Instado à exibição dos documentos originais (f.193), o Autor esquivou-se de fazê-lo (f.194).

Transcrição

1 SENTENÇA ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte Vistos, etc. I - RELATÓRIO Nilton Antônio Monteiro ajuizou ação de indenização contra Samarco Mineração S/A, José Tadeu de Morais e Itamar Antônio da Silva, partes qualificadas, aduzindo, em suma, que: a 1ª Ré promoveu representação criminal contra si, através de procuração outorgada pelo 2º e 3º Réus, acusando-o de falsificar documentos (termo de acordo e instrumento de mandato) e tentar obter vantagens financeiras indevidas; por conta disso, foi instaurado inquérito policial ( ), onde foram realizados laudos periciais nos quais restou atestada a autenticidade das assinaturas atribuídas aos representantes da 1ª Ré, cujas firmas foram reconhecidas por semelhança em cartório; ao final, a Autoridade Policial elaborou relatório onde concluiu pela insubsistência da representação criminal, e ainda indiciou o 2º e 3º Réus, respectivamente, nas sanções dos arts.339 (denunciação caluniosa) e 342 (falso testemunho) do Código Penal. Requereu, assim, reparação pelo dano moral suportado. Pediu a justiça gratuita (f.04/74). Os Réus contestaram, alegando, em síntese, que: o Autor é notório falsário e reconhecido por sua participação em escândalos políticos; os documentos foram montados e periciados através de cópias; as assinaturas foram escaneadas e coladas; é indispensável a realização de perícia no âmbito judicial sobre os originais dos documentos. Pediram a improcedência (f.143/184). O Autor ofertou impugnação (f.185/190). A produção da prova pericial grafotécnica restou deferida (f.193), assentando-se que alcançaria ambos os feitos, e seria realizada no bojo dos autos conexos (f.252/253). Instado à exibição dos documentos originais (f.193), o Autor esquivou-se de fazê-lo (f.194). O Autor juntou documentos novos às f.254/429, 435/451, 452/511. Autos Nilton Antônio Monteiro ajuizou ação de indenização contra Francisco Américo França, partes qualificadas, aduzindo, em suma, que: o Réu promoveu representação criminal contra

2 si, acusando-o de falsificar documentos (procuração outorgada em favor do Autor por Samarco Mineração S/A, então representada pelo Réu, e termo de acordo) e tentar obter vantagens financeiras indevidas; por conta disso, foi instaurado inquérito policial ( ), onde foram realizados laudos periciais nos quais restou atestada a autenticidade da assinatura atribuída ao Réu, cuja firma foi reconhecida por semelhança em cartório; ao final, a Autoridade Policial elaborou relatório onde concluiu pela insubsistência da representação criminal, vindo o Juízo competente a acolher parecer ministerial pelo arquivamento. Requereu, assim, reparação pelo dano moral suportado. Pediu a justiça gratuita. O Réu contestou, alegando, em síntese, que: o Autor é notório falsário e reconhecido por sua participação em escândalos políticos; os documentos foram montados e periciados através de cópias; as assinaturas foram escaneadas e coladas; é indispensável a realização de perícia no âmbito judicial sobre os originais dos documentos. Pediu a improcedência (f.46/135). O Autor ofertou impugnação (f.136/139). Sobreveio encaminhamento de cópia integral dos autos pelo Juízo da Vara de Inquéritos Policiais (f.257/372). Instado à exibição dos documentos originais (f.402), o Autor esquivou-se de fazê-lo, alegando que teriam sido apreendidos e estariam em poder da Polícia Civil (f.403/406). A produção da prova pericial grafotécnica comum a ambos os feitos restou deferida (f.410). Documentos novos juntados pelo Réu às f.431/444 e 696/736, e pelo Autor às f.457/559, 587/603 e 611/670. Seguiu-se indeferimento do requerimento de substituição da Perita Oficial nomeada, formulado pelo Autor (f.585). Em apenso, ainda foi apresentada exceção de suspeição da Perita, rejeitada liminarmente (autos ) (f.671/672). Instada a encaminhar ou disponibilizar os documentos originais para perícia (f.410 e 574), a Autoridade Policial respondeu, levantando suspeita quanto à autenticidade das peças (f.673/685). Instado a encaminhar ou disponibilizar os documentos originais para perícia (f.692/693), o Juízo da Vara de Inquéritos Policiais noticiou que os autos de IP foram extraviados e posteriormente restaurados, constando de seu bojo, portanto, somente cópias de documentos (f.694/695). É o relatório. Decido.

3 II FUNDAMENTAÇÃO CONJUNTA Procedo ao julgamento conjunto das lides, no estado em que se encontram, reputando-se prejudicada a produção da prova pericial grafotécnica, ante à inexistência dos documentos originais, indispensáveis para realização do exame técnico (f.608, 694 e 739). Ao exame acurado dos autos, forma-se o livre convencimento motivado de que as pretensões deduzidas não merecem prosperar, compreendendo-se que o Autor não logrou comprovar satisfatoriamente os fatos constitutivos de seu direito (art.333, I do CPC). As lides versam sobre acusações supostamente infundadas de falsificação de documentos, atribuídas ao Autor pelos Réus, através de representações criminais. Logo, nada mais elementar do que a realização de exame pericial sobre a documentação original, no bojo do processo judicial, sob o crivo do contraditório, para apuração da autenticidade ou não das peças controvertidas. Irrelevante que já se tenha feito análise pericial por peritos criminais, no âmbito da investigação policial instaurada, máxime quando realizada sobre cópias, quando os próprios experts ressalvaram: No entanto, cabe às signatárias esclarecer que os documentos montados ou alterados, quando reprografados, nem sempre deixam vestígios visualizadores da falsificação, sendo importante salientar que torna-se necessária a apresentação dos documentos originais, para emitir uma conclusão categórica acerca da integridade documental ; circunstância que, inclusive, determinou o arquivamento do IP, face à impossibilidade se atestar conclusivamente autenticidade ou falsidade (f.60-v e 66/74 autos , e f.23/24 e 31/32 autos ). Não obstante, mesmo que porventura tenha ocorrido análise pericial por peritos criminais sobre algum(ns) documento(s) original(is), ainda assim, subsistiria a necessidade imprescindível de realização da perícia grafotécnica no bojo do processo judicial, sob o crivo do contraditório. Com efeito, os Réus sustentam peremptoriamente em sua defesa que o Autor é falsário e montou os documentos, escaneando e colando assinaturas; daí a indispensável necessidade da análise pericial sobre os originais, no âmbito do processo judicial, por profissional da confiança do Juízo, sob pena de se inviabilizar, por via oblíqua, o próprio direito processual da parte ré de demonstrar a veracidade de suas alegações. Igualmente irrelevante que constem reconhecimentos de firmas, por semelhança, sobre os documentos, visto que tal circunstância, por si só, não elide a possibilidade de falsificação, passível, em tese, de ser apurada pericialmente. A seu turno, extremamente relevante destacar que, instado à exibição dos documentos originais, o Autor esquivou-se de fazê-lo, alegando que teriam sido apreendidos e estariam em poder da Polícia Civil (f.402/406 autos ).

4 Ato contínuo, instada a encaminhar ou disponibilizar os documentos originais para perícia, a Autoridade Policial respondeu, levantando suspeita quanto à autenticidade das peças apresentadas pelo Autor, alertando para o erro grosseiro de ortografia constante do título do documento, grafado como AUTO DE EXIBIÇÃO E APREENÇÃO, com ç no lugar do s, e com denominação diversa daquela usualmente empregada nos modelos oficiais (AUTO APRESENTAÇÃO E APREENSÃO E/OU AUTO DE APREENSÃO) (f.410, 574 e 673/685 autos ). Não bastasse, e para tornar o caso ainda mais intrigante, instado a encaminhar ou disponibilizar os documentos originais, o Juízo da Vara de Inquéritos Policiais noticiou que os autos de IP foram extraviados e posteriormente restaurados, constando de seu bojo, portanto, somente cópias de documentos (f. 692/695 autos ); inviabilizando definitivamente o exame pericial judicial sobre os originais. Lado outro, inexiste prova de que os réus José Tadeu de Morais e Itamar Antônio da Silva efetivamente tenham sido denunciados pelo Ministério Público nas sanções dos arts.339 (denunciação caluniosa) e 342 (falso testemunho) do Código Penal, a despeito do relatório da Autoridade Policial (f.58 autos ). Muito menos, por consectário, há prova de condenação criminal dos mesmos, a repercutir na esfera cível (art.935 do CC/2002 e art.63 do CPP). Noutra quadra, o oferecimento de representação criminal contra o Autor, por si só, não configura ato ilícito ou abuso de direito, antes pelo contrário, retrata exercício regular de direito. De fato, a persecução penal constitui monopólio estatal. Os Réus provocaram a autoridade policial competente para apuração de delitos em tese, dos quais se reputavam vítimas. Irrelevante que a(s) representação(ões) criminal(is) tenha(m) sido arquivada(s). Até porque, do contrário, forçoso seria concluir que qualquer arquivamento de inquérito policial ou absolvição pronunciada pelo juiz criminal sempre ensejaria indenização. E neste caso, várias pessoas sentir-se-iam inibidas e desencorajadas de denunciar possíveis delitos, para deleite de eventuais infratores e notório prejuízo do Estado e da sociedade. Então conclui-se que tudo isso faz parte da cena democrática. Trata-se de mal necessário dentro de uma sociedade constituída em estado democrático de direito, onde ninguém está imune a ser investigado ou processado, sempre resguardado o direito de ampla defesa e assegurada reparação de danos decorrentes de eventuais excessos, que, a nosso aviso, não restaram delineados no caso vertente. Por fim, não se pode deixar de pontuar que o Autor figura como parte em diversos processos cíveis e criminais, consoante relação anexa.

5 III - DISPOSITIVO Ante o exposto, julgo improcedente o pedido. Condeno o Autor no pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios que arbitro em R$2.000,00, com apoio no art.20, 4º do CPC, suspensa a exigibilidade porquanto amparado pela gratuidade processual. Autos Ante o exposto, julgo improcedente o pedido. Condeno o Autor no pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios que arbitro em R$2.000,00, com apoio no art.20, 4º do CPC, suspensa a exigibilidade porquanto amparado pela gratuidade processual. P.R.I. Oportunamente, arquivem-se com baixa. Traslade-se cópia desta para os autos em apenso. Belo Horizonte, 03 de março de EDUARDO VELOSO LAGO Juiz de Direito