Dimensões emergentes dos programas para superdotados *
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- Flávio Dias da Costa
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1 Dimensões emergentes dos programas para superdotados * MARIA HELENA NOVAES ** Realizou-se em Atlanta, Georgia (EUA), nos dias 11, 12 e 13 de dezembro de 1975 a Conferência Regional de Superdotados patrocinada pelas Associações da Florida e da Georgia. Compareceram cerca de 400 membros, na sua maioria da California, Florida, Georgia, Virginia, Kentucky, Utah, Tennessee, Mississipi, Connecticut e South Dakota. O Brasil, através do seu único representante, foi presença notada, despertando curiosidade o fato de estar presente a uma conferência regional norteamericana, tendo-lhe sido formuladas muitas perguntas sobre a educação dos superdotados na realidade educacional brasileira. A temática geral versou em torno das "dimensões emergentes dos programas para super dotados", tendo sido planejados trabalhos de discussão em grupo, * Impressões sobre a Conferência Regional da Associação Norte-Americana de Supcrdotados, Atlanta, Georgia, * * Psicóloga do ISOP. Arq. bras. Psic. ap!., Rio de Janeiro, 28 (3): , jui./sct. 1976
2 exposições de material, conferências de plenário e apresentação de experiéncia práticas. Os especialistas convidados para as sessões plenárias foram os atuais lídere~ desse movimento nos EUA, destacando-se Irving Sato, diretor do Instituto de Liderança para os Superdotados de Los Angeles, que discorreu sobre a temática "motivação e superdotados"; Calvin Taylor, muito conhecido por seus livros já traduzidos para o português, que abordou o tema "criatividade e os superdotados"; Thelma Epley, especialista em currículos da California, que propôs. estratégias curriculares para os superdotados; I ames Gallagher, atual diretor do Centro de Desenvolvimento Infantil; Frank Porte r Graham, de North Carolina, que apresentou as diretrizes básicas para a mobilização de recursos para superdotados; e, finalmente, Ioe Renzulli, psicólogo e professor da Universidade de Connecticut que discorreu sobre a problemática da avaliação dos superdotados e dos programas educacionais; de passagem, registre-se que ele acaba de editar livro sobre tal assunto. A impressão mais forte da conferência foi a de ter sido como que a antevisão do que se poderá fazer no Brasil, em perspectiva de curto, médio ou longo prazos, uma vez que propiciou a oportunidade de participação em experiências e projetos que se desenvolvem há alguns anos; também se pôde discutir os trabalhos e, sob re'tudo, analisar alternativas de atendimento e dificuldades enfrentadas por professores e especialistas na área. Evidenciou-se o grande interesse das autoridades públicas neste setor, bem como das universidades em patrocinar programas e projetos, havendo uma grande quantidade de recursos financeiros disponíveis, como vimos no projeto SP ARK da Louisiana. Por outro lado, a apresentação do trabalho das equipes de programas de enriquecimento, como o das universidades de South Florida e de PaIm Beach, forneceu dados e sugestões valiosos para o atendimento aos superdotados, tendo sido discutidos os problemas havidos com professores, pais e diretores, bem como com a comunidade em geral. A programação da Conferência seguia os temas apresentados pelos conferencistas, com sessões de grupo e de discussão, o que favoreceu o contato pessoal com representantes de diversas regiões dos EUA. Dentre os trabalhos práticos que foram apresentados, destacamos a objetividade, o espírito prático e a preocupação de ilustrar e exemplificar o que era afirmado, e, sobretudo, de operacionalizar as estratégias curriculares e de comprovar os resultados provindos da eficácia da aprendizagem. Assim, relatam, através de experiências em classe, como se consegue desenvolver habilidades tais como iniciativa pessoal, independência de pensamento, originalidade, pensamento crítico, hábitos de estudo independente, socialização e assim por diante. De maneira geral, os recursos materiais apresentados são originais, procurando desenvolver e enriquecer as técnicas e as propostas curriculares através de exercícios criativos, jogos e sugestões variadas. 142 A.B.P.A. 3/76
3 Dentre as indagações freqüentemente colocadas destacaram-se: Por que necessitamos de programas especiais para os superdotados? Quais as alternativas que podem ser oferecidas? Quais os programas de enriquecimento que são mais eficazes? Como podem ser mobilizados centros de aprendizagem, salas especiais de recursos, professores itinerantes, classes de apoio ou escolas especiais? No que diz respeito a programas de avaliação, foi proposto um modelo prático que envolve desde o levantamento da situação educacional dos superdotados até a adaptação de programas especiais e diversificados. Evidentemente, o problema da decisão deve ser equacionado em diversos níveis, tendo a professora autonomia para resolver, em situações de classe, que metodologia adotar e que recursos utilizar. Renzzulli, especialista na avaliação de projetos, reforça a idéia de que a avaliação de um projeto é concomitante e simultânea à realização do mesmo, sendo importante que seja feita o mais cedo possível, a fim de ir corrigindo os erros e desvios que poderão, mais tarde, prejudicar gravemente o próprio projeto. Irving Sato, renomado especialista na área dos superdotados, discorreu sobre a importância de se reforçar a identidade e o autoconceito dos superdotados, dando uma demonstração da força criativa da sua comunicação ao utilizar recursos audiovisuais oportunos e adequados e distribuindo material de alto nível. Tratando-se de material didático, chamou a atenção o número e a qualidade dos recursos de que dispõe o professor para utilizar em sala de aula, tais como máquinas digitais, aparelhos para reeducar distúrbios de leitura, minicalculadoras, kits de fichas de coílhecimento, quebra-cabeças, currículos já preparados para enriquecimento nas diversas áreas, filmes, fotografias, slides, gravações em fita etc. Aliás, a exposição permanente que acompanhou a Conferência renovava diariamente o material. Calvin Taylor propôs técnicas para provocar comportamentos mais criativos e afirmou que um dos objetivos principais da educação dos superdotados é desenvolver os. conceitos de simplicidade e complexidade ressaltando a influência do meio-ambiente e dos recursos da comunidade como: museus de arte, de ciências, planetários, salas de concerto, e sugerindo as diversas alternativas: centros, escolas e classes especiais, atendimento regular de enriquecimento paralelo ao ensino regular e de aceleração. Como a educação é programada para pessoas, conseqüentemente, é sempre válido o questionamento: até que ponto os alunos estão efetivamente funcionando? Pois, afirma Taylor, os inputs principais do sistema educacional são os próprios alunos, com a sua multiplicidade de potenciais; assim, os outputs educacionais deveriam ser avaliados através das medidas em que os seus recursos internos são ativados, devendo ser considerada a diversidade de talentos no sistema escolar bem como a diferenciação de tipos. Pergunta ele: afinal de contas, queremos professores criativos, que ensinem criativamente ou que ensinem para a criatividade? Na verdade, a resposta implica os três aspectos; contudo, face às Programas para superdotados 143
4 exigências do meio educacional, parece que, geralmente, predomina o ensino p~~ra a criatividade: um ensino criativo para os superdotados sintoniza com o dcsafio constante do "expandir a capacidade humana". Por outro lado, é preciso considerar que uma educação individualizada geralmente descobre talentos e os professores catalisam, cultivam e desenvolvem uma variedade de comportamentos, necessitando a estrutura da classe facilitar o contato humano, fazendo com que possam despontar os que têm facilidade para assumir decisões, os criativos, os comunicadores, ou os planejadores. A abordagem do ensino dos talentos múltiplos procura atingir as pessoas mais efetivamente, reforçando a instrução individualizada, a satisfação de estar na escola, a participação em classe, o desenvolvimento do autoconceito, o controle democrático e o pensamento produtivo. Nos EUA várias publicações para pais e professores destacam a importância do domínio cognitivo e afetivo da apl'êndizagem, do reconhecimento dos valores e estilos pessoais de aprendizagem. Quanto aos currículos, tanto é importante o conteúdo como as hahiiid,,(lt~s implícitas relativas aos produtos esperados, aos aspectos de avaliação, de an.íli~;l' ~ de síntese. Dentre as experiências apresentadas na Conferência, desllca 1í'us aquel:: rcbtiva a um trabalho fcito com adolescente a respeito da c:wrcp\::io do "herói"!lo decorrer da história da humanidade, destacando os ohjetivos comportamentais e humanísticos e a distribuição do poder decisório através das diversas épocas. Outro trabalho realizado em centros de aprendizagem para superdotados foi o relativo à avaliação dupla, controlada pelo professor e pelo aluno simultaneamente, havendo demonstração de fichas de avaliação múltipla com o julgamento de ambos, e também dos pais. Quanto aos diversos tipos de- programas realizados para superdotados, o da universidade de South Florida é muito interessante, partindo do princípio de que as crianças superdotadas diferem como grupo dos outros alunos no seu processo de aprendizagem; assim, uma educação diferenciada tende a descobrir mais pessoas talentosas e a melhorar sua educação, tornando-as mais úteis para a sociedade futura, destacando-se características próprias como aprendizagem mais rápida, uso do senso comum, pensamento claro e compreensão de fatos mais complexos. No que se refere ao programa de treinamento para professores, é muito bem cuidado no sentido de levar a professora de encontro às necessidades e habilidades individuais de cada aluno, sendo os programas realizados aos sábados na universidade com classes de explessão criativa, de dança, de ciências e de matemática. Tal programa tem a duração de 10 semanas, três horas cada vez, tendo, desde 1966, atendido a cerca de crianças desde a idade de cinco anos até a adolescência. De cada programa, por semestre, participam 200 estudantes. Como se pode facilmente depreender, a Conferência foi rica, não só quanto às apresentações de especialistas, como também na exposição e discussão de experiências válidas, favorecençlo contatos importantes com professores, super- 1~4 A.B.P.A.3/7(-,
5 visores, diretores e gerentes de projetos, tendo sido possível trazer para a realidade brasileira modalidades de atendimento e estratégias de ação educativa passíveis de serem adaptadas por órgãos que já se preocupam com tal problema, como o CENESP/MEC, que já desenvolve projeto prioritário de reforrnulação curricular para a área dos superdotados, contribuindo com a programação de semanas de estudos realizadas com a coordenação da especialista norte-americana, Dorothy Sisk, e outros trabalhos no campo educacional. o INFORMATIVO sempre obedece ao critério de referenciar devidamente suas notas e comentários, citando, conforme o caso, o autor, a publicação, o local da edição, o editor, o ano e a página. Pedimos que o mesmo procedimento seja adotado em relação ao INFORMATIVO toda vez que matéria sua for transcrita. Programas para superdotados 145
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