retrato SERÁ QUE VALE A PENA? Dúvidas sobre duas sentenças do juiz que encanta o Brasil dobrasil

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1 retrato 9 7> LIVRO COMO TORTURADORES E OUTROS AGENTES DA REPRESSÃO ENXERGAM O QUE FIZERAM NO DOI-CODI dobrasil R$ 11,00 NO 97 AGOSTO DE 2015 SERÁ QUE VALE A PENA? Dúvidas sobre duas sentenças do juiz que encanta o Brasil CIÊNCIA O BRASIL JÁ TEM UM PLANO DE PESQUISA E QUER RECONSTRUIR SUA BASE PARA ATUAR NA ANTÁRTIDA caparb97.indd 1 31/07/15 13:38

2 AERO PORTO IN Os investimentos que já desembarcaram em Pernambuco confirmam: o Estado está pronto para ser hub. TE RN I AC O N AL DO SG UAR A RAPES Fortaleza RECIFE Aracaju km A 300km de: 3 capitais 3 aeroportos internacionais 2 aeroportos regionais 5 portos internacionais 16 milhões de habitantes Mais de 35% do PIB do Nordeste Salvador 80 0 A 800km de: 6 capitais 5 aeroportos internacionais 10 portos internacionais 36 milhões de habitantes 90% do PIB do Nordeste B RB97pv.indd 2 31/07/15 13:38

3 HubLATAMnoRecife A Latam, formada pela Lan Airlines e pela TAM, vai escolher uma capital do Nordeste como hub, centro de conexões de voos domésticos e internacionais da companhia. E a capital pernambucana oferece as melhores condições para tal. Com localização privilegiada em relação às E demais capitais nordestinas, Recife já funciona como central logística SU AP regional. A sua Região Metropolitana apresenta o maior PIB do DE Norte-Nordeste, concentrando diversos polos de desenvolvimento. Pernambuco já é o maior hub de carga de portos e aeroportos do O P T OR Nordeste. O Aeroporto Internacional dos Guararapes é considerado o melhor do Brasil, tem acesso rápido a uma ampla rede hoteleira e estrutura para receber um fluxo bem maior de cargas e passageiros. No litoral sul, Suape conta com um dos melhores portos do País e mais de 100 empresas instaladas. E o desenvolvimento não se restringe ao litoral. A chegada da fábrica da Jeep, em Goiana, deu início à formação de um polo automotivo na Mata Norte. Indústrias de diversos outros segmentos estão desembarcando também no Interior, fortalecendo a economia do Estado por inteiro. Há 8 anos, Pernambuco é o estado que mais cresce no Nordeste, apresentando resultados sempre acima da FÁBRICA DA J Região Metropolitana do Recife PIB: R$ 76 bilhões turístico médico tecnológico logístico B RB97pv.indd 3 média nacional. Mais do que qualquer outro estado do Nordeste, P EE estamos prontos para o #HubLATAMnoRecife. Complexo Industrial Portuário de Suape 105 empresas em operação 45 empresas em instalação Movimentação de cargas no porto: 15,2 milhões t Aeroporto Internacional dos Guararapes Melhor aeroporto do Brasil Terminal com 52 mil m2 Capacidade para 16,5 passageiros/ano Automotivo da Jeep 1ª fábrica da marca fora dos Estados Unidos Produção de 250 mil veículos/ano s de desenvolvimento no Interior Gesseiro do Araripe Indústrias de alimentos e bebidas de Confecções do Agreste Fruticultura no Vale do São Francisco 31/07/15 13:38

4 retrato dobrasil N O 97 AGOSTO DE Ponto de Vista A TÁTIcA Do MenSALÃo na LAVA-JATo Sergio Moro, juiz da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, tenta reproduzir o truque da condenação de Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil, pelo STF 8 UM estudo De DUAS SenTenÇAS Na Operação Lava-Jato, detalhes das punições que atingem dirigentes da Camargo Corrêa põem em dúvida decisões do juiz Moro [Raimundo Rodrigues Pereira] 14 TenTATIVA e erro A desoneração da folha de pagamentos, uma brincadeira cara, segundo o ministro Levy, foi alterada. Mas há quem a defenda [Sônia Mesquita] 18 PRofeTAS Do MeDo A violência aumentou, mas poderia ser pior sem o Estatuto do Desarmamento, que corre o risco de ser revogado pelo Congresso [João Peres, Moriti Neto e Thiago Domenici] 22 MASSAcRe ou BATALHA? Vinte anos depois, o debate sobre a morte de 12 pessoas durante a retirada de posseiros em Corumbiara, no sul de Rondônia, permanece aberto [João Peres] 24 A SoBReVIDA Do obamacare A reforma do sistema de saúde feita pelo presidente americano ganha fôlego com decisão da Justiça, mas deve enfrentar novos e fortes desafios [Tânia Caliari] 28 o DeSeMPReGo InVISÍVeL Entenda por que o salário dos trabalhadores americanos está estagnado, enquanto o mercado de trabalho dos EUA se aproxima da situação de pleno emprego [Armando Sartori] 32 MATRIMÔnIo RePAGInADo Na Irlanda e nos EUA, o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecido constitucionalmente. Vai ajudar a reduzir a discriminação dos gays? [João Peres, Moriti Neto e Thiago Domenici] 34 em BUScA DA excelência O Brasil já tem um plano de pesquisa para a Antártida e pretende reconstruir sua base no continente. Tudo isso para garantir sua presença econômica por lá [Evanildo da Silveira] 38 UM PATRIMÔnIo em cacos As pesquisas da área do Valongo, no Rio, por onde passaram centenas de milhares de escravos, revelam enorme riqueza cultural. Mas seguem em ritmo lento [Rogério Pacheco Jordão] 40 como Se ALIMenTA UM MonSTRo Em A casa da vovó, o jornalista Marcelo Godoy conta a história do Doi-Codi de São Paulo como vista pelos agentes da repressão política [Fernanda Pompeu] fale conosco: atendimento@editoramanifesto.com.br ATenDIMenTo Ao ASSInAnTe assinatura@retratodobrasil.com.br Entre em contato com a redação de Retrato do Brasil. Dê sua sugestão, critique, opine. Reservamo-nos o direito de editar as mensagens recebidas para adequá-las ao espaço disponível ou para facilitar a compreensão. retrato dobrasil Retrato do BRASIL é uma publicação mensal da Editora Manifesto S.A. editora MAnIfeSTo S.A. PRESIDENTE Roberto Davis DIRETOR VICE-PRESIDENTE Armando Sartori DIRETOR EDITORIAL Raimundo Rodrigues Pereira expediente SUPERVISÃO EDITORIAL Raimundo Rodrigues Pereira EDIÇÃO Armando Sartori EDIÇÃO DE ARTE Pedro Ivo Sartori REVISÃO Silvio Lourenço [OK Linguística] COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Evanildo da Silveira Fernanda Pompeu João Peres Moriti Neto Rogério Pacheco Jordão Sônia Mesquita Tânia Caliari Thiago Domenici FOTO DA CAPA Reprodução REPRESENTANTE EM BRASÍLIA Joaquim Barroncas 4 retratodobrasil AGOSTO/2015

5 Reprodução Ponto de Vista A tática do mensalão na Lava-Jato O juiz Sérgio Moro copia o truque da condenação de Henrique Pizzolato pelo STF A certa altura de sua sentença de 20 de julho último na ação penal da Operação Lava-Jato que condenou os dirigentes da empreiteira do grupo Camargo Corrêa, o juiz Sérgio Moro se viu diante do argumento da defesa de um dos réus, segundo o qual ele não pode ser condenado ao mesmo tempo por corrupção e por lavagem de dinheiro crime que exige um outro, antecedente, que dê origem ao dinheiro sujo. A corrupção é cometida com o dinheiro lavado, portanto, depois da lavagem. Por uma questão de lógica, o defensor argumentou, o crime de corrupção, posterior ao da lavagem, não poderia ser o antecedente. Moro relembrou então que a mesma questão foi debatida à exaustão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da Ação Penal 470 (AP 470), a do famoso mensalão. Nela, por unanimidade, o STF condenou Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil (BB), por corrupção e lavagem, mas também por peculato. O peculato, o desvio de dinheiro do BB, que Pizzolato teria cometido, e não a corrupção, seria o crime antecedente à lavagem, viabilizando essa modalidade de condenação, escreveu Moro. A lembrança é oportuna, a nosso ver, por uma razão oposta: o peculato não existiu. Na edição de Retrato do Brasil de dezembro de 2012, com o título de A prova do erro do STF, publicamos a lista completa e os comprovantes da realização de todos os 83 serviços de promoção e marketing realizados pelo BB com o dinheiro supostamente desviado por Pizzolato. Além disso, nas edições seguintes, publicamos mais detalhes dessa lista de pagamentos, como recibos de transferência eletrônica de dinheiro da empresa de publicidade encarregada dessas promoções para contas de TV Globo Ltda. e da Editora Globo, por anúncios publicados nessas empresas daquele que é o maior grupo de mídia do País. RB fez mais no desmascaramento da tese, promovida em ampla escala pela grande mídia conservadora, de que o governo petista desviara dinheiro público para subornar parlamentares e apoiar seu programa de governo nos anos de 2003 e Em junho de 2013, no artigo A trama dos três acusadores, analisamos o comportamento do então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que en- EDIÇÃO 97 retratodobrasil 5

6 caminhara a denúncia do mensalão ao STF. Souza, dissemos, era sabedor da importância de provar que o peculato teria havido e certamente não estava muito convencido da veracidade dessa tese bombástica que havia adquirido amplo apoio da opinião pública formada pelos próprios meios de comunicação conservadores. Mas, de fato, não mandou investigar o peculato. Ao contrário, o enviou para uma espécie de porão da investigação. Num simples asterisco da denúncia, de número 99, como mostrou RB, ele escreveu que o peculato teria sido cometido não apenas por Pizzolato, mas por outras pessoas do BB. Esse era um fato óbvio, pois para a liberação de qualquer verba relevante no banco são necessárias muitas assinaturas. Mas, com essa canetada, Souza apenas fez que queria mesmo investigar o tal crime antecedente da lavagem de dinheiro de Pizzolato. De fato, como se sabe, essa investigação não foi feita até hoje... O truque usado pelos conservadores para aprovar o mensalão está sendo reeditado agora, com mais celeridade, na Operação Lava-Jato. O grande desvio de dinheiro público que está sendo propagandeado, junto com os feitos heroicos dos promotores da operação, seria o cometido por um cartel de empreiteiras brasileiras. Por meio do suborno de dirigentes da Petrobras, uma associação criminosa de diretores dessas empresas teria conseguido fraudar as licitações da companhia para a contratação de obras e, com isso, obter nessas licitações um sobrepreço suficiente para pagar as propinas a serem dadas tanto aos funcionários da estatal como aos políticos, cujo papel seria o de apoiar a manutenção desses administradores corruptos nos postos de comando da empresa. E, ainda a repetir o exemplo do mensalão, a prova do grande e tenebroso crime de cartel, pai de todos os outros, vai sendo hoje, na Lava-Jato, empurrada para a frente e a ação penal específica sobre esse monstro não sai, enquanto a opinião pública é contemplada todos os dias com aqueles que seriam os escabrosos detalhes de sua suposta existência. A história de duas sentenças do juiz Moro que envolvem os empreiteiros da Camargo Corrêa (ver Um estudo de duas sentenças, nesta edição) é um exemplo prático de que a prova da existência do cartel ainda não existe e de que a investigação da existência desse monstro é precária. Nas duas sentenças, Moro fala da existência do cartel e de seus malefícios. Por meio de acerto entre os empreiteiros, teria havido fraude na licitação de dois contratos obtidos pela Camargo Corrêa, no valor total de 5,8 bilhões de reais, para obras nas refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Presidente Vargas, no Paraná. Com o sobrepreço conseguido, teria sido comprovado, entre outros, o pagamento, pela Camargo, de ,56 reais em propinas a um dos dirigentes da Petrobras, já identificado e confesso: Paulo Roberto Costa, então diretor da área de Abastecimento da companhia. O cartel e o acerto fraudulento das licitações não são objeto de nenhuma das duas ações penais, diz Moro. Mas esses crimes são a causa original de tudo, ele repete várias vezes. Na segunda sentença, Será que a Andrade Gutierrez e a Odebrecht combinaram perder as duas maiores obras da Petrobras para a Camargo Corrêa, numa boa? Moro acha que sim Moro diz mais: que, embora o cartel e a fraude nas licitações não sejam objeto específico das ações penais, é forçoso reconhecer a existência de prova significativa de que os dois contratos obtidos pela Camargo Corrêa [...] foram obtidos através deles. Quais são essas provas? Moro apresenta duas que seriam as principais: os dois contratos ganhos pela Camargo e o depoimento de um delator, Mendonça Neto, da empresa Toyo Setal. Mendonça Neto conta a história do cartel em 11 fases, desde o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, e conclui que o auge dessa cartelização nas licitações para reforma das antigas e construção das novas refinarias da Petrobras foi a partir de 2006 nos governos do PT, portanto e que o cartel praticamente se desmanchou em 2011, no início do governo da presidente Dilma Rousseff. Qual o grande problema dessa prova? As grandes licitações da Petrobras são as da reforma da refinaria do Paraná, de 2006, a da construção da nova de Pernambuco, de 2009, e as feitas para as principais obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Estas últimas são de 2013, quando, segundo o grande teórico do cartel apresentado por Moro, ele já não existia. A Camargo Corrêa ganhou as outras duas grandes obras, em concorrências nas quais estiveram presentes as duas maiores empreiteiras do País, a Andrade Gutierrez e a Odebrecht. Isso é prova de que havia um grande acerto entre elas, ou é, exatamente, prova do contrário? Parece-nos que não tem sentido uma das três grandes ganhar as duas principais concorrências num acerto do qual teriam participado todas as três. Como isso teria acontecido? Por altruísmo da Odebrecht e da Andrade em relação à Camargo Corrêa? Qualquer criança que estude o mundo dos negócios sabe que isso não existe. Como sabem todos que acompanham o setor de petróleo no Brasil, o Decreto 2.745, de 1998 do governo FHC, portanto, tirou as licitações da Petrobras do regime geral de licitações do setor público, regido pela Lei 8.666/93. Foi instituído, então, para a empresa, o Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado. Não há grande diferença entre o Decreto 2.745/98 e a Lei 8.666/93. A diferença principal é que, pelo decreto, o regime de licitações por meio de carta-convite é amplo. Isso se explica porque na indústria do petróleo é preciso que existam fornecedores especializados. A maioria dos produtos comprados pelas petroleiras não é de prateleira, como se diz; são produtos customizados, ou seja, feitos sob encomenda, nos quais a qualificação do fornecedor é fundamental. Em vez de fazer concorrência pública para compras de equipamentos especiais, as licitações são feitas a partir de cartas-convites. Na Petrobras, uma comissão especializada faz um estudo detalhado da obra que se pretende contratar e levanta o preço de sua construção a partir no mercado. A Petrobras segue uma regra internacional para avaliar as propostas apresentadas pelas empresas especializadas convidadas a participar da disputa. Admite flutuações entre menos 6 retratodobrasil AGOSTO/2015

7 de 15% do valor do orçamento que calcula e 20% acima desse orçamento-base. O orçamento da Petrobras só é fechado 24 horas antes do recebimento das propostas. E isso é feito por uma única pessoa. Em caso de vazamento, sabe-se exatamente quem vazou. A Petrobras, no seu apogeu recente, fazia 240 mil contratos por ano e, embora nem todos sejam feitos depois de licitações, a licitação é uma prática usual, frequente. São milhares de comissões de licitação. O respeito ao sigilo do orçamento é um valor e um elemento fundamental na prática da empresa, e não há evidências de vazamento dessas questões. Nos depoimentos prestados à Justiça Federal, mesmo os delatores Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e Pedro Barusco afirmaram que a comissão de licitação não sofria interferências. Costa disse explicitamente em depoimento: Nunca tive nenhuma referência de ter havido vazamento de informações. Mesmo qualquer diretor da Petrobras ou o presidente, se solicitasse a essa comissão ter o preço antecipado, a resposta iria ser não. A partir do escândalo criado com a história do gigantesco esquema de corrupção que existiria em decorrência do cartel das grandes empreiteiras associadas a uma malta de políticos, diretores da Petrobras e intermediários corruptos, abre-se a porta para os aventureiros de sempre que dizem ser a corrupção o grande problema do País e se apresentam como salvadores da pátria, como o foram Jânio Quadros em 1960, os militares chefiados pela trinca Castello Branco, Golbery do Couto e Silva e Ernesto Geisel em 1964 e Fernando Collor de Mello em A corrupção, ao contrário do que o povo pensa, é, no máximo, 10% dos problemas de um país, como pode ser verificado por qualquer pessoa de mediano estudo e conhecimento. O combate à corrupção é difícil em todos os países. E, no sistema capitalista no qual vivemos, injusto por sua própria natureza, mesmo no lucro obtido legitimamente pelos donos das empresas, a parte referente à corrupção está embutida. Não basta, portanto, a boa intenção de dizer que a corrupção é um mal que precisa ser combatido em qualquer canto, doa a quem doer. De boas intenções, como se sabe, o inferno está cheio. EM DEFESA DA PETROBRAS O depoimento de José Sergio Gabrielli, ex-presidente da companhia, na CPI que investiga o escândalo Desde 2006, a Petrobras segue as regras da contabilidade internacional e a Lei Sarbanes-Oxley, dos EUA. Essa lei foi feita por dois congressistas americanos, a partir do escândalo da Enron. Obriga as empresas internacionais a ter, em suas contabilidades, certificações anuais dos processos de controle interno da companhia. Em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011 a Petrobras teve seus controles internos certificados por uma das grandes auditoras internacionais, a KPMG. Segundo o parecer dessa empresa, os controles internos da Petrobras estão de acordo com os requisitos da contabilidade internacional. Os certificados referentes a 2012 e 2013 foram emitidos pela PwC, PricewaterhouseCoopers. A Price, no entanto, não certificou os controles de 2014 por causa das denúncias feitas pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa. Tanto Costa como o gerente Pedro Barusco confessaram que se apropriaram privadamente de recursos e que essa apropriação respeitou as regras internas da estatal. Os processos de compra da Petrobras e os processos de contratação são gigantescos. As comissões de licitação funcionam. A orçamentação interna da Petrobras funciona como se fosse um concorrente na licitação. Os orçamentos não vazaram. Os orçamentos e os custos estavam de acordo com as realidades de mercado, portanto não estavam com superfaturamento na sua contratação. Esses resultados e esses processos internos permitiam uma negociação. Todos esses números, todas essas questões estão dentro dos parâmetros aceitos pela Petrobras. Portanto, são impossíveis de ser percebidos como ato de corrupção. O ato de corrupção, o ato do pagamento de propina, ocorre na negociação de algumas pessoas, associadas criminalmente a fornecedores externos que dividem seu lucro, obtido por eles legitimamente, porque dentro das margens da Petrobras. Quando o Costa já havia feito a sua delação premiada, a Petrobras contratou dois grandes escritórios mundiais especializados em investigação. Segundo a imprensa, há 2 mil gerentes da Petrobras sendo observados. Apesar disso, hoje, quase um ano depois, com a Operação Lava-Jato, conduzida por procuradores, juízes, policiais federais, com centenas de investigadores, não há uma posição final definitiva sobre isso. Descobrir a corrupção não é fácil. Tanto é que o Barusco, por exemplo, confessou que fazia isso havia 18 anos e não foi pego. Além do mais, dada a crise que o clima de escândalo provoca, há um risco sobre o qual é preciso chamar a atenção. Cerca de 1 milhão de postos de trabalho estão associados à cadeia de produção de petróleo e gás no Brasil Se nós desmontamos essa cadeia, os empreiteiros, os fornecedores e os subfornecedores da Petrobras podem não resistir, o que significa termos uma substituição desses fornecedores por fornecedores internacionais. Ou seja, podemos atrasar mais ainda os processos de implantação dos projetos de infraestrutura e a defesa da economia nacional. Agência Câmara EDIÇÃO 97 retratodobrasil 7