EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CIVEL DA COMARCA DE MIGUEL CALMON, BAHIA.

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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CIVEL DA COMARCA DE MIGUEL CALMON, BAHIA. Ministério Público Estadual O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, por intermédio do Promotor de Justiça que a esta subscreve, vem, mui respeitosamente, no uso de uma de suas atribuições legais, bem como lastreado nas peças de informações anexas, com fulcro nos arts. 127 (última parte) e 129, III e IX, da Constituição da República, e art e ss do CPC, requerer a expedição de ALVARÁ PARA INGRESSO E RETIADA DE BENS ABANDONADOS EM PROPRIEDADE PRIVADA, ATRAVÉS DE AGENTES MUNICIPAIS DE SAÚDE NO COMBATE À DENGUE E AGENTES DA LIMPEZA PÚBLICA, em face de Robson Mesquita dos Santos, conhecido pela alcunha de Bola, residente no Povoado de Curral Velho, Zona Rural do Município de Miguel Calmon Bahia, tendo em vista os fatos a seguir descritos: I - DOS FATOS Em 15 de setembro de 2014, a Secretaria Municipal de Saúde do Município de Miguel Calmon, Bahia, encaminhou a esta Promotoria de Justiça expediente, no qual noticiou a existência de pneus abandonados em um imóvel particular, localizado no local denominado Pista de Corrida no 1

2 Povoado Curral Velho, Município de Miguel Calmon, situação que, diuturnamente, tem trazido para a comunidade local potencial risco à saúde. Conforme as peças de informações anexas, em maio do presente ano, a Vigilância Epidemiológica Municipal recebeu denúncia acerca do armazenamento irregular de pneus no local acima citado. Em fiscalização, os agentes públicos constataram a veracidade da noticia, verificando que, in loco, existia grande quantidade de pneus armazenados irregularmente, servindo, por conta disso, de berço e esconderijo para vários tipos de insetos e mosquitos. Em contato com o proprietário, Sr. Robson Mesquita dos Santos, este comprometeu-se a retirar os pneus, encaminhando-os para a localidade das Populares. Apesar disso, conforme os documentos anexos, em abril de 2014, a Vigilância Epidemiológica constatou que o proprietário não tinha retirado os pneus, conforme o prometido. Em segundo contato, contudo, o proprietário dos pneus, informou que não iria se desfazer dos mesmos em virtude dos investimentos realizados. Em nova inspeção, no dia 24 de abril de 2014, a equipe de Endemias do Município, constatou no local grande número de pneus ao ar livre, com a presença de água acumulada e com a existência de larvas, servindo, pois, de ambiente de proliferação de mosquitos e insetos. Por conta disso, a Vigilância Epidemiológica encaminhou ofício a esta promotoria requerendo providência e apoio para a retirada dos pneus, em caráter de urgência, já que estes estão colocando em risco a saúde da população. Essa situação, pois, compromete o êxito das ações de prevenção/combate à transmissão da DENGUE no Município de Miguel 2

3 Calmon, doença viral infecciosa, endêmica, notoriamente conhecida, transmitida pela picada do mosquito Aedes Aegypti. SEGUNDO DADOS DO PORTAL ODM, NO MUNICÍPIO DE MIGUEL CALMON, ENTRE E 2.011, HOUVE CASOS DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR MOSQUITOS, DENTRE OS QUAIS NENHUM CASO CONFIRMADO DE MALÁRIA, NENHUM CASO CONFIRMADO DE FEBRE AMARELA, 217 CASOS CONFIRMADOS DE LEISHMANIOSE, NOTIFICAÇÕES DE DENGUE. ALÉM DISSO, EM 2014 JÁ FOI REGISTRADO UM CASO SUSPEITO DE FEBRE CHIKUNGUNYA EM MIGUEL CALMON. Trata-se, portanto, de caso atinente à saúde pública da população, devendo o interesse público prevalecer sobre o interesse privado. Além do mais, o proprietário já foi intimado administrativamente para tomar providências e se recusa a fazê-lo. II - DO DIREITO O motivo desse pretendido acesso é a necessidade de combate aos focos de mosquitos, meio reconhecido pelo Ministério da Saúde como indispensável para evitar a infestação do Aedes Aegypti e agora da febre chikugunya, posterior transmissão e provável epidemia, com grave repercussão à saúde da população desta cidade. Trata-se de pleito que busca a defesa da saúde de milhares de pessoas, indistintamente, jovens e idosos, crianças, mulheres, ricos e pobres. Trata-se de efetivação do Direito fundamental à Saúde, na sua acepção preventiva. A Constituição Federal 3

4 assegura, em seu artigo 5º, inciso XXII, o direito de propriedade. Contudo, o Constituinte, logo após, no inciso XXIII, condiciona o direito de propriedade a função social, reconhecendo que não há direito à propriedade quando esta desrespeita o social, a coletividade, vejamos: XXII- é garantido o direito de propriedade XXIII- a propriedade atenderá a sua função social Assim, a propriedade em nosso ordenamento jurídico não constitui um direito absoluto, requer, para sua proteção e efetividade, o atendimento a função social, não prejudicando, portanto, a coletividade. O que, in casu, não verificamos. Permitir, então, que um proprietário, através do armazenamento inadequado de pneus, cause potencial risco à saúde da população de Miguel Calmon é prestigiar a propriedade que não cumpre a sua função social, em flagrante violação as normas constitucionais. Certo parece ser que nenhum princípio ou garantia constitucional pode ser analisado fora de um contexto, pois é à vida real que o Direito serve, modo pelo qual quando houver aparente conflito entre princípios constitucionais, deve-se encontrar uma fórmula de ponderação, mediante análise contextualizada. Dito isso, inequívoca a idéia de prevalência do direito à saúde pública (vida) sobre o de propriedade, pois o titular de um bem não pode colocar em risco a vida e à saúde de um número indeterminado de pessoas, em virtude de caprichos ou ignorância, ou seja, pelo desconhecimento da efetividade dos trabalhos de campo dos agentes de saúde e/ou pela possibilidade de prejuízos financeiros. O caso reflete defesa de interesse difuso, de âmbito local, apto a ser tutelado mediante iniciativa do Ministério 4

5 Público, através dos meios processuais disponíveis. Quanto ao Judiciário, cabe analisá-lo com a celeridade necessária, imbuído que está nos mesmos propósitos da instituição ministerial. Existe, pois, situação de perigo à sociedade, capaz de ser tutelada mediante autorização do Poder Judiciário. Logo, em defesa da vida e da saúde de um número indeterminado de pessoas e para evitar uma situação alarmante, o caso relatado permite ao Juiz determinar a entrada dos Agentes de Saúde em propriedades privadas, em efetivo serviço e com todas as cautelas, para afastar riscos potenciais à comunidade, em atendimento a função social da propriedade. Além disso, deve ser autorizada a apreensão pelo Município dos pneus, os quais devem ser encaminhados para instituições que processam o que se chama de logística reversa. Os custos da operação de remoção, posteriormente, devem ser cobrados, através da via própria, pelo município ao requerido. III - DO PEDIDO; Ante o exposto, o Ministério Público requer que: 1 - SEJA EXPEDIDO, COM URGÊNCIA, A TÍTULO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA, ALVARÁ PERMITINDO AOS AGENTES PÚBLICOS DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE MIGUEL CALMON, NA COMPANHIA DOS AGENTES DA LIMPEZA PÚBLICA, A ENTRAREM NA PROPRIEDADE PRIVADA SUPRA, LOCALIZADA NO LOCAL DENOMINADO 5

6 DE PISTA DE CORRIDA NO POVOADO CURRAL VELHO, DO SR. ROBSON MESQUITA DOS SANTOS, E A RETIRAREM OS PNEUS ABANDONADOS ALI ENCONTRADOS, ACONDICIONANDO OS MESMO EM LOCAL ADEQUADO ATÉ O JULGAMENTO DEFINITIVO DO PRESENTE PEDIDO, DETERMINANDO-SE QUE A RETIRADA SEJA FOTOGRAFADA, ENCAMINHANDO-SE RELATÓRIO A ESTE JUÍZO; 2 SEJAM CITADOS, NA FORMA DO ART DO CPC, TODOS OS INTERESSADOS, QUAIS SEJAM: O PROPRIETÁRIO, A PREFEITURA DE MIGUEL CALMON, ATRAVÉS DO PREFEITO, O SR. NADSON, NA SEDE DO PODER EXECUTIVO. 3 - A INTIMAÇÃO PESSOAL DO(A) SR(A). SECRETÁRIO(A) MUNICIPAL DE SAÚDE PARA CONHECIMENTO DO ALVARÁ, BEM COMO O SECRETÁRIO DE LIMPEZA PÚBLICA E VIGILÂNCIA SANITÁRIA, OS QUAIS SÃO INDICADOS COMO OS RESPONSÁVEIS PELO CUMPRIMENTO DA MEDIDA. 4 - QUE CONSTE DO ALVARÁ QUE OS AGENTES DE SAÚDE SÃO, EM TESE, RESPONSÁVEIS, CRIMINALMENTE, POR QUALQUER EXCESSO OU DESVIO DE FINALIDADE AO ACESSAREM O IMÓVEL PARTICULAR EM REFERÊNCIA; 5 SEJA, AO FINAL, JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO, CONFIRMANDO-SE O ALVARÁ CONCEDIDO, PERMITINDO-SE AOS AGENTES PÚBLICOS DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE MIGUEL CALMON, NA COMPANHIA DOS AGENTES DA LIMPEZA PÚBLICA, A ENCAMINHAREM A ENTIDADE DE LOGÍSTICA REVERSA OS PNEUS APREENDIDOS NA PISTA DE CORRIDA NO POVOADO CURRAL VELHO, DO SR. ROBSON MESQUITA DOS SANTOS, CONDENANDO-SE O 6

7 PROPRIETÁRIO A ARCAR COM OS CUSTOS DA OPERAÇÃO DE REMOÇÃO, OS QUAIS, POSTERIORMENTE, DEVEM SER COBRADOS, ATRAVÉS DA VIA PRÓPRIA, PELO MUNICÍPIO AO REQUERIDO. Requer-se a produção de todos os meios de prova admissíveis em direito. Dá-se à causa o valor de R$ 800,00 (oitocentos) reais. Miguel Calmon, Bahia, 14 de Outubro de Pablo Almeida Promotor de Justiça 7

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12 Nº de outubro de 2014 BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DA FEBRE CHIKUNGUNYA NA BAHIA, 2014 CASO SUSPEITO DE FEBRE CHIKUNGUNYA Indivíduo com febre de início súbito maior que 38,5ºC e dor intensa nas articulações de início agudo, acompanhada ou não de edemas (inchaço), não explicado por outras condições, sendo residente ou tendo visitado áreas onde estejam ocorrendo casos suspeitos até duas semanas antes do início dos sintomas ou que tenha vínculo com algum caso confirmado. RECOMENDAÇÕES Manter repouso. Tomar muito líquido: água, suco de frutas, soro caseiro, chás, água de coco e sopas. Evitar automedicação. Manter amamentação. Procurar uma unidade de saúde. Evitar exposição à ação de mosquitos. ATENÇÃO Em alguns casos, as dores articulares permanecem por meses ou anos. Geralmente ocorrem vários casos próximos. Casos suspeitos da Febre Chikungunya vêm sendo notificados no estado da Bahia a partir de setembro de 2014, inicialmente no município de Feira de Santana. Até o dia 07 de outubro de 2014 foram notificados 931 casos em 22 municípios (Quadro 1). O município com maior número de notificações até o momento é Feira de Santana com 762 (81,85%) casos, sendo 19 confirmados laboratorialmente e 137 confirmados por critério clínico -epidemiológico. Em seguida, Riachão do Jacuípe, com 120 (12,89%) casos notificados, sendo 7 confirmados laboratorialmente. Caracterizada a transmissão sustentada de Chikungunya em uma determinada área, com a confirmação laboratorial dos primeiros casos, o Ministério da Saúde recomenda que os demais casos sejam encerrados por critério clinico-epidemiológico. Quadro 1 - Número absoluto e proporção dos casos notificados de chikungunya por município de residência, Bahia 2014*. MUNICÍPIO Nº DE CASOS % MUNICÍPIO Nº DE CASOS % ALAGOINHAS 1 0,11 PLANALTINO 1 0,11 AMELIA RODRIGUES 1 0,11 RIACHAO DO JACUIPE ,89 CASTRO ALVES 1 0,11 RIO REAL 1 0,11 CATU 1 0,11 SALVADOR 20 2,15 CICERO DANTAS 11 1,18 SANTALUZ 1 0,11 FEIRA DE SANTANA ,85 SANTO ANTONIO DE JESUS 1 0,11 ILHÉUS 1 0,11 SÃO FELIPE 1 0,11 IRECÊ 1 0,11 SÃO MIGUEL DAS MATAS 1 0,11 ITABUNA 1 0,11 SERRINHA 1 0,11 JUAZEIRO 1 0,11 TAPIRAMUTA 1 0,11 LAURO DE FREITAS 1 0,11 MIGUEL CALMON 1 0,11 Total geral Fonte: Secretarias Municipais de Saúde (SMS) * Dados sujeitos a alterações A distribuição da freqüência de casos por semana de início de sintomas demonstra que a transmissão da Febre Chikungunya torna-se mais evidente a partir da semana 30 (Figura 1). Figura 1: Casos de Febre Chikungunya por semana de início de sintomas, Bahia, Pode acontecer ao mesmo tempo que a dengue. CONDIÇÕES DE RISCO Gestantes Menores de 2 anos Maiores de 65 anos Pessoas com comorbidade Informações e Contatos gtdengue gerenciadengue@gmail.com divep.cevesp@saude.ba.gov.br (71) (CEVESP) OUVIDORIA: Fonte: Secretarias Municipais de Saúde (SMS) * Dados sujeitos a alterações A redução observada na semana 40 pode estar relacionada ao tempo entre a suspeita diagnóstica e o processamento dos dados pela vigilância epidemiológica. Contudo, todas as ações recomendadas deverão ser mantidas por no mínimo 40 dias após a notificação do último caso suspeito. A faixa etária mais atingida compreende os adultos jovens (20 a 49 anos), correspondendo a 54,68% do total de casos. A maioria dos casos ocorreram em mulheres (66,16%).

13 Nº 02 Página 2 07 de outubro de 2014 A distribuição geográfica dos casos de Chikungunya em Feira de Santana, município mais atingido da Bahia, concentrou-se no bairro George Américo, com 49,86% das notificações do município. Entretanto a propagação da doença atinge 54 localidades (Figura 2). Figura 2: Densidade de casos de Febre Chikungunya em Feira de Santana, Bahia, Fonte: SMS Feira de Santana e GT-Dengue/ Divep/ Sesab Sinan. Disponível em : Resposta Estadual à introdução da Febre Chikungunya na Bahia Ações contingenciais: - Deslocamento de equipes da SESAB para apoio técnico à Feira de Santana, Riachão do Jacuípe e Cícero Dantas; - Implantação da Resposta Coordenada Estadual para enfrentamento da Febre Chikungunya em reuniões semanais todas às quintas-feiras, com a participação da vigilância epidemiológica, controle vetorial, Lacen e atenção ao paciente, além de outras diretorias da Suvisa e da SESAB; - Elaboração e divulgação de boletim epidemiológico semanal; - Emissão de notas técnicas de alerta para todas as DIRES, Núcleos Hospitalares e Hospitais da Rede Estadual; - Entrevistas coletivas do Secretário de Saúde do Estado sobre a situação atual; - Realização do Encontro de Sensibilização sobre Chikungunya e Ebola em 24/09/2014, com 145 participantes entre profissionais da vigilância epidemiológica, controle vetorial e atenção ao paciente; - Elaboração do Plano Técnico de Resposta ao Surto por Febre Chikungunya para orientar os municípios (disponível em - Disponibilização de quatro veículos fumacê para contribuir na contenção dos surtos no bairro George Américo e regiões adjacentes e no município de Riachão do Jacuípe; - Disponibilização de equipamentos portáteis para realização de bloqueio de transmissão da doença; - Disponibilização de equipamento de proteção individual (EPI) aos municípios com transmissão para execução das atividades de bloqueio de casos; - Acompanhamento e monitoramento de todos os municípios com casos notificados no estado visando detectar precocemente o início da transmissão do Chikungunya.