EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE SÃO PEDRO
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- Nelson Vasco Alvarenga Belém
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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE SÃO PEDRO Autos nº 441/12 ( ) Consta dos inclusos autos de inquérito policial que no dia 23 de julho de 2012, por volta das 11h30min, no parque infantil do Grande Hotel São Pedro, situado no Parque Dr. Otávio, Centro, na cidade de Águas de São Pedro, nesta comarca de São Pedro, RENATO CYRINO BIANCHI, qualificado a fls. 492, FELIPE RIEMMA, qualificado a fls. 17/19, FABIO ESPIN SALADINI, qualificado a fls. 202, ROBERTO FIGUEIREDO PIRES, qualificado a fls. 214, concorreram culposamente, de forma negligente, com omissão penalmente relevante, para o crime de homicídio de Inês Schaller, de 4 anos de idade, conforme laudo necroscópico de fls. fls. 32/33, sem observância das regras técnicas da profissão. Segundo o apurado, RENATO tinha a função de gerente geral do Grande Hotel São Pedro, enquanto FELIPE ocupava o cargo de subgerente, respondendo ambos pela área estratégica e operacional do hotel, em que há coordenadores específicos também denominados gerentes. A gerência administrativa do estabelecimento era ocupada por FABIO, a quem respondia o chefe da manutenção (ROBERTO). Todos ocupavam os cargos há mais de ano e tinham por lei obrigação de cuidado e vigilância, bem como, de outra forma, assumiram a responsabilidade de impedir o resultado fatal na criança Inês, que estava hospedada no Grande Hotel no dia dos fatos. Contudo, omitiram, culposamente, esses deveres. 1
2 O hotel mantinha parque infantil, construído em 2003 em projeto de madeira e alvenaria, em região arborizada e sombreada, com livre acesso e sem restrição de idade. Dentre os diversos brinquedos (pontes, escorregadores, passagens), foram construídos os balanços, em estrutura de madeira, dotada de duas colunas sustentando uma viga, com três balanços nela acoplados por correntes metálicas; a coluna da esquerda também sustentava parte do restante de um brinquedo ponte de madeira (fls. 26 e 45). As estruturas de madeira da viga e das colunas estavam engastadas por um entalhe realizado manualmente, de forma tosca, e um único pino em cada extremidade, sem qualquer sistema redundante de segurança (fls. 477 e 46/48). Contudo, desde sua construção, o parque infantil nunca recebeu inspeção técnica para avaliar a necessidade de troca de equipamentos ou reforço dos sistemas de segurança, negligenciando os responsáveis neste quesito, não obstante os cuidados dos denunciados com o aspecto meramente visual do local de recreação infantil e as determinações das normas técnicas da ABNT 1 que apontam a necessidade de realização de inspeção por técnico especializado em intervalos não superiores a doze meses (inspeção certificada) e, de preferência, duas vezes ao ano (fls. 41 e 205). 1 Em resumo, as regras da ABNT (14.350:1999 e :2012) preconizam, quanto à inspeção dos playgrounds : Inspeção visual rotineira identifica perigos óbvios que podem ser o resultado de uso, vandalismo ou condições de tempo. Deve haver um livro de registro de falhas de acesso livre ao público. Inspeção registrada Preferencialmente a cada 1 ou, no máximo, 3 meses. Os resultados devem ser anotados em registro permanente. Deve-se observar efeitos de corrosão ou outra deterioração, desgastes e vandalismos. Inspeção certificada Devem ser realizadas em intervalos que não excedam 12 meses, de preferência duas vezes ao ano, no fim do período de férias escolares de julho e no fim das férias de verão. Pode ser realizado pelo próprio fabricante ou por órgão associado. 2
3 Desta feita, considerando o local sombreado e o material biodegradável escolhido para o parque, a madeira que sustentava o balanço passou a acumular água nos pontos de ligação entre viga e coluna, sofrendo processo de biodeterioração, como era previsível (fls. 478), ao ponto da madeira decomposta servir de substrato para o nascimento de plantas dentro da estrutura do brinquedo, que indicavam aos denunciados a degradação e o risco do brinquedo (fls. 50, 480, 483/485). A madeira apresentava-se, pois, úmida, sem resistência, com fibras se desfazendo (fls. 37 e 49). Neste diapasão, no dia dos fatos, a hóspede Inês, com 4 anos, foi deixada pelos genitores aos cuidados de monitores de recreação, os quais levaram-na ao parque infantil juntamente com outras crianças. Ali, a vítima brincava no balanço no qual também estavam a testemunha Davi e uma segunda criança, em movimentos alternados com Inês, quando a extremidade esquerda da viga (próxima à ponte de madeira), que se encontrava comprometida por intempéries, principalmente umidade, sofreu uma ruptura por cisalhamento, não suportando a carga, e rompeu-se, ocasionando também o rompimento da ligação da viga com a coluna na extremidade direita, que caiu diretamente sobre a superfície torácica da vítima, causando a sua morte, por hemorragia interna. Após perícia, apurou-se que os denunciados, que tinham o dever de evitar o resultado, agiram de forma negligente, causando o evento morte, pois não tomaram as precauções necessárias para evitar a deterioração das peças como tratar com preservativos adequados (e não com verniz comum), fls. 40, não constataram os danos nem trocaram as peças danificadas; não determinaram a realização de inspeções registradas, a cada três meses, e certificadas, por órgão técnico especializado, a cada intervalo máximo de doze meses. Em todos os oito anos desde sua construção, o parque infantil nunca passou por inspeção técnica, como determina as normas da ABNT, mantendo-se apenas a realização de inspeções visuais, concorrendo os denunciados, cada uma na medida de sua culpabilidade, para o resultado. 3
4 Assim, ROBERTO, chefe da manutenção, responsável há mais de quinze anos pela supervisão dos consertos de todos os equipamentos e inspeção semanal no parque, agiu de forma negligente ao se omitir e não realizar inspeção cuidadosa e registrada e não meramente visual, como era esperado de seus conhecimentos técnicos e do cargo que exercia, e não constatar nem solicitar a substituição das peças do balanço, apodrecidas pelo tempo, ou da ligação mecânica entre elas, insuficiente para a segurança esperada, sendo lhe possível a previsão do resultado pelo crescimento de plantas nos materiais de madeira dos parques e pela condição de umidade do local que frequentava semanalmente, contrariando as regras da ABNT (fls. 482/485). FABIO, que gerenciava todo o setor de manutenção (inclusive o denunciado ROBERTO), omitiu-se ao não incluir nas instruções de trabalho de manutenção elaboradas pelo subordinado ROBERTO e por ele aprovadas (fls. 299/304) a manutenção preventiva dos brinquedos do parque infantil, como fez com os demais equipamentos (como os da lavanderia), nem as inspeções registradas, para observar pontos de deterioração, como determinavam as normas técnicas da ABNT NBR 14350:1999 e NBR 16071:2012, aceitando apenas as inspeções visuais, sem garantir a segurança dos brinquedos, sendo previsível que, assim como os demais equipamentos do hotel, também aqueles destinados à recreação e projetados em madeira, para uma área sombreada, sofreriam ação do tempo e a degradação. RENATO e FELIPE, por sua vez, na condição de gerente geral e subgerente geral, com funções que também englobavam a chefia da parte operacional e administrativa do hotel, agiram negligentemente quando, no decorrer de mais de 16 meses, não constataram a omissão dos subordinados na realização de inspeção registrada a cada três meses e na manutenção preventiva e, outrossim, não exigiram a realização de ao menos uma inspeção técnica (certificada), a cada doze meses, com avaliação pormenorizada de todos os equipamentos do parque infantil por técnico especializado, como o esperado para os cargos que ocupam e como determinado pelas regras da ABNT, para garantir a segurança vendida pelo hotel aos 4
5 clientes, concorrendo para o resultado previsível, que teria sido evitado se vencida essa inércia. O resultado era previsível, ou seja, poderia ser antevisto nas condições em que os agentes se encontravam: em mais de oito anos de funcionamento do parque infantil nunca fora determinada a inspeção técnica, ou seja, a inspeção especializada e que se verificasse a parte estrutural dos brinquedos, nem a manutenção preventiva, conformando-se todos com a mera inspeção visual e a manutenção pontual corretiva. Esta conduta omissiva agrava a culpa em questão, porque aos frequentadores passava-se a falsa impressão de cuidado, que era meramente exterior. Portanto, os denunciados, com as condutas detalhadas acima, não observaram o cuidado objetivo exigível na circunstância concreta provocando e sendo causa determinante do previsível resultado morte, que não se produziria se houvesse inspeção e manutenção adequadas, desrespeitando também as normas técnicas da ABNT citadas. Ante o exposto, denuncio RENATO CYRINO BIANCHI, FELIPE RIEMMA, FABIO ESPIN SALADINI e ROBERTO FIGUEIREDO PIRES como incursos nos artigos 121, 121, 3º, c.c. o art. 121, 4º, primeira parte, c.c. o artigo 29, caput, todos do Código Penal. Requeiro que, recebida e autuada esta, sejam os denunciados citados, processados e condenados, ouvindo-se o perito e as testemunhas do rol abaixo, nos termos do artigo 394 e seguintes do Código de Processo Penal. ROL: Dr. Jefferson Willians de Gaspari (perito) fls. 35; 1. Edison Giocondo fls. 231; 2. Antônio Pereira de Moraes fls. 310; 3. Davi Rodriguez Ruivo Fernandes fls. 25; 4. Raquel Moreira da Silva fls. 105; 5. Antônio Ferraz Oliveira fls. 60; 5
6 6. Antônio Carlos Jesus de Souza fls. 63; 7. Nelson Capucho Filho fls. 420; 8. Cinara SommerHalder fls. 412; São Pedro, 12 de fevereiro de GEÓRGIA CARLA CHINALIA OBEID Promotora de Justiça 6
7 Autos nº 441/12 ( ) MM Juiz: em nome dos denunciados. 1. Ofereço denúncia, desde já, em seis laudas; 2. Requeiro a juntada de F.A. e certidões do que constar São Pedro, 12 de fevereiro de GEÓRGIA CARLA CHINALIA OBEID Promotora de Justiça 7
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