EROSÃO COSTEIRA POR AÇÃO ANTRÓPICA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
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- Jorge Câmara Dreer
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1 EROSÃO COSTEIRA POR AÇÃO ANTRÓPICA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ¹ Dept. Oceanografia, Universidade Monte Serrat - UNIMONTE. RESUMO Kalindi, D.¹; Pilo, G. S.¹; Farrenberg, C. C. A.¹. Os problemas de erosão na zona costeira são atribuídos a fatores naturais e antrópicos. Este trabalho trata de uma revisão bibliográfica com o objetivo de levantar as principais atividades antrópicas que influem sobre os processos erosivos da região costeira. Essas atividades se apresentam incompatíveis ao desenvolvimento sustentável, traduzindo-se pela construção de rodovias, edificações, barragens, dragagem, mineração e estruturas de proteção costeira. INTRODUÇÃO O acelerado processo de ocupação urbana da zona costeira é um dos principais fatores do impacto ambiental na orla marítima. Conforme o capítulo 17 da agenda 21 (CNUMAD, 1992), esse crescimento populacional indica uma tendência para o ano de 2020 de uma população superior a 8 bilhões, onde cerca de 65% das cidades com mais 2,5 milhões de habitantes estarão situados na zona costeira. Essa alta densidade populacional, o limitado espaço costeiro e a diversidade de habitats marinhos e terrestres, associados a diversos interesses sociais e econômicos, geram um alto potencial para conflitos sobre os espaços e recursos costeiros (KULLENBERG, 2001). A utilização desses recursos e dos espaços costeiros são, na maioria, agressivos ao meio ambiente, gerando conflitos que acarretam implicações negativas para os ecossistemas e a economia local. Segundo Suguio (2001), quando o homem ocupa e modifica o espaço físico, na busca incessante de recursos naturais disponíveis e de situações mais convenientes à sua subsistência e bem-estar, ignora as leis da natureza e introduz os fatores antrópicos. Esses fatores atuam na intensificação dos perigos naturais preexistentes gerando novos perigos e, por outro lado, o homem passa a arcar com o ônus das respostas do meio físico às intervenções realizadas. Os mesmos fatores antrópicos superpõem-se às forças dinâmicas atuantes, exacerbando as suscetibilidades naturais e introduzindo suscetibilidades induzidas, criando situações de crises cada vez mais complexas nas regiões costeiras. A zona costeira constitui um dos ambientes naturais mais dinâmicos e produtivos do Planeta, assim como um dos contextos mais importantes, onde a atividade humana, sedimentar e morfológica interagem, independentemente de ser ocupado por praias, arribas, campos de dunas, estuários ou outro conteúdo geomorfológico (BORGES, et al., 2004). Nessa faixa de contato com o mar, a degradação ambiental pela destruição da vegetação e construção de edificações torna-se extremamente evidentes. Essa degradação pode
2 2 intervir no processo de transporte sedimentar, tanto eólico quanto marinho, provocando desequilíbrios no balanço sedimentar, na estabilidade natural e levando ao recuo da linha de costa. O crescimento da ocupação do litoral pelo homem e a consequente pressão antrópica sobre essa zona, nem sempre foi, ou é, acompanhado de uma política clara de planos de gestão, de ordenamento e de desenvolvimento sustentado do litoral enquanto recurso natural. A resolução desses conflitos pode possibilitar a sustentabilidade ambiental de uma determinada área para que o problema não se torne mais grave no futuro (SILVA, 2008). Dessa forma, a erosão costeira por ação antrópica é um perigo costeiro com dispersão e expressão geográfica que constitui um risco, importando ser levado em conta quando se pretende o desenvolvimento e a sustentabilidade de uma região (BORGES, et al., 2004). MATERIAIS E MÉTODOS O presente trabalho consiste em um levantamento bibliográfico a respeito das principais atividades antrópicas que influem sobre a erosão costeira. RESULTADOS E DISCUSSÕES O rápido crescimento populacional e a expansão econômica originaram e originam conflitos entre a ocupação do litoral e os processos costeiros, que se traduzem nomeadamente pela erosão, transformações sazonais do perfil de praia e pela mobilidade de dunas (BORGES, et al., 2004). Há diversos tipos de intervenções antropogênicas que alteram o balanço sedimentar de um segmento costeiro, podendo gerar um déficit de material sedimentar e consequentes fenômenos de recuo da linha de costa (TESSLER & GOYA, 2005). De acordo com Souza (2009), as causas antrópicas da erosão costeira são: a) urbanização da orla, com destruição de dunas; impermeabilização de terraços marinhos holocênicos e eventual ocupação da pós praia; b) implantação de estruturas rígidas ou flexíveis, paralelas ou transversais à linha de costa: espigões, molhes de pedra, entroncamentos, píeres, quebra-mares, muros, etc., para proteção costeira ou contenção e mitigação de processos erosivos costeiros ou outros fins; canais de drenagem artificiais; c) armadilhas de sedimentos associados à implantação de estruturas artificiais devido à interrupção de células de deriva litorânea e formação de pequenas células; d) retirada de areia da praia por: mineração e/ ou limpeza pública, resultando em déficit sedimentar na praia e / ou praias vizinhas; e) mineração de areias fluviais e desassoreamento de desembocaduras; dragagens em canais de maré e na plataforma continental: diminuição/ perda das fontes de sedimento para as praias; f) conversão de terrenos naturais da planície costeira (manguezais, planícies fluviais, lagunares, pântanos e áreas inundadas) em áreas urbanas, provocando impermeabilização dos terrenos e mudanças no padrão de drenagem costeira (perda de fontes de sedimentos). Nem todos os tipos de intervenções antrópicas prejudiciais à erosão costeira são realizados diretamente na linha de costa. Muitas vezes, alterações efetuadas nos cursos dos rios,
3 3 por exemplo, afetam diretamente o aporte sedimentar para a zona costeira. Exemplos dessas intervenções, nas mais diversas escalas de magnitude e tempo, existem por toda a costa brasileira, como a construção de diversas usinas hidrelétricas e reservatórios ao longo do rio São Francisco (TESSLER & GOYA, 2005). Outro exemplo de intervenção indireta na erosão seria a construção de barragens ao longo dos rios, que, além de reterem grandes volumes de água, também atuam de modo eficaz na captura de sedimentos, reduzindo o fornecimento de material sólido para a zona costeira (FARIAS, 2008). A exploração indiscriminada de areia de dunas, pós praia e ante praia, para construção civil e aterros, assim como as construções de estabelecimentos comerciais e habitações na região de dunas também agravam seriamente o déficit de sedimentos das praias e aceleram seu processo de emagrecimento (CUNHA, 2005). Essas dunas, juntamente com as praias arenosas e as zonas costeiras adjacentes atuam como verdadeiros amortecedores da energia das ondas, sendo, portanto, essenciais na proteção do continente contra a erosão marinha (SUGUIO, 2001). Segundo Pilkey & Dixon (1996), é próprio do homem ao tentar deter a erosão costeira acabar por ser responsável pelo incremento desse processo natural, acabando por dilapidar o ambiente costeiro e o recurso natural que foram a razão principal por sua instalação naquela zona. González (1999) ressalta ainda que estruturas submersas na ante praia, tais como quebra-mares e recifes, influenciam o campo hidrodinâmico e, consequentemente, os processos responsáveis pelo transporte sedimentar de uma região. A construção de espigões (estruturas dispostas perpendicularmente à linha de costa) pode provocar um agravamento da erosão à jusante do setor protegido, podendo deslocar o problema para outro local. Já a construção de muros de proteção (obra longitudinal à costa), impede a troca de sedimentos entre continentemar promovendo um desequilíbrio no balanço sedimentar. Esse desequilíbrio provoca um aumento gradativo na energia de arrebentação das ondas e consequentemente das taxas de erosão em decorrência do déficit de sedimentos que reduziriam o fluxo dinâmico através do atrito com o substrato (FARIAS, 2008). A figura 1 apresenta o aumento da erosão pela construção de defesas aderentes (paredões), sendo possível notar as consequencias da intervenção a curto, médio e longo prazo. Após a construção do paredão há encurtamento da praia (2), posteriormente, o desaparecimento da praia junto com a falha da defesa aderente e o aumento do declive do talude offshore (3). A longo prazo observa-se a destruição da casa construída sobre a antiga duna, o aumento da profundidade e um novo e maior paredão (4). Esses paredões constituem uma estrutura estática contra a qual a praia vai diminuindo de largura, podendo desaparecer por completo em alguns anos ou algumas décadas.
4 Fig. 1: Construção de paredões para deter o recuo da linha de costa (Modificado de Borges et al., 2004). As diversas tentativas de estabilização ou de proteção contra a agressão dos elementos do clima e contra as atividades destrutivas das ondas do mar, quase nunca surtiram efeitos desejados (BORGES, et al., 2004). Isso resulta no desperdício de recursos públicos com obras de engenharia que acabam não cumprindo seu papel e aceleram a erosão (SOUZA, 2009). De acordo com Suguio (2001), numerosos conflitos, gerados em função da ocupação desordenada do espaço físico terrestre das regiões litorâneas poderiam ser minimizadas ou até mesmo eliminadas, se os principais fatores geológicos e geomorfológicos que controlam ou afetam essa área estivessem equacionados. Ainda segundo Almeida & Schuler (2009), é difícil qualificar e quantificar de maneira isolada cada um dos fatores que interagem no balanço sedimentar de uma praia, sendo indispensável o monitoramento da zona litorânea em função das taxas de variação da linha de costa, a fim de obter resultados que expressam a dinâmica temporal em uma determinada região. Dessa forma, tanto no sentido do estabelecimento de uma zona de proteção costeira contra fenômenos erosivos, quanto no de preservação da paisagem, torna-se importante a definição de critérios para a fixação de limites tanto oceânicos como terrestre, legalmente aceitos, para que se possa orientar ações de controle e restrições de atividades que
5 5 potencialmente contribuam para a erosão costeira (MUEHE, 2001). APOIO UNIMONTE Centro Universitário Monte Serrat CONCLUSÕES Sendo o desenvolvimento sustentado aquele que vai ao encontro das necessidades atuais sem comprometer as necessidades das futuras gerações, os processos erosivos causados pela ação antrópica são incompatíveis com qualquer tipo de desenvolvimento sustentável. Para que o relacionamento do homem com as áreas litorâneas ocorra de maneira menos impactante possível e que o desenvolvimento seja sustentável, há urgente necessidade de conhecimentos cada vez mais aprofundados sobre os processos costeiros e também sobre os possíveis efeitos das atividades antrópicas na erosão costeira. São diversos os impactos antrópicos que resultam na erosão costeira, incluindo obras de contenção mal planejadas. Os gastos com obras inadequadas de contenção da erosão costeira deveriam servir para que planejamentos passassem a se basear em estudos prévios, evitando assim o gasto desnecessário de recursos e contribuindo para um desenvolvimento sustentado. O conhecimento das taxas de erosão costeira permite o estabelecimento de zonas de interdição e de zonas tampão, assim como a construção responsável de defesas aderentes. Esses estudos, quando pontuais e detalhados, constituem uma ferramenta prática e poderosa no ordenamento, na gestão e no planejamento ambiental das zonas costeiras, sem os quais dificilmente o desenvolvimento será sustentado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, H. R. R. C., SCHULER, C. A. B. Avaliação da Morfodinâmica Praial no Município do Cabo de Santo Agostinho- PE através de imagens suborbitais e orbitais de alta resolução espacial. Ver. Engenharia Ambiental, Espírito Santo do Pinhal. V. 6 n 1, BORGES, P; LAMEIRAS, G; CALADO, H. A erosão costeira como factor condicionante da sustentabilidade. 1º Congresso de Desenvolvimento Regional de Cabo Verde, CNUMAD Conferência da Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21, FARIAS, E, G. G. Aplicação de Técnicas de Geoprocessamento para a Análise da Evolução da Linha de Costa em Ambientes Litorâneos do Estado do Ceará. Dissertação de Mestrado. Fortaleza, GONZÁLEZ, R. G.; HEALY, T. R.; DOMMERHOLT, A. P. A.. Blind-folded test of equilibrium beach profile concepts with New Zealand data. Marine Geology. Amsterdam, v. 109, p , KULLENBERG, G. Contributions of marine and coastal area research and observations towards sustainable development large coastal cities. Ocean & Coastal Management, MUEHE, D. Critérios morfodinâmicos para o estabelecimento de limites da orla costeira para fins de gerenciamento. Revista Brasileira de Geomorfologia, volume 2, n 1, PILKEY, O. H., DIXON, K. L. The Corps and the shore, Island Press, Washington D.C., 272p, SILVA, I. R. Subsídio para a Gestão Ambiental das Praias da Costa do Descobrimento, Litoral Sul do Estado da Bhaia, Brasil. Revista de Gestão Costeira Integrada, 2008.
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