OBSTÁCULOS NOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM QUÍMICA NO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Transcrição

1 OBSTÁCULOS NOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM QUÍMICA NO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Breno Richard Monteiro SILVA¹ - brenorich@hotmail.com Luiz Fernando Silva OLIVEIRA¹ - oliveira.lfs2@gmail.com Juliana Caroline Dias PANTOJA¹ - juliana_633@live.com Jorge Raimundo da Trindade SOUZA² - jrts@ufpa.br ¹ Universidade Federal do Pará (UFPA) ² Universidade Federal do Pará / Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática Resumo. O objetivo do presente trabalho foi realizar um levantamento das principais dificuldades apresentadas nos processos de ensino e aprendizagem em Química por alunos do 9 ano do Ensino Fundamental. Como instrumento para a coleta de dados, utilizou-se um questionário contendo perguntas objetivas e discursivas que foi aplicado a 52 alunos de uma escola municipal de Ananindeua-PA. Os resultados da investigação apontam que o entendimento dos assuntos de Química abordados em sala é satisfatório, entretanto cerca de 81% dos alunos apresentam grandes dificuldades em resolver as questões que envolvem cálculos matemáticos. Os alunos ainda afirmam que o aproveitamento da disciplina pode ser aprimorado com a adição de novas metodologias de ensino, tais como a experimentação e visitas técnicas em locais onde a Química pode ser notada e relacionada com suas experiências nas salas de aulas e com fenômenos observados no cotidiano. Concluiu-se que a maior dificuldade em aprender Química está na falta de base dos alunos para resolver cálculos matemáticos e na abordagem tradicionalista oferecida pelos professores, o que leva a uma desmotivação por parte dos alunos, criando assim, uma barreira para a compreensão das questões, o que reflete diretamente no processo de aprendizagem. Assim, a adoção de novas tendências educacionais, com novas abordagens metodológicas, pode ser utilizada para facilitar a compreensão dos conteúdos e o aperfeiçoamento desse processo, contribuindo diretamente para a formação dos alunos. Palavras-Chave: Ensino de Química. Obstáculos Didáticos. Ensino Fundamental. 1 INTRODUÇÃO A Química um dos ramos que compõem as Ciências, e é responsável por estudar a composição e estrutura da matéria, bem como as transformações que ela sofre e a energia envolvida nesses processos. (SANTOS et al., 2011). Nas escolas a Química compõe a matriz curricular do ensino fundamental e médio, e é considerada uma das disciplinas mais complexas. Nos documentos orientadores da educação nacional, são propostos conhecimentos em função de sua importância social, seu significado para os alunos e de sua relevância científico-tecnológica propiciando aos alunos o desenvolvimento de uma compreensão do mundo e a tomada de decisões por meio de uma atuação positiva e crítica em seu meio social (BRASIL, 1997). A estrutura curricular da maioria das escolas incorpora a Química em uma abordagem descontextualizada e cheia de conceitos abstratos que são tratados como essenciais para a compreensão dos assuntos ministrados nas aulas. Por esta natureza altamente conceitual, sua aprendizagem é feita muitas vezes de forma mecânica e se dá principalmente pela memorização destes conceitos, contrapondo a proposta de aprendizagem significativa de David Ausubel. Essa natureza abstrata dos conceitos aliada a aprendizagem mecânica dos conteúdos, faz com que os alunos não consigam relacionar o que foi aprendido com o que é observado a sua volta. Todas essas variáveis envolvidas, refletem diretamente em um processo ineficaz de aprendizagem dos alunos além de despertar a rejeição por esta disciplina. Dessa maneira, torna-se fundamental o entendimento das principais dificuldades apresentadas pelos alunos, a fim de se buscar novas metodologias que auxiliem na melhoria destes processos. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho, foi realizar um levantamento das principais dificuldades apresentadas nos processos de ensino e aprendizagem em Química por alunos do 9 ano do Ensino Fundamental. 395

2 2 METODOLOGIA Esta pesquisa é de natureza qualitativa, mas também faz uso de dados quantificáveis na análise das respostas. Como instrumento para a coleta de dados, aplicou-se um questionário no 1º semestre de 2015, contendo perguntas objetivas e discursivas a fim de identificar as principais dificuldades apresentadas pelos alunos no processo de ensino e aprendizagem em Química no Ensino Fundamental. Um total de 52 alunos do 9 ano de uma escola municipal de Ananindeua-PA participou da pesquisa e a partir das repostas obtidas, os resultados foram analisados individualmente e transformados em gráficos. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa foi realizada através do questionário com perguntas objetivas e discursivas e iniciada com a seguinte pergunta: Você gosta de Química? Do total, 73% dos alunos responderam que sim e apenas 27% responderam que não (Gráfico 1). Gráfico 1- Apreciação da Disciplina de Química em % Em um segundo momento, quando questionados sobre o seu primeiro contato com a Química em sala, a maioria dos alunos respondeu que foi razoável ou ruim. (Gráfico 2). Gráfico 2 - Primeiro Contato com a Disciplina de Química em % Gráfico 2 Primeiro contato com a disciplina de Química Ao serem questionados quanto ao grau de satisfação com a abordagem dos conteúdos de química na escola, foi observado que a maioria dos alunos estão insatisfeitos com o método utilizado pelos professores desta disciplina durante as aulas (Gráfico 3). 396

3 Gráfico 3 - Satisfação dos Alunos com a Abordagem da Química na sala de Aula em % Gráfico 3 Satisfação dos Alunos com a Abordagem da Química na sala de Aula Além da insatisfação com a abordagem dos professores, uma grande porcentagem dos alunos apresenta afirmou ter dificuldades em compreender e resolver as questões, principalmente as que envolvem cálculos matemáticos (Gráfico 4). Gráfico 4- Dificuldades Apresentadas pelos Alunos em % Gráfico 4 Satisfação dos Alunos com a Abordagem da Química na sala de Aula 397

4 Com base nas dificuldades relatadas nas perguntas anteriores, os alunos ainda afirmaram que mudanças nas ações metodológicas trabalhadas em sala seriam essenciais para um melhor aproveitamento das aulas. Foi solicitado para que eles sugerissem que metodologias eles gostariam que fossem empregadas pelos professores e os resultados foram quantificados e expressos em porcentagem (Gráfico 5). Gráfico 5 - Sugestões de Metodologias a Serem Empregadas pelos Professores em % Gráfico 5 Satisfação dos Alunos com a Abordagem da Química na sala de Aula A maioria dos alunos que fizeram parte deste estudo, possui aceitação positiva da Química e cerca de 73% afirmaram gostar da disciplina. No entanto, apenas 8% deles afirmou que seu primeiro contato com a disciplina foi bom e para 42% deles, o contato com a Química foi ruim. Os outros 50% descreveram como razoável o seu primeiro contato com a disciplina, com destaque para as as principais justificativas dos alunos apresentadas a seguir: Razoável, porque eu não consegui compreender a maioria dos exemplos. Achei razoável pois realmente não entendi muita coisa. Achei razoável porque eu não entendi nenhum dos cálculos. Provavelmente estas justificativas para o primeiro contato com a Química esteja relacionada com a forma como ela foi apresentada pelo professor. De acordo com Bernardelli (2004) para atrair a atenção e despertar curiosidade dos alunos, é necessário encantar os alunos pelo que se ensina. Dessa forma, o professor possui papel central neste processo. Segundo Biggs e Moore (1993) ao começarem seus estudos, os alunos trazem consigo, um conjunto de crenças sobre a natureza da aprendizagem e o que eles pretendem alcançar com este novo conhecimento. Estes conhecimentos prévios, são ignorados por grande parte dos professores. Na visão de Bachelard (1999), a preocupação dos educadores deveria ser alterar essa cultura cotidiana prévia, pois não é possível incorporar novos conhecimentos às concepções primordiais já enraizadas. O método tradicionalista, utilizado na tentativa de impor teorias e conceitos sobre os fenômenos naturais, marca de maneira negativa este primeiro contato do aluno com a disciplina. Sem uma visão significativa dos conceitos abordados nas aulas, os alunos não conseguem desenvolver respostas científicas para os fenômenos observados no cotidiano e após as provas, acabam esquecendo o que foi visto durante o ano letivo. De acordo com Godoy e Mesquita (2013) no Ensino Médio, é muito comum que os alunos questionem o professor sobre qual a importância de se estudar 398

5 química, pois muitas vezes para os estudantes, os conhecimentos adquiridos nesta disciplina parecem não ter nenhum significado para sua vida. A preocupação com melhores desempenhos em provas, faz com que os alunos necessitem memorizar inúmeros conteúdos, no entanto, Baddeley (1999) relata que em situações de demasio de conteúdo os alunos são incapazes de atribuir um significado ao que foi estudado e apresentam dificuldade em selecionar as informações mais importantes e armazená-las em sua memória de longa duração. Dessa forma, é essencial que os organizem melhor o conteúdo que será trabalhado em sala e fazendo uma abordagem mais interessante dos assuntos (SCHNETZLER, 2010). Entretanto, há ainda, a problemática da organização curricular nacional, estabelecida por lei e o cumprimento do programa da instituição, o qual é imposto aos professores dificultando muita das vezes a utilização de novas tendências educacionais durante o ano letivo. Silva (2003) afirma que a seleção e sequenciamento dos conteúdos é feita de forma acrítica, tornando o ensino descontextualizado e distante às necessidades e anseios da comunidade escolar. Essa visão abstrata dos conteúdos repele os alunos, causando grande desmotivação além de criar barreiras que dificultam a aprendizagem. Segundo os resultados observados, o principal obstáculo dos alunos neste processo está relacionado à compreensão das questões propostas em sala, principalmente as que envolvem cálculos matemáticos. Cerca de 31% deles, afirmou que sua maior dificuldade se encontra na necessidade de utilizar cálculos ou equações matemáticas para resolver as questões. Outra parcela importante, afirmou ainda, ter dificuldade de compreender os comandos das questões e não conseguir atribuir um significado daquele conhecimento à sua vida. Deste total, observamos que 80% dos alunos compartilham as mesmas dificuldades, o que nos possibilita acreditar que, o maior obstáculo não está nos conteúdos de Química em si, mas no método utilizado durante o processo de ensino. A partir do pressuposto de Moreira (1999), que afirma que uma abordagem significativa é necessária para a real compreensão dos assuntos, os alunos foram questionados quanto a possíveis mudanças no método de ensino, e relataram que uma nova visão acerca das ações metodológicas trabalhadas em sala de aula seriam essências para um melhorar o aproveitamento das aulas. Por meio de sugestões, 47% deles afirmou que a experimentação é a melhor metodologia a ser empregada, outros 43% sugeriram a realização de visitas técnicas em locais onde a Química pode ser notada e relacionada com suas experiências nas salas de aulas e com fenômenos observados no cotidiano. Segundo Guimarães (2009) a experimentação pode ser uma estratégia eficiente para a criação de problemas reais que permitam a contextualização e o estímulo de questionamentos de investigação. Esta afirmação está de acordo com Torriceli (2007) que diz que um conteúdo precisa de uma pratica para melhor compreensão. Dessa forma, com o conhecimento dos principais obstáculos na aprendizagem, é possível a utilização de metodologias alternativas que incorporem diferentes tendências educacionais e possibilitem um melhor aproveitamento das aulas, bem como o despertar do interesse do aluno estudar a Química, dando a ele, subsídios para um posicionamento crítico que o auxilie na tomada de decisões frente aos diversos problemas observados em seu cotidiano. 4 CONCLUSÃO A pesquisa revelou que a maioria dos alunos mostram interesse e curiosidade pelos fenômenos estudados em Química, entretanto, possuem dificuldade em aprender devido a abordagem tradicionalista oferecida pelos professores e a falta de bases para resolver cálculos matemáticos, que os leva a uma desmotivação, criando assim, obstáculos didáticos e epistemológicos para a compreensão das questões, e reflete diretamente no processo de aprendizagem. Conclui-se, assim, que a adoção de novas tendências educacionais, com novas abordagens metodológicas, pode ser utilizada para facilitar a compreensão dos conteúdos e o aperfeiçoamento desse processo, contribuindo diretamente para a formação dos alunos. 399

6 5 REFERÊNCIAS BADDELEY, Alan David. Essentials of human memory. East Sussex: Psychology Press, p. BACHELARD, Gaston. A formação do novo espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, p. BERNARDELLI, Marlize Spagolla. Encantar para ensinar um procedimento alternativo para o ensino de química. In: Congresso brasileiro, encontro paranaense e convenção brasil-latino-américa de psicoterapias corporais, 9, 2004, Foz do Iguaçu. Anais do IX Congresso Brasileiro de Psicoterapias Corporais. Centro Reichiano, p BIGGS, John Burville; MOORE, Phillip John. The Process of Learning. Sydney: Prentic Hall, p. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília, DF: MEC/ SEF, p. GODOY, Carla; MESQUITA, Nyuara Araújo da Silva. Análise dos obstáculos epistemológicos no ensino de Química a partir das respostas dos vestibulandos: em foco as propriedades periódicas. Revista Didática Sistêmica, v. 14, n. 2, p , GUIMARÃES, Cleidson Carneiro. Experimentação no ensino de química: caminhos e descaminhos rumo à aprendizagem significativa. Química Nova na Escola, v. 31, n. 3, p , MOREIRA, Marco Antonio. Aprendizagem significativa. Brasília: Editora da UnB, p. SANTOS, Elber Ricardo Alves dos et al. Ensino Aprendizagem de Química: Relato das Principais Dificuldades. In: Encontro de formação de professores de sergipe - edição internacional / fórum permanente de inovação educacional, 6, 2011, Aracajú. Anais do IV Encontro de Formação de Professores de Sergipe, Unit, SCHNETZLER, Roseli Pacheco Apontamentos sobre a história do ensino de química no Brasil. In: SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos; MALDANER, Otavio Aluísio (Organizadores). Ensino de química em foco. 4. ed. Ijuí: Editora da Unijuí, cap. 3, p SILVA, Rejane Maria Ghisolfi. Contextualizando aprendizagens em química na formação escolar. Química Nova na Escola, v. 18, p , TORRICELLI, Enéas. Dificuldades de aprendizagem no Ensino de Química (Tese de livre docência), Instituto de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG,