Discurso de encerramento do I Ciclo de Conferências sobre a Paz e a Estabilidade na África Austral
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- José Camarinho Graça
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1 Discurso de encerramento do I Ciclo de Conferências sobre a Paz e a Estabilidade na África Austral DISCURSO DE ENCERRAMENTO DO I CICLO DE CONFERÊNCIAS SOBRE A PAZ E A ESTABILIDADE NA ÁFRICA AUSTRAL CONTRIBUTO DA UNITA PARA A HISTÓRIA ISAÍAS SAMAKUVA 17 DE JUNHO DE 2014 Minhas senhoras e meus senhores: Agradeço, antes de mais, a presença de todos que aceitaram o nosso convite para estarem presentes nesta sessão de encerramento do primeiro ciclo de conferências SOBRE A PAZ E A ESTABILIDADE NA ÁFRICA AUSTRAL Um contributo para a História. Como afirmamos na sessão de abertura deste ciclo de conferências, pesquisadores, académicos e especialmente jovens estudantes, licenciandos e mestrandos, têm procurado a UNITA para ouvir o seu ponto de vista sobre aquilo que se pretende que seja a História da Paz em Angola.
2 Em resposta a esta procura, e ciente das suas responsabilidades históricas, a UNITA decidiu realizar este I Ciclo de Conferências Sobre a Paz, para apresentar uma parte do seu testemunho sobre a História que ela própria viveu, as batalhas políticas, militares e diplomáticas que ela própria travou, as alianças que ela própria forjou, os acordos que ela própria assinou e a Paz que ela sempre buscou, tudo visando a construção da nação angolana. Sem contar com o período de resitência à conquista e dominação do território pela potência colonial, considero que a primeira parte da História da construção da nossa Nação, a Nação angolana, foi vivida nos anos de ; a segunda parte foi vivida nos anos ; a terceira parte foi vivida nos anos e a quarta parte constitui o presente. O Ciclo de Conferências que hoje encerramos descreveu as principais ocorrências e realidades vividas no periodo de 1960 a 2002, cobrindo essencialmente, as quatro fases : Realizamos este I Ciclo de Conferências Sobre a História da Paz, para realçar o facto de que a História da Paz em Angola não pode ser escrita nem vista numa perspectiva de heroismo partidário nem tão pouco de propaganda política. Se assim for, ela deixa de ser História. A Batalha do Kuito Kuanavale, por exemplo, tal como tem sido contada pelo regime do MPLA, é um mito e é uma fraude à História que a verdade e a memória colectiva dos protagonistas, mortos e vivos, exige que seja ampla e corajosamente denunciada para ser profundamente reformulada. Caros compatriotas: Durante cerca de oito semanas, a sociedade ouviu de alguns artífices da História, na primeira pessoa, as respostas para muitas das suas indagações sobre a natureza multidimensional da conflitualidade em Angola; falaram sobre o impacto das batalhas militares na celebração dos Acordos de Paz, sobre os caminhos tortuosos da diplomacia na busca da paz; sobre o papel da mulher na construção da paz e também sobre a visão da UNITA relativamente à integração regional de Angola. Consideramos que este primeiro ciclo de conferências sobre a História da Paz na África Austral alcançou os seus objectivos principais sobretudo aqueles que, como dissemos na sessão de abertura, se destinavam a apresentar factos com objectividade e lisura, tal como a UNITA os viveu e constituir um fórum de reflexão sobre os melhores caminhos a trilhar para se completar o processo inacabado de construção do edifício da paz. É um facto estabelecido que a História faz-se a partir da diversidade de muitos olhares. O facto histórico é construído sob este paradigma, sob a interpretação de quem vê, da forma como conta e sobre o que conta. Não
3 se pode escrever a história de Angola sem ouvir um dos principais protagonistas da história de Angola, que é a UNITA. Tal como referiu o activista e escritor francês Georges Clemenceau que, como Primeiro Ministro liderou a França na Primeira Guerra Mundial e assinou mais tarde o Tratado de Versailles, "a História é coisa séria demais para ser contada apenas por historiadores". Não basta, para a História, ser descoberta e contada se não estiver próxima dos protagonistas anónimos fazendo parte da formação do conhecimento e do poder crítico. Os factos aqui relatados durante as conferências realizadas, são acontecimentos vividos e testemunhados pelos conferencistas que os apresentaram, sendo eles Eugénio Ngolo Manuvakola, Lucamba Paulo Gato, Abílio Kamalata Numa, Demóstenes Amós Chilingutila, todos generais na Reserva e deputados à Assembleia Nacional, pela Dra. Miraldina Olga Jamba, Deputada à Assembleia Nacional e Presidente da Liga da Mulher Angolana; Dr. Alcides Sakala Simões, deputado à Assembleia Nacional e professor universitário, Clarisse Kaputo, Deputada à Assembleia Nacional; Doutor Almerindo Jaka Jamba, Historiador e Professor Universitário; Engº. Adalberto da Costa Júnior, Deputado à Assembleia Nacional, todos eles também veteranos e combatentes da Pátria. Constam de documentos que vão constituir-se em documentos históricos e políticos integrantes do acervo patrimonial da UNITA. Deles foram extraídas conclusões e teses que foram formalmente aprovadas pelo seu Comité Permanente na sua reunião extraordinária realizada em Luanda, nos dias 13 e 16 do corrente. Encerram, por isso, a posição política da UNITA sobre os fenómenos então vividos e o seu contributo tanto para a História da Paz em Angola, como para a construção dos alicerces de uma Nação verdadeiramente independente, próspera e Democrática. Minhas senhoras e meus senhores: Se este Ciclo de Conferências foi um marco que lançou um novo olhar sobre o passado, ele permite-nos também fazer uma análise distinta do presente e um diferente prognóstico para o futuro. E é sobre o presente e o futuro que também queremos falar. Ao longo dos últimos dois séculos, a afirmação da identidade social e política de Angola tem sido objecto de conflitos, cumplicidades e diálogos inconclusivos entre grupos nacionais, grupos económicos e Estados. Com o avanço do período colonial, os portugueses desenvolveram estratégias para apoderar-se das terras de Angola, exportar as suas riquezas e excluir as maiorias do desenvolvimento. A conquista da
4 independência, em 1975, e a conquista da paz militar em 1991 e depois em 2002, não anularam estas políticas e, por isso, não produziram para Angola uma identidade social e política que lhe assegurasse a paz social e a segurança colectiva. Hoje, a estratificação, discriminação e exclusão das maiorias continua a ser estabelecida por políticas públicas, o que significa dizer que Angola saíu da escravatura para o colonialismo e do colonialismo para o neocolonialismo. O Estado pós independência predeterminou a institucionalização da supremacia de uma classe, de um partido e de áreas específicas do nosso País. A política económica, a política de educação, a política de terras, a política cultural e todas as outras políticas públicas foram concebidas para materializar esta diferenciação e frustrar o nobre objectivo de construção da Nação angolana. Hoje, uma oligarquia de algumas dezenas de famílias domina a política, as Forças Armadas, a economia e a cultura; detém e controla mais de 90% da riqueza através de um Estado predador, aliado ao exterior e por ele protegido. Os três pilares sustentadores do progresso da Nação - o sistema de educação, o sistema de saúde e o sistema judicial - estão moldados para garantir o subdesenvolvimento das maiorias e a neo-colonização de Angola. Por outro lado, as lideranças nacionalistas não herdaram nem instituições nem tradições que pudessem servir de alicerce para a criação de laços democráticos ou contrato social entre os cidadãos e o Estado. É certo que a construção de uma nova ordem política teria apresentado enormes desafios, ainda que a guerra geopolítica e o colapso económico não houvessem tido lugar. Mas esse cenário positivo eliminara-se de raiz, porquanto os Acordos de Paz, celebrados em 1991, ignoraram a necessidade de se alicerçar a construção da nação na criação de instituições fortes e legítimas. Apenas estabeleceram as balizas da mudança de regime e os limites materiais de uma transição constitucional negociada, que, no entanto, não foram observados. Os arquitectos da paz, assinaram em Bicesse um Acordo político para a mudança de regime em Angola. Adoptaram para Angola o regime democrático. Este regime, porém, foi revogado na prática por um só homem. No espaço coberto por este I Ciclo de Conferências Sobre a Paz houve de facto pelo menos três mudanças de regime político em Angola:
5 (1) mudança do regime autoritário e colonialista português para o regime totalitário de Partido único. Esta mudança ocorreu em 1975 e foi operada Pelo Dr. Agostinho Neto, primeiro Presidente da República Popular de Angola; (2) mudança do regime totalitário de Partido único para o regime de democracia constitucional. Esta mudança ocorreu em 1991, por força das batalhas militares e das consequentes negociações políticas entre o MPLA e a UNITA em Bicesse; e foi fundamentalmente impulsionada pelo Dr. Jonas Malheiro Savimbi; (3) mudança subversiva do regime democrático acordado em Bicesse para o regime autoritário mascarado de democracia tutelada. Esta mudança está em curso e é dirigida pelo Presidente José Eduardo dos Santos. O regime procura branquear ou mitigar a sua impopularidade interna por via de actividades político-diplomáticas do Executivo na busca da paz militar na África central, quando em casa se multiplicam os atentados à paz e as violações mais grosseiras aos direitos humanos dos angolanos. Mas não são os interesses externos de ocasião que garantem a legitimidade política dos regimes. São os povos, pois a soberania reside no povo. No povo angolano, na vontade exclusiva do povo angolano. O facto do regime ter decidido revogar os Acordos de Paz, e aliar-se ao estrangeiro para abolir a democracia para os angolanos, violentar os angolanos, pilhar os recursos dos angolanos e governar contra os angolanos, agrava ainda mais a sua situação. Não importa o que digam os seus aliados externos. As potências estrangeiras, quer os aliados quer os adversários na antiga guerra fria, tendem a outorgar o benefício da dúvida ao governo angolano, quer em matéria de direitos humanos, quer na questão da transparência governativa ou mesmo da qualidade da democracia. De um modo geral, a comunidade internacional tende a abaixar a cabeça e calar-se colectivamente diante das violações públicas aos direitos humanos dos angolanos e das agressões à boa governação, pelo Estado angolano. Já faziam o mesmo com o governo fascista de Salazar. O que eles querem são as riquezas de Angola, não a felicidade dos angolanos! Até quando? Até quando? Até quando, compatriotas? Este desvio político, esta mudança arbitrária e unilateral de regime político, constitui uma traição à Paz, um risco político sério para os investimentos em Angola e um retrocesso no processo de construção da nação.
6 Não mais nos basta fazer o mea culpa. Precisamos sem tardar interpretar estes comportamentos do regime e mudar a maneira de ver a nossa Angola, sua história, seu presente e sobretudo o seu futuro. Por isso, prezados concidadãos, meus irmãos, mais do que rememorar o passado, é altura de reavaliarmos o presente e posicionarmo-nos para o futuro. 1. A instauração efectiva da democracia em Angola e a concretização da efectiva reconciliação nacional poderão encontrar no espírito de Bicesse a base para a feitura do Novo Contrato Social Angolano e para a efectiva integração regional de Angola. 2. A reconciliação nacional efectiva exige a completa despartidarização do Estado, a descentralização do poder político e económico, a dignificação dos direitos humanos como valores indisponíveis aos poderes públicos e a consequente adopção, por todos, de uma nova cultura política. 3. A nova cultura política subjacente à busca da reconciliação nacional envolve uma nova atitude e uma postura tolerante quer perante a verdade dos factos que constituem a História da conflitualidade em Angola, em todas as suas dimensões - incluindo a tragédia do 27 de Maio de 1977, quer perante o desafio histórico da construção da Nação angolana. Viva a UNITA, Viva Angola. Com estas palavras, declaro encerrado o 1º Ciclo de Conferências sobre a Paz e a Estabilidade na África Austral. Muito obrigado.
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