Capítulo. Alterações da Glicemia 18 e Diabetes Mellittus. Capítulo 18. Alterações da Glicemia e Diabetes Mellitus 1. OBJETIVOS
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1 Capítulo Alterações da Glicemia 18 e Diabetes Mellittus 1. OBJETIVOS No final da sessão os formandos deverão ser capazes de: Conhecer os tipos de diabetes mellitus. Descrever os mecanismos de descompensação da diabetes mellitus. Enumerar os sinais e sintomas de hipoglicemia e hiperglicemia. Integrar a informação obtida através do exame da vítima no quadro de descompensação diabética. Listar e descrever a nomenclatura AVDS e CHAMU incluídas no exame da vítima, no contexto de vítima com um quadro de descompensação diabética. Listar e descrever os critérios de prioridade na atuação perante um quadro de descompensação diabética. Listar e descrever os passos da atuação protocolada para este tipo de atuação. 1
2 2. INTRODUÇÃO O organismo humano para sobreviver necessita de um fornecimento constante de oxigénio e nutrientes, fatores estes obtidos através da respiração e da digestão. A utilização do oxigénio e dos nutrientes é efetuada através do metabolismo interno do corpo que vai permitir o consumo e excreção das diversas substâncias. Para qualquer função ou movimento que realizamos é necessária uma determinada quantidade de energia. Assim o metabolismo vai permitir que através dos diversos nutrientes orgânicos, que possuem uma certa quantidade de energia química, venhamos a obter energia necessária para manter as funções do nosso organismo 3. A GLICOSE Dentro das diversas substâncias que necessitamos para sobreviver, a glicose (açúcar) é, à semelhança do oxigénio, um dos nutrientes fundamentais que nos permite manter vivos. Esta substância é obtida através do processo de digestão dos alimentos, que são alterados mecanicamente e quimicamente para que o organismo possa retirar deles os nutrientes necessários. Se houver alterações no nível de glicose existente no organismo, pela produção ou consumo da glicose ter-se alterado, pode surgir um quadro de: - Hipoglicemia Açúcar a menos no sangue; - Hiperglicemia Açúcar a mais no sangue. Os valores de glicemia considerados normais são, no caso de se estar em jejum entre 70/80 mg/dl e 110/120 mg/dl e, no caso de ter efetuado alguma refeição (até 2 horas após) inferiores a 160 mg/dl. O nível de açúcar no sangue designa-se por glicemia. A sua determinação é fácil, recorrendo-se à medição da glicemia capilar. A glicemia capilar obtém-se colocando uma gota de sangue numa tira reagente (muda de cor com o nível da glicemia capilar) que é comparada com uma escala ou utilizando aparelhos que fazem a determinação automática do valor (Glicómetro). Existem fundamentalmente duas substâncias responsáveis pelo metabolismo da glicose: - A Insulina - O Glucagon a) INSULINA A insulina é uma hormona produzida pelo pâncreas e tem como função: - Aumentar o metabolismo da glicose; - Diminuir a concentração de glicose no sangue; - Aumentar as reservas de glicose nos tecidos. 2
3 b) GLUCAGON É produzido pelo pâncreas quando diminui os níveis de glicemia, e tem como função elevar estes níveis, mobilizando reservas hepáticas. Fig Anatomia do pâncreas As alterações nos níveis de glicose e de insulina no sangue podem ter as seguintes origens: - Uma alimentação deficiente; - Um jejum prolongado; - Incumprimento da medicação ou administração excessiva de insulina; - Neoplasias no pâncreas; - Esforço físico; As situações de emergências metabólicas mais frequentes no pré-hospitalar são as resultantes da descompensação da vítima diabética. 4. DIABETES MELLITUS Diabetes é uma doença crónica que resulta da incapacidade do pâncreas em produzir a quantidade de insulina suficiente para o organismo humano, caracterizando-se pelo aumento dos níveis de glicose no sangue. A Diabetes Mellitus classifica-se da seguinte forma: Diabetes Mellitus Tipo I ou Insulino Dependente. Diabetes Mellitus Tipo II ou Não Insulino Dependente. 3
4 4.1. DIABETES MELLITUS TIPO 1 OU INSULINO DEPENDENTE Atinge, na maioria dos casos, crianças e jovens podendo também surgir em adultos. Nestes casos o pâncreas é incapaz de produzir insulina, uma vez que existe a destruição das células produtoras desta hormona. Devido a esta incapacidade, este tipo de doentes necessita que lhe seja injetada insulina durante toda a vida DIABETES MELLITUS TIPO 2 OU NÃO INSULINO DEPENDENTE Este tipo de Diabetes surge na maioria dos casos em indivíduos adultos, podendo ser hereditária ou surgir devido a maus hábitos alimentares, stress, etc. Neste tipo de casos o pâncreas produz insulina mas não em quantidade suficiente. 5. HIPERGLICÉMIA A hiperglicemia traduz-se numa situação de aumento dos níveis de açúcar no sangue, já que há uma produção insuficiente de insulina, levando ao aumento da glicemia. Na maioria dos casos não existe a ativação da equipa de emergência uma vez que a sua instalação é lenta e progressiva, surgindo em doentes com antecedentes de diabetes A falta total de insulina no sangue que surge nos diabéticos tipo 1 leva à subida dos níveis de glicose provocando a regressão do metabolismo, dando origem inicialmente à hiperglicemia e posteriormente cetonemia (existência de acetona no sangue). Os valores de glicemia no sangue que nos indicam uma hiperglicemia são quando se encontram superiores a 200 mg/dl. A hiperglicemia ocorre normalmente nas seguintes situações: Quando não é cumprida a prescrição terapêutica (comprimidos ou insulina); Quando o doente come em demasia, não cumprindo a dieta prescrita, o que leva a um excesso de açúcar no sangue em relação à insuficiente quantidade de insulina. diabético. Assim é fácil perceber que um excesso de açúcar no sangue não corresponde necessariamente a um doente 5.1. SINAIS E SINTOMAS DE HIPERGLICÉMIA A sintomatologia da hiperglicemia normalmente traduz-se pela alteração do estado de consciência e na perda de água e tem como consequência o risco de desidratação, hipotensão e taquicardia. No entanto, a vítima ainda pode apresentar: Náuseas e vómitos; Fraqueza muscular; Tonturas; 4
5 Hipotensão; Pele avermelhada e seca; Sensação de sede; Hálito cetónico; Taquipneia; Taquicardia; Sonolência; Confusão mental, desorientação que poderá evoluir para estados de inconsciência coma hiperglicémico 5.2. ATUAÇÃO Manter uma atitude calma e segura; Abordar a vítima segundo a metodologia ABCDE; Manter a permeabilidade da via aérea; Determinar a glicemia capilar; Administrar oxigénio: Garantir oximetria 95% (Se grávida 97%; Se DPOC 88% - 92%) 3 L/min. Verificar e registar os sinais vitais ter especial atenção às características da respiração; Prosseguir com o Exame da Vítima, dando especial atenção à recolha do máximo de informação (CHAMU); Transportar a vítima com vigilância dos sinais vitais e evolução do estado de consciência. 6. HIPOGLICEMIA A glicose é a principal fonte de energia do organismo, sendo fundamental para o seu funcionamento, principalmente do Sistema Nervoso Central, em que a ausência prolongada de glicose pode provocar danos permanentes no tecido cerebral. Na hipoglicemia, ocorre um excesso de insulina em relação ao açúcar do sangue. Considera-se que estamos perante uma hipoglicemia quando o valor de açúcar no sangue capilar é inferior a 60 mg/dl. A sua evolução é normalmente rápida e súbita. A hipoglicemia poderá ocorrer se: Houver um jejum prolongado e/ou desnutrição; Se os alimentos não forem digeridos (ex.: vómito/diarreia após as refeições); Induzida por fármacos: doses de insulina ou antidiabéticos orais forem demasiado elevadas relativamente às necessidades do doente ou à quantidade e tipo de alimentos ingeridos; 5
6 Situações em que é exigido um maior consumo de açúcar (ex.: esforço físico, emoções fortes, febre etc.); Induzida por álcool; Insuficiência hepática; Tumores produtores de insulina; Intoxicação voluntária e/ou involuntária com antidiabéticos orais e/ou insulina (ex. tentativa de suicídio, erro de dosagem). A hipoglicemia é uma situação que embora seja frequente nos doentes diabéticos, pode ocorrer em qualquer indivíduo. Sendo o açúcar imprescindível à vida, a hipoglicemia tem de ser rapidamente corrigida através da ingestão de açúcar. Caso contrário, pode ocorrer a morte SINAIS E SINTOMAS DE HIPOGLICEMIA Ansiedade; Irritabilidade; Agitação; Comportamento bizarro; Fraqueza muscular; Fome; Cefaleias; Pupilas dilatadas; Taquicardia; Pele pálida, húmida e sudorese; Tonturas, náuseas e dor abdominal; Tremores e mesmo convulsões; Desorientação, confusão mental, perda de consciência coma hipoglicémico ATUAÇÃO Manter uma atitude calma e segura; Abordar a vítima segundo a metodologia ABCDE; Determinação da glicemia capilar: Se glicemia inferior a 60 mg/dl, deve: - Vítima consciente: administrar água com açúcar ou bebidas açucaradas em pequenas quantidades mas frequentemente; - Vítima inconsciente administrar papa espessa de açúcar no interior da mucosa oral. Administrar oxigénio: 6
7 Garantir oximetria 95% (Se grávida 97%; Se DPOC 88% - 92%) 3 L/min. Verificar e registar os sinais vitais ter especial atenção às caraterísticas da respiração; Prosseguir com o Exame da Vítima, dando especial atenção à recolha do máximo de informação (CHAMU); Em caso de convulsão deve atuar em conformidade; Transporte com vigilância dos sinais vitais e evolução do estado de consciência. Se o doente se mantiver inconsciente o transporte deve ser feito em Posição Lateral de Segurança; NOTA A distinção entre hipoglicemia e hiperglicemia por vezes torna-se difícil se tivermos apenas em consideração os sinais e sintomas ou a informação obtida. A determinação da glicemia capilar é fundamental para esclarecer esta situação. Quando não é possível efetuar este teste, e se continuar a haver dúvidas, deve atuar como se fosse uma hipoglicemia dado que: A hiperglicemia tem uma evolução mais lenta que a hipoglicemia; A hipoglicemia conduz mais rapidamente à morte celular. QUADRO RESUMO: Hipoglicemia e Hiperglicemia Hiperglicemia Hipoglicemia Excesso de açúcar ou défice de insulina CAUSA Excesso de insulina ou défice de açúcar Lento e progressivo INICIO Rápido e súbito Fraqueza muscular, confusão, sonolência e coma COMPORTAMENTO Agitação, irritabilidade, convulsões, confusão e coma Cetónico, adocicado (a maças) HÀLITO Normal Seca e avermelhada PELE Pálida, húmida e suada Sim SEDE Não Geralmente não FOME Sim Habituais VÓMITOS Raros 7
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