Supremo Tribunal Federal

Transcrição

1 RECLAMAÇÃO PIAUÍ RELATOR : MIN. LUIZ FUX RECLTE.(S) :ESTADO DO PIAUÍ PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PIAUÍ RECLDO.(A/S) :TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 22ª REGIÃO :SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS INTDO.(A/S) :SINDICATO DOS TRABALHADORES EM PROCESSAMENTO DE DADOS DO ESTADO DO PIAUÍ - SINDPD/PI INTDO.(A/S) :LUCIANA DE MELO CASTELO BRANCO :EMPRESA DE GESTÃO DE RECURSOS DO PIAUÍ S/A - EMGERPI : TADEU NUNES LAGES E OUTRO(A/S) DECISÃO: Trata-se de reclamação, aparelhada com pedido liminar, ajuizada pelo Estado do Piauí, em face de decisão proferida pelo Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região, por suposta ofensa à autoridade do julgamento na ADI nº 1.662/SP. O reclamante narra que a parte exequente requereu a penhora de valores da Conta Única do Estado do Piauí relativos a suposto crédito da Empresa de Gestão de Recursos do Estado do Piauí S/A EMGERPI. Prossegue afirmando que o Juiz da 4ª Vara do Trabalho de Teresina/PI deferiu o requerimento e determinou a penhora de R$ ,88 (noventa e seis mil, seiscentos e oito reais e oitenta e oito centavos) da Conta Única do Estado para adimplemento do referido crédito. Sustenta, em suma, que, embora não tenha sido parte no processo, está diante de iminente diminuição do seu patrimônio sem a realização do devido procedimento de precatórios. Informa que suscitou essa questão em embargos de terceiro, que, no entanto, foram desprovidos. Aponta, como ato reclamado, o seguinte: O(a) doutor(a) BASILIÇA ALVES DA SILVA, JUIZ(A) TITULAR DE VARA DA 4ª VARA DO TRABALHO DE TEERESINA.

2 MANDA que o(s) Oficial(s) de Justiça deste E.TRT da 22ª Região, a vista do presente MANDADO, por mim assinado, dirija-se a(o) BANCO DO BRASIL, PRACA MARECHAL DEODORO, CENTRO, TERESINA-PI, CEP: , ou ao local diverso deste, se necessário, e sendo ali, proceda a PENHORA DE CRÉDITO DA CONTA ÚNICA DO ESTADO DO PIAUÍ, de titularidade do(a) executado(a) supra, até o limite da execução, no valor de R$ ,88 (noventa e seis mil, seiscentose oito reais e oitenta e oito centavos). Caso o numerário depositado seja insuficiente para garantia da execução, fica desde já determinado o bloqueio da conta, devendo o Oficial de Justiça intimar o gerente para que todo o ingresso de numerário em favor da executada seja transferido para a conta judicial, à disposição deste Juízo, até satisfazer integralmente a execução, sendo de responsabilidade do gerente intimado a utilização dos meios operacionais, inclusive de monitoramento da conta, se necessário, para o efetivo cumprimento da ordem. seguem anexas cópias (fls. 336 a 354). O SR. OFICIAL DE JUSTIÇA DEVERÁ CUMPRIR O PRESENTE MANDADO, DE FORMA SUCESSIVA, A FIM DE EVITAR EXCESSO DE PENHORA. O SR. GERENTE DEVERÁ APRESENTAR, NO ATO, O EXTRATO ATUALIZADO DAS CONTAS CORRENTES, SOB PENA DE RESPONSABILIDADE. O DESCUMPRIMENTO DESTA ORDEM TIPIFICA CRIME DE DESOBEDIÊNCIA A ORDEM JUDICIAL, ALÉM DE OUTRAS SANÇÕES LEGAIS. CUMPRA-SE NA FORMA DA LEI. Aduz, adiante, que o ato reclamado desafia a autoridade do julgamento da ADI nº 1.662/SP, quando esta Suprema Corte teria decidido que os pagamentos de créditos trabalhistas deveram (sic) ser feitos pelo sistema de precatórios. Conclui, desse modo, que os bloqueios ordenados no caso sub judice vão de encontro ao decido pelo Supremo Tribunal Federal. É o relatório. Decido. Ab initio, antes de examinar se, de fato, há a contradição apontada entre o ato reclamado e a questão de fundo travada na ADI nº 1.662/SP, impõe-se esclarecer o que fora nela decidido para, em seguida, efetuar, se for o caso, a parametricidade pretendida. 2

3 Na ADI nº 1.662/SP de relatoria do Min. Maurício Corrêa, esta Suprema Corte foi instada a se pronunciar acerca da constitucionalidade de diversos preceitos da Instrução Normativa nº 11/1997 do Tribunal Superior do Trabalho, que uniformizou procedimentos para a expedição de precatórios e ofícios requisitórios referentes às condenações decorrentes de decisões judiciais transitadas em julgado. Na ocasião, o Tribunal firmou orientação no sentido de que apenas a quebra da ordem cronológica de pagamento autoriza o sequestro de verbas públicas, nos termos do art. 100, 2º, da Constituição Federal. O acórdão foi assim ementado: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INSTRUÇÃO NORMATIVA 11/97, APROVADA PELA RESOLUÇÃO 67, DE , DO ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, QUE UNIFORMIZA PROCEDIMENTOS PARA A EXPEDIÇÃO DE PRECATÓRIOS E OFÍCIOS REQUISITÓRIOS REFERENTES ÀS CONDENAÇÕES DECORRENTES DE DECISÕES TRANSITADAS EM JULGADO. 1. Prejudicialidade da ação em face da superveniência da Emenda Constitucional 30, de 13 de setembro de Alegação improcedente. A referida Emenda não introduziu nova modalidade de seqüestro de verbas públicas para a satisfação de precatórios concernentes a débitos alimentares, permanecendo inalterada a regra imposta pelo artigo 100, 2º, da Carta Federal, que o autoriza somente para o caso de preterição do direito de precedência do credor. Preliminar rejeitada. 2. Inconstitucionalidade dos itens III e XII do ato impugnado, que equiparam a não-inclusão no orçamento da verba necessária à satisfação de precatórios judiciais e o pagamento a menor, sem a devida atualização ou fora do prazo legal, à preterição do direito de precedência, dado que somente no caso de inobservância da ordem cronológica de apresentação do ofício requisitório é possível a decretação do seqüestro, após a oitiva do Ministério Público. 3. A autorização contida na alínea b do item VIII da IN 11/97 diz respeito a erros materiais ou inexatidões nos cálculos dos valores dos precatórios, não alcançando, porém, o critério adotado para a sua elaboração nem 3

4 os índices de correção monetária utilizados na sentença exeqüenda. Declaração de inconstitucionalidade parcial do dispositivo, apenas para lhe dar interpretação conforme precedente julgado pelo Pleno do Tribunal. 4. Créditos de natureza alimentícia, cujo pagamento far-se-á de uma só vez, devidamente atualizados até a data da sua efetivação, na forma do artigo 57, 3º, da Constituição paulista. Preceito discriminatório de que cuida o item XI da Instrução. Alegação improcedente, visto que esta Corte, ao julgar a ADIMC 446, manteve a eficácia da norma. 5. Declaração de inconstitucionalidade dos itens III, IV e, por arrastamento, da expressão "bem assim a informação da pessoa jurídica de direito público referida no inciso IV desta Resolução", contida na parte final da alínea c do item VIII, e, ainda, do item XII, da IN/TST 11/97, por afronta ao artigo 100, 1º e 2º, da Carta da República. 6. Inconstitucionalidade parcial do item IV, cujo alcance não encerra obrigação para a pessoa jurídica de direito público. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente em parte. No caso sub examine, no entanto, não se trata, sequer, de execução contra a Fazenda Pública, haja vista que a executada é sociedade de economia mista, pessoa jurídica de direito privado, que, portanto, não se sujeita ao rito do precatório judicial. Inexiste, pois, identidade material entre o ato reclamado e o acórdão apontado como paradigma, o que evidencia, destarte, a ausência de atendimento dos requisitos constitucionais para a utilização da via reclamatória. Na realidade, pretende a reclamante reformar o decisum reclamado, trazendo a controvérsia per saltum à apreciação desta Suprema Corte para pronunciar-se a respeito da matéria, utilizando o instituto da reclamação como sucedâneo recursal, práxis vedada pela remansosa jurisprudência da Corte. Neste sentido, cito os precedentes: Ausentes os pressupostos legitimadores da reclamação, este remédio constitucional não pode ser utilizado como um atalho processual destinado à submissão imediata do litígio ao exame direto desta Suprema Corte, nem tampouco como sucedâneo recursal 4

5 viabilizador do reexame do conteúdo do ato reclamado (Rcl AgR, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, Plenário, DJe 1º ). O remédio constitucional da reclamação não pode ser utilizado como um (inadmissível) atalho processual destinado a permitir, por razões de caráter meramente pragmático, a submissão imediata do litígio ao exame direto do Supremo Tribunal Federal. Precedentes. - A reclamação, constitucionalmente vocacionada a cumprir a dupla função a que alude o art. 102, I, l, da Carta Política (RTJ 134/1033), não se qualifica como sucedâneo recursal nem configura instrumento viabilizador do reexame do conteúdo do ato reclamado, eis que tal finalidade revela-se estranha à destinação constitucional subjacente à instituição dessa medida processual. Precedentes (Rcl AgR, Relator o Ministro Celso de Mello, Plenário, DJe ). O instituto da Reclamação não se presta para substituir recurso específico que a legislação tenha posto à disposição do jurisdicionado irresignado com a decisão judicial proferida pelo juízo a quo. 2. Inaplicabilidade da teoria da transcendência dos motivos determinantes (Rcl AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe ). Ex positis, nego seguimento à presente Reclamação, nos termos do art. 21, 1º, do RISTF. Publique-se. Int.. Brasília, 7 de maio de Ministro LUIZ FUX Relator Documento assinado digitalmente 5