseguiu evitar uma gargalhada A sua escola permite que os burros estudem? Pinóquio ficou envergonhado e ferido por essas palavras, mas não respondeu. Pegou seu copo de leite e voltou para casa. Daquele dia em diante, por mais de cinco meses, Pinóquio levantava-se assim que começava a clarear e ia para a fazenda. Trabalha o dia inteiro e voltava para casa. Seu pai se recuperava a cada dia, mas quem efetivamente trabalhava era o marionete. Durante a noite ele aproveitava para estudar, havia comprado um livro de segunda mão, no qual faltavam algumas páginas, mas que lhe ajudou bastante a aperfeiçoar a leitura. Em lugar de tinta, que ele não tinha, utilizava suco de amoras ou cerejas. Pouco a pouco a sua dedicação foi sendo recompensada. Até conseguiu economizar um dinheirinho e um dia disse ao pai: Estou indo ao mercado para comprar um casaco, um chapéu e um par de sapatos. Quando eu voltar o senhor pensará que está diante de um homem rico, de tão bem vestido que estarei. Ele estava na estrada que ia até a aldeia, andando, rindo e cantando, quando de repente ouviu seu nome ser chamado. Ele olhou para ver de onde vinha a voz e reparou em um grande caracol, rastejando para fora dos arbustos na beira da estrada. Você não está me reconhecendo? Eu sou o caracol que vivia com a Fada de cabelo Azul e que lhe abriu a porta em uma noite chuvosa. Ah sim! Agora me lembro! gritou Pinóquio, não contendo a excitação Responda-me rapidamente meu caracol, onde está a minha Fada? Diga a ela que eu estou

167 vivo! O que ela está fazendo? Ela me perdoou? Será que ela ainda me ama? Ela está muito longe daqui? Posso vêla? Apesar da pressa de Pinóquio, o Caracol respondeu calmo como sempre: Meu querido Pinóquio, a Fada está doente em um hospital. É uma doença contagiosa e ninguém pode visitála. Em um hospital? Sim, é verdade. Ela foi atingida por uma grave doença, não pode mais trabalhar e agora não possui nem mesmo um centavo. Sério? Oh, como estou arrependido! Minha pobre, Fadinha! Se eu tivesse um milhão, eu daria a ela! Mas eu tenho apenas estas moedas com as quais eu iria comprar algumas roupas, mas aqui estão elas! Por favor faça com que cheguem até ela. E a sua roupa nova? O que isso importa? Gostaria de vender esses trapos que tenho sobre o corpo para ajudá-la, mas isso não importa! Vá depressa e volte aqui depois de uma semana, pois espero ter mais dinheiro para poder ajudá-la! Até hoje eu trabalhei para o meu pai, mas agora vou trabalhar também para a minha mãe. Adeus e esteja aqui na próxima semana. O caracol, muito contra o seu costumeiro hábito, até que se movimentou mais rápido do que de costume. Quando Pinóquio voltou para casa, seu pai lhe perguntou: E onde está a sua roupa nova? Eu não comprei nada, dei todo o meu dinheiro ao caracol, pois soube que minha Fada está doente

168 Naquela noite, depois que ele foi para a cama e adormeceu, sonhou com sua fada, linda, sorridente e feliz, que o beijou e disse: Muito bem Pinóquio! Em recompensa pelo seu bom coração, eu te perdôo por todas as suas travessuras. Os filhos que amam e cuidam bem de seus pais quando estão velhos e doentes, são realmente bons, mesmo que não possam ser apontados como modelos de obediência e bom comportamento. Continue a fazer o bem e você será feliz. Naquele exato momento, Pinóquio acordou e qual não foi a sua surpresa e alegria quando, ao olhar-se melhor, reparou que não era mais uma marionete e sim um menino de verdade! Ele reparou também que tudo ao seu redor havia se transformado. Em vez de paredes de palha, ele encontrava-se num quarto de alvenaria lindamente decorado, o mais bonito que ele já havia visto. E ao lado da cama, sobre uma cadeira, ele encontrou um casaco, um chapéu e um par de sapatos, exatamente como os que ele havia desejado comprar. Assim que ele estava vestido, colocou as mãos nos bolsos do casaco e puxou uma pequena bolsa de couro em que estavam escritas as seguintes palavras: A Fada de cabelos azuis lhe retorna o empréstimo, com muitos agradecimentos. Ao abrir a bolsa, ele encontrou todas as moedas que havia dado ao caracol, mas agora todas eram de ouro! Pinóquio correu para o espelho e quase não se reconheceu. Um belo rosto de rapazinho é que olhava para ele com olhos vivos. Ele ainda esfregou os olhos duas ou três vezes, para ter certeza de que estava mesmo acordado. E onde está o meu pai? ele gritou de repente e correu para o quarto ao lado

169 Lá estava Gepeto, que até tinha ficado mais jovem durante a noite. Ele também estava com uma roupa nova e bastante feliz, pois havia se recuperado completamente. Havia voltado a ser um escultor de madeira e neste momento trabalhava na moldura de um belo quadro, na qual talhava flores e folhas. Pai, pai, o que aconteceu? Essa mudança repentina em nossa casa e em todos nós é por sua causa. respondeu Gepeto. O que aconteceu? Quando crianças levadas tornam-se boas e amáveis, elas transformam sua vida para melhor. Olhando para seu corpo, Pinóquio disse: Eu me pergunto para onde foi o velho boneco de madeira? Lá está ele! respondeu Gepeto, apontando para uma grande marionete sentada em uma cadeira, com a cabeça virada para um lado e os braços para o outro. Depois de olhar um longo, longo tempo, Pinóquio disse para si mesmo: Como eu era ridículo! E como estou feliz agora, que sou um menino de verdade! FIM

170 Carlo Collodi Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. (em 05/01/2012) Carlo Collodi, pseudônimo de Carlo Lorenzini, (Florença, 24 de novembro de outubro 1890) foi um jornalista e escritor italiano do século XIX, famoso por haver criado o Pinóquio. Biografia Lorenzini iniciou sua carreira escrevendo num catálogo de uma livraria florentina. Tornou-se um jornalista de sucesso e em breve escrevia para jornais de toda a Itália. Fundou, então, um jornal próprio, que foi fechado pela censura, em Este jornal foi reaberto onze anos depois, por ocasião do plebiscito em que se votou a anexação da cidade-estado ao Piemonte. Voluntário na Guerra de independência italiana entre 1848 e 1860, antes havia sido comediante. Em 1856, adotou o pseudônimo de "Carlo Collodi", que o tornaria famoso

171 Publicou as obras "Gli amici di casa" e "Un romanzo in vapore. Da Firenze a Livorno. Guida storico-umoristica", por volta de Seu primeiro livro infantil foi de 1876, e intitulava-se "Racconti delle fate", uma tradução do francês. No ano seguinte escreve "Giannettino" e em 1878, "Minuzzolo". Em 1881 inicia a publicação do "Giornale per i bambini" (Jornal para as crianças) - primeiro periódico italiano voltado para o público infantil. Foi ali que, em curtos capítulos, publica originalmente a "Storia di un burattino" (História de um Boneco) - primeiro título das Aventuras de Pinóquio. Publicou ainda outros contos, como "Storie allegre", de mas nenhum deles alcançou o sucesso de sua obra-prima. Pinóquio é, sem dúvida, a criatura que engoliu o criador: o mais famoso personagem da literatura infantil, conhecido em todo o planeta, poucos são os que efetivamente apontam reconhecer em Collodi o seu criador Lorenzini morreu repentinamente em 1890, na sua cidade natal, onde foi sepultado

172 Elias D. Teixeira Baixe As aventuras de Pinóquio no formato epub através deste link = -

173 Este livro foi distribuído cortesia de: Para ter acesso próprio a leituras e ebooks ilimitados GRÁTIS hoje, visite: Compartilhe este livro com todos e cada um dos seus amigos automaticamente, selecionando uma das opções abaixo: Para mostrar o seu apreço ao autor e ajudar os outros a ter experiências de leitura agradável e encontrar informações valiosas, nós apreciaríamos se você "postar um comentário para este livro aqui". Informações sobre direitos autorais Free-eBooks.net respeita a propriedade intelectual de outros. Quando os proprietários dos direitos de um livro enviam seu trabalho para Free-eBooks.net, estão nos dando permissão para distribuir esse material. Salvo disposição em contrário deste livro, essa permissão não é passada para outras pessoas. Portanto, redistribuir este livro sem a permissão do detentor dos direitos pode constituir uma violação das leis de direitos autorais. Se você acredita que seu trabalho foi usado de uma forma que constitui uma violação dos direitos de autor, por favor, siga as nossas Recomendações e Procedimento de reclamações de Violação de Direitos Autorais como visto em nossos Termos de Serviço aqui:

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