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- Neuza Marroquim Bandeira
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1 1. Liderar pelo exemplo. A melhor forma de promover a mudança é pelo exemplo. Se for eleito Presidente, está disposto a promover a boa gestão ambiental dos serviços da Presidência da República, apostando na utilização eficiente da energia tanto nos edifícios como nas viaturas, privilegiando a climatização passiva, promovendo a poupança de água e aproveitamento de águas pluviais, a redução e reciclagem de resíduos, o controlo do bom desempenho ambiental dos fornecedores, promovendo em primeira mão um consumo mais sustentável? As medidas que enunciam serão importantes, no entanto, a questão fundamental será a profunda alteração das políticas de ambiente e cabe ao Presidente da República uma atitude vigilante, de impedimento da delapidação dos recursos naturais, defendendo a soberania nacional e fazendo cumprir a Constituição da República Portuguesa nesta matéria. É necessário uma política de ambiente que valorize a presença humana no território e que tenha em conta a solidariedade nacional para colmatar as imposições e limitações com que se confrontam os habitantes das áreas protegidas, nomeadamente através de investimento público. Uma política que defenda um desenvolvimento em harmonia com a natureza, a qual só será possível através de uma clara ruptura com a lógica de destruição ao sabor dos grandes interesses privados. É essencial uma gestão pública dos recursos naturais e das áreas protegidas. 2. Energia e alterações climáticas. Portugal depende do exterior em mais de 80% para as fontes de energia; a tendências internacional é de aumento do preço dos combustíveis; temos das economias energeticamente mais ineficientes da Europa; e temos que reduzir as emissões gases de efeito de estufa. O investimento em eficiência energética é prioritário, sendo dez vezes mais barato que o investimento em nova produção, e o potencial económico de poupança de energia ultrapassa 20% dos consumos actuais (compare-se com o programa nacional de barragens que vale 1%, ou o programa fotovoltaico com 0,1% dos consumos, com custos sociais, ecológicos e económicos muito superiores). Se for eleito Presidente, está disposto a promover uma conferência e livro branco sobre como tornarmos a nossa economia eficiente e independente dos combustíveis fósseis numa geração, sem alienar os recursos da geração seguinte? É fundamental uma aposta em políticas que definam como prioridades um maior investimento no aumento da eficiência energética e em alternativas energéticas de domínio público que não ponham em causa a segurança alimentar das populações, como é o caso dos agrocombustíveis. É necessário rejeitar a liberalização do comércio mundial, a qual, provocando o aumento do consumo energético e de emissão de gases com efeito de estufa, tem graves consequências no plano económico e social, nomeadamente na soberania e segurança alimentares. É necessário chamar a atenção para a protecção dos ecossistemas naturais, terrestres e marinhos, e a recuperação de ecossistemas degradados, dado o importante papel que desempenham no ciclo do carbono.
2 A experiência europeia de transacção de quotas de carbono desmente claramente a virtuosidade da regulação pelo mercado e demonstra a ineficácia e perversidade dos seus instrumentos. O Esquema Europeu de Transacções (ETS), introduzido em 2005, não conduziu à desejada redução de emissões de gases de efeito de estufa, bem pelo contrário. Depois deste falhanço, seria de esperar uma reavaliação dos instrumentos de intervenção. No entanto, aquilo que é apontado como solução é um aprofundamento destes mecanismos decorrentes do protocolo de Quioto. A mercantilização do ambiente coloca a capacidade da Terra de reciclar Carbono nas mãos das mesmas corporações que estão a delapidar recursos e a degradar o ambiente. Estes mecanismos assumem um carácter ainda mais injusto na medida em que os países industrializados, que mais contribuem e contribuíram para a dita acumulação de carbono na atmosfera, querem agora cobrar a factura aos chamados países em desenvolvimento. A aposta em soluções que já provaram a sua ineficácia conduzirá aos mesmos resultados. Portanto podemos esperar não uma efectiva redução dos gases de efeito de estufa, mas a criação do comércio do carbono que visa, sim, tornar-se numa máquina bilionária de geração de activos financeiros fictícios, em tudo semelhantes aos gerados pelos mercados especulativos bolsistas, expostos às imprevisíveis variações do sistema que os cria. Bastaria recordar a sucessão de bolhas financeiras especulativas e crises à escala mundial, dos últimos 20 anos, para perceber que se está a alimentar um novo monstro financeiro, desta vez orientado para o comércio do carbono. Estima-se que, a curto prazo, a bolsa de carbono poderá representar um mercado de mais de 700 mil milhões de dólares. A posição Portuguesa deveria passar por uma política alternativa nesta matéria partindo do reconhecimento da comprovada ineficácia e perversidade dos instrumentos de mercado, nomeadamente do denominado Esquema Europeu de Transacções contrapondo-lhe uma regulamentação normativa e a definição justa e realista dos meios para alcançar metas. É, por exemplo, paradoxal que mesmo quando os custos de produção energética são menores, cresçam os seus custos finais. Essa relação entre custos de produção e preço revela bem o inquantificável aumento de lucro que as companhias de produção energética obtêm da chantagem ambientalista, importante componente desse aumento de preço, aliada obviamente à pressão especulativa que controla todo o mercado dos combustíveis fósseis com repercussões nos custos da produção e distribuição de energia final. A solução passa por uma ruptura com as políticas que têm vindo a ser seguidas na UE e em Portugal e pela construção de uma alternativa de esquerda consequente para o País e para a Europa que dê prioridade ao progresso social e ao desenvolvimento em equilíbrio com a natureza.
3 3. Solos e segurança alimentar. Portugal depende em 75% do exterior para a alimentação. Nos últimos dez anos, a área ocupada pela produção agrícola perdeu ha e desapareceu 25% do total de explorações agrícolas. Consumimos proteínas animais em excesso, com consequências negativas para a saúde e o ambiente. É necessário garantir a segurança a alimentar. Se for eleito Presidente, está disposto a promover um debate nacional sobre alimentação saudável e sustentável? Está disposto a defender a Reserva Agrícola Nacional (RAN), que tem sofrido atentados sucessivos com a destruição sistemática de alguns dos melhores solos agrícolas do País? Uma política de ambiente não pode ser desligada das questões da soberania, da protecção e salvaguarda dos terrenos agrícolas, impedindo o cultivo de organismos geneticamente modificados e impedindo a privatização ou concessão de tarefas fundamentais do Estado na gestão dos recursos hídricos e no ordenamento do território. A minha candidatura preconiza um projecto para um Portugal melhor: produção, trabalho, serviços públicos, soberania e democracia o projecto consagrado Constituição da República. A minha opinião é clara: só se inverte o rumo de declínio do país apostando na produção nacional, na criação de riqueza como forma de dinamização e financiamento da economia. Do ponto de vista ambiental, a aposta na produção nacional é a mais acertada uma vez que só assim é possível reduzir os circuitos dos produtos e da distribuição, reduzindo impactos ambientais. Assim, importa proteger a nossa capacidade produtiva em termos agrícolas como forma de dinamizar a economia, combater o défice da balança externa e defender a soberania nacional. 4. Ordenamento do território. Já temos em Portugal 1,5 casas por família, das quais 10% devolutas, metade destas a ameaçar ruína; mas os nossos planos de ordenamento permitiriam construir casas para quatro vezes a população; e temos mais km de auto-estradas por habitante que a maioria dos países mais desenvolvidos. O ordenamento do território é um factor essencial para o desenvolvimento e para a segurança de pessoas e bens. Se for eleito Presidente, está disposto a defender a integridade e valorização da Reserva Ecológica Nacional (REN), que protege zonas de abastecimento de água potável e áreas de risco como leitos de cheia, zonas declivosas e a linha de costa? Quer contribuir para evitar no futuro situações como as recentes calamidades da Madeira, Brasil e Austrália? O modelo de desenvolvimento determinado por políticas e opções de direita contribuiu para comprometer a coesão territorial e social. As políticas seguidas têm tido como consequência, no ordenamento do território, a consolidação de um modelo marcado por acentuadas assimetrias e desequilíbrios regionais, no contexto de uma integração territorial subalterna no quadro ibérico e do favorecimento da grande especulação imobiliária. A política de ambiente, gestão de recursos naturais e ordenamento do território promovida
4 pelos sucessivos governos, e agora agravada pelo Governo PS, é a da entrega e submissão aos grandes interesses privados, que orbitam em torno da especulação imobiliária, da exploração dos recursos energéticos e da distribuição de água. A mercantilização da água, configurada na Lei de 2005, avança aceleradamente: entregando a «água da natureza», leitos dos rios, margens, praias e infra-estruturas essenciais a «concessionários» privados; instalando taxas e tarifas a suportar pela população; estruturando um «mercado» de sobre-utilização e poluição da água; impondo uma imputação de custos ao utilizador final - as populações - destinadas a rentabilizar os concessionários. A privatização dos serviços de abastecimento de água e águas residuais conhece, com o actual Governo, novos desenvolvimentos com a implementação do Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais (PEAASAR II), com a pressão para a alienação por parte dos municípios dos serviços e das competências no abastecimento de água e esgotos e com a anunciada privatização do grupo Águas de Portugal, que já controla a maioria dos sistemas de abastecimento «em alta» de água e saneamento. A privatização destes sistemas não só transformaria o direito universal à água em mercadoria, como retiraria às populações e ao poder local qualquer possibilidade de intervenção democrática na sua gestão. A legislação destinada a contornar os instrumentos de ordenamento do território em função da dimensão do investimento, através dos chamados Projectos de Interesse Nacional (PIN), é parte de uma estratégia cujo objectivo é o de colocar o território nacional, e as suas riquezas naturais e paisagísticas, à disposição do grande capital e das suas estratégias. A implantação de empreendimentos imobiliários/turísticos de grande envergadura, sem interacção económica com o tecido natural e social em que se inserem, contribui para o abandono da terra pelas populações locais, com maior intensidade nas áreas protegidas, e para o acentuar do processo de desertificação de vastas áreas do interior do país. É necessário uma política que promova o ordenamento, a valorização do território e também efectivas políticas de desenvolvimento regional, inseparáveis da criação das regiões administrativas e de uma nova política de solos, assumidos enquanto vector essencial de estratégias de desenvolvimento do país e de combate à desertificação e à especulação urbanística, de defesa e valorização do mundo rural e das regiões do interior e insulares. 5. Biodiversidade. A biodiversidade é simultaneamente garante do suporte ecológico da vida, base de grande parte da economia, património insubstituível e marca de identidade nacional. Mas estamos a extinguir espécies a um ritmo comparável à extinção em massa que eliminou os dinossauros; a Europa e o Mundo fracassaram nocumprimento das metas de 2010 para a Biodiversidade. Quer ser Presidente de um País que se orgulha de ter entre a sua fauna lince e lobo, águia real e saramugo, ou quer ser Presidente de um País estéril e cinzento? O que está disposto a fazer para garantir o cumprimento da lei e promover junto dos cidadãos a importância da Biodiversidade?
5 O direito a um ambiente são e adequado à satisfação das necessidades pessoais e sociais do indivíduo e da comunidade, previsto na Constituição da República Portuguesa, tem sido sempre atacado por uma prática política que faz dos recursos naturais apenas o substrato para o desenvolvimento de um grande mercado. Quer PS, quer PSD, quando no Governo, alimentam um processo de privatização e mercantilização da natureza e dos recursos energéticos, naturais, culturais e paisagísticos nacionais. A política de ambiente que tem vindo a ser praticada, também pelo actual governo, tem dois pesos e duas medidas. Por um lado, as actividades tradicionais, o desenvolvimento regional e local, as práticas populares são atacadas em nome de uma visão de política ambiental totalmente proibicionista que afasta as populações das áreas a proteger e dos valores naturais. Por outro lado, os grandes grupos económicos, os donos dos campos de golfe, dos aldeamentos de luxo, das grandes superfícies de comércio, entre outros empreendimentos que servem interesses privados, podem usar e abusar das áreas protegidas, dos recursos naturais, tendo para isso todo o tipo de facilidades e permissividades por parte do governo. Ora, perante a desfiguração do Estado a que vimos assistindo, levada a cabo pelos sucessivos governos e com particular intensidade pelos dois últimos governos do Partido Socialista, é justo afirmar-se que o Estado se afasta do cumprimento da sua tarefa fundamental. O que presenciamos não é o reforço desejável da capacidade de intervenção do Estado e dos seus organismos próprios, mas a sua gradual destruição e fragilização. O exemplo paradigmático do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, integrado numa orientação de minimização da presença do Estado, tem vindo a ser alvo de uma política de desarticulação, atacando os seus trabalhadores, degradando as condições de trabalho. Na sequência dessa política, os cortes no investimento têm vindo a conduzir à falta de meios materiais e humanos para o cumprimento das mais elementares tarefas do Instituto. A nova Lei da Conservação da Natureza que preconiza a privatização da gestão, visitação e fiscalização no interior das áreas protegidas, denuncia bem a estratégia do Governo para a área do ambiente e demonstra que, também nesta matéria, o Governo entende que o Estado se deve retirar para dar lugar à total mercantilização dos recursos, assim colocando ao serviço de interesses privados o seu valor ecológico e o correspondente valor económico. 6. Fiscalidade ambiental e social. O actual sistema fiscal é iníquo, penalizando a classe média além do razoável e oferecendo incentivos directos a práticas lesivas para o ambiente, frequentemente cometidas por empresas que escapam à alçada da lei. Se for eleito Presidente da República, apoiará uma Reforma Fiscal Ambiental e Social, que beneficie as boas práticas ambientais e penalize as más, que imponha taxas superiores sobre a poluição e o consumo de recursos naturais, e em contrapartida retire carga fiscal aos rendimentos do trabalho, promovendo o
6 emprego? Rejeito a mercantilização dos bens ambientais e a diversão ideológica com que se pretende inverter o onús das verdadeiras responsabilidades de classe na degradação ambiental e fazer reflectir os seus custos exclusivamente nas populações. A questão fundamental será uma reforma da política fiscal que alivie a carga sobre as classes laboriosas e promova o aumento das receitas e a eficiência do sistema fiscal, através do alargamento da base e do aumento da fiscalização tributárias, da significativa redução dos benefícios fiscais, designadamente no sector financeiro, nomeadamente em sede de IRC, da diminuição do IVA, do combate à evasão e fraude fiscais, do fim dos offshores e da imposição fiscal sobre o património mobiliário e ganhos bolsistas. 7. Sociedade civil. Portugal sofre de fraca participação cívica e baixo nível educacional, que mais que a conjuntura económica explicam as nossas deficiências de desenvolvimento. Tradicionalmente o Estado Português tem sido impermeável à colaboração com a sociedade civil. Se for eleito Presidente, será apenas um árbitro entre os poderes instalados, ou ouvirá todas as sensibilidades sociais, em especial aquelas que têm menos voz? Usando da influência presidencial, como pretende fortalecer a sociedade civil, no domínio do Ambiente como noutros? É necessário uma política de ambiente que valorize a presença humana no território e que tenha em conta a solidariedade nacional para colmatar as imposições e limitações com que se confrontam os habitantes das áreas protegidas, nomeadamente através de investimento público. Uma política que defenda um desenvolvimento em harmonia com a natureza que só é possível com uma clara ruptura com a lógica de destruição ao sabor dos grandes interesses privados. Só a democratização da gestão e do usufruto dos recursos naturais, o incentivo de uma participação efectiva das populações, envolvimento das autarquias e eleitos locais, e uma política orientada para a promoção e elevação da qualidade de vida das populações, podem travar a tendência de degradação e destruição do património natural de Portugal e podem proteger o ambiente.
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