Psicologia e Relações com a Justiça
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- Thomas Varejão Igrejas
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1 Psicologia e Relações com a Justiça Vivian de Medeiros Lagos: Graduada em Direito e em Psicologia. Possui especialização em Psicologia Jurídica pela (Ulbra) e é Mestre e Doutora em Psicologia (UFRGS). Desenvolve trabalhos na área de avaliação psicológica forense, prestando assessoria técnica a advogados de Direito de Família. - Como está a inserção do psicólogo no âmbito jurídico atualmente no Brasil? Qual o panorama dessa atuação e as perspectivas futuras? Em sua opinião, que campos desta relação da Psicologia com a Justiça ainda precisam ser trabalhados? Entendo que a inserção do psicólogo no âmbito jurídico vem crescendo dia-adia, com abertura de novos concursos, expansão das áreas de atuação e, também, em razão da valorização do trabalho dos psicólogos pelos Operadores do Direito, o que aumenta a demanda especialmente no campo da avaliação psicológica. Acredito, entretanto, que ainda há muito a construir, é preciso criar cargos novos, como o de Psicólogo em Varas de Família aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, além de aumentar o número de psicólogos, especialmente, nas comarcas do interior. É preciso investir na formação em Psicologia Jurídica, tornando-a uma disciplina obrigatória em todos os cursos de graduação, e ampliando o número de cursos de extensão e especialização nessa área, a fim de aprimorar a qualidade do trabalho do psicólogo. Perícias na área da Justiça do Trabalho, e também na esfera cível, como casos de interdição e dano psíquico, são outros campos a serem explorados, pois entendo como áreas mais recentes da inserção do psicólogo. Citaria, ainda, áreas como a Mediação, a Justiça Restaurativa, e a área da pesquisa em Psicologia Jurídica como campos que devem seguir uma crescente e, acredito, destacar-se nos próximos anos. - A avaliação psicológica ainda é a principal demanda da Justiça? O que o psicólogo deve levar em conta diante dessas demandas? Em sua opinião, o Judiciário de uma forma geral compreende o trabalho de avaliação psicológica? Na minha visão, sim, a avaliação psicológica é a principal demanda da Justiça. Contudo, como trabalho justamente nessa área, minha percepção pode estar enviesada. É preciso que o psicólogo mantenha-se atualizado não apenas na área técnica da Psicologia, mas também com as mudanças nas leis que envolvem seu trabalho (questões de guarda, adoção, tipificação penal, por exemplo). Ademais, deve atentar aos princípios éticos, agir com imparcialidade e apresentar a visão técnica do problema, de forma a contribuir com a decisão judicial, sem emitir juízo de valores em seus documentos. Acredito que a Psicologia Jurídica ainda tem muito a se desenvolver e, por isso, a valorização e compreensão do trabalho do psicólogo por parte do Judiciário ainda encontra-se em construção. Os juízes que solicitam perícias e que, a partir das mesmas, conseguem obter informações importantes para tomar suas decisões, tendem a solicitar cada vez mais avaliações e a valorizálas, entendendo a necessidade, por exemplo, de prazos mais longos para a realização de perícias (dependendo da situação que se apresenta). Por outro lado, infelizmente, ainda evidenciamos muitos documentos psicológicos com
2 falhas éticas e técnicas, revelando trabalhos de pouca qualidade, que pouco contribuem para o Judiciário. Esses trabalhos prejudicam não apenas o caso em si sob avaliação, mas também podem acarretar percepções distorcidas sobre a avaliação psicológica no contexto forense. - Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos psicólogos perante a Justiça atualmente? Penso que uma das maiores dificuldades é a de, muitas vezes, não conseguir responder tão objetivamente a muitos dos quesitos formulados pelas partes e pelo próprio Judiciário. Os Operadores do Direito em algumas situações exigem respostas de sim ou não, ou o estabelecimento de datas de início de uma patologia, ou ainda de prognóstico de doenças mentais que nem sempre atendem de forma satisfatória aos processos judiciais, em virtude de a Psicologia não ser uma ciência exata, que permita respostas tão precisas. - No campo do direito de família, de que forma o psicólogo pode estar inserido? O psicólogo pode atuar como mediador de família, auxiliando na resolução dos conflitos de uma forma em que todos os envolvidos participam das decisões ou, ainda, como avaliador. No campo da avaliação psicológica, pode atuar como perito, nomeado pelo juiz, realizando avaliações que envolvem disputa de guarda e alienação parental, por exemplo. Também existe o papel de assistente técnico, quando o psicólogo é contratado por uma das partes envolvidas no litígio judicial e, então, assessora essa parte e seus advogados no processo, elaborando quesitos para o perito e apresentando uma crítica (com concordâncias e divergências) em relação ao trabalho pericial. - Qual a importância da construção e/ou adaptação de instrumentos pelos psicólogos? De extrema relevância. Considerando a demanda cada vez mais crescente por avaliações psicológicas no contexto forense, e a carência de instrumentos específicos para esse contexto, faz-se necessário investir na construção e/ou adaptação de instrumentos psicológicos. Os instrumentos utilizados, hoje em dia, na maior parte das vezes foram delineados para o contexto clínico e, por isso, podem estar mais sujeitos à manipulação dos resultados, característico mais frequente no contexto forense. É fundamental que pesquisadores se dediquem a explorar essa área, contribuindo com instrumentos adaptados para o contexto forense, que minimizem a chance de prejuízo à validade dos achados e corroborem a cientificidade das técnicas de avaliação psicológica, valorizando nosso trabalho perante o Judiciário. Lindomar Darós: Psicólogo Perspectiva Sócio-Histórica, Doutorando UERJ. Atua na Vara de Infância, Juventude e Idoso da Comarca de São Gonçalo no Rio de Janeiro. - Em sua opinião, como se dá a relação do psicólogo com a Justiça? Bom, inseri-me no TJRJ a partir do 1º concurso público para psicólogos. A prova foi em meados de 1998, sendo a minha chamada em abril do ano seguinte. Importante pontuar que não havia bibliografia para a prova, apenas o conteúdo programático, o qual era constituído, à exceção de testes
3 psicológicos, de toda a grade curricular da graduação em Psicologia. Não havia uma delimitação explícita do que esperavam de nossas intervenções, situação esta que produzia certa angústia. Apesar do susto inicial, isto também se configurava como possibilidades, pois havia meios de produzirmos um trabalho diferenciado. Quando iniciamos as intervenções pudemos observar que as demandas processuais apontavam para um convite ao diagnóstico, individualizante e culpabilizante, dos jurisdicionados (pessoas enredadas na rede de garantias de direitos de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidades). Necessário situar que, desde minha inserção, trabalho na Vara de Infância, Juventude e Idoso da Comarca de São Gonçalo¹ (VIJI), motivo pelo qual me refiro à infância. A competência jurisdicional para atuarmos com velhos² deu-se a partir do Estatuto do Idoso. Penso que o estado do Rio de Janeiro seja um dos únicos, se não o único, que juntou a competência de intervenção de crianças/adolescentes com velhos. Fato este que não teria maiores problemas, caso se aumentasse o número de trabalhadores, o que não ocorreu. Há ainda o inconveniente de se juntar em uma mesma vara duas categorias que têm prioridades absolutas (infantes e velhos). Retomando a pergunta que me foi endereçada, penso que a justiça seja outra coisa que não o Poder Judiciário. Assim, talvez fosse mais interessante falar da relação com o Poder Judiciário. Considero que a relação, não apenas com os psicólog@s, mas com tod@s os demais trabalhadores seja cunhada em uma rígida hierarquia, na qual, à magistratura, salvo raras exceções, trata àqueles que representam outros saberes que não o Direito, de modo subalternizado. Assim, há que se construir linhas de fugas, na busca de afirmar a diferença, na afirmação da equidade dos saberes, os quais deveriam estar a serviço da população atendida, não da Magistratura, Ministério Público & Defensoria Pública/Advocacia. Porém, a rigidez e dominação potencializam resistências. Assim, transformações têm sido possíveis, pois se forjam interessantes desvios na tessitura do cotidiano laboral e na afirmação dos direitos humanos. - Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos psicólogos com relação a demandas da Justiça? Penso que já foi apontei a primeira dificuldade, pois precisamos, sempre, afirmarmos o lugar da diferença, em ruptura com a desigualdade reinante nas práticas da maioria daqueles que representam o Direito na estrutura de Poder, no Judiciário. Assim, a consigna instituída é por práticas cunhadas em uma perspectiva multidisciplinar, sem maiores interlocuções entre as diferentes categorias profissionais/saberes. Na maioria das vezes, consegue-se trabalhar de modo interdisciplinar, o que, em minha apreensão, é pouco, pois aposto na transdisciplinaridade como potência para produzir diferença, tanto nas próprias profissões, o que inclui ¹ São Gonçalo se localiza na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, vindo a ser o segundo colégio eleitoral do estado, com mais de um milhão de habitantes e com seguidas administrações municipais desastrosas no tocante a políticas públicas basilares. ² Situo que opto por utilizar o termo velho e não idoso por uma aposta política, uma vez que compreendo o velho com mais potência que o idoso, não sendo outro motivo, segundo minha apreensão que o estatuto é do idoso, não do velho.
4 minhas apostas na vida, quanto na vida daqueles a quem atendemos. Assim, não sei se isto se constitui uma dificuldade, talvez uma delicadeza a qual carecemos atentar e enfrentar, com vistas a produzir outra coisa que, não a mesmice do modo disciplinar de intervenção a que somos convocados, cotidianamente. A trajetória da equipe na qual estou inserido diz de um trabalho, inicialmente, disciplinar. Nos idos de 1999, quando cheguei ao então Juizado da Infância e Juventude (JIJ), encontrei uma psicóloga (hoje, querida amiga). Ela havia chegado há menos de três meses, oriunda do mesmo concurso que fiz. Havia outras cinco profissionais, assistentes sociais (também adoráveis amigas), as quais já tinham uma trajetória no Judiciário Fluminense, via concurso público, há mais de dez anos. Naquele tempo, a demanda judicial era destinada ao Serviço Social. Quando as colegas assistentes sociais, consideravam ser importante a intervenção da Psicologia, apontavam nos autos e a magistrada direcionava o processo à Psicologia. Ficávamos tod@s em um mesmo espaço físico, deveras precário. A proximidade territorial possibilitou trocas e, em menos de um ano, realizamos (Psicologia & Serviço Social) uma reunião com a magistrada, momento no qual solicitamos que ela remetesse os processos à Equipe Técnica Psicossocial e, faríamos as intervenções necessárias, segundo nossa avaliação técnica. A juíza acolheu nossa demanda. Iniciamos nossas intervenções, conjuntamente, e passamos a construir o trabalho em uma perspectiva transdisciplinar. O que não aconteceu sem resistências. Resistências essas que, com certo grau de conflitos, têm sido superadas cotidianamente. Afinal, trabalhar na afirmação da diferença, no que pese ser prazeroso, produz tensões. Há quatorze anos temos construído uma trajetória transdisciplinar. Houve um tempo em que os relatórios e os pareceres técnicos eram comuns, sem uma delimitação específica do que seriam, estritamente, posicionamentos da Psicologia e do Serviço Social, visto que a produção dos documentos se dava na delicadeza do encontro, na intervenção. Isto sempre se mostrou, segundo nossa apreensão, potente. Porém, a partir da Resolução CFESS 557/2009, que exige que o parecer social seja especificado, não mais fazemos os pareceres conjuntos, apenas os relatórios e, ao final, sinalizamos o Parecer Psicológico & o Parecer Social, os quais acabam por apresentar modos diferentes de apontar aquilo que fora produzido no transdisciplinarizar da intervenção. Apostamos ser potente para os usuári@s e também para a própria equipe, a qual se enriquece na diferença de perspectivas disciplinares diversas. Penso que a prática transdisciplinar fortaleça a intervenção da Psicologia & do Serviço Social junto à estrutura de Poder do Judiciário, o qual, conforme já sinalizei, mostra-se disciplinar e hierárquico tanto na relação com o quadro funcional quanto com a população atendida. A falta de respeito aos horários das audiências constitui-se um ótimo analisador para se pensar o modo como a Magistratura lida com o jurisdicionado. São agendadas diversas audiências para um mesmo horário, em uma mesma sala, com um mesmo magistrado. Isto implica em as pessoas permanecerem, por muitas horas, nos corredores dos fóruns, a espera do momento de ser chamadas para estarem frente ao juiz. Retomando os modos possíveis de intervenção técnica, cabe situar que algumas vezes, em minha experiência profissional, foi possível transdisciplinarizar com o Ministério Público, pouquíssimas com a magistratura
5 e, sempre com o Serviço Social. Categoria essa, em minha trajetória, sempre parceira e complementar. - De que forma o psicólogo se insere na escuta de crianças e adolescentes na Justiça? Penso ser esta uma delicada questão. Afinal, cabe à Psicologia a escuta, a qual não pode ser confundida com inquirição. A inquirição diz de uma posição no mundo que impõe aquele que é instado a falar, dizer no tempo de quem pergunta, sem silêncios, pausas, delongas ou reticências. Eu pergunto e você responde. E, responde aquilo que lhe pergunto, sem maiores explicações, caso eu não lhe peça detalhes. Quanto à escuta, diz de uma posição daquele que se dispõe a estar com o outro, no tempo possível ao outro, para dizer em conformidade com sua demanda narrativa. A entrada do psicólog@ no Poder Judiciário, segundo minha apreensão, seria para produzir escuta, desde sempre, pois a inquirição cabe aos ditos operadores do Direito. Porém, ao que parece, não é a escuta que o Tribunal de Justiça nos requer, mas a inquirição. Afinal, nossos relatórios técnicos deixaram de ser considerados adequados, pois não eram suficientes para se condenar. Assim, dentro da estrutura do Poder Judiciário em termos macropolíticos, o que não retrata a experiência vivida pela nossa equipe especificamente, passaram a nos demandar outra intervenção que não a escuta psi, mas inquirição, uma escuta produtora de provas suficiente para condenar. Isto, segundo minha análise, diz não apenas da escuta de crianças, mas de tod@s os jurisdicionad@s. Cobram dos psicólog@s e também dos assistentes sociais, depoimentos sem dano, exames criminológico³, participação em comissões disciplinares nos presídios. Quando resistimos, somos apontados como indisciplinad@s, talvez estejamos em boa companhia, pois há notáveis defensores da (in)disciplina. Considero que precisamos afirmar a escuta, não apenas de crianças e, traçarmos potentes linhas de fuga para nos garantirmos no lugar da produção da diferença na relação com a dureza disciplinar que o Poder Judiciário tentar impor e subjulgar os diversos saberes que o compõem. Todavia, não podemos perder de vista que, a atuação enquanto inquiridores se constitui uma demanda de muit@s de nossa categoria profissional, os quais afirmam que faríamos melhor que aqueles a quem o instituído delegou tal atribuição. Isto se evidenciou nos enfrentamentos que vivemos durante a elaboração da Resolução CFP 01/2010, a qual dispõe sobre a escuta de crianças/adolescentes na Rede de Proteção. Há profissionais, psicólog@s & assistentes sociais, que se dispõe a atuar em defesa da sociedade, para não nos esquecermos de Foucault. ³ Aqui deixamos a seara estrita do Poder Judiciário e adentramos a estrutura das Secretarias de Segurança, mas ainda assim, com estreita relação com o Judiciário, visto que é de onde saem as determinações para se fazer exames criminológicos.
6 Como você vê estratégias como o Depoimento sem Dano? Penso já haver falado desta questão anteriormente. O Depoimento Sem Dano constitui-se uma distorção, segundo minha análise, daquilo que seria uma prática psi, pois equipara inquirição com escuta e, faz uma escolha irrestrita pelo lugar de inquiridor. Importante considerar as resistências internas na Psicologia no enfrentamento desta questão, pois muit@s colegas consideram ser uma legítima atribuição para o psicólog@, conforme já apontei, em defesa da sociedade. Porém, para além da discussão sobre competências e atribuições profissionais, considero o Depoimento Sem Dano uma afronta aos Direitos Humanos, tanto do infante quanto do adulto e, uma ruptura com o princípio do contraditório, considerando estritamente aquilo que é caro ao Direito. Há ainda que se considerar que as resoluções do CFESS e do CFP foram caçadas, liminarmente, Pelo Poder Judiciário Federal. A derrubada das resoluções, segundo minha análise, também de divers@s parceir@s (assistentes sociais, psicólog@s, advogad@s/defensores, juízes & promotores) configura-se uma intromissão no que diz respeito à capacidade técnica dos Conselhos de Classe das Profissões Regulamentadas de dizerem dos limites ético-técnicos-políticos de suas respectivas profissões. No entanto, conforme já sinalizado, isto diz de disputas, também internas às categorias profissionais, mas não somente, sobre o que seria os fazeres de psicólog@s e de assistentes sociais. Movediço e temerário terreno... A serviço de quem o psicólogo que trabalha no judiciário deve pensar a sua prática? Trata-se uma questão que tem posicionamentos dispares. Digno de nota apontar neste momento uma discussão que travei com um colega psicólogo em um egroup de Psicologia Jurídica 4, nos idos de Naquela oportunidade, estávamos a debater sobre a necessidade/obrigatoriedade de entrevistas de devolução/restituição do trabalho realizado com os jurisdicionados. O tema, salvo engano, teria sido aquecido, não apenas em função da Psicologia e sua relação com a Justiça, mas devido a situações atinentes à Psicologia e suas práticas em Recrutamento e Seleção de trabalhadores a empregos. Sinalizei naquela discussão on line que compreendia que os psi deveriam sim restituir/devolver ao jurisdicionado o teor daquilo que escreveria em seu relatório. Meu posicionamento ético-político foi atacado, violentamente, por um colega que afirmou, não estritamente deste modo, pois faz muitos anos para eu lembrar exatamente dos termos, que eu seria um profissional equivocado, que estaria a confundir psicodiagnóstico ou psicoterapia com o fazer da Psicologia Jurídica. Disse ainda o dileto colega que, seu cliente seria o juiz, não o jurisdicionado. Este seria cliente do advogado/defensor público, a quem deveria se endereçar, caso desejasse conhecer do laudo (prefiro relatório de estudo psicológico ) produzido, o qual se encontrava, devidamente, anexado aos autos. 4 Tenho críticas este modo de nomear, pois não apreendo que exista, efetivamente, uma Psicologia que seja Jurídica, mas isto é uma outra história.
7 Não diria de falta ética do colega referido, mas de uma ética que não àquela que eu afirmo na vida enquanto profissional psi. Situo ainda que somos posicionados a partir de um Código de Ética Profissional, o qual, para mim, está longe de dizer de uma ética, mas de uma conduta moral, balizada por um coletivo de psicólg@s, produzido pelo Sistema Conselhos de Psicologia, democraticamente, eleito pela categoria profissional, para levar a termo tal atribuição. Situo que o nosso Código de Ética Profissional, em seus princípios fundamentais, inciso VII diz que: O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionandose de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código. Diz ainda em seu Artigo 1º: São deveres fundamentais dos psicólogos: f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional; g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário. A partir destas três referências de nosso Código de Ética/Conduta Profissional, penso que proceder à restituição/devolutiva do trabalho realizado com os usuários de nossos serviços, independente do espaço organizacional da prática, seja uma baliza da qual o psicólog@ jamais poderia se furtar, independente de suas afirmações ética no mundo. Afinal, isto diz os norteadores legais de nossa profissão. Como o psicólogo deve construir sua prática pensando no trabalho em rede para garantia de direitos das crianças, adolescentes e idosos? Posso dizer do modo como temos construído o trabalho na VIJI de São Gonçalo. Penso que cada equipe, em seu contexto de intervenção, precisará desenhar o caminho a ser percorrido. Mais que isso, esse desenho há de ser revisto sempre, visto ser a realidade dinâmica. Apreendo que a pergunta já aponta o norte do caminha: trabalho em rede. A ruptura com verdades ahistóricas talvez seja a única premissa, a partir da qual todo o trabalho a de ser desenvolvido. Aposto na transdisciplinaridade como método, considerando que, o ato de transdisciplinarizar rompe com modelos hierárquicos de saberes e setores. Desde modo, carecemos estar juntos à educação, saúde, assistência social, Organizações Não Governamentais, sempre pronto a escutar a diferença, afirmando-a, notadamente naquilo que nos inquieta. Há que se considerar as instituições que atravessam e são atravessadas por nossos fazeres profissionais, os quais precisam ser reconhecidos enquanto acontecimentos políticos. Isto ocorre em cada atendimento: individual, familiar, em grupo, nas reuniões de equipe, tanto institucional quanto interinstitucional, momento nos quais podemos forjar saídas que não estejam enquadradas nos marcos legais que disciplinam nossas práticas, afinal, a vida é, sempre, mais rica que teorias e leis que nos normatizam. Que venha o sol, que venha a chuva, que venha a vida e nos inundem de verdades a serem produzidas no cotidiano, com aqueles a quem o judiciário nos convida a sermos polícia e, indisciplinadamente, fazemos outra coisa.
8 - Sugestões bibliográficas sobre o tema ARANTES, E.M.M. Confissão das Crianças o que a antiga pastoral cristã pode ensinar a juízes, psicólogos e assistentes sociais. In: Consulex Revista Jurídica. Ano XVII Nº 406, 15 de dezembro de Pp ARANTES, E.M.M. Pensando o direito da criança de ser ouvida e ter sua opinião levada em consideração. In: AASPTJ-SP; CRESS-SP (Org.). Violência sexual e escuta judicial de crianças e adolescentes: a proteção de direitos segundo especialistas ARANTES, M.de M. Pensando a proteção integral: contribuições ao debate sobre proposta de inquirição judicial de crianças e adolescentes como vítimas e testemunhas de crimes. In: Falando sério sobre a escuta de crianças e adolescentes em situação de violência e a rede de proteção Propostas do Conselho Federal de Psicologia. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2009, p AZAMBUJA, R. F. de. A inquirição da vítima de violência sexual intrafamiliar à lluz do melhor interesse da criança. In: Falando sério sobre a escuta de crianças e adolescentes em situação de violência e a rede de proteção Propostas do Conselho Federal de Psicologia. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2009, p BRITO, L. M. T. de. Diga-me agora... O Depoimento sem Dano em análise. In: Falando sério sobre a escuta de crianças e adolescentes em situação de violência e a rede de proteção Propostas do Conselho Federal de Psicologia. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2009, p VALÊNCIO, N. & DARÓS, L.E.S. Tragédia das Águas em Niterói e a Condição de Abandonado dos Sobreviventes. In: VALÊNCIO, N. (Organizadora). Sociologia dos desastres construção e perspectivas no Brasil volume III. São Carlos: RiMa Editora, FONSECA, T.M.G., NASCIMENTO, M.L. & MARASCHIN, C. Pesquisas na diferença: um abecedário. Porto Alegre: Sulina, NASCIMENTO, M.L. (Organizadora). Pivetes: a produção de infâncias desiguais.niterói: Intertexto; Rio de Janeiro: Oficina do Autos, PASSOS, E. & BENEVIDES, R. Por uma política da narrativa, In: PASSOS, E, KASTRUP, V. & ESCÓSSIA, L da. (Org.). Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e Produção de Subjetividade. Porto Alegre: Salina, 2009.
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