XII Seminario Latino-Iberoamericano de Gestión Tecnológica - ALTEC 2007
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- Thomaz Freire Amado
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1 XII Seminario Latino-Iberoamericano de Gestión Tecnológica - ALTEC 2007 Políticas Públicas para Fomentar a Criação de Empregos a Partir da Produção de Biodiesel no Estado do Amazonas Mello, Noval Benayon Secretaria de Estado de Ciencia e Tecnología do Amazonas - SECT/AM - Brasil nbenaionmello@ig.com.br Resumo O biodiesel é um combustível não fóssil alternativo do óleo diesel mineral, produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais através de vários processos, dentre os quais se destaca um processo de reação química, conhecido como transesterificação. É um combustível biodegradável, que contribui para a diminuição do efeito estufa, não é corrosivo nem poluente. Além de ser um combustível ambientalmente correto, o biodiesel tem grande importância social devido a sua capacidade potencial de geral ocupação e renda, podendo contribuir para a fixação do homem no interior, diminuindo a pobreza e a miséria no campo. A floresta amazônica, dispondo de mais de uma centena de oleaginosas com potencial para a produção de biodiesel, apresenta boas oportunidades de geração de energia a partir de fontes renováveis, o que contribuirá para a implementação do programa Luz Para Todos, do governo federal, em áreas isoladas, não atendidas pelo sistema nacional de geração de energia elétrica. O objetivo deste artigo é demonstrar como estão sendo feitas as articulações entre os diversos órgãos do governo, em níveis federal e estadual, os institutos de pesquisa, agências de financiamento e fomento, a iniciativa privada e as populações tradicionais do interior, tendo 1
2 em vista a implantação do programa de produção do biodiesel no Estado do Amazonas para a geração de energia elétrica, de emprego e renda. Para atingir este objetivo, foi feito um levantamento do estado da arte da capacitação tecnológica para a produção de biodiesel a partir de oleaginosas já disponíveis na região e da articulação que se torna necessária entre os diversos atores envolvidos. Com isto espera-se estabelecer um quadro que permita conhecer toda a cadeia produtiva deste combustível, seus gargalos e suas oportunidades de geração de negócios. Palavras-chave: biocombustível, políticas públicas, desenvolvimento sustentável, geração de energia, emprego e renda. Eixo Temático: I. La construcción de entornos favorables para la innovación - Políticas públicas de inovação como instrumento de crescimento e criação de empregos de qualidade e inclusão social. Introdução O biodiesel é um combustível não fóssil alternativo do óleo diesel mineral, produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais através de diversos processos entre os quais destaca-se o da transesterificação, um processo de reação química com metanol ou etanol, estimulada por um catalisador (sendo mais comumente utilizado o hidróxido de sódio), da qual se extraem também alguns subprodutos, como a glicerina (de aplicação na indústria química), a torta e o farelo (para a alimentação animal e para a fabricação de adubo orgânico) que podem agregar valor e se constituir em outras fontes de renda importantes para os produtores. O biodiesel pode ser produzido a partir de qualquer óleo vegetal novo ou usado, de gordura animal e até de ácidos graxos de resíduos e borra de empresas moageiras, sendo por isso considerado um combustível ecológico, de fontes renováveis. É um combustível não tóxico e biodegradável, que contribui para a diminuição do efeito estufa, não é corrosivo nem poluente. Uma de suas características mais importante é que provoca baixos índices de chuva ácida, responsável pela poluição de lagos e por doenças de vários tipos no homem e nos animais. A título de ilustração, somente a cidade de Manaus, por conta da geração de energia térmica que consome em média 3,25 milhões de litros de 2
3 óleo/dia, emite 8,67 milhões de quilos de CO 2. considerando que o óleo combustível possui em teor médio de 1,5% de enxofre, estima-se que são lançados diariamente 398,12 toneladas de ácido sulfúrico na atmosfera, como resultado do uso de combustível derivado do petróleo (NASCIMENTO:22). Além de ser um combustível ambientalmente correto, o biodiesel tem grande importância social devido a sua capacidade potencial de gerar ocupação e renda, podendo contribuir para a fixação do homem no interior, diminuindo a pobreza e a miséria no campo. De acordo com Nascimento (2007;25), dependendo da tecnologia utilizada para a produção, a cada 3 hectares plantados, um emprego é gerado. O texto aqui apresentado ressalta a importância da utilização do biodiesel como fonte alternativa de geração de energia e como substituto parcial ou total do óleo diesel em motores de ciclo diesel automotivo (de caminhões, tratores, camionetas etc) ou em motores estacionários (geradores de energia elétrica, calor etc). O ciclo produtivo enfoca a agricultura familiar como forma mais adequada de produção do biodiesel e de geração de emprego e renda para as populações no campo. Breve Histórico O aproveitamento de óleos vegetais e gorduras animais como combustível para motores do ciclo diesel através de diversas rotas tecnológicas já são investigados há bastante tempo. Durante a Exposição de Paris de 1900, um motor construído para consumir petróleo, pela companhia francesa Otto, funcionou perfeitamente com óleo de amendoim, ainda puro. Experiências realizadas em São Petersburgo com óleo de mamona e gorduras animais também apresentaram resultados satisfatórios como combustível de locomotivas (KNOTHE, 2006; 6, 7) Desde a década de 1920, estudos já apontavam a dificuldade da utilização dos óleos vegetais puros em motores de combustão interna devido à sua alta viscosidade (KNOTHE, 2006; p. 10). A alta viscosidade dos óleos vegetais puros causava problemas de ordem operacional, como o depósito de carvão e de resíduos gordurosos nas partes internas dos motores, causando seu mau funcionamento, enquanto que o óleo derivado do petróleo, por não possuir esta característica, apresentava um melhor desempenho mecânico, tornando os motores ainda mais eficientes (ROSA, L. P., 2003; p.131). Na tentativa de resolver o problema da viscosidade os pesquisadores terminaram por descobrir o processo de transesterificação. 3
4 Estes experimentos se espalharam pelo mundo e, nas décadas seguintes, paises como a França e a Bélgica identificavam o óleo de palma (ou óleo de dendê, como é chamado no Brasil), como a matéria-prima mais adequada para transformação em óleo combustível, entre outros tipos de óleo. Em países subdesenvolvidos como a Índia e o Brasil, faziam-se experiências com diversas oleaginosas como o dendê, amendoim, mamona, milho, coco, gergelim, e outras. Durante a Segunda Guerra Mundial, os óleos vegetais, além de outras aplicações, também foram usados como combustíveis alternativos. Assim é que o Brasil proibiu a exportação de óleo de algodão como forma de enfrentar a diminuição das importações dos derivados do petróleo, e a Argentina exigiu uma maior exploração comercial dos óleos vegetais. No pós-guerra, a Índia intensificou suas pesquisas em 10 novos tipos de óleo vegetal para o desenvolvimento de combustíveis domésticos (KNOTHE, 2006; 8, 9) Nas primeiras décadas que sucederam a Segunda Guerra Mundial, razões de ordem econômica, como a crescente oferta mundial de petróleo cru, que barateou os custos deste insumo e facilitou o desenvolvimento de motores mais eficientes, confrontadas com a pouca produção de oleaginosas e com as dificuldades operacionais decorrentes, interromperam praticamente o aprimoramento tecnológico dos óleos vegetais para o seu aproveitamento como fonte renovável de energia à época. Ocorre que, no decorrer da década de 1970, o mundo foi surpreendido pelo desequilíbrio no mercado dos combustíveis fosseis, o primeiro em 1973 e o segundo em 1979, aumentando substancialmente os preços do petróleo no mercado internacional. Estes choques do petróleo, como ficaram conhecidos, provocou a resposta do mercado em busca da diminuição da dependência do petróleo com o retorno de investimentos no desenvolvimento de tecnologias de produção e uso de fontes alternativas de energia. Hoje, aos elevados preços do petróleo no mercado internacional somam-se as necessidades de geração de energias limpas, que contribuam para a diminuição do efeito estufa. A partir desse renascimento do interesse pelo uso de fontes renováveis de energia, quatro soluções tecnológicas passaram a ser identificadas como forma de combater o acúmulo de resíduos nos motores de combustão interna: a transesterificação, a pirólise, a mistura no óleo diesel derivado do petróleo e a microemulsificação (KNOTHE, 2006; 10). No processo de transesterificação o biodiesel é obtido através da reação de óleos vegetais com um meio ativo, formado pela reação de um álcool (os mais comuns são os álcoois metílico e etílico) com um catalisador. Os produtos da reação química são um éster (o 4
5 biodiesel) com características físico-químicas semelhantes às do óleo mineral, e um glicerol (a glicerina). A transesterificação é o método mais comum de obtenção de biodiesel. O biodiesel vem sendo pesquisado no país desde os anos A primeira patente mundial do biodiesel é brasileira 1. Atualmente, a qualidade do biodiesel produzido por aqui atende a todos os pré-requisitos das normas européias e estadunidenses. Como todo produto, o consumo de biodiesel apresenta vantagens e desvantagens. Dentre as vantagens, pode-se citar: Menos poluente, não contém enxofre que em contato com o ar produz SO 2, responsável pela chuva ácida. Produz menos CO 2 no processo de combustão do que o óleo derivado do petróleo. Gera riqueza sócio-econômica em sua zona de produção (rural e industrial) e contribui para geração de empregos no setor primário. Efeito positivo sobre o ciclo do carbono. Reduz a emissão de materiais particulados (óxido de enxofre e gases causadores do efeito estufa) e a poluição atmosférica. É uma fonte de energia renovável, podendo ser produzido em terras de baixa fertilidade, particularmente o dendê ou palma, com baixo custo de produção, além de poder ser cultivada consorciada com a agricultura familiar na produção de alimentos. Como lubrificante pode aumentar a vida útil dos motores. Substitui o diesel mineral sem necessidade de ajuste nos motores. O calor produzido pelo biodiesel é quase igual ao diesel mineral. O produtor rural estará produzindo seu próprio combustível. Amplia a vida útil do catalisador do sistema de escapamento dos veículos. Como desvantagens considera-se que: Em regiões de clima frio, a viscosidade do biodiesel aumenta consideravelmente podendo ocorrer a formação de pequenos cristais que impedem o bom funcionamento do motor e que requerem medidas de precação para contornar o problema. Aumento no nível de NO x, responsável pela baixa qualidade do ar nas grandes cidades. Liberação de sujeira e resíduos acumulados no tanque, provocando a necessidade de limpeza dos bicos injetores dos motores. 1 Deve-se ao pesquisador Expedito Parente, professor da Universidade Federal do Ceará, a autoria da patente PI , a primeira, em termos mundiais, de biodiesel e de querosene vegetal para aviação (CRISTINA, 2006:11). 5
6 Seu custo em relação ao óleo mineral ainda é elevado, sendo negociado nos leilões de biodiesel a um preço médio de R$ 1,72 por litro, sem impostos, enquanto o diesel comum si por R$ 1,34 por litro, incluindo impostos 2. Devido ao risco de desequilíbrio ambiental, não deve ser encarado como a única fonte alternativa de geração de energia para a região. De um modo geral, os biocombustíveis têm potencial para reduzir o aquecimento global e gerar oportunidades de emprego e negócios para as pessoas de baixa renda nas comunidade rurais. Estes benefícios, entretanto, podem ser reduzidos e até mesmo eliminados por possíveis efeitos prejudiciais ao meio ambiente e na elevação do preço dos alimentos se forem produzidos em grande escala, na prática da monocultura.. O rápido crescimento da produção de biocombustíveis poderá provocar uma pressão de demanda sobre os recursos de terra e água, colocando em risco a própria segurança alimentar da população. Por outro lado, se for utilizado o modelo de monocultura intensiva poderá haver perda significativa da biodiversidade, erosão dos solos e evasão de nutrientes. Assim, o aporte de recursos para investimentos em bioenergia deverá ser realizado de forma cautelosa, para evitar os possíveis danos ambientais e sociais 3. Programa Nacional do Biodiesel O Brasil é um país de longa tradição no uso de energias renováveis, tanto para geração de eletricidade, quanto para os setores siderúrgico e de transporte. O incremento atual no uso destas fontes diminuirá a pressão exercida pela dependência hidrológica na geração de energia elétrica, além de contribuir para uma matriz energética limpa, criar empregos e gerar renda, e universalizar o serviço de energia elétrica, atingindo aquelas localidades não supridas pelo sistema nacional de energia elétrica. A produção do biodiesel no Brasil é resultado de um acordo firmado entre os Ministérios das Minas e Energia, da Ciência e Tecnologia e 21 Estados que dispõem de tecnologia e pesquisa científica para o projeto 4. O Estado do Amazonas não foi incluído no Programa Nacional de Produção de Biocombustível. 2 Goldemberg, José. Biodiesel promessas e problemas, entrevista ao O Estado de São Paulo, 21 de fevereiro de Estadão Online, Onu faz advertência para perigos dos biocombustíveis, acessado em Lílian Macedo, Ministro afirma que não há comparação entre o biodiesel e o Proálcool, acessado em 30 de agosto de
7 De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o programa de produção de biodiesel deve gerar cerca de 150 mil empregos diretos, com possibilidade de geração de renda nas áreas mais pobres do país, diminuindo os bolsões de pobreza nos Estados. O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, PNPB, lançado pelo governo federal por meio do Decreto de 23 de dezembro de 2003, é um programa interministerial que objetiva a implementação de forma sustentável, a produção e uso de biodiesel, através da sua incorporação na matriz energética do país, com foco na inclusão social e no desenvolvimento regional, com vistas à geração do emprego e da renda. Entre as diretrizes do PNPB destaca-se a que promove a implantação de um programa sustentável de produção de biodiesel, a partir de diversas espécies de oleaginosas disponíveis nas várias regiões do país, que promova a inclusão social, garantindo preços competitivos, qualidade e suprimento. Vale ressaltar que o Brasil há quase meio século vem desenvolvendo pesquisas sobre o biodiesel, sendo um pioneiro ao registrar a primeira patente sobre o processo de produção de biocombustível, em Em 02 de julho de 2003, foi instituído através de decreto presidencial um Grupo de Trabalho Interministerial encarregado de apresentar estudos sobre a viabilidade de utilização de biodiesel como fonte alternativa de energia. Disto resultou um relatório que serviu de base para o governo federal estabelecer o PNPB como ação estratégica e prioritária para o país. Atualmente, através do PNPB, o governo federal está tentando organizar a cadeia produtiva, definindo as linhas de financiamento, estruturando a base tecnológica e criando o marco regulatório do novo combustível. O programa nacional do biodiesel foi concebido visando a inclusão social, proporcionando aos pequenos agricultores condições de vida capazes de mantê-los no campo. Projetos voltados para a agricultura familiar ainda são poucos e recentes e demanda algum tempo para gerar resultados positivos. Além disso, a inclusão social sofre a ameaça concreta dos grandes produtores de grãos, particularmente os de soja, que pelo poder econômico e pelas economias de escala, podem tirar vantagens mais imediatas com o programa. O lançamento oficial do PNPB pelo governo ocorreu em 06 de dezembro de 2004, e em 13 de janeiro de 2005, com a publicação da Lei , foi estabelecido o marco regulatório que fornece as condições legais para a introdução do biodiesel na matriz energética nacional de combustíveis líquidos. Esta lei, além de dar incentivo às empresas produtoras de biodiesel, tornou obrigatória a adição de 2% de biodiesel no óleo diesel vendido no país a 7
8 partir de 2008, aumento este percentual para 5% a partir de 2013, o que exigirá uma produção interna de 2 bilhões de biodiesel por ano 5 Entretanto, dado o aumento significativo da oferta nacional de biodiesel, o governo federal pretende antecipar a adição de 5% de óleo vegetal a partir de A Petrobras está encarregada de comprar toda a produção de biodiesel através de leiloes, dando preferência às empresa que possuam o Selo Combustível Social que obriga o produtor a comprar parte de sua matéria-prima de agricultores. O Selo Combustível Social, instituído através da Instrução Normativa No. 1, de 05 de julho de 2005, - um conjunto de normas específicas que visa dar maior estímulo à produção deste combustível visa proporcionar a inclusão social da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel. Em 30 de setembro de 2005, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, MDA, publica a Instrução Normativa No. 2 para projetos de biodiesel com perspectivas de se tornarem empreendimentos aptos a receberem o selo. O enquadramento destes empreendimentos facilita o acesso ao financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e outras instituições financeiras, além de dar direito a concorrer em leilões de compra do biocombustível e a desoneração de alguns tributos. Existe ainda a possibilidade dos agricultores familiares participarem no processo de extração do óleo ou da produção do biodiesel, com a formação de associações ou de cooperativas de produção. Em termos econômicos, a produção do biodiesel poderá trazer ganhos reais ao país. Segundo o presidente da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, ANP, esses ganhos advirão da substituição de importações. Atualmente, o país produz 34,5 bilhões de litros de óleo diesel por ano e importa ainda 3,7 bilhões. Com a obrigatoriedade de adição de 2% de biodiesel B2 a todo o óleo diesel produzido, a partir de 2008, os ganhos da balança comercial brasileira serão da ordem de US$ 160 milhões/ano, pulando para US$ 400 milhões/ano quando o teor subir para 5% - B5 6. Com a inserção do biodiesel em sua matriz energética é prevista uma produção 1,3 bilhão de litros até somente no primeiro semestre deste ano de 2007 (OLIVEIRA, 2007). PROGRAMA ESTADUAL DO BIODIESEL A Região Norte abrange cerca de 92% dos municípios que compõem os sistemas isolados de geração de energia. A implantação do programa de produção de biodiesel pode 5 Biodieseline. Perguntas e Respostas sobre o Biodiesel, acessado em 15 de fevereiro de Biodiesel trará ganho de US$ 160 milhões, diz ANP, acessado em 14 de fevereiro de
9 contribuir para a auto-suficiência no campo da geração de energia nos municípios amazonenses não atingidos pelo sistema nacional de distribuição, já que está prevista a produção de biodiesel destinada a geração de energia nas comunidades isoladas. Atualmente, o Amazonas é líder na geração de energia elétrica nos sistemas isolados na Amazônia brasileira, consumindo 30% dos 530 mil m 3 de diesel mineral, seguido por Rondônia (20%), Amapá (16%), Mato Grosso e Pará (11% cada), Acre (6%) e Roraima (3%) 7. A necessidade de geração de energia nestas comunidades é fundamental para a fixação do homem no campo, favorecendo a geração de renda e a melhoria da qualidade de vida destas populações. São cerca de famílias vivendo na área rural, dispersas em milhares de pequenas comunidades isoladas (cada uma com uma população de aproximadamente 100 pessoas), que não dispõem do fornecimento de energia elétrica e onde devido a longa distancia dos locais de produção do combustível derivado do petróleo, seu uso é inviabilizado. 8 É justamente nessas comunidades que a produção local de biodiesel poderá propiciar a produção de energia elétrica além do fornecimento de combustível para o funcionamento de maquinas agrícolas e veículos de transporte terrestre ou fluvial, gerando emprego e melhorando a qualidade de vida (EMBRAPA, 2006). No intuito de atender toda essa demanda foi criado, em 2006, o Programa Estadual do Biodiesel do Amazonas, uma iniciativa do governo estadual através da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia. Seu objetivo geral é contribuir para o desenvolvimento de tecnologias alternativas de produção e de uso do biodiesel, visando a auto-sustentabilidade energética nas cidades interioranas, como mecanismo de inclusão social e desenvolvimento regional. Inicialmente o programa será desenvolvido prioritariamente nos 120 mil ha. que formam as áreas florestais degradadas na região 9. A função da SECT é a de articular as instituições de Pesquisa e Desenvolvimento, P&D, e as organizações financeiras para atrair parcerias interessadas em investir nessa área. A ação de desenvolvimento do biodiesel vem concretizar os interesses dos governos federal e estadual nesta articulação. 7 Energia, acessado em 05 de fevereiro de A Região Amazônica, em geral, e o Estado do Amazonas, em particular, enfrenta grande dificuldade em fazer chegar o combustível nos municípios mais distantes. No caso dos municípios situados na calha do rio Juruá, ao sudoeste do estado (cerca de 674 km em linha reta, ou de 994 km, via barco), onde há uma situação de extrema pobreza, para cada litro de combustível consumido no local são necessários em média três litros utilizados no transporte até o município. 9 Segundo a Secretária Marilene Correa, da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, SECT, em entrevista ao jornal Amazonas em Tempo, Meio Ambiente, 08 de fevereiro de 2007). 9
10 O desenvolvimento do programa de produção de biodiesel no Amazonas demandará investimentos e ações voltadas à cadeia produtiva como um todo, condição essencial para a agregação de valor e atendimento da demanda, de modo a contribuir efetivamente para o desenvolvimento regional. 10 Dentro deste programa destacam-se dois projetos. Um deles estuda a viabilidade do uso de espécies oleaginosas nativas como o tucumã, urucuri, murumuru e babaçu para a produção de biodiesel. Este projeto é resultado da articulação da SECT, a Universidade Federal do Amazonas, o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia e comunidades extrativa do Médio Juruá. Pesquisadores destas últimas instituições estão trabalhando na análise e caracterização dos óleos, e a realização posterior de testes em motores. O projeto, com duração de dois anos, prevê a aplicação de R$ 400 mil (50% do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, FNDCT, e 50% da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas, FAPEAM) na consolidação de laboratórios para o estudo de óleos e gorduras a partir do tucumã, urucuri, muru-muru e babaçu. O segundo projeto envolve a produção de dendê. A idéia é aproveitar a produção de biodiesel a partir desta oleaginosa para utilização em motores estacionários, visando gerar energia elétrica e proporcionar a auto-sustentabilidade, com a elevação do nível de renda e de emprego nas comunidades mais afastadas dos grandes centros urbanos. Para este projeto ainda não há financiamento. A escolha do óleo de dendê como a principal oleaginosa a compor o programa estadual do biodiesel, deve-se aos seguintes fatores: Alta produtividade (4 a 6 mil litros de óleo por hectare por ano). Contribui para a recuperação de áreas degradadas. Pode ser consorciado com outras culturas. Baixo custo produção. Reduzido impacto negativo ao meio ambiente. Geração de emprego e renda e fixação do homem no campo (cada 6 hectares geram um emprego direto). 10 Em que pese os esforços do governo estadual para produzir o biodiesel em escala industrial, o governo federal não deverá considerar o Amazonas entre as primeiras ações da sua Política Nacional de Biotecnologia, que em seus princípios gerais enfatiza que a produção de biodiesel deverá ser desenvolvida em áreas florestais degradadas. O Estado do Amazonas ainda detém grande parte de sua cobertura vegetal original (cerca de 98% de seu território), mesmo assim, já oferece aproximadamente 120 mil hectares potencialmente viáveis para o fomento da produção de matérias-primas necessárias ao desenvolvimento do programa do biodiesel, o que possibilita investimentos no setor (Cf declaração da então Secretária de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas, Marilene Corrêa ao jornal Amazonas Em Tempo, em 08 de fevereiro de 2007). 10
11 Excelente adaptação às condições edafoclimáticas predominantes na Amazônia (atualmente na Região Norte o cultivo de dendê já ocupa mais de 50 mil hectares). Grande benefício ecológico, pois a palmeira do dendê caracteriza-se pela alta capacidade de seqüestro de carbono. O dendê tem surgido inicialmente como a principal matéria-prima para a produção do biodiesel no Estado, principalmente no município de Tefé, entretanto, outras oleaginosas, como o tucumã e a inajá, uma palmeira nativa endêmica que produz uma amêndoa semelhante ao do babaçu, já estão sendo pesquisadas por seu potencial na produção de biodiesel. Quando comparada com outras oleaginosas, como a soja, por exemplo, as vantagens do uso do dendê são notáveis. Se levada em conta apenas a questão energética, a soja (que se apresenta como a matéria-prima de maior aproveitamento no país) é uma das piores opções. Além do volume de óleo extraído ser pequeno (apenas 18% do grão de soja vira óleo) ela tem uma relação de quatro para um entre a energia produzida e consumida, isto é, um quarto do teor energético de uma saca de soja é gasto para produzi-la 11. Em termos de produtividade por hectare plantado, a diferença também e significativa, quando comparado com o óleo de dendê. Enquanto a soja produz entre 440 a 500 l/ha., o dendê consegue um rendimento de 5000 a 6000 l/ha. (BIOdieseline, Perguntas e Respostas sobre o biodiesel, acessado em 15 de fevereiro de 2007). No Amazonas os setores público e privado estão investindo cerca de R$ 2,2 milhões no plantio de espécies nativa e hexógenas, no processamento de óleos vegetais e na pesquisa científica. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, EMBRAPA, que possui desde 1997 uma usina de produção de óleo de dendê no município de Rio Preto da Eva (cerca de 80km de Manaus em linha reta), inaugurou recentemente sua usina de biodiesel 12. O projeto é realizado pelo Instituto Militar de Engenharia, IME, e pela Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica. A Fundação Desembargador Paulo dos Anjos Feitoza, em parceria com Universidade Federal do Amazonas, UFAM, Associação Comunidade Agrícola da Liberdade do Apoquitaua, ASCALBA e Agência de Florestas e Negócios Sustentáveis da Amazônia, 11 Brasil abraça biodiesel sem plano estratégico, dizem especialistas, acessado em 23 de janeiro de A usina tem capacidade para produzir até 3 mil litros de biodiesel por dia, dos quais 40% da produção são utilizados para abastecer o motor da própria usina e o restante é distribuído em três comunidades isoladas (Jornal do Comércio, Biodiesel é alternativa energética para o Estado do Amazonas, caderno de economia, 25 de março de 2007). 11
12 AFLORAM, desenvolve em Maués um projeto de produção de óleos vegetais e biodiesel, com financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos, FINEP. A Floresta Estadual de Maués, FEM, é uma unidade de conservação estadual, 402,8 mil ha., abriga dezessete que vivem basicamente da agricultura familiar de subsistência e do extrativismo. O projeto da Fundação Paulo Feitoza prevê o treinamento e a capacitação dos membros de três comunidades da unidade de conservação em técnicas de manejo florestal, visando a exploração rentável e auto-sustentável dos recursos da floresta. No campo da iniciativa privada, a empresa Biodiesel da Amazônia está investindo R$ 1 milhão no município de Itacoatiara (cerca de 170 km de distância de Manaus em linha reta) na produção de biodiesel tendo como matéria-prima o pinhão manso, uma oleaginosa não nativa, cujos estudos sobre sua adaptabilidade na região ainda não estão concluídos. O objetivo da empresa é produzir o biodiesel para ser utilizado na navegação fluvial e nos veículos com motores do ciclo diesel 13. O interesse pela produção de biodiesel a partir da biomassa já se expressa também em diversos municípios, que estão iniciando sua capacitação para serem inseridos no programa estadual. Conclusão É inegável a necessidade do desenvolvimento de fontes renováveis de energia no país. Dito dessa forma, a oferta potencial de insumos regionais para a produção de energia a partir da exploração de espécies vegetais oleaginosas disponíveis na região amazônica compõe um dos fatores de desenvolvimento regional em bases sustentáveis. Isto, em meu modo de pensar, somente será possível se houver ação governamental efetiva, no sentido de: promover o apoio financeiro aos investidores garantir a inclusão do setor no pólo de biotecnologia de forma a poder usufruir dos benefícios do DL 288/67, que criou a Zona Franca de Manaus. estabelecer (ter) a consciência de que a produção de biodiesel não pode ser considerada como a única alternativa energética para o país e para a região. incentivar a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação em outras fontes renováveis de energias, respeitando as especificidades regionais. facilitar a capacitação com base no uso de tecnologias adequadas às necessidades de pequenas comunidades. 13 (Jornal do Comércio, 25 de março de 2007) 12
13 engajar as universidades e os institutos de pesquisa no esforço produtivo de tecnologias sociais para o setor. Ainda deve-se considerar o esforço de promoção da educação ambiental, de técnicas de manejo florestal e outras formas de desenvolvimento com o mínimo impacto ambiental Referências Ambientebrasil. Energia, acessado em 05 de fevereiro de Brasil abraça biodiesel sem plano estrategico, dizem especialistas, acessado em 23 de janeiro de Biodieseline. Perguntas e Respostas sobre o Biodiesel, acessado em 15 de fevereiro de Cristina, Márcia. Biodiesel: o combustível do futuro, Ciência em Rede n o 1, Recife: Companhia Editora de Pernambuco, jan-mar Embrapa. Potencial de Óleo de Dendê para a Produção de Biocombustível na Amazôni, Manaus: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,2006 (xérox). Estadão Online. Onu faz advertência para os perigos do biocombustível, acessado em 15 de maio de Freitas, Marilene Correa da Silva. Entrevista ao jornal Amazonas em Tempo, Economia e Meio Ambiente, 08 de fevereiro de Goldemberg, José. Biodiesel promessas e problemas, entrevista ao O Estado de São Paulo, 21 de fev. de Jornal do Comércio. Biodiesel é alternativa energética para o Estado do Amazonas, Caderno de Economia, 25 de março de Knote, Gerhard; Van Gerpen, Jon; Krahl, Jürgen; Pereira Ramos, Luiz. Manual do Biodiesel, São Paulo: Editora Edgar Blücher, Macedo, Lílian. Ministro afirma que não há comparação entre o biodiesel e o Proálcool, Agência Brasil, agosto de Nascimento, Raimundo Nonato do. O Biocombustível na Amazônia, Anais do I Encontro Amazônico do Biocombustível: Manaus, FIEAM/Suframa/UnB/IAST, Oliveira, Nielmar de. Brasil poderá produzir até julho cerca de 1,3 bilhão de litros de biodiesel, acessado em 22 de fevereiro de
14 Parente, Expedito José de Sá. O Biocombustível no Brasil, Anais do I Encontro Amazônico do Biocombustível: Manaus, FIEAM/Suframa/UnB/IAST, Rosa, Luiz Pinguelli (coord.). Geração de Energia a Partir de Resíduos do Lixo e Óleos Vegetais, Rio de Janeiro: Interciência/CENERGIA,
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