A RECUPERAÇÃO DE NASCENTES COMO UMA ALTERNATIVA PARA A SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NO SÍTIO AMARO EM PALMEIRA DOS ÍNDIOS/AL 1

Transcrição

1 A RECUPERAÇÃO DE NASCENTES COMO UMA ALTERNATIVA PARA A SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NO SÍTIO AMARO EM PALMEIRA DOS ÍNDIOS/AL 1 Josefa Adriana Cavalcante Ferro de Souza Universidade Estadual de Alagoas drica333@hotmail.com Rosa de Lima Medeiros Neta Universidade Estadual de Alagoas - rosadelima1@uol.com.br Jorge Fernando dos Santos Guimarães Universidade Estadual de Alagoas - jorgeguima_23@hotmail.com Sângela Yrys da Hora Nascimento Universidade Estadual de Alagoas - sangela-kelly@hotmail.com Natany Kelly dos Santos Silva Universidade Estadual de Alagoas - natany-kelly@hotmail.com INTRODUÇÃO Considerando que a grande preocupação global com a água doce e potável do Planeta é uma responsabilidade de cada indivíduo para com o meio ambiente, esta pesquisa está centrada nas nascentes do Rio Coruripe, precisamente, no Sítio Amaro (Mapa 01) - zona rural do município de Palmeira dos Índios/AL visando contribuir com a natureza, no tocante aos mananciais e criando condições de abastecer seus usuários ao mesmo tempo em que contribui para manter a vazão dos riachos, córregos e, consequentemente, dos rios. Sítio Amaro Mapa 01: Localização da pesquisa. Fonte: CRH Coruripe, Projeto de Extensão da Universidade Estadual de Alagoas UNEAL, CAMPUS III, Palmeira dos Índios/AL, está em andamento.

2 A grande quantidade de nascentes existentes nesta região geográfica encravada no Planalto da Borborema apresenta condições ambientais preocupantes, pois os minadouros dos quais as famílias que ali residem consomem a água, encontram-se, em sua maioria, num estágio de degradação avançada. A área, em foco, enfrenta problemas como desmatamento, assoreamento e contaminação da água (Fotos 01 e 02), esta última comprovada através de análise realizada pelo Instituto de Meio Ambiente ( IMA/AL). Foto 01: Situação da água consumida no início da pesquisa. Fonte: Souza, Foto 02: Hospedeiros da esquistossomose. Fonte: Souza, A comunidade na qual está inserida esta pesquisa localiza-se no município de Palmeira dos Índios, Agreste alagoano. Esta região está situada em latitudes baixas, possui clima tropical megatérmico quente e subúmido, do tipo seco, durante quase todo ano. As temperaturas mensais pouco variam durante o ano, exceto, no período de novembro a abril, período seco, quando sobe até 34ºC com mínimas de 25ºC. No período chuvoso, que vai de maio a agosto, a temperatura diurna é bem mais acentuada que a noturna. O regime sazonal apresenta características da chamada zona do Agreste. (Enciclopédia dos Municípios Alagoanos, 2006). OBJETIVO O presente trabalho resulta de uma ação de intervenção na comunidade supracitada proveniente de diagnóstico realizado por meio de um projeto de extensão universitária pela Universidade Estadual de Alagoas em parceria com a Cooperativa Agropecuária Regional de Palmeira dos Índios, Prefeitura Municipal e Centro Educacional Cristo Redentor. Identificados os severos problemas enfrentados por aquela

3 comunidade no tocante ao consumo de água contaminada provocando uma série de doenças veiculadas pela água entre elas a esquistossomose, que até então provocava um alto índice de óbitos na comunidade, como também impactos ambientais nas nascentes do Rio Coruripe. Tendo em vista a necessidade de atuar de forma minimizadora dos impactos ambientais existentes nas nascentes, o Projeto de Recuperação de Nascentes, tem por objetivo a recuperação de nascentes, o reflorestamento, a geração de renda bem como a mitigação do êxodo rural na referida comunidade. O mesmo passou a atuar de forma eficaz nas nascentes degradadas, contribuindo intensamente com a fluidez da água nas minas e melhor qualidade de vida. METODOLOGIA Para maior amplitude do contexto foi necessário a busca de embasamento teórico. Para tanto, o estudo está baseado nos escritos de Leite (2005) onde discorre sobre o saber ambiental nos aspectos da atualidade globalizada e a busca pela sustentabilidade. Bouguerra (2004) que expõe sobre a batalha das águas, a luta por este recurso natural que é gerador de tantos problemas, como também ancorou-se em Guerra (2007) que discorre sobre os impactos ambientais e Boff (2012) que vem corroborar com seus escritos sobre a sustentabilidade. Esses subsídios teóricos permitiram compreender a realidade no que tange as intervenções do homem no meio. A temática envolvida trilha para um equilíbrio sustentável na área de estudo em relação ao meio ambiente, tendo assim a mesma, sido alvo de degradação ambiental pelas ações antrópicas: desmatamento, queimadas, pecuária, agricultura, comprometendo os mananciais da região. Mendonça (2004, p.10) vem contribuir no sentido de que essa degradação tem comprometido a qualidade de vida da população de várias maneiras, sendo mais perceptível na alteração da qualidade da água e do ar, nos acidentes ecológicos ligados ao desmatamento, queimadas.... Com a contribuição de Mendonça, pode-se perceber que os impactos ambientais oriundos das ações humanas são geradoras de desequilíbrio em todo ecossistema terrestre, como também Guerra (2007, p.33) traz sua contribuição no que tange a degradação a partir de outros fatores como superexploração de vegetação, atividades (bio)industriais e superpastoreio afetam intensamente o equilíbrio ambiental.

4 As águas das nascentes do Sítio Amaro encontravam-se sem condições de potabilidade, (comprovadas através de analises realizadas pelo IMA/AL), mesmo assim eram consumidas pelos habitantes da comunidade sendo veículo transmissor de doenças, como a esquistossomose, como também, utilizada para irrigar as hortaliças comercializadas na feira livre da sede do município. No Sítio Amaro residem 94 famílias (dados da pesquisa de campo, 2011) que tem como principal atividade econômica a horticultura familiar ( Fotos 03 e 04). Essa atividade é considerada tradicional, na comunidade, tendo em vista que durante a pesquisa constatou-se que essa prática existe há quase um século. Foto 03: Produção de hortaliças. Foto 04: Produção de hortaliças com mão de obra familiar. Para o desenvolvimento deste trabalho foi necessário recorrer aos seguintes instrumentos: pesquisa de campo, visitas técnicas aos locais, entrevistas com os moradores, levantamento das nascentes existentes na comunidade, avaliação da relevância destes mananciais para as famílias, como também o georeferenciamento das minas, as fotografias e os vídeos. Com a coleta de dados foi possível direcionar os trabalhos para os pontos mais cruciais do Sítio Amaro, sistematizando e desenvolvendo as ações propostas para a referida comunidade, tais como: recuperação e conservação das nascentes utilizando a técnica de solo e cimento 2. A mesma consiste no desassoreamento da nascente, cobertura com uma camada de rochas seguida da proteção com lona plástica e impermeabilização com o uso da mistura de solo e cimento. Este solo utilizado é retirado das proximidades da própria nascente. Recuperada a nascente, a água passa a 2 Técnica desenvolvida pelo Sr. Pedro Diesel, na Cooperativa de Cascavel/PR.

5 escoar por canos de PVC (Foto 05) e é levada até uma caixa d água (Foto 06) da qual será distribuída para os usuários, o excedente contribuirá para a alimentação do córrego, irrigação das hortaliças e manutenção dos tanques de peixes. Foto 05: Nascente recuperada. Foto 06: Caixa para armazenamento da água. O reflorestamento do entorno das minas, o mesmo acontece com a intervenção do grupo executor, juntamente com a comunidade local, envolvendo principalmente as crianças (Foto 07), por entender ser imprescindível a formação de cidadãos comprometidos com a recuperação, conservação e manutenção do entorno das nascentes. Foto 07: Ação de reflorestamento no Sítio Amaro Fonte: Souza, Outro fator importante é a melhoria na qualidade de vida das famílias beneficiadas, com a ampliação da fonte geradora de renda através da expansão do cultivo de hortaliças irrigadas com a água limpa proveniente das nascentes recuperadas. As hortaliças produzidas na comunidade são comercializadas nas feiras livres de

6 Palmeira dos Índios pelos próprios produtores. Além disso, o aumento da produção possibilitou o ingresso de famílias produtoras de hortaliças na Compra Direta Local da Agricultura Familiar (CDLAF). Os recursos provenientes dessa venda têm contribuído para o investimento em melhorias nas unidades de produção refletindo-se principalmente na substituição das moradias de taipas por alvenaria como também em reformas e ampliações das casas. Ainda merece destaque a identificação de famílias que haviam migrado para a cidade e após os primeiros resultados do projeto de Recuperação de Nascentes retornaram para o campo, retomando a produção de hortaliças. É importante ressaltar ainda, a diversificação da produção com a introdução de piscicultura (Foto 08) e a criação de galinhas caipira (Foto 09), atividades antes inexistentes na comunidade. Foto 08: Tanque de criação de peixe Foto 09: Criação de galinha caipira. Nesse sentido, a ampliação e diversificação das atividades econômicas geradoras de renda para as famílias do Sítio Amaro garantem a permanência das mesmas no campo acompanhadas por uma melhoria das condições de vida. Além disso, o projeto de Recuperação de Nascentes possibilitou a percepção da importância de manter a tradição local do plantio de hortaliças atrelado ao respeito ao meio ambiente. Respeito este, resgatado através de ações educativas nas quais os moradores reconhecem a importância de consumir água limpa tanto para o uso doméstico como nos outros usos na comunidade, entre eles a irrigação de hortaliças.

7 RESULTADOS Após os trabalhos de recuperação de quatorze nascentes obteve-se como resultados preliminares: desassoreamento das minas brotando água límpida e potável em maior quantidade para as famílias ali residentes. Além da contribuição para a manutenção dos córregos, que antes estavam sem água porque a mesma estava represada, para o uso na irrigação de hortaliças, principal atividade econômica da comunidade. Mesmo num curto espaço de tempo (dezoito meses) as transformações são perceptíveis e significativas com relação à melhoria da qualidade de vida, redução da incidência de doenças de veiculação hídrica (informações da Secretaria Municipal de Saúde), percepção da necessidade de conservação, pelos moradores, e preservação do meio ambiente aliada a possibilidade de aumento na produtividade. Dessa forma, constata-se um exemplo de efetiva sustentabilidade socioambiental. O rápido resultado obtido deve-se a aceitação da comunidade e a compreensão da urgência de uma ação efetiva que contribuísse para a melhoria da qualidade de vida dos moradores, principalmente, no tocante à saúde dos mesmos. Os relatos de doenças e óbitos provocados por doenças de veiculação hídricas são impressionantes. Garantir água potável, estimular a ampliação da horticultura e a implementação de outras atividades econômicas na comunidade, acompanhadas por ações de recuperação ambiental dessas áreas em torno das nascentes, asseguram a sustentabilidade socioambiental naquela comunidade. BIBLIOGRAFIA BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é o que não é. Petrópolis: Vozes, BOUGUERRA, Mohamed Larbi. As batalhas da água: por um bem comum da humanidade.trad. João Batista Kreuch. Petrópolis, Vozes, CAMARGO, Ana Luiza de Brasil. Desenvolvimento sustentável: dimensões e desafios. Campinas: Papirus, GUERRA, Antônio José Teixeira (Org.). A questão ambiental: diferentes abordagens. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, LEITE, Marcelo. Meio ambiente e sociedade. São Paulo: Editora Ática, MENDONÇA, Francisco de Assis. Geografia e meio ambiente. 7ª ed. São Paulo: Contexto, 2004.