Design para necessidades essenciais: projeto de captação e filtragem de água de chuva
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- Raul Branco Jardim
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1 Design para necessidades essenciais: projeto de captação e filtragem de água de chuva Design for essential needs: project of capturing and filtration of rain water Chiminazzo, Sirlei; Bacharela em Design de Produto; UCS Universidade de Caxias do Sul Sirlei@planodesign.com.br Resumo Os problemas ambientais e sociais do mundo atual são a principal motivação para este projeto, o qual está fundamentado na sustentabilidade ambiental e social, necessidades essenciais e design permacultural. Tem como bases referenciais as bioconstruções e a arquitetura vernácula, para torná-lo viável e acessível. Outro importante propósito deste trabalho é rever as prioridades do design, incentivando a adoção de atitudes críticas, éticas e responsáveis. O principal objetivo é suprir a necessidade vital de abastecimento de água para os trabalhadores do MST, com a concepção de cisternas para captação e filtragem de água da chuva, em razão de sua condição de vida apontar a urgência na solução deste problema. Palavras Chave: design; necessidades essenciais e projeto de cisternas. Abstract The environmental and social problems of the today s world are the main motivation for this project, which is founded in environmental and social sustainability, permaculture design and essential needs. Its references are bioconstructions and vernacular architecture, to make it feasible and affordable. Another important purpose of this work is to review the priorities of design, encouraging the adoption of critical, ethical and responsible attitudes. The main objective is to supply the vital need for water provision for the workers of the MST, with the design of cisterns to capture and filter rainwater, because of their living conditions points to the urgency in solving this problem. Keywords: design; essential needs and cisterns project.
2 Introdução O objetivo deste trabalho é desenvolver um projeto de cisternas para captação e filtragem da água da chuva, para atender a uma das necessidades essenciais dos trabalhadores do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Para se buscar contribuições conceituais, foram feitas abordagens sobre sustentabilidade ambiental e social, devido aos problemas ambientais e sociais estarem se tornando cada vez mais graves. Sobre isso, serão apresentados apontamentos de Manzini (2008), o qual adverte que é preciso cuidar para que as atividades humanas não contrariem os princípios da justiça e da responsabilidade em relação ao futuro. Serão tratados temas como necessidades essenciais e o papel do design (PAPANEK, 1977) para que se revejam prioridades da profissão, estimulando a escolha de atitudes críticas, éticas e responsáveis, que não promovam o consumo irresponsável. A permacultura será apontada como um dos caminhos para a criação de ambientes humanos sustentáveis, ecologicamente corretos e economicamente viáveis (MOLLISON, 1997), que supram suas próprias necessidades, não explorem ou poluam e que sejam sustentáveis em longo prazo. A associação do design com esses conceitos e princípios mostrase como uma inovadora fonte de inspiração para o presente projeto. Por fim, objetivando atender necessidades dos trabalhadores do MST, serão apresentadas as análises das visitas ao assentamento em Sananduva (RS) a ao acampamento em Passo Fundo (RS), onde se procurou conhecer sua filosofia e modo de vida, para então propor soluções para seus problemas mais urgentes. Foi selecionada como necessidade prioritária, a de captação e potabilização da água de chuva, para a qual a proposição de um projeto de cisterna pretende viabilizar uma resposta. Sustentabilidade ambiental e social A introdução do termo desenvolvimento sustentável confirmou que a promessa de um bem-estar (baseado na continuidade do modelo de desenvolvimento dos países ricos e na emulação desse modelo para os países pobres) não poderia mais ser sustentada, pois excedia a capacidade de recuperação dos ecossistemas e estava exaurindo o capital natural (Manzini, 2008). Para ele, o uso insensato de recursos renováveis (pesca e energia solar); o uso de bens não renováveis (redução de reservas e acúmulo de lixo) e a emissão de nocivas substâncias no meio ambiente, estranhas à natureza têm mostrado que o caminho que estávamos seguindo não conduziria ao desenvolvimento que almejávamos. As pesquisas rumo à sustentabilidade têm como base dois princípios (MANZINI, 2008): a resiliência (capacidade de um ecossistema de tolerar uma atividade que o perturba sem perder seu equilíbrio) e o capital natural (recursos não renováveis), que em conjunto com a capacidade sistêmica do ambiente de reproduzir recursos renováveis, devem ser avaliados como um todo, referindo-se também à riqueza genética. Esses fundamentos devem ser complementados por outros, de cunho social e ético: sustentabilidade social, em escala mundial ou regional, em que as atividades humanas não contrariem os princípios da justiça e da responsabilidade em relação ao futuro, considerando a atual distribuição e a futura disponibilidade de espaço ambiental. Além disso, o princípio de justiça proclama que cada pessoa tem direito ao mesmo espaço ambiental e o princípio de responsabilidade em relação ao futuro determina que se deve garantir às gerações futuras ao menos a mesma quantidade e qualidade de recursos ambientais que temos hoje a nosso dispor, profere o autor. Vale salientar que é preciso garantir isso não apenas às pessoas, mas também, a todas as espécies não humanas. Para Papanek (1977), a função primordial do designer baseia-se em solucionar problemas e este tem de saber melhor que outros quais são os problemas existentes. Assim, os
3 profissionais devem refletir se o projeto em que atuam está a favor ou contra o bem social. Há mais necessidades básicas além de alimentos, abrigo e vestuário. Dentre os muitos exemplos de projetos para o mundo real, ele propõe possibilidades para os países menos desenvolvidos e salienta que a maioria de suas necessidades deve ser resolvida in loco. Centrais elétricas, instalações para armazenar de alimentos, equipamentos para a depuração da água etc. são algumas das sugestões de projetos apontadas pelo designer (1977). Consumo e necessidade Enquanto para muitos, o anseio de consumo é adquirir bens e serviços que supram suas necessidades, para outros, o sonho de consumo é consumir o mínimo possível. O consumo pode tornar-se alvo de generalizações imprudentes, preconceitos e suposições precipitadas. Para não cair nessa cilada, Rocha (in Douglas e Isherwood, 2004), revela três aspectos do consumo: o hedonista, o moralista e o naturalista. O hedonista considera o consumo essencial à felicidade e ao sucesso profissional ou pessoal das pessoas. Na visão moralista, o consumo é responsabilizado por diversos problemas da sociedade, sendo considerado fútil e superficial. Já o consumo naturalista pode atender a necessidades físicas ou responder a desejos psicológicos, o que o torna natural e universal. No entanto, o consumismo pode ter origens emocionais, sociais, financeiras e psicológicas, as quais, juntas, levam as pessoas a gastarem o que podem e o que não podem com a necessidade de suprir a indiferença social, a falta de recursos financeiros, a baixa autoestima e a perturbação emocional (LOPES, s.d.). Sintomas psicológicos estão ligados ao consumo e nem sempre se relacionam apenas com a aquisição de bens, mas também à frustração ou à solidão. Além disso, o hábito de consumir em excesso pode comprometer o equilíbrio emocional e o orçamento familiar. Para avaliar o que seriam necessidades, nos referimos a Papanek (1977). Ele aponta que a função essencial do designer consiste em resolver problemas e este deve atuar a favor do bem social, alegando ainda que ele atende mais facilmente a necessidades e desejos passageiros, descuidando-se das necessidades verdadeiras dos homens. Em uma era de produção em massa, afirma Papanek, quando tudo tem que ser planejado e desenhado, o design se tornou o instrumento mais poderoso de que se serve o homem para configurar suas ferramentas, seu meio ambiente, a sociedade e a si mesmo. Para Manzini é imprescindível que se reconheça que os limites do planeta tornaram-se evidentes e isso representa um profundo e poderoso fator de transformação (2008, p. 20). E nessa percepção, para além da questão dos problemas ambientais, é preciso que a humanidade repense o modo como se relaciona com o mundo em que vive. E um dos principais comportamentos a expressar essa relação é o consumo. Considerando a atual situação de nosso planeta e a natureza calamitosa das transformações em andamento, segundo ele, pode-se perguntar: qual foi o papel efetivo dos designers até agora? Lamentavelmente a resposta é que, em termos gerais, eles ainda são parte do problema. Entretanto, este pode não ser um destino inevitável. Designers podem e devem tornar-se parte da solução. E isso é possível porque no código genético do design está inscrito que sua razão de ser é melhorar a qualidade do mundo. E é a partir deste ponto que devemos reiniciar, revendo qual é a qualidade do mundo que o design, seguindo sua profunda missão ética, deveria promover (MANZINI, 2008, p. 16). Nesse sentido, designers podem ter uma função muito especial, por lidarem com interações cotidianas dos seres humanos e seus artefatos. E são essas interações, junto com a esperança de bem-estar associadas a elas, que devem mudar rumo à sustentabilidade. Todos nós estamos envolvidos com questões de ecologia, e uma das formas de enfrentar os problemas levantados por um meio ambiente a deteriorar-se, na visão de Papanek
4 (1995) é fazer algo em nível individual ou familiar: usar menos água nas caixas de descarga, separar e reciclar o lixo, instalar a energia solar nas casas e praticar a preservação sempre que possível. Há uma dimensão ecológica e ambiental em todas as ações humanas e cada profissional pode fazer a sua parte, refletindo sobre como o seu trabalho afeta o meio ambiente. Esses tempos ameaçadores para a Terra requerem não só paixão, imaginação, inteligência e trabalho árduo, mas essencialmente, um sentido de otimismo disposto a agir sem plena compreensão, mas com fé no efeito de pequenos atos individuais sobre o cenário global (PAPANEK, 1995, p. 27). Problemas podem existir em nível mundial, mas só cedem com ações descentralizadas, locais e à escala humana. Design permacultural Os australianos Bill Mollison e David Holmgren introduziram a permacultura nos anos 1970, e buscaram princípios éticos universais surgidos no seio de sociedades indígenas e de tradições espirituais, orientados na lógica básica do universo de cooperação e solidariedade. A permacultura é um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis (MOLLISON, 1991, p. 13). Designa também o conceito de cultura permanente, pois, para sobreviver, as culturas precisam de base na agricultura e ética quanto ao uso da terra. A criação de sistemas ecologicamente corretos e economicamente viáveis, que supram suas próprias necessidades, não explorem ou poluam e que sejam sustentáveis em longo prazo é o foco da permacultura. Usando as características das plantas e animais, combinadas com os atributos naturais dos terrenos e construções, ela visa produzir um sistema de apoio à vida, ocupando a menor área possível. Podemos iniciar a transformação a partir de onde vivemos, adotando atitudes como: redução do consumo de energia; uso do transporte público ou divisão do uso do carro; armazenamento da água dos telhados em cisternas; participação da produção ou compra de alimentos plantados de forma responsável e outros, sugere Mollison. Segundo Holmgren (2007, p. 8), a ética atua como freio aos instintos de sobrevivência e a outras ações pessoais e sociais em benefício próprio, que tendem a direcionar o comportamento humano em qualquer sociedade. Para Mollison (1991), as formas pelas quais podemos promover a ética são: O cuidado com a Terra significa o cuidado com todas as coisas, vivas ou não (solos, florestas, micro-habitats, animais e água). Pressupõe atividades inofensivas e reabilitantes, conservação ativa, uso de recursos de forma ética e frugal e estilo de vida correto. O cuidado com as pessoas, de modo a suprir necessidades básicas, como alimentação, abrigo, educação, trabalho satisfatório e contato humano saudável. A partilha justa significa que, tendo suprido as necessidades básicas e projetado sistemas da melhor maneira possível, pode-se auxiliar outros no alcance desses objetivos. Os princípios de design permacultural são inerentes a qualquer projeto, em qualquer clima e escala, aponta Mollison (1991), e resultam de disciplinas como: ecologia, conservação de energia, paisagismo e ciência ambiental. São, em resumo: Localização relativa: cada elemento (casa, tanque, horta e outros) é situado em relação a outro, para que se auxiliem mutuamente. Cada elemento efetua muitas funções. Por exemplo, um tanque pode ser utilizado para irrigação, prover água aos animais, para o cultivo de plantas aquáticas, etc. Cada função importante é apoiada por muitos elementos. A água, alimentação e energia deveriam ser supridos de duas ou mais formas. Planejamento eficiente do uso de energia para a casa e assentamentos. Predomínio do uso de recursos biológicos sobre o uso de combustíveis fósseis. Reciclagem local de energias (humanas e combustíveis). Utilização e aceleração da sucessão natural de plantas (sítios e solos favoráveis).
5 Policultura e diversidade de espécies benéficas (sistema produtivo e interativo). Utilização de bordas e padrões naturais para um melhor efeito. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST Diante do objetivo que orienta este projeto, de atender necessidades dos trabalhadores rurais sem terra, que vivem em acampamentos e assentamentos do MST, cabe apresentar uma síntese histórica do movimento, em seus 26 anos de existência. Conforme a publicação MST Lutas e Conquistas (SECRETARIA NACIONAL DO MST, 2010), o Brasil é um dos países com maior concentração de terras e os maiores latifúndios do mundo e, desde meados do século XX, nas diferentes regiões do país, contínuos conflitos e eventos formaram o campesinato. No final dos anos 1970 ressurgem as ocupações de terra e a década de 90 testemunhou importantes lutas camponesas pela reforma agrária no país. Desde 2002 o modelo agrárioexportador se acentuou e dividiu o território brasileiro em monoculturas e pecuária extensiva. Entretanto, mesmo sem um real processo de reforma agrária, em 26 anos o MST organizou mais de 1,5 milhões de acampados 1 e assentados em 23 estados e no Distrito Federal. Procedimentos metodológicos A pesquisa teve como objetivo conhecer o modo de vida dos acampados e assentados, identificar suas necessidades e coletar dados para este projeto. Para isso, foram realizadas três visitas a campo: no dia 16 de abril deste ano, aos assentados de Três Pinheiros, em Sananduva (RS); no dia 30 de abril, aos acampados de Passo Fundo (RS) e no dia 1º de novembro, nova visita aos acampados de Passo Fundo para apresentar o esboço do projeto. Neste dia também foi visitado o Instituto EDUCAR PARA VIVER, em Pontão (RS), que promove a formação de técnicos em agropecuária com habilitação em agroecologia. Visando buscar bibliografia e dados sobre o MST, no dia 7 de maio, foi efetuada visita ao IEJC (Instituto de Educação Josué de Castro) em Veranópolis (RS) cuja entidade mantenedora é o ITERRA (Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária), vinculado ao MST. Para adquirir conhecimento prático em permacultura, no dia 25 de setembro foi visitada a ecovila de permacultores de São Francisco de Paula (RS). No dia 9 de agosto vistamos a Estação de Tratamento de Água (ETA) CORSAN, com o propósito de conhecer seu sistema de purificação da água. E, no dia 15 de outubro foi apresentado o projeto à Vigilância Ambiental de Bento Gonçalves, com o intuito de buscar mais informações sobre desinfecção de água. Como meio de abordagem, foi realizada pesquisa qualitativa, a qual, segundo Baxter (2000), pode ser feita individualmente ou em pequenos grupos, na casa de alguém, para que se obtenha um clima relaxado, facilitando-se a discussão. Nesse método, o objetivo é obter a percepção aprofundada da necessidade de mercado de um pequeno número de consumidores (BAXTER 2000, p. 167). Participaram cinco assentados e dois acampados do MST, e sua faixa etária situa-se entre 21 e 45 anos. O método projetual foi baseado em Bonsiepe (1984). O modelo de entrevista aplicado foi o semi-estruturado, por permitir: a otimização do tempo disponível; a seleção de temáticas de aprofundamento; um tratamento mais sistemático dos dados; a introdução de novas questões conforme a conversação e uma maior flexibilidade 1 Os trabalhadores acampados vivem de modo itinerante, em barracas, cujas condições são rudimentares e improvisadas, até o momento do assentamento. Participam das ocupações de terra e dos protestos sociais. Os assentados são os indivíduos ex-acampados que já conquistaram a terra. Para isso, há critérios como o tempo de estada no acampamento; necessidade ou sorteio. Participam das manifestações em apoio aos acampados.
6 ao se explorar as questões. Nesse procedimento, foi feito registro fotográfico e por escrito, simultaneamente à entrevista (Apêndice 1). O grau de escolaridade dos participantes compreende o ensino fundamental e médio e são de classe baixa. Os entrevistados esclareceram dúvidas e responderam a todas as questões. Tem-se consciência de que o ideal como fonte de coleta de dados seria conhecer o maior número possível de acampamentos e assentamentos, para que se evitem generalizações. Todavia, em razão da carência de tempo disponível para tal, acredita-se que as amostragens colhidas sejam de importante valia para o conhecimento do estilo de vida e das necessidades dessas comunidades. De qualquer forma, não é negligenciável que a proposta de solução de um problema cotidiano possa fazer diferença para esses indivíduos em particular, e para quaisquer outros que se encontrem em situações semelhantes. Análise e coleta de dados O levantamento de dados obtidos pela pesquisa em visitas a campo, análise das entrevistas e documentação fotográfica, tornou possível identificar os principais problemas, que levaram às seguintes constatações: 1) O acampados necessitam de habitações desmontáveis, fáceis de transportar e resistentes à intempérie. O material dessas construções deve ter preço acessível, para se fazer reparos sempre que necessário. 2) As condições são extremamente precárias (Fig. 1); não há saneamento básico, nem água encanada (Fig. 2). A água supostamente potável não é tratada e nem analisada regularmente, o que pode provocar uma série de prejuízos à saúde. 3) Os acampados utilizam fogão a lenha (Fig. 3), a gás ou fogão de chão (Fig. 11), de modo precário, o que causa desconforto físico e limitações quanto a combustível. 4) As barracas não possuem isolamento térmico e a lona plástica é frágil (Fig. 4), sendo que, em dias quentes ou frios, isso pode causar doenças respiratórias. 5) A comunidade não dispõe de um local apropriado para tomar banho (Fig. 5), além de não contar com o aquecimento da água, o que também pode atrair gripes e resfriados. 6) O sanitário é precário (Fig. 6), o que pode gerar doenças por contaminação. 7) A lavagem das roupas é feita em tanque improvisado (Fig. 9), causando desconforto e problemas de coluna. 8) Em dias chuvosos a secagem das roupas torna-se um problema (Fig. 10). Fig. 1: vista do acampamento. Fig. 2: fonte de água para beber. Figura 3: fogão a lenha.
7 Fig.4: interior de barraca. Fig. 5: área para banho. Figura 6: o sanitário. Figura 7. Figura 8. Figura 9: lavagem das roupas. Figura 10. As fotos que seguem mostram casas pré-existentes de assentamentos e uma casa padrão do INCRA em Passo Fundo (RS) e em Sananduva (RS). Fig. 11: casa de Passo Fundo. Figura12: casa de Sananduva. Figura 13: casa padrão INCRA. Fonte: fotos do autor. 9) Quase todos os assentados têm problemas com o abastecimento de água: ou porque a nascente foi contaminada por agrotóxicos, ou porque têm dificuldades em encontrar água. Isso poderia ser resolvido com a instalação de cisternas para captação de água da chuva. Apresentação dos resultados Tendo como base a análise e coleta de dados, com especial atenção no que concerne a necessidades essenciais, podemos apresentar algumas possibilidades de projeto: a) Cisterna para a captação da água da chuva e filtro de água para torná-la potável; b) Moradias desmontáveis com materiais alternativos e recicláveis; c) Cápsula móvel para banho, com o uso de aquecimento solar ou por meio do aproveitamento do calor gerado pelo fogão a lenha em dias frios e nublados; d) Projeto de forno/fogão solar híbrido;
8 e) Sistemas de canteiros móveis para produzir alimentos (design permacultural); f) Sanitário móvel ecológico baseado nos conceitos da permacultura; Briefing O desenvolvimento de um produto deve partir de uma intenção e esta deve ser delimitada por uma série de quesitos, que orientem o foco do projeto. O sucesso de um novo produto depende da elaboração de um bom, claro e objetivo briefing. O produto que se pretende desenvolver tem como foco atender à necessidade de abastecimento de água para os acampados e assentados do MST. Considerando que a água é uma das necessidades vitais, tem-se como finalidade elaborar o projeto de cisternas para a captação de água da chuva e armazenamento; e sistema de filtragem da água, para torná-la potável. Deve ser ecologicamente correto e economicamente viável. O objetivo deste projeto é resolver o problema de abastecimento de água de boa qualidade nessas comunidades. Como requisitos, o produto deve ser de fácil construção e montagem; utilizar materiais resistentes à intempérie; baixa variedade de materiais, além levar em conta o descarte final; materiais ecológicos, naturais e de preferência, do próprio lugar. A mão-de-obra também deverá ser do próprio local. Os usuários são pessoas que vivem em acampamentos e assentamentos, de ambos os sexos, de todas as idades, de classe social baixa. O processo de fabricação será definido conforme os materiais selecionados. O projeto será apresentado ao INCRA, à FUNASA - Fundação Nacional da Saúde (órgão do Ministério da Saúde) e aos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, com o objetivo de se obter recursos financeiros para viabilizá-lo e distribuí-lo para os usuários. Análise sincrônica Foram feitas análises de filtros de água e cisternas existentes no mercado, para conhecer as diferentes propostas e modelos, para posterior analogia. Figura 14: modelos de filtros de diferentes tecnologias existentes no Mercado. Fontes: 14.1) ) ) ) )
9 Figura 15: cisternas de várias formas, capacidades e materiais. Fontes: 15.1) ) ) ) ) ) Figura 16: filtros de água de chuva. Fontes: 16.1) , 16.3, 16.4 e 16.5) ) Análise de materiais Para a química Maria Anita Scorsafava (Instituto Adolfo Lutz - São Paulo) as funções mais básicas que um filtro de água eficiente deve ter são a retenção de impurezas e redução da quantidade de cloro na água e estão presentes na maioria dos filtros do mercado. Filtragem com Minerais: tem como maior objetivo reter impurezas. Simples e eficiente, faz bem sua função. Minerais dispostos dentro do filtro criam uma peneira que impede a passagem de impurezas. Filtragem com Carvão Ativado: o principal objetivo é diminuir drasticamente a quantidade de cloro na água e evitar contaminação através de bactérias. O carvão ativado absorve o cloro, deixando a água pura e sem gosto. Filtragem com Membrana Oca: retém bactérias e protozoários que possam ter contaminado água, através de uma fibra microporosa do tamanho de milhares de vezes menores que um fio de cabelo. Filtragem com Raios Ultravioleta: alta tecnologia que visa matar bactérias e vírus presentes na água, que, para isso, é exposta a uma lâmpada ultravioleta. Índice pluviométrico De acordo com Carpenedo (2007), a análise da precipitação pluvial ocorrida no Rio Grande do Sul no período de 1976 a 2005, mostra que na metade Norte ocorrem os maiores volumes anuais de chuvas quando comparados com a metade Sul. Ao Norte o volume de
10 chuvas pode ultrapassar 1900 mm anuais, enquanto que na metade Sul, algumas regiões apresentam volumes inferiores a 1400 mm. Figura 17: Regime anual de chuvas no Rio Grande do Sul de 1976 a Fonte: Regime%20de%20chuvas%20no%20RS.pdf Referenciais Arquitetura vernácula Segundo Papanek, desde meados do século XX que antropólogos, arquitetos e historiadores vêm mostrando cada vez mais interesse pela arquitetura vernácula. Muitas construções, antes nunca estudadas a sério, têm sido documentadas através de fotografias e descrições escritas da chamada arquitetura sem arquitetos. O que resumidamente pode definir arquitetura vernácula, afirma o autor, é o respeito pela tradição, pela perfeição e o uso de materiais e métodos locais, sendo que, tudo isto pode ser afetado pelo clima, ambiente, aspectos culturais e sociais, esforços estéticos e contextos familiares e urbanísticos. Figura 18. Alguns exemplos de arquitetura vernácula em diferentes locais do mundo. Fonte: Bioconstrução Bioconstrução é definida por Prompt (2008) como a construção de ambientes sustentáveis através do uso de materiais de baixo impacto ambiental, pela adequação da arquitetura ao clima local e pelo tratamento de resíduos. Um ambiente sustentável satisfaz as necessidades de moradia, alimentação e energia e garante também às gerações futuras os mesmos direitos de suprimento de suas necessidades. São os sistemas construtivos que respeitam o meio ambiente durante a fase de projeto e de construção (na escolha dos materiais e técnicas adequadas) e ao longo do uso do edifício (eficiência energética e tratamento adequado dos resíduos). Podem ser feitas com pedras, terra, palha e madeira, todos provenientes do próprio local.
11 Construções em cob Cob, segundo Prompt, é uma técnica de construção com terra muito antiga e amplamente utilizada em diferentes lugares do mundo, que permite usar muita criatividade e liberdade, pois consiste em ir moldando a casa como se fosse uma grande escultura. Materiais: argila, areia e palha. Ferramentas: pá, enxada, pés e mãos. Essa construção é muito simples, afirma a autora. Primeiro mistura-se argila, areia, palha e água, até que se obtenha uma mistura homogênea e plástica, que é feita com os pés. O próximo passo é ir formando bolas com a argila e então é só começar a moldar a casa e, ao mesmo tempo, estantes, bancos, nichos e outros. Figura 19: Casas de cob, adobe e superadobe (as duas últimas). 19.1) ) ) ) Construções em adobe O tijolo de adobe é um material de construção muito antigo, afirma Prompt. Consiste em um tijolo de barro e palha mesclados, moldado e seco naturalmente. Essa técnica não utiliza nada de cimento e não gasta combustível na secagem dos tijolos, por não serem queimados. Pelo uso da palha na sua composição, garante excelente conforto térmico. Essas construções, quando bem feitas, podem durar muitas décadas e estão sendo cada vez mais resgatadas e valorizadas. Materiais: areia, argila e palha. Madeira e pregos para a forma. Ferramentas: pá, enxada, estopa, martelo e serrote. Para a construção é feito um buraco próximo ao local da obra onde haja solo apropriado. Coloca-se água e terra, amassando-se com os pés até que se obtenha uma mistura homogênea e plástica, que permita que a massa seja moldável. Depois de amassado, o barro é colocado nas formas de madeira. Além de terra e água, pode-se utilizar capim cortado, que funciona de estabilizador, como uma armação. Construções em superadobe Superadobe é uma técnica que utiliza sacos com terra comprimida para fazer paredes e coberturas e foi criada pelo arquiteto iraniano Nader Khalili nos anos Materiais: saco de ráfia em rolo ou sacos reaproveitados, arame farpado e terra local. Ferramentas: tubo de 25 cm de diâmetro ou balde sem fundo, pilões, pilões para as laterais, martelo de borracha, enxada e pá. Antes de tudo, para construir com superadobe, ensina Prompt, é preciso fazer uma boa fundação, que pode ser de pedra, de concreto, de terra compactada e/ou fiadas com areia e cimento na proporção 9/1. É importante também deixar a parede de terra uns 30 cm acima do
12 nível do solo, para não absorver umidade, mantendo-a seca e segura. Após, começa-se a construir as paredes de superadobe, enchendo-se o saco com terra, apiloando-se as camadas. Conceito O conceito do produto terá como base o design permacultural e design social. O design permacultural contemplará os seguintes atributos: Design vernáculo, abrangendo bioconstrução e uso de materiais e mão-de-obra locais. Simplicidade: para proporcionar autonomia (de construção relativamente fácil) e dignidade (condição de vida decente aos habitantes do local). Localização relativa: para que se utilize a gravidade e não outros recursos que demandem gastos com energia. Cuidado com a terra e com todas as coisas, vivas ou não. Cuidado com as pessoas, suprindo suas necessidades essenciais. Uso eficiente da energia: construções e filtros de barro promovem a troca de calor entre o ambiente interno e externo, proporcionado conforto térmico (18º C). O conceito de design social providenciará a satisfação da necessidade essencial de suprimento de água para comunidades de baixa renda. Geração de alternativas Figura 20: módulo 20.1 com mini cisterna de 50 litros, funil captador de água e carrinho para transporte; módulo 20.2 com casulo de tijolos de adobe, cisterna de litros, funil e filtro para macro partículas; módulo 20.3 com cisterna de litros, sistema de filtragem, desinfecção e potabilização da água. Figura 21: módulo 21.1 em superadobe com cisterna de litros, telhado em aluzinc e sistema de filtragem, desinfecção e potabilização da água. Módulo 21.2 em superadobe, com cinco cisternas de litros, filtro de água da chuva e telhado vivo.
13 Figura 22: módulo em superadobe com 2 cisternas de litros (polipropileno), telhado de fibras vegetais Onduline, calhas de aluzinc, tesouras de madeira local, filtro e encanamentos de PVC. Projeto A alternativa selecionada foi o módulo da figura 22, porque o superadobe, conforme Soares (2007), tem se mostrado como o modo mais simples de se construir com terra. Não é necessário fazer testes com o material, nem peneirar a terra, moldá-la ou acrescentar-lhe palha. As paredes são erguidas muito rapidamente, com uma equipe de pelo menos cinco pessoas. Argumentos importantes dessa alternativa: o barro promove a troca de calor entre os ambientes interno e externo e a mantém em torno de 18º C; foi aplicado o conceito permacultural de localização relativa (uso da gravidade e não de uma bomba), pois a cisterna está localizada acima da superfície; o telhado arredondado apresenta forma coerente com a construção orgânica; as tesouras são confeccionadas com madeira e a mão-de-obra é local (arquitetura vernácula); as cisternas são de polipropileno, um material leve, de superfície lisa, fácil de limpar. Como complemento da potabilização da água, sugere-se o filtro de barro com vela de cerâmica tripla ação 2, por ser simples, eficiente, barato e cumprir bem sua função. Componentes: Fundações e primeiras três fiadas de areia e cimento na proporção 9/1. Telhado de fibras vegetais Onduline, na cor vermelha. Estrutura do telhado com sobras de madeira e cintas de MDF (espessura 3 mm). Calhas de PVC. Tesouras de madeira local (eucalipto), sendo o pilar central de cerca de 15 cm de diâmetro e os demais de 7,5 cm de diâmetro aproximadamente. Cisternas de polipropileno (espessura de 5 mm), com quatro cintas de reforço do mesmo material. O processo de produção contará com corte e solda PP. 2 De acordo com o fabricante (Cerâmica Stéfani), a parede microporosa retém partículas de 0,5 a 1 mícron, o carvão ativado retira gostos e odores e a prata coloidal elimina bactérias.
14 Tubulação, joelhos, luvas, registros e filtros com tubos de PVC de 7,5 cm de diâmetro. Filtros bolsas de malha de polipropileno, para reter partículas de 1 a micras. Torneiras em PVC. Visor de nível em tubo de PVC cristal; luvas e joelhos em PVC de 2,5 cm de diâmetro. Outra recomendação importante é que se façam análises químicas e microbiológicas periódicas da água (6 em 6 meses) com laboratórios especializados. Figura 23: Planta baixa, Corte A-A e Corte B-B do sistema de captação de água da chuva Casulo D Água.
15 Figura 24: Vista Superior, Vista Frontal e Vista Lateral do Casulo D Água. Figura 25: modelagem virtual do Casulo D Água.
16 No Apêndice 2 apresentamos: A imagem da vista explodida do módulo. O detalhamento das cisternas com as tubulações. O Storyboard do sistema de captação de água da chuva. O Fluxograma do sistema. O Esquema de distribuição da água para os acampamentos do MST. Responsáveis pelo sistema de captação de água de chuva: cuidados e manutenção. O cálculo do potencial de captação de água de chuva do sistema Casulo D Água. Considerações finais Como se constatou no desenvolvimento e análise do presente trabalho, é incontestável a relevância do design como instrumento para atuar a favor do bem social, em especial quando atende a necessidades essenciais e importantes para promover o bem-estar de indivíduos e comunidades. Testemunhar in loco os problemas e necessidades dos acampados e assentados do MST, além de promover uma maior conscientização em relação às suas condições de vida, desmistificou o conceito que se tinha a respeito, formado por filtros midiáticos e, portanto, passíveis de gerar preconceitos sem conhecimento de causa. Nessas duas visitas, observou-se nas duas comunidades um forte espírito comunitário, onde todos lutam pelos interesses do bem comum; e nos indivíduos, um brio incomum que lhes serve de alento, diante de um modo de vida extremamente frugal. Isso contradiz o que se percebe como tendência nas sociedades contemporâneas, onde, paralelamente, podem-se testemunhar desequilíbrios não apenas ecológicos, como também, segundo Guattari (2002), os modos de vida, individual e coletivo, caminham para a deterioração das relações familiares, domésticas e de vizinhança, tornando-as cada vez menos expressivas. Um tema importante como a questão dos limites do planeta adverte para a urgência em desenvolver produtos ecologicamente corretos e socialmente justos, respeitando-se sempre aspectos de ordem cultural e local. Dedicar a profissão do design a usos mais valiosos e prioritários é uma questão a ser levada em conta. Trata-se de um enorme desafio desenvolver projetos com requisitos tão limitantes no que concerne a recursos financeiros, porém, ao mesmo tempo, de tamanha relevância no âmbito social. As necessidades dos acampados são tantas, mas como pôde ser verificado, oferecem amplas fontes de projetos necessários, urgentes e, no mínimo, interessantes. O projeto do sistema de captação e filtragem de água de chuva foi apontado como prioritário, por ser essa uma necessidade básica e vital. É factível e, segundo entrevista com assentados, mediante apresentação de projeto, pode-se obter o apoio financeiro do INCRA e da Caixa Econômica Federal. E, para oferecê-lo a outras comunidades que também estão sofrendo com a falta de água potável, o projeto pode ser também apresentado à FUNASA 3 - Fundação Nacional da Saúde (órgão do Ministério da Saúde), aos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente e à Caixa Econômica Federal para torná-lo realidade. 3 Em visita ao órgão municipal de Vigilância Sanitária de Bento Gonçalves (RS), foi-nos informado que no interior de nosso município há muitas famílias que carecem de abastecimento de água potável e que, mediante apresentação de projeto, podem-se obter recursos financeiros a fundo perdido, através da FUNASA.
17 Referências BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, Consumo e Identidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, BAXTER, Mike. Projeto de Produto. Guia prático para o design de novos produtos. São Paulo: Editora Edgard Blünchen Ltda., BONSIEPE, Guy. Metodologia Experimental. Desenho Industrial. Brasília: CNPq/ Coordenação Editorial, CAMINI, Isabela. Escola itinerante. Na fronteira de uma nova escola. São Paulo: Expressão Popular, DAL BIANCO, Bianca. Design em parceria: reflexões sobre um modo de projetar sob a ótica do design e emoção f. Dissertação (Mestrado em Artes e Design) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Disponível em: < Acesso em: 12 maio DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O Mundo dos Bens. Para uma antropologia do consumo. Rio de Janeiro: Editora UERJ, GUATTARI, Félix. As Três Ecologias. Campinas: Papirus, HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, LOPES, Patrícia. Consumo compulsivo. [s.d.]. Disponível em: < Acesso em: 16 jun MANZINI, Ezio. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. Os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, MOLLISON, Bill. Introdução à Permacultura. Austrália: Tagari Publications, PAPANEK, Victor. Arquitetura e Design: ecologia e ética. Frogmore, St. Albans: Ediciones 70, PAPANEK, Victor. Diseñar para el mundo real: ecologia humana y cambio social. Madrid: H. Blume Ediciones, SOARES, André. Soluções Sustentáveis. Construção Natural. Pirenópolis, GO: Mais Calango Editora, WATSON, Paul. Earthforce: um guia de estratégia para o Guerreiro da Terra. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2010.
18 CABRAL, Gabriela. Consumismo. Disponível em: < Acesso em 11 maio CAVALCANTE, Ruth. Educação Biocêntrica um portal de acesso à inteligência afetiva Disponível em: < Acesso em: 19 mai COSTA, Cristina; ROCHA, Guida; ACÚRCIO, Mónica. A Entrevista. 2004/2005. Disponível em: < Acesso em: 16 jun DAL BIANCO, Bianca. Design em parceria: reflexões sobre um modo de projetar sob a ótica do design e emoção. Dissertação de mestrado. Disponível em: < Acesso em: 25 abr GIRÃO, Tarsila. Ecotelhado. Disponível em: < Acesso em: 05 set HOLMGREEN, David. Os Fundamentos da Permacultura. Disponível em: < Acesso em: 27 abr LOPES, Patrícia. Consumo compulsivo. Disponível em: < Acesso em: 11 mai O QUE é um briefing Disponível em: < em: 22 jun PERMACULTURA Disponível em: < > Acesso em: 21 jun PROMPT, Cecília. Curso de Bioconstrução. Brasília: MMA, Disponível em: < pdf >Acesso em: 05 nov SECRETARIA NACIONAL DO MST. MST: lutas e conquistas. 2. ed. São Paulo: Secretaria Nacional do MST, Disponível em: < Acesso em: 13 mar
19 Microfilter/EXT0005M.html?avad=31835_ed8d &flypage=shop.flypage&product_id=247&option=com_virtuemart&Itemid= pdf echar_agua_lluvia.aspx lizadores_portatiles.aspx
20 APÊNDICE 1 Como levantamento de campo, primeiramente efetuou-se visita a um grupo de assentados do MST, residentes no Assentamento Três Pinheiros, em Sanaduva, Rio Grande do Sul. Em entrevista concedida no dia 16 de abril de 2010, (cinco pessoas: uma mulher e quatro homens) responderam às seguintes questões: 1) De que maneira foi concedida a terra onde vocês estão assentados? R: O atual assentamento Três Pinheiros, correspondente à antiga Granja Três Pinheiros, que produzia sementes e compreendia uma área de mais ou menos dois mil hectares em vários lugares. Neste, em específico, de novecentos hectares. Como houve a falência da Granja em 1995, a Justiça fez empenho com o Banco do Brasil, o Banrisul e o Banco Santander. 2) Quantas famílias residem neste local? R: Aqui estão assentadas sessenta e quatro famílias. 3) Antes do assentamento, quanto tempo fica-se acampado? R: Antes de 2007, de seis meses a sete anos, geralmente na beira das estradas. 4) Como os acampados sobrevivem? R: Arranjávamos serviço temporário nas fazendas próximas (maçã). Do dinheiro recebido, havia uma pequena contribuição para o grupo dos acampados. A partir de 1999 o INCRA fornecia mini cestas-básicas mensais. 5) Como foram obtidas as casas? R: Tínhamos nove casas existentes, que estão sendo aproveitadas; trinta em fase terminal de construção e dezoito em fase inicial. O INCRA e a Caixa Econômica Federal oferecem empréstimo a fundo perdido. Quando o projeto é finalizado é feita uma vistoria e o assentado não pode vender a propriedade adquirida. As casas obedecem a um projeto padrão (42 m 2, 6m x 7m). São construídas pelo sistema de mutirão, onde se contratam pedreiros e os familiares fazem o serviço de serventes. 6) Qual é a área destinada a cada família? R: Cada família possui mais ou menos dez hectares demarcados, numerados e documentados. A maioria das famílias tem animais (vacas, galinhas e porcos). Todas têm horta. 7) Como é feito o abastecimento de água? R: Temos dois poços artesianos, pertencentes a Sananduva. A cada dois anos é feita a análise da água. Há uma vertente nesta região, porém, ao fazer análise, a água foi reprovada por contaminação por agrotóxicos, devido à lavagem das máquinas agrícolas pelos antigos fazendeiros. Estamos cercados por fazendeiros que fazem a aplicação de agrotóxicos por avião. 8) Quanto à Educação, como as crianças estudam? R: Tínhamos escolas itinerantes em parceria com universidades até a quinta série (em dezembro de 2009 foi suspensa por questões políticas temeridade quanto à formação de líderes fortes). Temos professores com formação pelo magistério. Em Portão há uma escola de ensino médio, com ênfase em agroecologia. No ITERRA de Veranópolis, os alunos têm um tempo de aula na escola e um tempo na comunidade. A Universidade UERS fornecia livros e material didático. No acampamento temos equipes que cuidam as saúde (2º Grau Técnico em Saúde Comunitária), alimentação, higiene e educação. Usamos a medicina alternativa. 9) Voltando à questão da água, todas as famílias são servidas pelos poços artesianos? R: Há outras famílias que estão sofrendo com a falta de água. Às vezes falta água. Algumas usam a água da vertente.
21 10) Como vocês vêem a possibilidade de um projeto de captação de água da chuva e o seu armazenamento em pequenas cisternas? R: Seria muito útil e necessário, principalmente para aquelas famílias que sofrem com a falta de água. Porém, precisaríamos de uma cisterna com três mil litros ou mais para resolver o problema. Além da entrevista, visitamos as casas padrão (fornecidas pelo INCRA) em fase final de construção de outros quatro assentados. Posteriormente, efetuou-se visita a um grupo de acampados do MST, residentes (temporariamente) em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. No dia 30 de abril de 2010, (duas pessoas: uma mulher e um homem) concederam a seguinte entrevista: 1) Qual é a fonte de sustento dessa comunidade? R: Vivemos de doações e venda do excedente da nossa pequena produção. Alguns acampados trabalham na cidade, outros, na área agrícola. Queremos trabalho, não emprego. Plantamos feijão, soja, milho, trigo e cana. Também estamos estudando a permacultura. 2) Há quanto tempo vocês estão neste local? R: Desde 14 de novembro do ano passado. Antes, estávamos em Coqueiros. Fomos despejados pelo Ministério Público: alegaram problemas ambientais. Deram-nos 8 horas para desocuparmos a área, e isso foi de madrugada, com mulheres e crianças pequenas. Foram muito duros. 3) Quantas famílias estão neste acampamento? R: 100 famílias. 4) E quando alguém da comunidade tem algum problema de saúde? Vocês contam com médicos ou enfermeiros? R: Contamos com um profissional, técnico em saúde comunitária. 5) Como é viver sem energia elétrica? R: Como podes ver, usamos velas e candeeiros. Fogão a lenha ou a gás. Ao invés de assistirmos televisão, nos reunimos com o grupo para debater assuntos da comunidade. Também usamos esse tempo para ler. 6) E quando vocês precisam de transporte, como é feito? R: O único veículo que temos é a moto. Contamos com a ajuda de amigos e simpatizantes do MST. Emprestam-nos caminhões e outros veículos, se necessário. 7) E quanto à educação das crianças, como é feita? R: Na ciranda infantil, as crianças desenvolvem mais a criatividade que numa escola comum. Constroem, por exemplo, o próprio brinquedo. Nos acampamentos, contamos com setores (núcleos de base: de 20 a 25 famílias), cada um se responsabiliza pela Educação, Segurança, Infra-estrutura, Saúde, Alimentação e Higiene. Cada Núcleo tem dois coordenadores. Nós lutamos por uma nova sociedade. A monocultura trabalha para a exportação. Expulsou os pequenos agricultores do campo e, além disso, usa sementes transgênicas. Durante a entrevista, percorreu-se toda a área do acampamento e informações espontâneas foram sendo concedidas. Fotografias foram feitas nas diversas áreas: local onde tomam banho, onde se lava roupa, sanitário, pequena fonte da água que usam para beber, da plantação e do conjunto de barracas.
22 Apêndice 2 A vista explodida do Casulo D Água mostra a montagem dos componentes do sistema. Figura 1: Modelagem virtual da vista explodida do sistema de captação de água da chuva Casulo D'Água.
23 Figura 2: Detalhamento técnico da cisterna e componentes como tubulações, filtro de água da chuva e filtro bag. Figura 3: Imagem das cisternas com tubulações. visor de nível e detalhe do filtro de água da chuva.
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