O SR. CARLOS SOUZA (PP-AM) pronuncia o seguinte. discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores

Transcrição

1 O SR. CARLOS SOUZA (PP-AM) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, a seca que atinge o Estado do Amazonas é a maior desde 1963, e está conectada a alterações climáticas que provocaram a mais destrutiva temporada de furacões já registrada nos últimos 150 anos. Todo o mundo se assusta com a possibilidade real, e já prevista, de nossa maior floresta transformar-se cerrado ainda nesta geração. No próximo século, talvez se inicie a desertificação dos solos da amazônia, sabidamente arenosos. O aquecimento global está acelerando o ciclo e a intensidade de fenômenos como furacões e estiagens. Quanto maior o calor, maior a velocidade e a intensidade das mudanças. Essa é a verdade científica; no entanto, o lobby da indústria de petróleo, que está muito bem representado pela família do Presidente George Bush, só vê os lucros do consumo de combustível fóssil, deixando que o resto da **

2 2 humanidade pague pelas perdas humanas e econômicas causadas pela invasão do Iraque ou pelo aquecimento global. O Protocolo de Kioto, reconhecendo a poluição como maior ameaça ao clima planetário, poderia deter o processo de aquecimento global. Os Estados Unidos recusaram-se a assiná-lo. Essa arrogância está sendo combatida por diplomatas de todos os países, atônitos com o fato de o Governo Bush só respeitar o Direito Internacional quando lhe convém. Nós, brasileiros, já fomos acusados de interferir na ecologia global com o desmatamento da Amazônia. Essa responsabilidade de fato é nossa, mas os Estados Unidos não têm autoridade moral para posarem de ecologicamente corretos. De concreto, temos certeza de que há a necessidade de ** maiores investimentos em políticas de prevenção e combate

3 3 ao desmatamento, queimadas e incêndios na Amazônia. A competente Ministra Marina Silva parece estar fazendo um bom trabalho, desmantelando quadrilhas até mesmo dentro do IBAMA. No entanto, além de reforçar a fiscalização e combater a corrupção dentro do serviço público, é importante que outros ministérios se preocupem em qualificar as empresas e a população para a execução de um manejo florestal sustentável. Com a conscientização de que se perde uma fortuna com a queima da biodiversidade amazônica, é possível convencer pecuaristas e sojicultores das vantagens de alternativas sustentáveis, como o ecoturismo ou a agrofloresta. Mesmo as madeireiras poderiam lucrar mais com a exploração sustentada e o corte seletivo das árvores. A Embrapa pode pesquisar atividades mais lucrativas e ** adaptadas ao ecossistema amazônico, que certamente

4 4 existem, e que certamente podem convencer, pelo bolso, pecuaristas e sojicultores a se dedicarem à produção de óleos essenciais, couro de jacaré ou piscicultura de larga escala. Evidentemente, a regularização fundiária e a fiscalização são fundamentais. Tributação de grandes áreas, multa para os infratores ambientais, polícia para os reincidentes: a impunidade é um obstáculo para a lucratividade sustentável da Amazônia. Vemos, estarrecidos, que a impunidade pode ser um obstáculo até para a existência da Amazônia, como hoje a conhecemos. Senhor Presidente: o deserto do Saara foi, há cinco mil anos, morada de girafas e elefantes. O conhecimento de que hoje dispomos, embora seja incompleto, permite que **

5 5 saibamos quais atividades são mais compatíveis e quais são mais destrutivas para o clima e para o meio-ambiente. O Brasil não pode ficar ao sabor das forças do mercado: precisamos de um programa coerente e suprapartidário para ser aplicado, o quanto antes, na Amazônia, gerando riquezas sem comprometer a maior floresta tropical do mundo. Esse programa deve ser prioritário, imune a cortes orçamentários e a mudanças eleitorais. Afinal, a sobrevivência da floresta é essencial para o desenvolvimento do País, e talvez até mesmo para nossa integridade territorial. Se perdermos a Floresta Amazônica, Senhoras e Senhores, perderemos definitivamente o título de País da Esperança, que ganhamos em meados do século passado. Se perdermos a Floresta Amazônica, como parece que ** estamos perdendo, perderemos até mesmo o direito de nos

6 6 vermos como um País. Seremos apenas uma terra de ninguém, ao sabor das leis da oferta e da procura, sem nenhuma preocupação com a sustentabilidade de nossa economia. Se a Amazônia tornar-se um cerrado cheio de plantações de soja, como já está acontecendo, a caatinga tornar-se-á, ainda nos próximos anos, um deserto, e esta capital, transformada em caatinga, não cumprirá a profecia de Dom Bosco, de ser o centro de uma nova civilização. Se o Brasil deixar que a floresta continue a se acabar no ritmo atual, será cumprida a profecia de Carlos Lacerda, e Brasília se transformará, de fato, nas mais caras ruínas de toda a História. Esse discurso não é catastrofista: catastrofista seria quem, no ano passado, dissesse que o rio Solimões estaria ** impróprio para a navegação, e que companhias de turismo

7 ** 7 cancelariam cruzeiros pela maior bacia hidrográfica do planeta em decorrência da estiagem. A catástrofe ambiental, Senhoras e Senhores, é anunciada há muito tempo. Se não agirmos rapidamente, suas dimensões podem tornar inviável, repito, até mesmo a continuidade institucional deste país que chamamos de Brasil. Batizado, aliás, em função de uma árvore que hoje já está praticamente extinta. Era o que tinha dizer.