Derivativos e Governança Corporativa
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- Gabriel Henrique de Oliveira Santarém
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1 Galanto Consultoria Ltda. Derivativos e Governança Corporativa Ana Novaes PUC - RJ Rio de Janeiro, 5 de junho de 2009
2 Introdução - Motivação Na minha opinião, derivativos são armas financeiras de destruição em massa, trazendo perigos que, embora latentes no momento, são potencialmente letais. Warren Buffet Berkshire Hathway Annual Report, 2002 Contudo, as companhias, mesmo a Berkshire Hathway, não vivem hoje sem os derivativos! 2
3 Agenda Objetivo do Trabalho O que são derivativos? Exemplo de como funciona um derivativo Importância dos derivativos Alavancagem financeira Derivativos o dia a dia das empresas Derivativos Caso Prático Conclusão 3
4 Entendendo Derivativos Derivativos são instrumentos financeiros com as seguintes características: O seu valor varia de acordo com a variação do ativo subjacente que pode ser o dólar, a taxa de juros, um índice de preço (p.ex. Ibovespa), o preço de uma commodity (p.ex. petróleo, cobre, soja), um índice de notas de crédito; Para se investir nestes instrumentos, nenhum dinheiro ou muito pouco é requerido (aqui está a alavancagem); e A liquidação deste instrumento ocorre no futuro. A chamada margem não é parte do investimento inicial, mas, a medida em que o preço do instrumento varia, o investidor coloca margem (se teve perda) ou coleta margem (se teve ganho). São transacionados em bolsas, mas a maior parte é em balcão. São exemplos contratos opções, futuros, swap. 4
5 Entendendo Derivativos Exemplo Como todo ativo, o Derivativo é importantes como instrumento para investimento, proteção e especulação. Suponhamos que faltando 7 dias para o vencimento de um contrato, uma entidade compra um contrato de derivativo futuro de valor R$ 100. Dia Preço no final do dia, R$ Nota: o exemplo exclui o custo financeiro, CDI. Ajuste de margem no dia, R$ Resultado acumulado, R$ No vencimento, o comprador tem duas alternativas: paga R$ 20, ou paga R$ 100 por um ativo (e.g. arroba de boi) que só vale R$ 80. 5
6 Derivativos Crescimento do Mercado O mercado de derivativos tem crescido de forma acelerada nos últimos anos e o volume transacionado é muito superior aos valores à vista. Em dez/2000, o valor nocional era de US$ 95 tri e o de mercado, US$ 2,3 tri. Valor Nocional dos Derivativos US$ Bilhões Valor de Mercado dos Derivativos US$ Bilhões jun/06 ago/06 out/06 dez/06 fev/07 abr/07 7 jun/07 ago/07 out/07 dez/07 fev/08 abr/08 8 jun/08 ago/08 out/08 dez/08 jun/06 ago/06 out/06 dez/06 fev/07 abr/07 jun/07 ago/07 out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08 ago/08 out/08 dez/08 Nota: Valores do mercado de balcão (bancos); exclui valores transacionados em bolsas. Fonte: Bis Quaterly Review, June
7 Derivativos Crescimento do Mercado Valores Nocionais e de Mercado em US$ Bilhões Valores Nocionais jun/06 dez/06 jun/07 dez/07 jun/08 dez/08 Câmbio Taxa de Juros Bolsa Commodities Swap risco crédito (swap) Outros Total Valores de Mercado jun/06 dez/06 jun/07 dez/07 jun/08 dez/08 Câmbio Taxa de Juros Bolsa Commodities Swap risco crédito (swap) Outros Total Fonte: Bis Quaterly Review, June
8 Alavancagem Financeira Alavancar é tomar fundos emprestados para suplementar os recursos disponíveis de forma a aumentar o retorno esperado de um investimento. t Pode ser de uma companhia ou de um fundo de investimentos. Para este último, a alavancagem se dá quando a exposição ao risco é maior do que o patrimônio do fundo. O uso de derivativos requer pouco investimento em caixa. Exemplo: Fundo de bolsa totalmente investido em ações brasileiras: R$ 100 milhões; Gestor aposta que a bolsa vai subir e adquire contratos futuros de bolsa cujo valor nocional é de aproximadamente R$ 100 milhões; A exposição final ao risco bolsa é R$ 200 milhões, ou seja duas vezes o patrimônio do fundo. Se a aposta der certo, o gestor é gênio; Se der errado, o gestor terá que vender os seus ativos para pagar margem. 8
9 Derivativos Dia a Dia das Empresas As empresas usam derivativos em larga escala, em geral para se proteger de variações adversas no câmbio, na taxa de juros, no preço de seu produto, insumo etc. O uso de derivativos nas grandes empresas é corriqueiro. É difícil encontrar uma companhia de porte que não os tenha. Os derivativos são mais importantes nas companhias que transacionam com o mercado externo e que possuem operações no exterior. Mesmo companhias com receitas apenas em Reais podem ter derivativos, e.g. swap para o CDI de uma dívida em USD. 9
10 Derivativos O Dia a Dia das Empresas Decisões podem ser muito difíceis. Por ex: o hedge de uma dívida em USD de longo prazo para uma companhia com receita em Reais. Questões contábeis: CPC 14 de dez/2008. Regra geral: os derivativos devem ser marcados ao valor justo com os ganhos e perdas passando pelo DRE. Envolve várias linhas das DFins. Difícil entendimento. Apenas se a operação puder ser enquadrada como hedge accounting de cash flow ou de investimentos em subsidiárias, as perdas e ganhos vão para o PL, até a sua realização. Definição da política de risco da Companhia. Definição do uso de derivativos pela Companhia. Apenas para hedge? Efetividade. id d 10
11 Derivativos Caso Prático Companhia de porte com toda uma estrutura de governança - ADR, conselho fiscal, comitê de auditoria, membros independentes e de reputação teve perda expressiva nas suas operações com derivativos. Além da regulação estatal, o mercado usa os chamados gatekeepers (vigias) para assegurar o bom comportamento das companhias: as empresas de avaliação de risco, os analistas e os auditores externos. Que informação foi prestada pelos/aos gatekeepers? Qual a prática contábil da companhia? Como o conselheiro pode identificar possíveis problemas? Vejamos um exemplo prático. 11
12 Derivativos Caso Prático Alguns trechos retirados do ITR do 2T08 de companhia com perdas com derivativos no 2S08. Adicionalmente, na conta de aplicações financeiras está registrada a parcela a receber dos contratos de troca de moeda swap, demonstrada pela diferença entre os valores nominais desses contratos e aqueles atualizados pela variação da moeda estrangeira mais juros auferidos até a data das informações trimestrais (nota 3d). A carteira de aplicações do fundo de investimentos em moeda estrangeira é composta predominantemente por aplicações em dual currency (duas moedas) que tem rentabilidade diferenciada de acordo com o strike (preço alvo) negociado e notas estruturadas emitidas por bancos americanos e europeus de primeira linha, lastreados em títulos de empresas e bancos brasileiros, igualmente de primeira linha (nota 5). 12
13 Derivativos Caso Prático Esses riscos são administrados pela área de Gestão de Riscos por meio da identificação das exposições e correlações entre os diferentes fatores de risco, através de sistema específico de cálculo de VAR Value at Risk e simulações de cenários, monitorados permanentemente pelo Comitê Financeiro e pelo Comitê de Commodities e Gestão de Riscos, composto por membros do Conselho de Administração, que têm sob suas responsabilidades a definição da estratégia da Administração na gestão desses riscos, determinando os limites de posição, exposição e alçadas de decisão. Em 30 de junho de 2008 o valor em risco (VAR-Value at Risk) dos ativos e passivos operacionais e instrumentos financeiros expostos às variações de taxa de câmbio para um ano com 95% de confiança montava de R$ , representando 7,68% do patrimônio líquido (Informação não revisada). (Nota 23) 13
14 Derivativos Caso Prático A Companhia dentro de sua estratégia de hedge utiliza contratos futuros de moeda (Dólar, Euros e Pounds), como forma de mitigar os impactos das variações da taxa de câmbio sobre ativos e passivos reconhecidos e transações esperadas nas rubricas do resultado financeiro e margem bruta. Os valores nominais desses contratos não são registrados nas informações trimestrais. (nota 23a, ênfase da palestrante) O resultado realizado dos contratos futuros, no período findo em 30 de junho de 2008, gerou um ganho de R$ (R$ no mesmo período de 2007), sendo um ganho no montante de R$ (R$8.122 no mesmo período de 2007) contabilizado como resultado financeiro na rubrica de variações cambiais passivas e um ganho no montante de R$ (R$ no mesmo período de 2007) como resultado operacional na rubrica de receita operacional bruta (nota 23a, ênfase da palestrante). 14
15 Derivativos Caso Prático Os resultados não realizados das operações de balcão contratadas com vencimentos futuros, não são reconhecidos contabilmente. Estes contratos estão segregados e definidos como operacionais ou financeiros, de acordo com o objeto que se pretende proteger. O valor desses contratos, caso fossem registrados em 30 de junho de 2008, ocasionaria uma receita de R$ no resultado financeiro e R$ no resultado operacional. (nota 23ª). Questionamentos: Definição de aplicação financeira e cálculo da dívida líquida (nota 23 e) Por que incluir na receita bruta ganhos com contratos derivativos, distorcendo margens, preço médio, EBITDA etc. Por que sair do regime de competência? O que pode ser caracterizado como hedge? 15
16 Derivativos Caso Prático A posição líquida em contratos futuros vendidos em USD (i.e. apostando na queda do Dólar vis-à-vis o Real) passou de US$ 90 MM em 31/dez/2007 para US$ 700 MM no 1T08, chegando a R$ 2,7 Bi no 2T08. O que explicaria este aumento da exposição? Esta companhia tinha no 2T08 um passivo líquido de R$ 180 MM e exportou no 1S08, R$26bilhõ 2,6 bilhões. No ITRdo 3T08, a Companhia informou que a política de exposição cambial deve respeitar (i) 20% do patrimônio líquido da Companhia, ou (ii) para os três meses seguintes à data-base o limite de até 10 dias de exportação e/ou para os 12 meses seguintes à data-base, 50% da geração líquida de caixa. Os números não parecem consistentes. O PL no 2T08 era de R$ 3 bilhões. 16
17 Derivativos Caso Prático Na divulgação dos resultados para o mercado, a Companhia não detalhava ganhos/perdas com derivativos nem explicitava a importância deles para o lucro do 1S08. Ao comentar o resultado, o RI da Companhia escreveu no press release: No primeiro semestre de 2008, o resultado (financeiro) foi de R$ 24,6 milhões positivos, enquanto no mesmo período de 2007 foi de R$ 3,8 milhões negativos. Este resultado é decorrente principalmente de dois fatores. Primeiro da redução dos juros sobre aplicações financeiras aonde houve reduções no valor nominal aplicado. Segundo o efeito cambial que resulta da variação de moedas sobre ativos e passivos expostos e hedges. Metade do lucro do 1S08 veio de operações com derivativos. 17
18 Derivativos Conclusão O que um conselheiro poderia questionar MESMO SEM TER CONHECIMENTO DE FINANÇAS? O resultado financeiro positivo quando a empresa tinha dívida líquida expressiva; A política de risco da Companhia; A qualidade da divulgação dos resultados Verificar se o responsável pelo controle do risco financeiro é diferente de quem toma o risco. Em relação ao Comitê de Auditoria/Conselho Fiscal, cabe a eles questionar os auditores e a diretoria sobre a clareza das notas explicativas. O Conselho e os seus comitês devem supervisionar/ acompanhar as políticas de risco para evitar desvios. 18
19 Derivativos Conclusão A governança de uma Companhia pode ser julgada a partir de suas demonstrações financeiras: Qualidade das informações, das notas explicativas e do press release; Estão nas notas explicativas questões de governança como: transações com partes relacionadas, planejamento fiscal, contingências trabalhistas, tributárias e ambientais; remuneração da administração Toda vez que há perdas, as atenções se voltam para as Dfins. Por isso é importante que o conselheiro esteja atento a sua qualidade. É importante que cada conselheiro possa demonstrar que cumpriu o seu dever de diligência e lealdade para com a Companhia. 19
20 Contacto Galanto Consultoria Ld Ltda. Ana Novaes Av. Ataulfo de Paiva, 1235 salas 103 e 104 Rio de Janeiro, RJ, CEP Tel
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