Poder Judiciário Tribunal de Justiça da Paraíba Gabinete Des. Carlos Martins Beltrão Filho

Transcrição

1 Poder Judiciário Tribunal de Justiça da Paraíba Gabinete Des. Carlos Martins Beltrão Filho ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL N /001 ia Vara da Comarca de Santa Rita/PB RELATOR: Desembargador Carlos Martins Beltrão Filho APELANTE: Luan Albério Santos Silva ADVOGADA: Sílvia Karla Sales De Araújo (OAB/PB ) APELADA: Justiça Pública APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO QUALIFICADO TENTADO. CONCURSO DE AGENTES CONDENAÇÃO. IRRESIGNAÇÃO. PLEITO ABSOLUTÓRIO. AUSÊNCIA DE PROVAS. NÃO CONFIGURAÇÃO. AUTORIA E MATERIALIDADE INDUVIDOSAS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. DESPROVIMENTO DO APELO. 1. Agindo o acusado com a vontade livre e consciente de subtrair os bens da vítima, em concurso de pessoas, a fim de se locupletarem com o produto do roubo, que não se consumou por razões alheias a sua vontade, amolda-se sua conduta, com perfeição, à figura típica descrita no art. 157, 2 0, II, c/c o art. 14, II, do Estatuto Repressivo. 2. A suposta insuficiência de provas, tão decantada pelo recorrente para embasar a absolvição almejada, esmorece em face da materialidade e da autoria incontestes, posto que esteadas em provas concretas e vigorosas. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de apelação criminal, acima identificados, AC ORDAa Egrégia Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unani-gidade, em negar Carlos Marti Desemba O Filho fator

2 provimento ao recurso, em harmonia com o parecer da Procuradoria- Geral de Justiça. RELATÓRIO Perante a ia Vara da Comarca de Santa Rita/PB, Luan Alberio Santos Silva, devidamente qualificado nos autos, foi denunciado como incurso nas sanções do art. 157, 2, II, c/c art. 14, II, ambos do Código Penal (tentativa de roubo qualificado), acusado de, no dia 31 de agosto de 2009, por volta das 00h0Omin, em união de desígnios com um menor, adentrarem no bar de Zélio José de Araújo, amarrando seu irmão Neilton José de Araújo, e espancando-lhe, com a finalidade de subtrair os bens daquele estabelecimento, não conseguiram alcançar os fins almejados, em razão da intervenção da Polícia Militar. Narra a inicial acusatória que o flagrante ocorreu quando policiais militares perceberam que a vítima estava amarrada no interior do estabelecimento, sob o domínio do denunciado e do menor, ocasião na qual interviram e prenderam os acusados, quando estes já tentavam evadir-se do local com o produto do roubo. Instruído regularmente o processo e oferecidas as alegações finais pelo Ministério Público (fls ) e pelo acusado (fls ), o MM. Juiz singular julgou procedente a denúncia, para condenar Luan Alberio Santos Silva nas penas do art. 157, 2, II, c/c art. 14, II, ambos do CP, fixando-lhe pena-base de 4 (quatro) anos de reclusão. Majorou em 1/3 (um terço) a reprimenda pelo concurso de agentes (art. 157, 2, II, CP), resultando em 05 (cinco) anos e 04 (quatro) meses, e em seguida, abateu 01 (um) ano por reconhecer a atenuante por se tratar de réu menor de 21 anos. Presente a causa de diminuição de pena do art. 14, II, parágrafo único, do CP, diminuiu a pena em 2/3, totalizando 1 (um) ano, 5 (cinco) meses e 10 (dez) dias de reclusão, a ser cumprida em regime aberto, e 3 (três) dias-multa, à razão de 1/30 do salário mínimo vigente ao tempo do fato. Por fim, suspendeu a pena, pelo prazo de 2 (dois) anos, mediante determinadas condições, nos termos do art. 77 do Código Penal (fls ). Irresignado com o decisório adverso e devidamente intimado do seu teor (fls. 82-v), recorreu tempestivamente o apenado a esta Superior Instância, pugnando, por sua absolvição, alegando que o depoimento da própria vítima inocenta o réu, pois afirma que em nenhum momento o apelante participou da conduta criminosa (fls ). Contra-razões ministeriais (fls ). Seguiram os autos, já nesta instância, à douta Carlos Marti Desembarg trio Filho fator 2

3 Procuradoria-Geral de Justiça, que opinou pelo desprovimento do recurso (fls ). É o Relatório. VOTO As pretensões recursais consubstanciam-se na contrariedade à sentença condenatória proferida pelo magistrado singular, contudo, não merecem prosperar, devido ao acerto da sentença vergastada. 1. Do pleito absolutório: A autoria e a materialidade restam, amplamente, comprovadas, de modo a positivar a existência do delito de maneira cristalina, o que se depreende das suficientes provas colhidas durante as fases inquisitorial e processual, tais como, o Auto de Prisão em Flagrante (fls. 5-10), Auto de Apreensão (fl. 14), Auto de Entrega (fl. 19), e depoimentos testemunhais, todos acordes com o direcionamento tomado na condenação. A co-autoria do ilícito, por sua vez, é revelada por um conjunto de circunstâncias e indícios irretorquíveis, que vão, desde o flagrante realizado pela polícia, até os depoimentos testemunhais. Não obstante o censurado, Luan Albério Santos Silva, tenha negado a prática da conduta delitiva perante a autoridade judicial, tudo converge para incriminá-lo. Percebe-se que, o comparsa do denunciado, menor de idade, tanto na Delegacia (fl. 09), como em juízo (fl. 60), imputou a autoria do fato ao réu Luan, afirmando que este o chamou para acompanhá-lo em uma cobrança de dinheiro, e chegando ao destino, o apelante efetuou a prática criminosa, ficando ele, o menor, apenas observando o fato. Em contrapartida, em seu interrogatório judicial (fl. 56), o apelante rechaça o acima exposto. Alega, em sua defesa, que o menor foi quem saiu do local onde estavam, dizendo que ia pegar um dinheiro, e que ao sair à sua procura, viu o mesmo dentro do bar amarrando a vítima, momento no qual foi detido pela Polícia, contradizendo, inclusive, a sua versão apresentada na Delegacia, quando da lavratura do Auto de Prisão em Flagrante (fl. 10). Apesar, da vítima, quando em juízo, negar a participação do apelante na conduta criminosa (fl. 51), em suas Carlos Martin Yrão Filho Desembarga elator 3

4 declarações prestadas na Delegacia (fl. 07), narra o fato apontando os dois indivíduos detidos como autores do delito, vejamos: "(...) Que, já passava da meia noite, quando dois elementos entraram pelo telhado e conseguiram entrar no restaurante, e como o declarante estava muito cansado e quase dormindo, não percebeu e ditos elementos surpreendeu o declarante, dominando-o e amarrando-o e alem disso começaram a lhe espancar com agressões, chutes e murros; Que, ditos elementos começaram a pegar algumas latas de refrigerantes, azeites e outros objetos e colocando em uma sacola, e também pegaram o aparelho celular de seu irmão que estava no interior do restaurante, quando já se preparavam para saírem, a Polícia Militar chegou a conseguiu impedir que os elementos fugissem; que, com um dos elementos foi apreendido o aparelho celular de Zélio, seu irmão, enquanto que os demais pertences do restaurante, ditos elementos não puderam levar; (...) Que, chegando nesta DP, tomou conhecimento de que um desses elementos é menor de idade; (...). Os seguintes depoimentos testemunhais são elementos dos autos que compõem conjunto probatório suficiente para a condenação: Daniel Silva Modesto Silveira - testemunha - policial militar - na Delegacia (fl. 05): "Que o condutor que de serviço, por volta das 00hora e 50minutos, quando passava na rua João Pessoa, Tibiri II, Santa Rita, uma pessoa desconhecida informou que estaria havendo uma movimentação estranha do interior de um bar, que fica localizado na mesma rua, e o condutor juntamente seu colega de trabalho PAULO GEOVANI FREIRE, na VTR-0916, se dirigiram ate o referido estabelecimento e lá chegando, logo observaram que haviam dois elementos com uma pessoa amarrada, e com duas sacolas com algumas latas de refrigerantes já de saída; Que, os elementos na tentativa da fuga deixaram os objetos e subiram em uma Carlos Martins Desembarga o Filho tor 4

5 pia e quebraram a mesma,e danificaram o telhado por onde entraram no estabelecimento; (...) Que com o LUAN ALBERTO DOS SANTOS SILVA, foi apreendido dois aparelhos celulares em poder do conduzido; (...) Que após a prisão e apreensão, veio a tomar conhecimento que o aparelho celular da marca MOTOROLA, com bateria e chip, pertence a vítima proprietária do estabelecimento que chama-se ZÉLIO JOSE DE ARAÚJO, (...)". Daniel Silva Modesto Silveira - testemunha - policial militar - em juízo (fl. 53): "(...0 que quando estava chegando ao local do crime, que o réu estava dentro do local; que quando chegou o Luan estava tentando sair pelo teto, e o menor ainda estava dentro do local; que era o Luan que estava com a sacola com o produto do furto; (...) que foi apreendido um celular, não se recordando com quem estava o celular; (...) que quando entrou o réu estava em cima da pia com uma sacola; (...)". PAULO GEOVANI FREIRE, policial militar, testemunha, no Auto de Prisão em flagrante: "(...), se dirigiram ate o referido estabelecimento e lá chegando, logo observaram que haviam dois elementos com uma pessoa amarrada, e com duas sacolas com algumas latas ctt refrigerantes já de saída; que, os elementos na tentativa da fuga deixaram os objetos e subiram em uma pia e quebraram a mesma, e danificaram o telhado, por entraram no estabelecimento; (...) Que com LUAN ALBERTO DOS SANTOS SILVA, foi apreendido dois aparelhos celulares em poder do conduzido; (...)". Destarte, o substrato probatório a autorizar uma condenação é cristalino, irrefragável e aprume. Ademais, insta relembrar que os depoimentos prestados por policiais são merecedores de fé, na medida em que provêm de agentes públicos no exercício de suas atribuições, mormente quando estão em consonância com o restante do conjunto probatório, como ocórre no caso dos autos. Catios Martin Desembarg "o FM Ra tor 5

6 in verbis: Neste sentido é o entendimento jurisprudencial, "APELAÇÃO CRIMINAL. OCULTAÇÃO DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. CONJUNTO PROBANTE COESO. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. COERÊNCIA DOS DEPOIMENTOS DE POLICIAIS MILITARES EM JUÍZO E NA POLÍCIA. PARA CONSUMAÇÃO DO TIPO PENAL DISPOSTO NO ARTIGO 14, CAPUT, DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO, BASTA A PRÁTICA DE QUALQUER DAS CONDUTAS PREVISTA, EM HOMENAGEM AO PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE. O DELITO DE OCULTAR ARMA DE FOGO É DE MERA CONDUTA. OS DEPOIMENTOS DOS POLICIAIS MILITARES QUE EFETUARAM A PRISÃO EM FLAGRANTE E PRESENCIARAM O FATO, QUANDO HARMÔNICOS E COERENTES COM AS DEMAIS PROVAS, SÃO SUFICIENTES PARA A CONDENAÇÃO. APELAÇÃO DESPROVIDA."(TJDF APR DF Rel. Souza e Avila, 2a Turma Criminal; DJ-e 09/04/2012) HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. AÇÃO PENAL. NEGATIVA DE AUTORIA. INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. INEXISTÊNCIA. ORDEM DENEGADA. 1. Omissis. 2. Posiciona-se a doutrina, bem como a jurisprudência deste Superior Tribunal, no sentido de que os depoimentos de policiais, devidamente confirmados em juízo, constituem-se prova idônea à condenação. 3. Ordem denegada." (HC /SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, 6a Turma, julgado em , DJ p. 326-grifo nosso). No caso presente, tenho que os depoimentos colhidos dos policiais militares que prenderam em flagrante o apelante constituem prova segura da autoria, nada havendo nos autos que possa elidir a presunção de veracidade de que gozam seus testemunhos. Não se Carlos M insitp Filho Desembarg 6

7 pode ignorar que a vítima na fase inquisitorial imputou aos dois indivíduos a autoria do ilícito. 0 juiz singular, ao proferir seu decisum no molde condenatório, enquadrando as condutas dos recorrentes ao tipo delineado no art. 157, 2 0, I e II, c/c o art. 14, II, do Código Penal, o réu Luan Albério Santos Silva, fê-lo em consonância com os elementos de convicção encartados aos autos, mormente quando não carreado ao álbum processual nenhum elemento convincente a expurgar a culpabilidade atribuída ao recorrente, o qual venha a justificar a absolvição pretendida. Dessa maneira, conclui-se que a suposta insuficiência de provas, tão decantada pelo recorrente para embasar a absolvição almejada, esmorece em face da materialidade e da autoria incontestes, posto que esteadas em provas verossímeis e vigorosas. Ante todo o exposto, em harmonia com o parecer da douta Procuradoria-Geral de Justiça, nego provimento aos recursos. É o meu voto. Presidiu ao julgamento, com voto, o Desembargador Joás de Brito Pereira Filho, no exercício da Presidência, dele participando, além de mim, Relator, o Desembargador Arnóbio Alves Teodósio. Presente à sessão de julgamento a Excelentíssima Senhora Doutora Maria Salete de Araújo Melo Porto, Procurador de Justiça. Sala de Sessões "Des. Manoel Taigy de Queiroz Melo Filho" da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, aos 10 dias do mês de julho do ano de João Pessoa, 10 de julho de 2012 D Carlos Mtinseltrão Filho 7

8 TRIBUNAL 00 JUSTIÇA Dirotoria Judiciária 41. er